quinta-feira, janeiro 29, 2015

"Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)"

O ator preso no personagem. Riggan Thomson (Michael Keaton, ótimo), depois de fazer fama no cinema com o super-herói Birdman em três filmes, não aceitou fazer a quarta sequência, acabando por entrar no ostracismo. Anos depois, ele tenta mostrar ser um ator sério, ao produzir, dirigir e atuar em peça de Raymond Carver, em "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", dirigido por Alejandro González Iñárritu.

Com sinais de esquizofrênia, já que houve vozes, principalmente do herói que interpretava, e acreditar ter o poder de mover objetos, Thomson sofre para produzir a peça, já que primeiramente se vê trabalhando com um ator medíocre, que por milagre consegue substituir. Só que o substituto é o egocêntrico e desagregador Mike Shiner (Edward Norton, excelente). Ele ainda tem de lidar com a filha rebelde e carente, Sam (Emma Stone) e a namorada, que reclama de sua apatia, Laura (Andrea Riseborough) e o assistente nervoso, Brandon (Zach Galifianakis).

Iñárritu utiliza técnica que se assemelha a um plano-sequência, como se não houvesse cortes na filmagem. A câmera segue os atores pelos corredores do teatro na Broadway, propiciando closes em seus rostos marcados. A trilha sonora também é um achado, apenas o som de uma bateria, que vai num crescendo em cenas mais tensas.

"Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", de certo modo, tem um grau intenso de ironia ao ser protagonizado por Michael Keaton, que viveu os "Batmans" dirigidos por Tim Burton em 1989 e 1992, e se recusando a fazer uma terceira parte, sendo que eclipsado das telas, e tendo dificuldades para mostrar que era um bom ator.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Teoria de Tudo"

"A Teoria de Tudo", dirigido por James Marsh, é a cinebiografia do físico Stephen Hawking, vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica, que atrofia a musculatura, mas não afeta as faculdades mentais. Ele, aos 21 anos de idade, se viu preso numa cadeira de rodas. Quando diagnosticada a doença, os médicos lhe deram no máximo dois anos de vida. Pois ele casou, teve três filhos, separou, casou de novo. E hoje, aos 70 e poucos anos, ainda está trabalhando em suas teorias.

Hawking ficou conhecido mundialmente com o livro Uma Breve História do Tempo, onde busca responder questões como de onde vem o Cosmos e para onde vai? O universo teve começo? Nesse caso, o que aconteceu antes? No filme, o físico é interpretado magistralmente por Eddie Redmayne, já visto em "Sete Dias com Marylin" e "Os Miseráveis". O ator faz um trabalho corporal fantástico, tanto que o próprio Stephen Hawking enviou um e-mail ao diretor James Marsh, dizendo que houve momentos em que pensou estar assistindo a si mesmo na tela.

A história, além de mostrar o avanço da doença de Hawking, também foca e muito no romance entre ele e a jovem Jane (Felicity Jones, de O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro). O filme, aliás, é baseado em livro da própria Jane Wilde Hawking, intitulado My Life with Stephen. Ela o conheceu são e decidiu permaner ao seu lado mesmo quando diagnosticada a doença.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Grandes Olhos"

"Grandes Olhos", de Tim Burton, começa com Margaret Keane (Amy Adams) fugindo de casa com a filha, deixando para trás um marido abusador. Artista plástico, logo está procurando emprego na San Francisco na segunda metade dos anos 1950. E uma mulher separada, com uma filha pequena, não era bem vista pela conservadora sociedade. Logo ela conhece o pintor Walter Keane (Christoph Waltz), e eles casam para ela não perder a guarda da filha.

Passado um tempo, suas obras, onde destacam-se as figuras de crianças com grandes olhos, tristes e suplicantes. Mas quem leva os créditos é seu marido, Walter, que alega ser suas as pinturas, pois diz ele, teria mais reconhecimento, já que o trabalho de uma mulher não era levado tão a sério. O dinheiro começa a entrar, mas anos depois, cansada dos desmandos de Walter, Margaret decide pedir o reconhecimento de sua obra. Que lhe é negado.

"Grandes Olhos" acaba nos tribunais, com Margaret brigando com Wlater para provar quem era o verdadeiro autor dos quadros. A justiça daria razão para Margaret, ao colocar os dois frente à frente, obrigando-os a pintar um quadro. Ela pintou uma tela a óleo, mas quando Walter foi convidado a fazer a mesma coisa, ele alegou estar com dor no ombro e por isso não poderia pintar.

O filme é um diferencial na obra de Tim Burton por não ser soturno. Nele é retratada uma época onde as mulheres eram vistas apenas como donas de casa, sem muita capacidade intelectual. Amu Adams está muito bem na pele de Margaret Keane, mas Waltz, de novo rouba a cena, com seu jeito cínico, por vezes patético. A cena no tribunal, onde ele é seu próprio advogado, é hilária.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Entrevista"

O polêmico "A Entrevista", dirigido por Seth Rogen e Evan Goldberg, e que chegou a causar problemas diplomáticos entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte por provocar o ditador Kim Jong-un, é uma comédia boba e escrachada, e que inclusive toma liberdade ao mudar os rumos da história.

Na trama, o idiota apresentador Dave Skylark (James Franco), famoso por entrevistar celebridades - numa das cenas iniciais, ele consegue uma confissão do rapper Eminen, que revela ser gay - mas não é visto como um jornalista sério, e seu produtor Aaron Rapaport (Seth Rogen) consegue uma entrevista com o ditador norte-coreano Kim Jong-un (Randall Park), que é um fã do programa deles. Ao saber do projeto, a CIA entra em contato com a dupla, e pede uma coisa: que ela mate o ditador, envenenando-o.

Ao chegar em Pyongyang, Skylark e Rapaport são recebidos por um simpátivo e carente Kim Jong-un. E claro que os planos da CIA vão para o buraco, quando Skylark se encanta com o ditador - mulherengo, brincalhão, humorista.

No papel de Kim Jong-un, está Randall Park, que nem de longe se assemelha ao norte-coreano, mesmo sendo baixinho e gordinho. Na parte final de "A Entrevista", o filme remete a "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, devido a um banho de sangue proporcionado nas telas e com a alteração da história, que não dá para contar aqui. O personagem de James Franco chega a irritar, de tão estúpido, em filme de comédias bobinhas e rasteiras.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Caminhos da Floresta"

"Caminhos da Floresta" é um musical que junta vários personagens dos contos de fada, como Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João do Pé de Feijão e Rapunzel, e dirigido por Rob Marshall. Mas apesar de unir estes personagens e ter uma excelente atuação de Meryl Streep, o filme carece de maior emoção e como no estilo que se propõe, as músicas são muito heterogêneas, não havendo nenhuma que se destaque e que possa ser lembrada logo após a sua exibição.

Na história, um padeiro e sua mulher, vivivos por James Corden e Emily Blunt, não conseguem ter um filho. Até descobrirem ter sido enfeitiçados pela bruxa má, vivida por Meryl Streep, que se vingou do pai dele, que roubou pertences dela décadas atrás. Então a bruxa propõe um pacto ao casal: eles terão três noites para lhe trazer quatro elementos: um capuz vermelho como sangue, cabelo amarelo como espiga de milho, um sapato dourado como ouro e um cavalo branco como o leite. Todos eles objetos pertencentes aos personagens de conto de fadas. Se eles conseguirem o que ela pede, o feitiço será tirado e o padeiro e sua mulher terão um herdeiro.

Apesar de momentos bens inspirados, como o lobo interpretado por Johnny Depp, que ataca Chapeuzinho Vermelho e sua avó, ou Cinderela (Anna Kendrick) sofrendo nas mãos da madrasta (Christine Baranski) e de suas filhas, ou a presença de Meryl Streep, do meio para o final, o filme perde em movimento, tornando-se cansativo, com músicas sem inspiração.

Cotação: regular
Chico Izidro

"A Mulher de Preto 2 - Anjo da Morte"

"A Mulher de Preto 2 - Anjo da Morte", direção de Tom Harper III, tem um início promissor, recuperando a mansão sombria visitada por Daniel Radcliffe, o Harry Potter, no primeiro filme, lançado em 2012. Agora a trama avança alguns anos, transcorrendo durante a II Guerra Mundial, quando diversas crianças são retiradas de Londres, devido aos bombardeios alemães, e enviadas para o interior.

Um grupo delas é levado para a mansão do pântano, afastado do povoado mais próximo, e que devido a uma maldição, já causou a morte de várias crianças e estava desabitado. O começo do filme tem um clima sufocante, soturno, prevendo que virá coisa boa pela frente. Ledo engano. o garotinho órfão Edward (Oaklee Pendergast), traumatizado pela perda dos pais, se mantém calado, mesmo com a insistência das supervisoras de que fale, se entrose com os colegas, que claro, o fazem vítima preferida para o bullying. Sua única ajuda parte d ajovem Eve Parkins (Phoebe Fox), uma das assistentes. E ele é visitado pelo fantasma, que logo estará assustando os moradores do local.

Aos poucos, eventos macabros começam a ocorrer na mansão, provocando o pavor nas pessoas. Mas as cenas dos sustos são tão sem graça, com aquelas aparições vindo do nada, fazendo os personagens correr pelos corredores da mansão, em desabalada carreira, com gritos irritantes. Enfim, nada de novo.

Cotação: ruim
Chico Izidro

quarta-feira, janeiro 21, 2015

"Foxcatcher - A História Que Chocou o Mundo"

Esqueça o apelativo e ridículo subtítulo nacional. "Foxcatcher - A História Que Chocou o Mundo", direção de Bennet Miller, é daquelas histórias comuns que Hollywood consegue transformar numa boa trama, desta vez envolvendo o mundo das lutas greco-romanas, aquela em que os lutadores se agarram, numa dança quase homo-pornográfica.

Baseado em fatos reais ocorridos na segunda metade dos anos 1980 e começo dos anos 1990, mostra o envolvimento do campeão olímpico de 1984, Mark Schultz (Channing Tatum, ótimo) com o milionário John Du Pont (Steve Carrell, excelente e quase irreconhecível atrás da maquiagem). Mark é convidado por Du Pont para integrar sua equipe, a Foxcatcher, que prepara-se para os Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Apesar de sempre ter treinado com o irmão, David (Mark Ruffalo, também ótimo), Mark aceita e vai morar na propriedade do milionário, que aos poucos vai mostrando sua verdadeira faceta.

Obcecado pelo perfeccionismo, patriota ao extremo, Du Pont, sofrendo com o controle da mãe (Vanessa Redgrave), não aceita ser contrariado e não sossega enquanto não leva David para a sua equipe. E os dois viverão momentos conflituosos, que acabarão em tragédia.

Channing Tatum impressiona pelo trabalho corporal que apresenta para viver Mark Schultz. O modo como anda e fala o transformou num brucutu, que aparenta ter pouca inteligência. Enquanto isso Steve Carrell destaca-se pelo olhar enviesado e a voz pausada que adota para interpretar um homem, que devido a linhagem milionária da família, sempre teve o que quis. O filme também mostra a obsessão dos norte-americanos em sempre serem o número 1. Perder não está no pensamento ianque.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Ida"

A jovem Ana será sagrada freira no convento onde foi criada desde criança. Mas semanas antes do evento, a Madre Superiora aconselha Ana a visitar sua única parente viva, Wanda Cruz. Ao chegar na casa da tia, na Polônia do começo dos anos 1960, Ana é maltratada por Wanda, que lhe revela: "Seu nome é Ida Lebenstein, e você é judia. Seus pais morreram no Holocausto". E era isso. Logo Ana está na rodoviária esperando o ônibus para voltar ao convento, quando Wanda, com remorso, vai busca-la.

Isso é o começo de "Ida", direção de Pawel Pawlikowski. As duas, então, começarão uma peregrinação pelo interior da Polônia, onde Wanda irá ajudar Ida/Ana a descobrir a total verdade sobre seu passado e o destino trágico de seus pais. "Ida" chega num tom monocromático, típico dos filmes das décadas de 1950 e 60, mostrando uma Polônia quase rural, paupérrima. E não deixa de ter seu momento road-movie.

O antissemitismo está no ar e no desconfonto das pessoas em falar sobre o que ocorreu com os judeus dujrante a ocupação nazista na II Guerra Mundial. Ida/Ana é vivida por Agata Trzebuchowska, que tem um olhar desolado, triste, desesperançoso. Uma personagem tímida, quase solitária. Já Agata Kulesza tem uma atuação primorosa como Wanda Cruz, uma mulher também solitária, alcoólatra e fumante inveterada, mas sem medo do machismo presente.

E o que fará Ida/Ana ao descobrir sua origem judaica? Voltar às raízes ou se manter na religião que, ela como criança, foi obrigada a abraçar?

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Busca Implacável 3"

Na parte 1, sequestram sua filha. No 2, ele e a esposa é que são vítimas de rapto. Então o que sobraria em "Busca Implacável 3", direção de Olivier Mégaton? Bem, desta vez não existem sequestros e sim fuga. Liam Neeson volta a viver o ex-espião Bryan Mills, que é acusado de matar a ex-mulher, Lenore (Famke Janssen). O jeito é fugir para tentar provar a sua inocência - na vida real, ele ficaria e esperaria a investigação policial, que em poucos minutos provaria não haver provas para incriminá-lo.

Quem afinal matou Lenore e por quê? Mills também tem de proteger sua filha, Kim (Maggie Grace), que além de tudo está grávida. Em sua fuga, Bryan é perseguido pelo inteligente policial Franck Dotzler (Forest Whitaker), que no entanto está sempre um passo atrás do ex-espião.

O personagem de Liam Neeson é praticamente invencível e indestrutível. Ele sobrevive a queda de seu carro de um penhasco, vence cinco gangstêres russos na porrada e sai sem um arranhão, e nunca, nunca é atingido por uma bala, mesmo que ela tenha partido de uma potente metralhadora. E Forest Whitaker faz pela milésima vez o papel de um policial esperto e compreensivo.

Apesar destes absurdos, "Busca Implacável 3" é um filme divertido, não tão bom quanto os dois primeiros. E Liam Neeson foi feito para interpretar este tipo de personagem, depois de ter brilhado como o industrial Oscar Schindler, no maravilhoso "A Lista de Schindler", de Steven Spielberg.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Minúsculos"

Sabemos que é uma animação, mas no começo somos surpreendidos pela exuberância visual. Tudo tão perfeito, até nos darmos conta de que aquilo ali não são desenhos, mas sim uma filmagem, onde os desenhos serão inseridos. E tudo começa num piquenique, onde um casal deixa toda a comida e sai apressado, já que a mulher está prester a dar a luz. Eles são os únicos humanos que veremos em "Minúsculos", animação dirigida por Thomas Szabo e Hélène Giraud.

Ali perto, uma joaninha se desgarra de sua família, enquanto que formiguinhas pretas começam a se apoderar das sobras do piquenique. A joaninha acaba sendo adotada pelas formiguinhas, e logo se verá no meio de um conflito, quando formigas vermelhas tentam roubar o butim das pretas, que tentam chegar ao seu formigueiro o mais rápido possível. E pelo caminho, vão enfrentando vários percalços.

"Minúsculos" é muito bonito visualmente, com personagens simpáticos. O que pode cansar um pouco é que é praticamente mudo. O máximo que ouvimos são zumbidos dos insetos.

Cotação: bom
Chico Izidro

"O Segredo dos Diamantes"

Ao viajar para a casa da avó no interior mineiro, o carro onde está Ângelo (Matheus Abreu) e seus pais, vividos por Dira Paes e Nivaldo Pedrosa, é abalroado por um caminhão. Ângelo sai ileso do acidente, a mãe tem uma perna quebrada, mas o pai leva a pior, e em coma fica entre a vida e a morte nums hospital. Sem plano de sáude, não há muito o que fazer, até que Ângelo fica sabendo de uma lenda de um padre, que 200 anos antes, teria escondido um tesouro na cidade. O garoto, então, tenta desvendar o mistério e achar as joias para tentar salvar a vida do pai em "O Segredo dos Diamantes", de Helvécio Ratton.

Ângelo começa a desvendar pistas, ajudado pelso amigos Julia (Rachel Pimentel) e Carlinhos (Alberto Gouvêa). A trama lembra, e muito, aquelas aventuras que eram contadas na coleção Vagalume, lançada pela Editora Ática nos anos 1970. Uma coisa bem infanto-juvenil, quase bobinha. O problema maior é que os atores são péssimos, principalmente os três protagonistas. Eles parecem estar declamando o texto, beirando o amadorismo. E isso que no longa ainda estão presentes Dira Paes e Rui Rezende, este veterano ator de novelas e que aqui faz o vilão.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Acima das Nuvens"

Pode parecer implicância minha, mas Juliette Binoche não me convence, Em "Acima das Nuvens", direção de Olivier Assayas, lá está ela com seu eterno ar sofredor, numa história onde interpreta uma estrela de cinema, Maria Enders. Ao seu lado está outra enjoadinha, Kristen Stewart, que faz sua assistente.

A história se passa na belíssima Suíça, com uma bela fotografia dos Alpes. Palco onde Enders irá ensaiar uma peça que a lançou ao estrelato 20 anos atrás. Só que desta vez ela terá de dividir o palco com uma jovem atriz, Jo Ann (Chlöe Grace-Moretz), que irá interpretar o seu papel original. A atriz de "Kick-Ass" e "Carrie, a Estranha" faz uma vedete problemática e esnobe, que irá perturbar Maria Enders. O contraste entre o antigo e o novo é até interessante, mas Binoche não ajuda, com uma atuação arrastada e desinteressada. O destaque acaba sendo mesmo Chlöe Grace-Moretz.

Cotação: ruim
Chico Izidro

quinta-feira, janeiro 15, 2015

"Livre"

Reese Witherspoon chegou à excelência como atriz no belo "Livre", direção de Jean-Marc Vallée. A atriz, 38 anos, que levou o Oscar por "Johnny & June", vive aqui Cheryl Strayed, que em meados dos anos 1990 realizou uma jornada de autoconhecimento na trilha conhecida por PCT (Pacific Crest Trail), saindo da Califórnia e indo a pé até o Oregon, em caminhada que levou três meses e na qual quase perdeu a vida. Vida esta, aliás, que havia ido para o buraco.

Cheryl era uma boa filha, boa esposa, boa estudante. Mas ao perder a mãe, morta precocemente aos 45 anos, vítima de câncer (ela é interpretada com paixão por Laura Dern, de Parque dos Dinossauros), larga tudo e cai no mundo das drogas, além de começar a transar com tudo e todos, estragando um ótimo casamento. Para se redimir, Cheryl decide fazer a jornada, sozinha, e com uma mochila com o dobro de seu tamanho - sem saber como se portar no trajeto, ela leva tudo o que imagina precisar, mas aos poucos vai aprendendo o que é realmente necessário.

Uma mulher percorrendo mais de mil quilômetros a pé também seria alvo de perigos constantes, mas tirando os percalços com baixas temperaturas ou a falta de água, ou o encontro com uma cascavel e um cara meio tarado, Cheryl teve a sorte de encontrar só boas pessoas pelo caminho, que lhe ajudaram e a motivaram a prosseguir até o final.

Reese Whiterspoon, conhecida por comédias como "Legalmente Loira" e "E Se Fosse Verdade" vai ao extremo, em cenas de uso de drogas e de sexo. Sua cena inicial, quando tenta levantar a tal mochila do dobro de seu tamanho e peso, é angustiante. A câmera foca a atriz, que ali no chão briga para levantar o trombolho, no que seria apenas uma das dificuldades vividas por Cheryl Strayed.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Invencível"

Louis Zamperoni, filho de imigrantes italianos, estava direcionando a vida para a marginalidade. Até que seu irmão mais velho descobriu seu potencial para ser corredor. E é como corredor que Zamp toma jeito e irá às Olimpíadas de 1936, na nazista Berlim, onde terá bom desempenho. A fama, porém, lhe trará problemas quando será feito prisioneiro dos japoneses na II Guerra Mundial. Sua vida é contada em "Invencível", o segundo filme dirigido por Angeline Jolie. O primeiro foi o irregular "Na Terra do Amor e do Ódio", sobre a Guerra da Bósnia. Aqui ela volta a errar a mão, que talvez no comando de um Clint Eastwood tivesse um melhor ritmo e não fosse, por vezes, meloso demais.

Zamp, no entanto, é vivido com extrema competência por Jack O'Connel (300 - A Ascenção do Império). Servindo no Oceano Pacífico na II Guerra, ele vê seu avião cair no mar. Junto com mais dois colegas, ele passa 47 dias à deriva, sobrevivendo a ataques de tubarões, fome, sede, tempestades, até ser resgatado pelo inimigo, no caso os japoneses. O seu destino seria um campo de prisioneiros, onde sofreria as agressões gratuitas do oficial nipônico Mutsushiro Watanabe, vivido pelo astro po Miyavi, que não consegue convencer no papel de sádico militar - seu jeito por demais andrógino estraga a caracterização. Faltou ele estudar a atuação de Ryuichi Sakamoto, que teve presença espetacular no clássico oitentista "Furyo - Em Nome da Honra", travando luta cruel com o oficial vivido por David Bowie.

Apesar do cuidado na reconstituição de época, Jolie é por demais sentimental e também arrasta o filme, propiciando cenas desnecessárias. Ela errou na mão, quem sabe na próxima?

Cotação: irregular
Chico Izidro

"Os Pinguins de Madagascar"

Os engraçados pinguins já haviam divertido a galera em outras três animações. Agora, com um filme só deles, arrasam. "Os Pinguins de Madagascar", direção de Simon J. Smith e Eric Darnell, traz Capitão, Rico, Kowalski e Recruta desde o começo de suas vidas, quando se perdem de seus iguais na Antártida, e acabam no zoológico. E lá é que irão, sem saber, provocar ciúmes no que virá a ser o vilão da história - o polvo Dr. Otavius Brine, que enciumado por perder o posto de queridinho dos visitantes, quer transformar os fofos pinguins em zumbis.

As quatro aves acabam sendo cooptadas por agentes secretos da organização Vento Norte - liderada por um lobo, e que conta ainda com um urso carinhoso, uma coruja e uma foca. Todos tentam derrotar o polvo, mas seus planos acabam sempre sendo estragados pelos desastrados pinguins, sem querer.

O filme tem ação, boas piadas e animação colorida. A história é até bem batidinha, sem novidades, mas vale pela patetice dos quatro heróis.

Cotação: bom
Chico Izidro

quinta-feira, janeiro 08, 2015

"Whiplash - Em Busca da Perfeição"

"Whiplash - Em Busca da Perfeição", direção de Damien Chazelle, como o título nacional entrega, trata até onde o homem pode ir em busca do melhor, do perfeito. O jovem Andrew (Milles Teller, de Namoro ou Liberdade e Divergente) entra para a escola de música nova-iorquina Shaffer, fictícia, mas baseada na famosa Juillard School. Seu objetivo é ser o melhor baterista de jazz desde o seu ídolo Buddy Rich. Ele é descoberto pelo professor e maestro Terence Fletcher (J.K. Simmons, o nazista Vern Schillinger, do seriado Oz, e J. Jonah Jameson, de Homem-Aranha), que é um homem completamente obsessivo com a perfeição com que os músicos de sua orquestra devam interpretar clássicos jazzisticos americanos, como "Whiplash" e Caravan".

O problema é que Terence não tem limites para lidar com seus músicos. Ele age como um oficial nazista, abusando da autoridade e até mesmo se utilizando de intimidades de seus comandados para levá-los à beira do desgaste físico e emocional. Andrew treina tanto que suas mãos sangram caudalosamente - e ele acaba abrindo mão da vida pessoal para tentar agradar o maestro, deixando a namorada para trás e outros prazeres.

J.K. Simmons está excelente como o maestro que beia a psicopatia, um nazista completo no modo de lidar com seus músicos-vítimas. E Teller mostra-se um ótimo ator, compondo um personagem angustiado, por vezes azarado, e também ótimo músico, ao aprender a tocar bateria para viver Andrew.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Loucas Para Casar"

Mais uma comédia denecessária para a cinebiografia brasileira é este "Loucas Para Casar", direção de Roberto Santucci. Na história, a corretora de imóveis quarentona Malu (Ingrid Guimarães) sonha em se casar com seu namorado com quem está há três anos, Samuel (Márcio Garcia), que também é seu chefe. Mas ele não parece nenhum pouco preparado para fazer o pedido. E ela acaba descobrindo que apesar das juras de amor por parte dele, o cara tem outras duas namoradas, Lúcia (Suzana Pires) e Maria (Tatá Werneck).

Lúcia é dançarina de pool dance e completamente perua, enquanto que Maria é uma jovem religiosa, que acha que mulher foi feita para servir ao namorado sem reclamar e ainda por cima é virgem! As três entram numa disputa para ver quem, no final, conseeguirá levar Samuel para o altar.

Mas fazendo juz as péssimas comédias nacionais, principalmente as encabeçadas pelo insuportável Leandro Hassum, "Loucas Para Casar" também é fraca, com piadas sem fracas, baseadas em caretas e histrionismo de seus atores. Salva-se uma sequência em que Malu confronta Maria, tentando descobrir o que Samuel viu numa jovem carola. E Tatá solta pérolas contrapondo sua idade e virgindade com a personagem de Ingrid Guimarães, cada dia mais feia.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"O Último Amor de Mr. Morgan"

O veterano ator, que considero genial, Michael Caine, está simplesmente excepcional no melancólico "O Último Amor de Mr. Morgan", direção de Sandra Nettelbeck. Matthew Morgan é um viúvo solitário, que mora em Paris sem falar o francês, que nunca se preocupou em aprender, pois quem era sua intérprete era sua mulher, Joan (Jane Alexander). Só que já se passaram três anos desde a morte dela, e Matthew não consegue esquecê-la, após mais de 50 anos juntos. Seus dias são ocupados passeando pela cidade e dando aulas de inglês para uma amiga.

Mas Matthew terá um ânimo extra ao conhecer a jovem professora de dança Pauline (Clémence Poésy, de 117 Horas e Na Mira do Chefe). Os dois acabam, aos poucos, se tornando grandes amigos e Matthew começa a sentir algo mais profundo pela garota, que poderia ser sua neta. Em determinado momento, ela até comenta que se sente bem com ele, por ele olhá-la sem desejo. O que não é verdade, dirá depois Matthew para Pauline. Porém sem perspectivas de emendar um romance com ela, o velho professor de filosofia tenta o suicídio. O ato vai mexer com tudo na sua vida, pois os filhos dele, que moram nos Estados Unidos vão visitá-lo em Paris, e Miles (Justin Kirk, do seriado Tyrant) não será nenhum pouco receptivo ao envolvimento do pai com Pauline.

A história é envolvente, mostrando como uma pessoa pode mudar o jeito de outra ver a vida - no caso, a luz que Pauline traz para Matthew. E o filme ainda se passa na linda Paris, mostrada sempre ensolarada, com suas belas praças, prédios e o rio Sena. E ainda tem as atuações belas de Michael Caine e Clémence Poésy, e uma aparição completamente diferente de Gillian Anderson, sempre contida e aqui no papel de uma mulher um pouco excêntrica.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"As Duas Faces de Janeiro"

Belo filme de suspense baseado em romance de Patricia Highsmith, "As Duas Faces de Janeiro", direção de Hossein Amini, e que tem como pano de fundo a idílica Grécia. A trama se passa no começo da década de 1960, quando um casal, Chester MacFarland (Viggo Mortensen) e Colette (Kirsten Dunst), ele bem mais velho do que ela, conhecem o guia turístico norte-americano Rydal (Oscar Isaac, de Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum). A empatia é imediata, talvez por Chester e Rydal serem dois vigaristas notórios, mas sem demonstrarem um para o outro.

Então acontece uma tragédia, com Chester matando um outro homem que estava seguindo-o. O assassinato é testemunhado por Rydal, que vendo a chance de embolsar uma boa grana e obcecado pela jovem e bela Colette, decide ajudar o casal. Para fugir da polícia, os três se embrenham pelo interior da Grécia. E a cada movimento, a tensão vai crescendo mais e mais. O medo da prisão vai deixando todos neuróticos e tensos, até um desenrolar mais trágico ainda.

Viggo Mortensen tem atuação superior a seus pares, mostrando um homem nervoso e ciumento e também frio, mas também destaca-se Oscar Isaac, com seu olhar quase de louco - um personagem que não mostra seu caráter, que não deixa transparecer o que realmente pretende fazer. E acabamos torcendo, por isso, contra ele.

Cotação: bom
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...