terça-feira, outubro 10, 2006

O Tempo Que Resta (Le Temps qui Rest)


Quando começa O Tempo que Resta (Le Temps qui Rest), de François Ozon, já sabemos uma coisa. Romain (Melvil Poupad) vai morrer, pois tem um câncer terminal. Aos 32 anos, homossexual e fotógrafo de moda, ele é um poço de rancor. Não se dá com a irmã, que com dois filhos, foi abandonada pelo marido, e quer dar um pontapé no namorado, que vive às custas dele. A sua língua é ferina.
Quando revela para a única pessoa que confia de que irá morrer, a sua avó, interpretada pela inesquecível Jeanne Moreau (Jules & Jim, de François Truffaut) ele diz: estou contando a você porque você também irá morrer logo. Assim, seco, cruel. Quando conhece um casal que pretende ter filhos, mas cujo marido é estéril, ele dispara: odeio crianças.
Romain é tão amargurado, que nem quimioterapia quer fazer. Para quê? A vida é uma bosta mesmo e o tratamento só vai adiar a morte. A interpretação de Poupad mereceria um Oscar. Não por fazer um doente (a Academia hollywoodiana adora dar o prêmio para atores que interpretam doentes), mas por sua transformação, sua frieza. A gente sente raiva dele, não consegue sentir pena de uma pessoa tão crua. E é o típico filme, e isso é um elogio, que você pensa ao sair da sessão: o que faria se tivesse apenas um mês de vida? Se deixaria esvair ou iria curtir os últimos momentos. Ah, o filme pode chocar alguns espectadores mais conservadores, pois mostra cenas quase explicitas de homossexualismo. Na sessão em que fui, um senhor simplesmente se retirou da sala. Lamentável a cabeça fechada de algumas criaturas.

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