quinta-feira, agosto 02, 2012

"Aqui é o Meu Lugar"



O personagem principal de "Aqui é o Meu Lugar", o roqueiro sequelado Cheyenne poderia ter caído no caricatural, não tivesse sido interpretado por Sean Penn. A trama, dirigida por Paolo Sorrentino, toda é meio doida, quase absurda, por isso magnetizante.

Cheyenne tem um visual Robert Smith, do The Cure, é deprimido, fala e andar arrastado como Ozzy Osbourne, e vive com a mulher de toda a vida, Jane (Frances McDormand, de Fargo) em sua mansão em Dublin, na Irlanda. É exótico, com seus 50 anos e cabelos desgrenhados e maquiagem pesada. E desde que dois fãs se suicidaram por causa de uma de suas músicas (referência óbvia a Suicide Solution, de Ozzy), parou de cantar e compor. Vive do que amealhou nos anos 1980.

O antigo astro de rock gótico, porém, terá de voltar à vida quando seu pai, a quem não vê há 30 anos, encontra-se à beira da morte, em Nova Iorque. Ele retorna aos EUA, e no leito de morte do pai, fica sabendo que esse passou boa parte da vida tentando capturar um nazista que o torturou em Auschwitz durante a II Guerra Mundial. Sim, Cheyenne é judeu, mas vive longe das tradições de sua religião.

Entã, a partir deste momento, "Aqui é o Meu Lugar" torna-se um road-movie, onde Cheyenne sairá em captura do nazista. Ao mesmo tempo que terá de amadurecer, mesmo que tardiamente. O nome do filme no original em inglês, This Must Be the Place, é tirado da música homônima dos Talking Heads, uma das bandas pop emblemáticas dos anos 1980. E não bastasse a presença de David Byrne, líder e vocalista do grupo, dando uma orientação ao roqueiro, o filme está repleto de referências àquele período. Uma cena mostra o quanto Cheyenne está ligado ao período. Ao tocar a música para um garoto, esse diz ser do grupo Arcade Fire. O roqueiro corrige: "Não, ela é do Talking Heads", ensina. Para ele, Arcade Fire não significa nada.

Cheyenne é vivido com primazia por Sean Penn, mostrando mais uma vez sua extrema versatilidade. Tanto como um roqueiro ultrapassado, quanto um militante homossexual, um pai arrasado pela morte de um filho ou um violento gângster. Ele é o filme.

Cotação: bom
Chico Izidro

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