Thursday, September 06, 2012

"Cara ou Coroa"

Ugo Giorgetti, que já dirigiu os ótimos e divertidos "Boleiros 1 e 2" e Festa, mexe nas lembranças e feridas da ditadura militar (1964-1985) no Brasil em Cara ou Coroa. Deste período, ele mirou exatamente em alguns meses de 1971, um dos mais rigorosos daquela época negra.

Narrado por Paulo Betti em primeira pessoa, é como se o estudante Getúlio (o fraco Geraldo Rodrigues) fosse o alterego de Giorgetti relembrando o seu começo no meio cultural. Ele ainda não sabe do que pretende da vida, enquanto secretamente trabalha numa peça de teatro, que pode ser dirigida pelo irmão e diretor teatral João Pedro (Emilio de Mello, de Cazuza, o Tempo Não Para). Este é um fracassado no casamento, arruinado financeiramente, viciado em jogatina e militante do PCB. E o Partidão está em busca de abrigo para dois de seus correligionários, perseguidos intensamente pelos milicos. E existe apenas um lugar onde eles nunca procurariam os fugitivos: num pequeno e mofado porão na casa do avô da namorada de Getúlio, Lilian (Júlia Ianina). O detalhe é que o avô é um general aposentado e reacionário, vivido por Walmor Chagas.

"Cara e Coroa" tem uma cuidadosa e excelente reconstituição de época, diálogos trabalhados, mas a fotografia, por vezes, é demasiadamente escura - talvez seja intencional, para lembrar aquele perído terrível da história do Brasil. A melhor presença é do veterano ator Otávio Augusto, taxista reacionário e tio de Getúlio e João Pedro. Logo no começo do filme, ele expulsa de seu táxi um homem com cabelos longos, após constatar não ser uma mulher. "Saia logo de meu carro, seu viado", dispara, mostrando como eram aqueles anos, onde ser diferente era uma ofensa a pessoas atrasadas.

Cotação: bom
Chico Izidro

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