quinta-feira, agosto 02, 2012

"Vou Rifar Meu Coração"


O amor vai pegar seu coração e deixá-lo sangrando no chão. Uma das melhores definições sobre este sentimento que nos transtorna e que não aparece no documentário "Vou Rifar Meu Coração", de Ana Rieper. E bem que poderia estar lá. Afinal, é exagerada. E será que exagero é sinal de brega?

Pois bem, "Vou Rifar Meu Coração" mostra um Brasil quase subterrâneo da música brega e seus ídolos. O título foi tirado de uma música de Lindomar Castilho, ícone do gênero nos anos 1960 e 70 e que entrou para a história não pelas centenas de músicas gravadas, mas por ter levado ao extremo o ciúme: matou a esposa Eliane de Grammont em 1981, ficando preso por sete anos, e neste período gravou o disco Muralhas da Solidão.

Ana Rieper também colhe depoimentos de artistas como Odair José, Amado Batista, Wando e Agnaldo Timóteo, este mostrando uma total arrogância. "Sou preto, cabelo ruim, mas canto muito. Mais do que Roberto Carlos", exalta. Todos eles fazem parte dos anos românticos da música brega. "Vou Rifar Meu Coração" avança para a época atual, onde o brega abandona as letras sobre traições, prostitutas e chutes na bunda para explorar temáticas eróticas, quase pornográficas.

Interessante é mostrar o Brasil interiorano, que parece ter parado no tempo e suas figuras exóticas, com camisas com golas longas e abertas no peito, bigodinhos e cabelos engomados. Sem contar as indefectíveis joias. Todas pessoas simples com uma história interessante para relatar. Abandonadas pelo amor de suas vidas, ou que se apaixonaram por prostitutas, ou que mantém relacionamentos de décadas com duas mulheres e tem filhos com elas. O depoimento de um prefeito de uma cidadezinha baiana e suas esposas de quase quatro décadas é hilário.

Esses personagens não se importam em mostrar a cara e revelar suas dores de amor. Diz uma delas: "Sou brega sim. O pobre é brega". Um cantor de boate de periferia revela seu gosto por bandas pesadas como Deep Purple, Black Sabbath e AC/DC.

O pobre e o rico sofrem igual. "A única diferença é que o operário, quando leva um fora, vai chorar no seu barraco. O médico vai chorar em seu apartamento com vista para o mar", filosofa Odair José, autor do clássico Eu Vou Tirar Você Deste lugar, sobre um rapaz que apaixona-se por uma puta.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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