Thursday, October 18, 2012

"Gonzaga, de Pai Para Filho"



O diretor Breno Silveira já havia acertado a mão na biografia de Zezé de Camargo e Luciano em "2 Filhos de Francisco", mesmo retratando o meio musical sertanejo, uma das pragas do Brasil. E não é que Silveira repete o êxito no excelente "Gonzaga, de Pai Para Filho". Neste novo filme, é contada a vida do rei do baião Luiz Gonzaga ((1912-1989) e de seu filho, o sambista Gonzaguinha (1945-1991).


Para fugir do esquema didático que costuma estragar este tipo de obra, Silveira partiu das gravações de uma entrevista feita por Gonzaguinha com seu pai em 1982, época em que Luiz Gonzaga encontrava-se no ostracismo. Os dois não se bicavam, pois o sambista tinha severas mágoas do pai, ausente. E esse passou a vida desconfiando que o filho não fosse seu. A história é permeada pela conversa atribulada dos dois, enquanto relembram a trajetória sofrida da família iniciada em Exu, no sertão mais sofrido de Pernambuco, em 1929.

Luiz Gonzaga, quando começava a tocar sua sanfona, teve de deixar a família e a cidade às presas após ser ameaçado de morte pelo pai da garota que amava. De Exu, Luiz Gonzaga foi para Fortaleza, entrou no exército e ao dar baixa foi tentar a vida no Rio de Janeiro dos anos 1940. Tocava sua sanfona pelas ruas cariocas tentando ganhar uns trocados - até descobrir que para ser universal deveria falar, neste caso, tocar sobre sua aldeia. Então ele trocou os fados, tangos e boleros pela mais pura música do sertão nordestino. Então alcançou o sucesso, a fama e a fortuna, que ao longo do tempo iria desperdiçar.

Criador do sucesso Asa Branca, até hoje uma das músicas gravadas no Brasil, Luiz Gonzaga era mulherengo, machista, teve o filho Gonzaguinha com a dançarina Odaleia (Nanda Costa), porém sempre desconfiou da paternidade. Também era um homem desapegado à rotina caseira, passando boa parte do tempo em turnês pelo país. No filme ele é interpretado por quatro atores diferentes, mas Nivaldo Expedito de Carvalho na fase adulta é quem mais se destaca. A melhor performance, no entanto, fica por conta do gaúcho Júlio Andrade, de "Cão Sem Dono", quase irreconhecível sob forte maquiagem vivendo Gonzaguinha. Os coadjuvantes também não decepcionam, como Nanda Costa (A Febre do Rato) e Silvia Buarque. E uma coisa que, às vezes, acaba tornando um filme nacional incompreensível, o sotaque carregado de alguma determinada região, é deixado de lado, dando clareza aos diálogos.

A reconstituição de época também é cuidadosa. Impressionam os detalhes com roupas, com os cabelos, com o sertão, com o Rio de Janeiro de 1940. O diretor também utilizou imagens reais de acontecimentos ocorridos com os protagonistas - evidenciando ainda mais o trabalho rigoroso que deixou os atores tão próximos de seus personagens.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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