Thursday, September 06, 2012

"Marighella"

Carlos Marighella, lembra sua última companheira, Clara Charf, que quando ela contou do namoro dos dois para o seu pai, judeu, esse não aprovou o relacionamento. Afinal, o ativista político era, nas palavras do velho, "goy, roten e schwarz", ou seja, não-judeu, comunista e negro. Ou seja, tinha tudo para dar errado, na visão simplista de um reacionário. Marighella foi um dos principais guerrilheiros que lutou contra a ditadura militar no Brasil dos anos 1960, acabando por ser assassinado numa emboscada do DOPS, em uma ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.

No documentário "Marighella", narrado pelo ator Lázaro Ramos, a diretora Isa Grispum Ferraz e sobrinha do militante comunista, refaz a trajetória dele desde o nascimento em Salvador, em 1911, até a morte. Carlos Marighella era filho de um imigrante italiano com uma negra baiana. Esta mistura criou um homem culto, politizado, ciente de que deveria lutar em prol dos desfavorecidos. Entrou no PCB e militou ao lado de Luis Carlos Prestes e desde sempre foi perseguido. Era também sedutor, poeta, ideólogo - escreveu o famoso Manual do Guerrilheiro Urbano, que serviu de guia para a luta armada contra os militares.

A diretora obteve depoimentos de antigos parceiros de Marighella, de parentes, da companheira de quase toda a vida. Também conseguiu imagens sensacionais de quase toda a vida do guerrilheiro. Ela falha, no entanto, por se mostrar por demais parcial. Marighella acaba virando um santo, quase um homem perfeito. Não são feitas críticas a ele e isso é uma falha grave. Sabemos que os guerrilheiros não desejavam apenas combater os militares. Também queriam instalar no país uma ditadura socialista, nos moldes soviéticos.

Cotação: bom
Chico Izidro

No comments: