quarta-feira, abril 17, 2013

“A Morte do Demônio”




Recordo quando vi Evil Dead, de Sam Raimi, pela primeira vez, lá nos anos 1980, em fita VHS. Além do medo, também tinha momentos em que quase me mijei de rir com Bruce Campbell encurralado naquela cabana que por fora era pequena, mas por dentro parecia gigantesca, com seus vários corredores, ambientes. Agora o diretor uruguaio Fede Alvarez, reconta a história em “A Morte do Demônio – Evil Dead”, mas deixou de lado o terrir. Mas também abandonou o terror e o medo. A nova versão é puro gore, ou seja, sanguinolenta.

Cinco amigos reúnem-se numa cabana numa floresta isolada, onde tentarão fazer com que uma das garotas abandone as drogas. Ou seja, uma intervenção. A garota, Mia, até quer, chega a tocar fora um pacote de heroína...o jeito é ficar naquele buraco, em abstinência. Só que um dos rapazes acaba encontrando o tal livro dos mortos, o necronomicon, e invoca o demônio, que se apropria do corpo de Mia, que começa a querer matar todo mundo, enquanto vai vendo seu corpo se putrefando. O problema, como disse antes, é que na versão de Fede, estão ausentes o medo, o terror, o suspense. Apesar de nos fazer prender os olhos à tela, tudo é tão previsível, e o que mais aparece é o sangue jorrando em excesso, inclusive chega a chover sangue. É tudo tão exagerado, cabeças são esmigalhadas, membros são decepados, perfurados, queimados, que o máximo que provoca é nojo. E é só isso.

Fiquei cá pensando com meus botões. Talvez o demônio que se apodera do corpo de Mia seja apenas o vício, e a chuva de sangue, os corpos decepados, alucinações provocadas pela abstinência. Leitura semiótica. Talvez.
Cotação: regular
Chico Izidro

“O Acordo”




Confesso que tinha medo de “O Acordo”, dirigido por Ric Roman Waugh, e estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson. E não é que me surpreendi? O filme começa com aquela frase “baseado em fatos reais”. Pois bem, a história relata o drama que viveu uma família americana quando o filho de 20 anos foi preso por porte e tráfico de drogas. Devido as rigorosas leis do país, o jovem pegaria, no mínimo 10 anos de cadeira, mas poderia ter a sentença reduzida caso entregasse os comparsas. O problema é que ele não tinha, só conhecia o amigo que lhe passou a encomenda, e que já havia se acertado com a Justiça. O destino é a prisão, onde é espancado e violentado. Vendo o sofrimento do filho, John Mathews (Johnson) decide tentar um acordo com a Justiça. E é quase simples. Ele deve ajudar a prender um traficante da pesada, e qual não é? Assim o filho terá a pena reduzida, quem sabe, cancelada.

Dono de uma loja de material de construção, John pedirá a ajuda de um funcionário e ex-presidiário, Daniel (John Bernthal, o Shane de The Walking Dead) para que seja apresentado a algum traficante, e infiltrado, levar informações à Justiça. John consegue ser aceito por um traficante, mas para provar não ser policial infiltrado, tem de carregar uma carga de drogas para um cartel mexicano. E é quando as coisas começam a feder, pois acaba colocando em risco não só a sua vida, mas também a do funcionário, e de sua família.

O acerto de “O Acordo” é o de não transformar Johnson num super-herói, um vingador. Ele é apenas um pai de família desesperado e que se vê em situação extrema. E esqueçam aqueles filmes quebra-barracos do ator. Aqui ele está contido, realmente atuando, e as cenas de perseguições e tiroteios são críveis. Ajuda ainda na caracterização do personagem de Johnson, ele ter ao lado a sempre ótima Susan Sarandon, aqui como uma promotora de Justiça querendo se alavancar politicamente, e Barry Pepper (o franco-atirador religioso de O Resgate do Soldado Ryan) como um policial daqueles que, se formos a uma delegacia, encontraremos.

Cotação: bom
Chico Izidro

“Oblivion”




Em “Oblivion”, de Joseph Kosinski, a Terra é um planeta devastado em 2077, após uma guerra interplanetária. O soldado Jack Harper (Tom Cruise) passa os dias reparando pequenos robôs, vigias, que frequentemente são sabotados por alienígenas, que se escondem nos subterrâneos. A Terra ficou sem os seres humanos após uma guerra com estes alienígenas, sendo que os sobreviventes foram levados para outro planeta. Já que esta ficou sem seus recursos naturais.

O soldado Jack Harper cuida do que restou, auxiliado pela colega Vika, que controla seus passos de uma base interplanetária, e é rigorosa com seus deveres, enquanto ele é um romântico, contestador. Tanto que achou um cantinho ainda verde na Terra, onde se refugia para escutar seus discos de rock dos anos 1970 e 1980. E Jack tem em seus sonhos rápidos flashs do que poderia ter sido sua vida antes do caos, já que a memória dos dois foi apagada pelo comando militar. E no sonho sempre surge a imagem de uma mulher, que um dia realmente vai aparecer em carne e osso, fazendo com que ele comece a notar que as coisas na Terra não são exatamente como ele acredita.

Tom Cruise, aqui está mais contido que o quase caricato Jack Reacher, seu personagem em “O Último Tiro”. O ator se sai bem nas ficções científicas em que costuma atuar. Mas prestem atenção na atriz Andrea Riseborough, que interpreta a soldado Vika. E tem ainda a presença de Morgan Freeman, mais uma vez vivendo o papel de um líder. Já perdi o número de vezes em que ele aparece com um personagem semelhante. A trama é bem estruturada, traz aqui ou ali traços de “Star Wars”, “Alien”, “2001, Uma Odisseia no Espaço” e “Mad Max”. Em determinado momento, perde o ritmo, para recuperá-lo lá no final, que é surpreendente. Mas os efeitos especiais, e alguns locais onde foi filmado, são tão perfeitos, que esquecemos aquele tédio momentâneo.

Cotação: regular
Chico Izidro

“O Carteiro”




Reginaldo Faria erra a mão na direção do quase teatral e anacrônico “O Carteiro”. Por mais que a história se passe no Rio Grande do Sul, no Vale do Vinhedo, e por isso pesar sentimentalmente para nós, gaúchos, não dá para passar a mão na cabeça e fazer elogios forçados. O filme é fraco.

Mostra o cotidiano do carteiro Victor (Candé Faria) e seu colega Jonas (Felipe de Paula). Os dois passam o dia realizando suas entregas a bordo de suas bicicletas. Com o vai e vem incessante, sabem tudo o que acontece na pequena cidadezinha bucólica e de forte influência italiana. Só que Victor tem o péssimo hábito de violar as cartas, e apaixonado pela estudante Marli (Ana Carolina Machado), que tem um namorado que mora no Rio de Janeiro, começa a sabotar as correspondências dos pombinhos, provocando um verdadeiro caos na cidade, enquanto tenta fugir das investidas da viúva Genoveva (Fernanda Carvalho Leite), dona da pensão onde ele mora.

A história parece ser vivida nos anos 1980, quando ainda havia a incessante troca de cartas entre as pessoas – antes do advento do e-mail e do facebook. Pena que falta alma ao “O Carteiro”. Aquela coisa que nos toca, como os locais “Verdes Anos” e “Deu Pra Ti, Anos 70”, que mesmo sem muito suporte financeiro, mas com atuações sinceras, nos faziam sentir a melancolia do que não vivemos. Aqui, além da falta de naturalidade de alguns atores, principalmente Candé Faria e Marcelo Faria, os dois filhos do diretor, temos aqueles diálogos quase declamados, sem convicção. E a personagem Marli, por quem Victor se apaixona, ora parece uma jovenzinha inocente do interior, e do nada, parece ter 30 anos de idade. Sem contar as duas desnecessárias tramas paralelas, que não convencem. Uma é a do bodegueiro com a sua antiga paixão, e a outra é a da ricaça, fotógrafa, que tem um caso mal resolvido com o delegado da cidade.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“Chamada de Emergência”




“Chamada de Emergência”, dirigido por Brad Anderson, é uma grande amostra de como estragar um filme. Se está bom, ah, não, não pode ficar assim. Halle Barry, ainda muito gata aos 46 anos, nunca mais fez nada digno de nota na vida ao ganhar o Oscar por “A Última Ceia”, em 2002.

Neste suspense, ela é uma atendente do 911, o número do atendimento de emergência nos Estados Unidos, que um certo dia testemunha, pelo telefone, um sequestro de uma garotinha. Traumatizada, afasta-se da função, mas meses depois, é obrigada a retornar ao posto quando outra menina, interpretada por Abigail Breslin, de “Pequena Miss Sunshine”, é raptada e colocada no porta-malas de um carro. A garota liga para o 911 e passa a ser orientada por Barry para deixar pistas e ser salva. Calma, o roteiro é bem estruturado para que não ocorram furos. As cenas são bem costuradas.

A tensão é crescente e o espectador sente como se estivesse no carro junto com a garota, como se ele próprio estivesse sendo sequestrado. Só que na parte final, os roteiristas decidiram transformar “Chamada de Emergência” num filme comum e risível, equivocando-se nas soluções encontradas pela heroína para encontrar a menina. Sem contar nos erros grosseiros. Em determinado momento, os policiais encontram o esconderijo do serial killer que raptou Abigail. Não encontram ninguém no local, e vão embora. Sim, não vasculham o ambiente, não mexem nas caixas e também não deixam nenhuma patrulha caso o assassino retorne.

E o personagem de Halle Barry decide deixar sua mesa no escritório do 911, chamado de Colmeia, por ser um lugar barulhento, com dezenas de atendentes cuidando das ligações de todos os tipos na caótica Los Angeles, e vai investigar as pistas deixadas por conta própria, munida só de um celular e de uma lanterna! Lembra muito “O Silêncio dos Inocentes”. Se o filme tem seus altos e baixos, um dos altos é o serial killer vivido por Michael Eklund, de “88 Minutos”. Assustador, parece aquele tipo normal, mas que ninguém gostaria de encontrar por aí.

Cotação: regular
Chico Izidro

“Invasão à Casa Branca”




Quando estava entrando no cinema, o atendente me perguntou: "Está preparado para o tiroteio que vai ter?”. Ao começar “Invasão à Casa Branca”, de Antoine Fuqua, entendi. Quase nada sobra de Washington D.C. neste verdadeiro arrasa-quarteirão. Os vilões da vez, depois de anos com nazistas, russos, mexicanos, são os norte-coreanos, que já haviam tocado o terror nos States na refilmagem de “Amanhecer Violento”. Aqui eles tomam a residência oficial do presidente dos Estados Unidos, vivido por Aaron Eckhart, e o fazem refém, sem antes dizimar toda a segurança. Os invasores querem que em troca da libertação do dirigente, as tropas americanas deixem a Coreia do Sul e o golfo do Japão, ou seja, o Oriente ficaria praticamente à mercê do doido Kim Jong-Un...e a vida imita a arte, pois nestes dias o ditador norte-coreano está mesmo metendo o terror, ameaçando o mundo com uma guerra nuclear.

Eis que surge a figura do ex-segurança presidencial Mike Banning (Gerard Butler), que havia caído em desgraça anos antes, ao não conseguir evitar um acidente com a família presidencial. Escanteado, realizando trabalho burocrático, incrivelmente Banning consegue se infiltrar na Casa Branca durante o ataque, e sozinho, é a única opção dos militares para salvar o presidente e o país – apesar de não acreditarem nele, devido ao seu erro passado. Como Bruce Willis em “Duro de Matar I e II”, Banning se esgueira pelos corredores e porões da Casa Branca, fuzilando e esfaqueando qualquer norte-coreano que encontre pelo caminho, numa carnificina poucas vezes vista no cinema.

E sabe o que é pior nisso tudo e apesar da patacoada sobre o nacionalismo americano? O filme não é ruim. É puro cinema pipoca, para se assistir sem compromisso, seja no cinema ou no sofá da sala, comendo e tomando uma Coca-Cola.

Cotação: bom
Chico Izidro

“Jack, o Caçador de Gigantes”




Já estava cansado das deturpações de contos infantis transpostos para o cinema, como por exemplo “João e Maria – Caçadores de Bruxas”, onde os heróis usam metralhadoras e tomam insulina em plena Idade Média. Pois em “Jack, o Caçador de Gigantes”, dirigido por Bryan Singer, mantém aquela aura infantil. O título brasileiro suaviza um pouco a profissão de Jack. Lá fora, o filme foi intitulado de Jack, the Giant Slayer, ou Jack, o matador de gigantes, que convenhamos não iria assustar a criançada, acostumada a videogames violentos.

Jack é o fazendeiro que trocou o cavalo da família, paupérrima, por feijões. Ele toma um esporro do tio, que o considera quase um idiota, mas na realidade ele é um sonhador, leitor voraz. Os feijões, porém, são mágicos e em contato com a água, crescem além dos limites da terra, transformando-se num portal para um lugar onde vivem, exilados, gigantes devoradores de carne humana. Aprisionados lá há centenas de anos, os monstros conseguem retornar à terra, em busca de comida e de vingança para os descendentes do rei que os expulsou. E a presa principal é a princesa Isabelle, que claro, mostra-se par perfeito para Jack, interpretado por Nicholas Hoult, de “Um Grande Garoto” e “Meu Namorado é um Zumbi”. Como ele é da ralé, terá de mostrar valor para se mostrar digno da princesa.

“Jack, o Caçador de Gigantes” é bem contado, tem ótimos efeitos especiais, é algumas vezes assustador, e não abusa da inteligência do espectador, evitando mostrar coisas modernas na época antiga em que se passa, além de tentar se manter um pouco fiel ao conto que o originou. Hoult é o protagonista, mas tem um leve ar abobalhado, e acaba tendo sua atuação eclipsada pelos ótimos coadjuvantes Stanley Tucci, Ewan McGregor e Eleanor Tomlinson, que vive a princesa Isabelle.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Disparos"



“Disparos” é um belo filme brasileiro, lamentavelmente pouco visto. Dirigido por Juliana Reis, é uma sucessão de eventos relacionados com um assalto, e o que ele provoca em várias pessoas. O personagem principal é vivido por Gustavo Machado, excelente, fotógrafo que ao tentar recuperar o cartão de memória de sua máquina na cena de um atropelamento, acaba sendo preso. Na delegacia, cercado por policiais irônicos, liderado pelo também ótimo Caco Ciocler, no papel de um irritante e cínico delegado, o fotógrafo tenta explicar que ele não provocou o acidente, e sim, estava sendo assaltado pelo atropelado.

Aos poucos, as peças vão sendo encaixadas. Ao sofrer tentativa de assalto, o fotógrafo é ajudado por um motorista de outro carro, não identificado, que atropela e mata o ladrão, que estava numa moto com o comparsa. Mas quem foi o motorista que atropelou o ladrão, quem estava no carro com o fotógrafo, quem era o comparsa do assaltante? São respostas que vão sendo respondidas aos poucos, mostrando ainda um pouco da vida de cada personagem. A trama é contada de forma inteligente, vai sendo montado um quebra-cabeça, mostrando os absurdos que ocorrem nas cidades grandes. Uma história deliciosa. E que continua a ser contada após o término dos créditos.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

quinta-feira, abril 04, 2013

“Mama”




Não dá para acertar sempre. Jessica Chastain tem participado de bons filmes nos últimos tempos, vide “A Hora Mais Escura”, “Os Infratores” e “O Abrigo”. Pois o terror “Mama” acaba sendo uma decepção. Dirigido por Andres Muschetti, tem a maternidade como pano de fundo. Tudo começa quando um pai mata a esposa e leva as filhas embora, sofrendo um acidente na fuga. Ele e as meninas refugiam-se numa cabana para escapar do frio, e ali as garotas, uma com quatro anos e a outra com um, passarão os próximos cinco anos, sobrevivendo de forma selvagem e ajudadas por uma entidade, a quem chamam de Mama.

Anos depois, as duas são encontradas, vivendo como animais, tanto que andam de quatro, e entregues ao tio Lucas (Nicolaj Coster-Waldau, de Game of Thrones) e a namorada roqueira Annabel (Chastain), que nem de longe sonha em ser mãe, afinal quer seguir tocando baixo numa banda punk. Mas eventos que se sucedem acabam fazendo com que Annabel se veja sozinha com as duas meninas numa enorme casa. Só que elas não estão sozinhas, pois o tal espirito as seguiu e deseja ficar com as pequenas, para suprir a ausência de seu bebê, que perdeu quando ainda era um ser vivo nos anos 1860.

No início até ocorrem bons sustos e a trama nos prende na cadeira, principalmente nas primeiras aparições do fantasma. E a atuação das meninas é de se elogiar. Só que ao longo da história começam a aparecer tremendos erros de roteiro. Um exemplo é o médico que investiga o caso das meninas levar quase um dia para chegar à cabana onde elas viviam, e o casal protagonista necessitar de apenas dois minutos, apenas descendo do carro e atravessando uma clareira. E os furos vão se sucedendo, piorados pela cara de enfado de Chastain, que devia estar pensando na roubada que se metera, testando a paciência e inteligência dos espectadores.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“Uma História de Amor e Fúria”



A animação “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, traz um pequeno resumo da história do Brasil na figura de um homem de quase 600 anos de idade. Em sua busca eterna, a amada Janaína em diversas encarnações. Ele próprio não morre, transforma-se em pássaro, enquanto atravessa o tempo, em suas várias reencarnações.

A história começa nos anos 1560, quando da guerra dos tupinambás e tupiniquins, com a interferência dos portugueses e franceses. Um índio tenta viver ao lado da amada Janaína, mas a perseguição do homem branco é cruel. Duzentos e poucos anos depois, o imortal se vê no Maranhão, onde reencontra Janaína reencarnada numa negra liberta. Encarnado na figura de Balaio, ele vai liderar movimento de libertação contra o governo imperial. Sem conseguir paz, passados mais quase 150 anos, agora o imortal se vê apaixonado pela guerrilheira Janaína durante a ditadura militar brasileira nos anos 1960. A história terá fim quase ao término do século XXI, quando o Brasil encontra-se numa escassez de água, na posse dos ricos e poderosos.

O imortal é dublado por Selton Mello, enquanto Janaína tem a voz de Camila Pitanga. A animação tem traços claros de história em quadrinhos, devagar quase parando, é bem feita, sim, e o que incomoda talvez seja a voz de Selton Mello – irreconhecível, mas que torna-se enfadonha quando não vemos o rosto engraçado do ator. Pitanga dá ao seu personagem uma voz sexy, e Janaína é uma personagem sexy, mesmo com todo o sofrimento à sua volta.

Cotação: regular
Chico Izidro

“O Último Elvis”




Terminado “O Último Elvis”, fui verificar se o protagonista John McInerny havia mesmo cantado as músicas do Rei do Rock no filme ou se as havia dublado. Bem, o cantor argentino, na vida real sobrevive como cover do astro morto em 1977. Ou seja, a voz é dele mesmo! Isso faz com que o filme dirigido por Armando Bo ganhe ainda mais força.

McInerny vive de forma espetacular, sem reparos, Carlos Gutierrez, operário de uma fábrica de componentes eletrônicos nos arredores de Buenos Aires. E ele só se sujeita ao emprego, onde passa os dias com fones de ouvidos escutando o Rei, pois pode se dedicar a sua verdadeira vocação: ser Elvis. Sim, ele acredita ser o próprio. Só aceita ser chamado de Carlos por causa das convenções sociais, e isso o irrita. E por causa de sua crença, seu casamento foi para o espaço, e a filha o vê com desconfiança. Detalhe, a mulher chama-se Alejandra, mas ele só a chama de Priscila, nome da esposa de Elvis, e a filha, convenientemente, foi batizada de Lise Marie. E ele é viciado em sanduíche de pasta de amendoim com banana, tal qual seu ídolo, ou ele mesmo...

Gutierrez, além da fábrica, trabalha numa agência de dublês – e a Argentina é conhecida pela supremacia de suas cópias humanas, vide os grupos que homenageiam os Beatles, Queen, Pink Floyd, tocando a obra deles à perfeição. E Gutierrez, quando sobe ao palco, acredita ainda mais ser o próprio Elvis, mesmo tocando em muquifos de quinta categoria. Gutierrez tem um plano para sua vida, e esse é atrapalhado de certa forma quando a mulher sofre um acidente, entra em coma, e ele se vê obrigado a cuidar da filha em tempo integral. Mas quem conhece a vida de Elvis Presley, aos poucos irá matando as charadas que surgem ao longo deste delicioso filme, cujo destino será Graceland.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

“Vai Que Dá Certo”



As comédias brasileiras têm sido uma sucessão de erros, vide “De Pernas Pro Ar”, “Billi Pig”, “Totalmente Inocentes”, “Agamenon” e por aí vai. Então não é que “Vai Que Dá Certo”, de Maurício Freitas, consegue não ser ruim. Sério.

Não esqueçamos conseguir achar graça em comédias americanas onde os erros se sucedem. Pois é o que acontece aqui, com destaque para Danton Mello, o irmão do Selton. O mesmo timbre de voz, mas com quilinhos a mais, bem a mais. Ele é um músico de bar que é demitido e por cima colocado no olho da rua pela mulher por suas irresponsabilidades. O jeito é para sobreviver, aceitar o emprego oferecido pelo primo, de motorista numa transportadora de valores. Mas ainda dá para conseguir uma grana extra se aceitar participar de um golpe contra a empresa. Ele topa, ao lado de três apatetados, infantis e irresponsáveis amigos, fanáticos por histórias em quadrinhos e games.

O plano é estudado à profusão, não tem como dar errado, mas esquecem que todos não deram certo na vida não foi por acaso. As trapalhadas se sucedem, mas o acerto aqui é nunca derrapar para o besteirol, evitando ainda os atores berrando os diálogos. E alguns são legais, relacionados a cultura pop. Além do mais Fábio Porchat conteve-se em sua atuação, que às vezes parece que vai extrapolar, e o chato Bruno Mazzeo é colocado num papel secundário, assim não atrapalhando o desenrolar da história.

Cotação: bom
Chico Izidro

“HaHaHa”




Aqui ou em qualquer lugar, todo mundo está interligado por uma ou mais pessoas. A famosa teoria dos seis graus de separação, onde o personagem principal é o ator Kevin Bacon, é mais real do que nunca. Pois na comédia sul-coreana “HaHaHa”, do diretor Hong Sang-Soo, a história repete-se.

Num restaurante, dois amigos, o diretor de cinema Jo Moon-Kyeong e o crítico de cinema Jong-sik Bang conversam, enquanto bebem, comem e repetem incessantemente a palavra saúde. No decorrer do bate-papo, acabam descobrindo que fizeram uma viagem para uma pequena cidade litorânea na Coreia do Sul, e ali conheceram e conviveram com duas pessoas ao mesmo tempo, e não se encontraram durante a sucessão dos eventos, que tinha como foco central uma garota, que trabalhava na cidade como guia turística, e era azarada com os homens.

A história de “HaHaHa” não é de fácil assimilação, assim como o humor embutido nela. Afinal, a cultura sul-coreana é completamente distinta da nossa. Além do quê, até entrar no clima, quem não está acostumado à sonoridade do coreano, vai sentir um pouco de desconforto no início.

Cotação: bom
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...