terça-feira, janeiro 31, 2012

2 Coelhos

2 Coelhos começa de supetão, como se fosse um comercial de videogame. E assim será o ritmo por seus mais de 80 minutos. Este início confuso esconde um ótimo filme de ação e mistério, onde o protagonista Edgar (Fernando Alves Pinto), um cara de quase 30 anos, viciado em games e pornô e aparentemente sem rumo na vida, planeja um golpe contra um perigoso traficante e um político corrupto. Os dois coelhos do título se refere aquele velho ditado: você mira um alvo e mata dois coelhos com uma cajadada só. Com direção de Afonso Poyart, 2 Coelhos tem um ritmo que lembra os bons momentos de Tarantino e Guy Ritchie. E o mais legal: o uso intenso de computação gráfica. O começo é meio confuso, mas aos poucos começamos a entender o objetivo de Edgar, que também é o narrador dos eventos, que vão e voltam no tempo. Ele vai explicando cada passo a ser dado, mas sempre evitando revelar o objetivo final de seu plano, que surgiu após um terrível acidente em que se envolveu. Os personagens que transitam ao lado de Edgar também são interessantíssimos. O melhor talvez seja o vilão Maicom, interpretado por Marat Descartes, ator cujo nome homenageia dois grandes vultos da história francesa. Mau ao extremo, ele não exita em fuzilar quem lhe atravesse o caminho. O vilão ainda tem como capataz um personagem mais violento ainda, Bolinha, vivido pelo gigante Thogun, que pode ser visto ainda em O Palhaço. O rapper Thaíde faz um divertido assaltante, que usa uma pizzaria de fachada para aplicar seus golpes. E Alessandra Negrini vive uma sensual e malucona promotora de Justiça corrupta. E não parece que já está com seus 40 anos. 2 Coelhos traz ainda uma musa do cinema setentista, Aldine Müller, no papel da mulher do político corrupto. Ou seja, Poyart deu uma tremenda sorte ao escalar tal elenco, que se mostra afiado e entrosado ao extremo. Enfim, poucas vezes se viu filme tão intenso e sagaz no cinema nacional. Cotação: bom Chico Izidro

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Os Descendentes

George Clooney deu um tempo nos filmes políticos e românticos, deixou de lado o galã romântico e as boas vestes para estrelar o drama familiar Os Descendentes. E acaba não funcionando, apesar de ser um ator de extrema carisma. Dirigido por Alexander Payne, o filme tem um visual deslumbrante, pois se passa no paradisíaco Hawai, mas sem surfistas. As ilhas no Oceano Pacífico e que pertencem aos Estados Unidos são mostradas em todo o seu esplendor, e fugindo do convencional garotos e garotas bonitas com pranchas embaixo dos braços. O cinquentão dos cabelos grisalhos vive o advogado Matt King, que da noite para o dia vê a sua vida mudar drasticamente, após um acidente de lancha sofrido pela sua mulher. Os dois já não vinham se entendendo e ele era relapso com as duas filhas, a pequena Scottie e a adolescente Alexandra. Além disso, Matt está às voltas com uma questão familiar urgente. Descendentes dos primeiros imigrantes que chegaram as ilhas e dos nativos, que eram reis, Matt e seus primos devem, devido a uma lei, vender as terras de suas propriedades, ainda virgens. Com o dinheiro, ficarão mais ricos do que já são. Só que as terras estão sendo negociadas por um agente imobiliário que tinha uma ligação com sua mulher. Aí surge um tremendo conflito de interesse. E Os Descendentes não passa disso. O clichê de um pai tendo de lidar com a rebeldia das filhas na impossibilidade da presença da mãe. E eles passeando pelo Hawai, numa jornada repetitiva e sem graça em busca do homem que se "infiltrou" na vida da família. A trama impede a choradeira, pois desde o começo sabemos que a esposa de Matt não sairá do coma e já havia deixado em seu testamento que desliguem os aparelhos que lhe manteriam viva em caso de um acidente grave. E com isso a personagem de Patti Hastie acaba não gerando empatia com o público. Empatia que também não é obitida pelas chatinhas Shailene Woodley e Amara Miller, que interpretam as filhas de Clooney. Pior mesmo só Sid (Nick Krause), namorado idiota de Alexandra. O garoto é insuportável e péssimo ator, ainda mais quando foi destinado a ele fazer as partes cômicas de Os Descendentes. Só Clooney se salva, por sua experiência, mas muito longe dos bons momentos dos últimos anos. Cotação: regular Chico Izidro

J. Edgar

Talvez pela idade, Clint Eastwood já um octagenário, esteja amolecendo cada vez mais o seu coração. Por isso o ícone americano pegou leve em J. Edgar, a cinebiografia do diretor do FBI durante 48 anos (de 1935 a 1972). O polêmico personagem é interpretado com certa competência por Leonardo DiCaprio sob uma pesada maquiagem, mas o modo com que o filme foi dirigido, pôs tudo abaixo d'água. A agência americana, no período controlado por Hoover, transformou-se na maior organização policial do mundo, com mais de 16 mil agentes, e revolucionou o sistema de investigação criminal, como por exemplo a utilização das impressões digitais. O FBI começou prendendo comunistas, depois gângsters. E começou a se consolidar quando capturou o sequestrador do filho do aviador Charles Lindberg, o maior herói dos Estados Unidos na década de 1930. Nestes eventos, o filme é fiel e instigante. Mas depois sofre uma queda brusca, pois Eastwood passou a se preocupar mais com a questão sexual do diretor do FBI, homossexual enrustido que viveu romance com seu assistente Clide Tolson (Armie Hammer) até a morte. J. Edgar vira um dramalhão total, onde o personagem título é um filho carinhoso, mas com medo de se assumir, com pavor da reação da religiosa mãe vivida por Judie Dench. As cenas em que Hoover e Tolson lançam olhares apaixonados um ao outro são risíveis ao extremo. Eastwood acaba perdendo uma tremenda oportunidade de fazer um retrato completo e fiel sobre a história do FBI na metade do século passado. A sexualidade de Hoover foi importante, sim, pois ele era um tremendo hipócrita, já que fazia festinhas onde todos os convidados se vestiam de mulher (os crossdressers), e ao mesmo tempo perseguia homossexuais, negros e judeus. O líder e pastor negro Martin Luther King, que lutou pelos direitos humanos na década de 1960, esteve sempre na mira do chefe da agência. E o filme faz uma rápida e ineficiente citação ao evento. Outro fato marcante foi a queda de braço que teve com o ministro da Justiça Robert Kennedy naquele mesmo período, pois a tradicional família era intensamente espionada por Hoover. Afinal, o diretor do FBI era de direita e os Kennedys democratas e católicos e o presidente J. F. Kennedy assumiu o governo fazendo mudanças radicais. O filme passa rasante pela briga. Igualmente não funciona a maquiagem pesada imposta aos atores. Ao invés de envelhecer os atores, ela apenas inchou os seus rostos, o que para uma produção de tal porte, é uma grande derrapada. Cotação: ruim Chico Izidro

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Os Homens que não amavam as Mulheres

Os Homens que não amavam as Mulheres é a versão americana do filme sueco de 2009, baseado no romance de Stieg Larsson, morto em 2004. Esse é o primeiro de uma trilogia, que tem ainda A Rainha do Castelo do Ar e A Menina que Brincava com Fogo, já lançados na telona sueca. Confesso que ainda não encontrei quem não tenha gostado dos livros, que ainda não li. Todos leitores entusiasmados pela história, que envolve estupros, assassinatos, nazismo, hackers, entre outras coisas. A versão hollywoodiana dirigida por David Fincher, de Seven e Zodiaco, é quase, quase, uma refilmagem de seu par europeu. Só que traz alterações mais palatáveis ao gosto americano. O didatismo está em primeiro lugar, já que o original faz com que o espectador tenha de refletir mais. Os Homens que não amavam as Mulheres segue os passos do jornalista investigativo Mikael Blomqvist (Daniel Craig), que trabalhando para a revista Millenium, faz uma reportagem denunciando falcatruas sobre um magnata. Sem ter mais provas, acaba condenado. Antes que comece a cumprir a pena, é contratado pelo ricaço Henrik Vanger (o veterano Christopher Plummer, de A Noviça Rebelde), que deseja saber o destino de sua sobrinha Harriet, de 16 anos, desaparecida há cerca de 40 anos. Todos acreditam que ela tenha sido assassinada e o objetivo é saber como isso ocorreu. Na investigação, Blomqvist vai deparar com uma rica família cheia de podres, onde alguns membros foram nazistas dos mais fanáticos, outros que não se falam há décadas e outros eremitas. Para ajudar no trabalho, Blomqvist recebe a ajuda da hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara, de A Rede Social), uma jovem punk totalmente desajustada. A dupla vai acabar se deparando com algo que não esperava encontrar - a constatação de que um serial killer anda agindo na região. Os Homens que não amavam as Mulheres em sua versão americana sofre com a comparação de seu similar sueco - claramente superior. Seja na atuação dos atores. Até que Craig não deixa a desejar perto do Blonqvist interpretado por Michael Nyqvist, o vilão de Missão Impossível 4 Protocolo Fantasma. Mas Rooney Mara fica léguas distante da Lisbeth de Noomi Rapace, muito pela falta de empatia com Craig e até com a plateia. E David Fincher acaba por alterar muito o término da ação, que por pouco não derrapa para o meloso. Numa coisa ambos os filmes se equivalem. O modo idiota com que o vilão acaba sendo descoberto. E resume-se a isso: a comparação entre as duas versões. Resta-me ler os livros. Cotação: regular Chico Izidro

As Aventuras de Tintim - O Mistério de Licorne

O garoto aventureiro e jornalista belga Tintim, criação de Hergé (Geórge Remi - as iniciais investidas deram o apelido ao desenhista), é um dos principais quadrinhos europeus, ao lado de Asterix e Obeliz. Só que sempre sofreu com a pecha de colonialista e anti-comunista e até mesmo racista. Isso não interferiu para que Tintim se transforma-se em ídolo de milhões de jovens. E até mesmo do judeu Steven Spielberg, que lança agora as Aventuras de Tintim - O Mistério de Licorne. Este filme é o primeiro de uma trilogia. Os próximos dois serão dirigidos por Peter Jackson. Filmado em 3D, que convenhamos, mostra-se desnecessário, e animação motion capture (que grava o movimento dos atores para depois transformá-los em desenhos), As Aventuras de Tintim - O Mistério de Licorne une numa mesma história três livros do herói - O Segredo de Licorne, O Tesouro de Rackham, o Terrível e O Caranguejo da Pinça de Ouro, para apresentar como o jornalista (vivido por Jaime Bell, o garoto bailarino de Billy Eliott), que nunca é visto escrevendo uma matéria, conheceu o alcoólatra e seu melhor amigo, o capitão Haddock (Andy Serkis, que já serviu como modelo para a digitalização em O Senhor dos Anéis, King Kong e O Planeta dos Macacos, a Origem). Os dois, mais o esperto cachorro Milu, vão em busca de um tesouro, que também é procurado pelo vilão Rackham (Daniel Craig). A trama, com direito a muito mistério, tiroteios, perseguições, mas sem esquecer o humor, começa em Bruxelas e vai parar no Marrocos. A perfeição da animação encanta, porém As Aventuras de Tintim - O Mistério de Licorne, acaba tornando-se cansativo, pois em determinado momento é um tal de corre-corre, com as investigações dedutivas do garoto sendo deixadas de lado, para virar um típico fbILLilme de ação hollywodiano. O filme traz ainda muito de Indiana Jones, e não é de se estranhar que quando o famoso arqueologista surgiu em 1981, Hergé acreditou que Spielberg tivesse lhe copiado a ideia. Só que o americano nem sabia da existência de Tintim, e quando o conheceu, apaixonou-se perdidamente, tanto que sonhava desde então em produzir um filme com Tintim. Isso só acabou sendo possível agora. Mas tanto tempo de encvubação não foram suficientes para se fazer um filme com alma. Cotação: regular Chico Izidro

terça-feira, janeiro 24, 2012

Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras

O sagaz detetive inglês Sherlock Holmes, para ser mais palatável ao público jovem do Século XXI, agora age mais com o físico do que com o intelecto. Não que esta característica tenha sido abandonada. Está lá, vigorosamente. Mas a ação recebe mais atenção do que a investigação dedutora em Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras, de Guy Ritchie (ex-marido de Madonna e também diretor de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes). O detetive é vivido mais uma vez por Robert Downey Jr., que mais uma vez enfrenta seu principal rival, o gênio do mal e professor universitário James Moriarty (Jared Harris, filho de Richard Harris). Desta vez o vilão pretende provocar uma guerra mundial para lucrar com uma empresa de armamentos militares. Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras é de uma vertiginosidade irritante, mas com boa fotografia e cenas em câmera lenta que remetem a John Woo. Downey Jr., sabe-se, é um excelente ator e dá um ar debochado ao seu Sherlock, que ao contrário dos romances e contos de Arthur Conan Doyle, não tranca-se num quarto escuro, com depressão e usando cocaína. Ao contrário, o detetive vive nas ruas, usa diversos disfarces, até mesmo de mulher, e é um expert em artes marciais, até dando uma surra em quatro marginais em um beco de Londres. Ao seu lado está o ex-oficial do exército britânico John Watson (Jude Law). Seu personagem quer sair da sombra do parceiro, casar e ter uma família. O que provoca enorme ciúme em Sherlock, mas nunca sugerindo, apesar de muita gente jurar ter notado, uma relação homossexual entre os dois. Watson tem um problema na perna e isso provoca um dos maiores furos no filme. Em uma cena de explosão em uma floresta, o inspetor corre mais do que Jesse Owens e Emil Zatopeck juntos quando foge das bombas que caem ao seu redor. E o filme é isso. Muitas explosões, tiroteios, correrias e pouco espaço para a dedução. E quando aparece, são em momentos em que Sherlock consegue prever o que acontecerá dentro de alguns minutos, como se fosse um visionário. Ele consegue até calcular (adivinhar) o momento em que um guarda irá disparar um tiro que poderia matá-lo. Por isso, instantes antes troca a bala do rifle por um batom! Totalmente inverossímel. Cotação: regular Chico Izidro

quinta-feira, janeiro 12, 2012

O Vendedor

O Vendedor, de Sébastien Pilote, pode ser classificado como um dos filmes mais depressivos dos últimos tempos. Canadense, tem sua ação passada na parte francesa do país, mais exatamente na pequena cidade de Lac Saint-Jean, em Quebéc. Mostra o dia a dia de Marcel Léves, de 67 anos, um workholic doentio. Viúvo, sua vida resume-se a vender carros e ser babá do neto, quando sua filha única precisa passar o dia fora. A história já começa com um acidente numa estrada cheia de neve, onde um carro trombou com um alce. A cena será explicada quase ao final do filme. Além disso, a cidadezinha passa por uma crise, pois a fábrica de papéis que empregava a maioria dos moradores locais entra em falência. Léves, vivido por Jean-François Boudreau, além de workholic, é metódico. E não mede esforços para convencer uma pessoa a adquirir um carro, mesmo que essa não tenha condições financeiras para cumprir com os compromissos do financiamento. E ele tem orgulho de ser o maior vendedor de carros da loja, tendo vencido os colegas em 16 anos consecutivos, e mostrando orgulhoso os trófeus pelos feitos. Seus métodos chegam a ser radicais. Porém devido a um incidente que irá abalar sua vida o fará repensar seus conceitos. O Vendedor tem suas quase duas horas passadas em um ambiente gélido, com neve para todos os lados. Isso e mais a ótima atuação de Boudreau imprimem ao filme um sentimento reflexivo. Pois será que vale a pena sacrificar a vida pessoal pelo trabalho? Léves não sabe fazer mais nada, a não ser passar o dia na loja. E quase pira quando é obrigado a tirar uns dias de folga. Bom para pensar. Cotação: bom Chico Izidro

Cavalo de Guerra

Pensei nos primeiros 30 minutos de O Resgate do Soldado Ryan, em que Steven Spielberg reproduz com maestria a invasão da Normandia pelos Aliados no Dia D. Em Cavalo de Guerra, o diretor americano consegue ser mais perfeito ao recriar as sangrentas batalhas na França durante a I Guerra Mundial. No espetacular filme, vemos a jornada do cavalo Joey, que criado pelo jovem fazendeiro Albert Narracott (o novato e promissor Jeremy Irvine), é comprado por um oficial inglês que parte para o conflito. O animal, a partir daí, vai passar pelas mãos dos alemães, de uma garotinha francesa, voltar para os alemães, depois para os ingleses, numa ciranda interminável. E sempre demonstrando ser um cavalo diferente dos demais pela sua incrível inteligência e força. Até seu nome, Joey, pode ser considerado como um diminutivo para Journey, ou jornada em inglês. Spielberg revelou ter utilizado 17 animais nas filmagens. E em apenas duas cenas utilizaram-se efeitos especiais para não machucá-los. E em muitos momentos, os atores eram instruídos a não interferir nos movimentos dos cavalos. Em um dos momentos de Cavalo de Guerra, Spielberg consegue demonstrar o quanto do absurdo do conflito. A câmera filma o cavalo e o cavaleiro empunhando sua espada. Depois o inimigo e sua metralhadora. E corta para o rosto do soldado, em close, com os olhos vidrados, encarando a morte, ali a sua espreita. As batalhas nas trincheiras enlameadas e infestadas de ratos também são de um detalhismo excepcional. Claro que Spielberg, por vezes, não consegue escapar das armadilhas sentimentais, mas constate-se, não baratos, como no momento em que Albie tenta salvar a expulsão da família da fazenda, ao fazer Joey arar uma terra pedregosa. E o diretor poderia também ter colocado os personagens franceses e alemães falando em seus idiomas e não em inglês. Já os britânicos falam inglês com seus sotaques locais. Só que isso não desmerece essa bela obra. Cotação: ótimo Chico Izidro

Tomboy

Em 1999, Hillary Swank levou o seu primeiro Oscar ao interpretar a garota que se passava por homem em Meninos Não Choram. Agora, no francês Tomboy, de Céline Sciamma, a atriz-mirim Zoé Héran mostra talento impar ao viver a garota que deseja ser do sexo oposto. Laure e sua família chegam a um novo condomínio, e ela faz amizade com as crianças do local. No entanto, Laure apresenta-se como Michaël. Bom de briga, de futebol e ainda ganha a atenção especial da garota Lisa. Evidente que situações constrangedoras podem estragar o disfarce de Laure. Por exemplo, como urinar quando toda a gurizada faz o mesmo ao lado da quadra de futebol, ou tirar a camisa para jogar no time dos descamisados? E as aulas se aproximam. O que Laure fará quando chegar na classe e a professora chamá-la pelo seu nome de batismo? Outro grande achado de Tomboy, que significa moleca, é a da irmã menor de Laure, a graciosa Jeanne (Malonn Lévana). A menininha de seis anos rouba cada cena em que participa. É hilária a parte em que Jeanne conversa com os pais sobre o novo amigo que fez, Michaël, olhando debochada para a mana mais velha, que acredita terá seu segredo revelado. Ou quando conversa com outra garotinha sobre a expectativa de ir à escola. Tomboy trata com ternura e também com um pouco de crueldade a questão do homossexualismo. E tenta mostrar que as crianças, como se sabe, podem ao mesmo tempo ser adeptas do bullying como igualmente ser tolerantes com seus iguais. Cotação: ótimo Chico Izidro

O Guarda

Um policial irlandês escuta, junto a vários colegas, uma preleção de um agente do FBI falar sobre traficantes de cocaína que pretendem introduzir vários quilos da droga na Irlanda. Então pergunta se os traficantes são mesmos criminosos, afinal são brancos. O agente, negro, replica que sim. "Ah, mas é que pelo que eu sei todos os traficantes são negros ou mexicanos", dispara xxxx. E continua, para espanto do americano, falando que o racismo faz parte da cultura irlandesa. O policial é Gerry Boyle (Brendan Gleeson, de Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Alfaiate do Panamá) no divertido O Guarda, direção de John Michael McDonagh, e que evita o politicamente correto. Que convenhamos, já está no limite do suportável. Ele terá de ajudar Wendell Everett (Don Cheadle) a encontrar os traficantes e solucionar o assassinato de um morador da pequena cidade onde se passa a história. O problema é Boyle não é nada profissional. Pelo contrário, seus métodos são toscos, antiquados, e não está nem um pouco interessado em trabalhar. Quando as investigações irão iniciar, Boyle diz que não vai, porque é seu dia de folga. Everett, então, tem de encarar a missão sozinho e verá o quanto é difícil, pela cor de sua pele, conseguir que os moradores da localidade colaborem nas investigações. Numa cena, sob forte chuva, ele bate à porta de uma casa e a mulher que atende, espanta-se ao ver um negro ali parado, segurando um guarda-chuva. Então fala em gaélico para o marido. "Tem um negro aqui na porta". E claro que o casal se recusa a ajudá-lo. O Guarda mostra aquele antigo esquema de dois policiais de comportamentos diferenciados tendo de trabalhar juntos. Mas ao contrário, de por exemplo, Máquina Mortifera, onde um era louco e o outro um severo pai de família, este filme se aproxima mais de O Calor da Noite, onde um agente federal tem ao seu lado um xerife racista. Só que no clássico dos anos 1960, com Rod Steiger e Sidney Poitier, a seriedade não concedia espaços para o humor. Cotação: bom Chico Izidro

O Espião Que Sabia Demais

O escritor inglês John Le Carré é um dos maiores best-sellers da literatura de espionagem no mundo em todos os tempos. Já teve transposto para o cinema obras como O Espião Que Saiu do Frio, O Alfaiate do Panamá e A Casa da Rússia, entre outros. Suas histórias são intrincadas. E o filme O Espião Que Sabia Demais, direção do sueco Tomas Alfredson, não foge da paternidade. Simplesmente é proibido piscar, pois se isso acontecer, já era o entendimento da trama, que traz o alter-ego de Le Carré, o espião George Smiley (vivido por Gary Oldman sob uma forte maquiagem que o envelheceu mais de 15 anos). Oldman, aliás, após muito tempo deixa de interpretar personagens psicóticos e careteiros. Seu Smiley é um cara tranquilo, observador. E retirado da aposentadoria para tentar desmarcarar um traidor infiltrado no Serviço Secreto Inglês. O agente duplo, e são quatro os suspeitos, vem há anos destruindo com as missões inglesas na Europa em plena Guerra Fria. A história passa-se nos anos 1970, e começa em Budapeste, com a morte de um espião inglês, passando por Istambul, e claro a Londres. Tudo numa reconstituição de época surpreendente. O Espião Que Sabia Demais, porém, peca no excesso de cortes, que são bruscos. O diretor tenta, afinal, colocar na tela mais de uma dezena de personagens e suas atividades e seus nomes e codinomes. Virou uma verdadeira salada de frutas. Nos livros, tal estilo de trama funciona, pois as obras de Le Carré são verdadeiros calhamaços. No cinema, o tempo é escasso. Seria mais apropriado uma mini-série ou então reduzir o numero de personagens. O elenco é fortíssimo, e muitos acabam sendo sub-aproveitados, contando com, entre outros, Colin Firth, Tom Hardy e John Hurt. Cotação: regular Chico Izidro

As Aventuras de Agamenon - O Repórter

A turma do Casseta e Planeta modificou o humor brasileiro no final dos anos 1980. Porém, com o tempo, como é comum em tudo o que acontece no mundo, a magia desgastou-se, tanto que o programa televisivo deles saiu do ar. E no cinema, eles nunca acertaram a mão. O primeiro foi A Taça do Mundo é Nossa, em 2003. Depois veio Seus Problemas Acabaram, em 2006. Agora com roteiro de Marcelo Madureira e Hubert, foi tentada a transposição para as telas da vida de Agamenon, jornalista e colunista fictício do jornal O Globo. A coluna do personagem é publicada todos os domingos no jornal carioca. E como brincam eles, Agamenon escreve diariamente todos os domingos. É o máximo de humor obtido. Em As Aventuras de Agamenon, o Repórter, direção de Victor Lopes, é contada em forma de documentário a vida do jornalista, que teria participado dos principais eventos históricos do Século XX, como por exemplo a II Guerra Mundial e o suicídio de Getúlio Vargas. E também entrevistado as principais personalidades mundiais e até tido um caso com Eva Braun, amante de Adolf Hitler. Tudo, porém, contado de uma forma medíocre, com colagens malfeitas e atuações piores ainda de Hubert, Marcelo Adnet (que ainda não conseguiu reproduzir no cinema a graça que obtém na MTV) e Luana Piovani. E ainda é constrangedor ouvir a narração do filme na voz de Fernanda Montenegro. Outros atores, músicos e escritores toparam, ainda, pagar mico, concedendo depoimentos fictícios sobre Agamenon, como Caetano Veloso, Ruy Castro, Jô Soares e Pedro Bial. Bem que este já é o rei da mediocridade em sua participação no lixo chamado Big Brother Brasil. Cotação: ruim Chico Izidro

Inquietos

Gus van Sant tem uma enorme facilidade em dirigir jovens, obtendo resultados excelentes, como constatado em Elephant e Paranoid Park. Em Inquietos, o diretor americano se sai bem mais uma vez. E outra vez lidando com um tema que lhe é tão comum, a morte. Neste belo filme, o solitário Enoch (Henry Hooper, filho de Dennis Hopper) passa o tempo frequentando funerais de desconhecidos. O seu personagem, sombrio, lembra muito Harold (Bud Cort) no inesquecível Ensina-me a Viver. Num desses funerais, o jovem conhece a bela Annabel (Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton). A menina dá um novo sentido a Enoch, que não trabalha, não estuda, vive com a tia, já que seus pais morreram em um acidente de carro. Para piorar, ele tem como único amigo um piloto japonês, Hiroshi (Ryo Kase), com quem costuma jogar batalha naval e trocar confidências. O problema é que Hiroshi não existe. É um piloto kamikaze criado pela sua mente perturbada. Annabel, por sua vez, tem câncer e apenas três meses de vida. E é o contrário de Enoch. Animada, risonha, amante de livros sobre pássaros. E os dois iniciam uma amizade que se transformará em amor. E eles têm de viver este período de forma intensa. E apesar do tema, van Sant consegue fugir espertamente da depressão. Graças também a graciosa interpretação de Wasikowska. A bela trilha sonora, com suaves canções pop, e o instrumental de Danny Elfman, ex-Oingo Boingo, igualmente são fundamentais para o delicado filme. Que mostra que a vida deve ser vivida intensamente. Cotação: ótimo Chico Izidro

O Gato de Botas

As botas significam na Idade Média e começo da Contemporânea um símbolo de honra e dignidade. Ou seja, só os nobres e oficiais e alguns soldados podiam usá-la. Os pobres andavam de pés descalços mesmo. Então, após um ato de bravura, um felino ganha o direito de calça-las. Surge aí O Gato de Botas, direção de Chris Miller, e baseado no conto do francês Charles Perrault. O personagem também é um dos mais populares da série Shrek. O bichano, em seu filme solo, é envolvido inocentemente em um crime praticado por seu melhor amigo, o Ovo, e tem de provar sua inocência. E claro que o nosso herói não deixará de, em determinado momento, abusar de seu olhar pidão, que deixa todos cativados. O jeito é ao lado de uma bela gatinha e do Ovo, que está tentando se regenerar, tentar achar o pé de feijão mágico, subir aos céus e encontrar a gansa dos ovos de ouro, e obter dinheiro para recuperar sua dignidade no povoado em que foi criado. A história contada por Chris Miller é bem enganchada, com boas piadas - umas até adultas demais para parte do público a que se destina, pois utilizam-se do duplo sentido. Sim, O Gato de Botas agrada tanto aos piás quanto aos seus pais. A animação é perfeita, como tem acontecido na maioria dos filmes atuais. Cotação: bom Chico Izidro

domingo, janeiro 01, 2012

Embargo

Embargo é a proibição da comercialização com um determinado país de determinado produto. Agora seguimos. A história mais conhecida de José Saramago transposta para o cinema é Ensaio Sobre a Cegueira, dirigida por Fernando Meirelles. Aliás, a literatura do escritor português não é comum na telona, por ser considerada complexa demais. Porém o cineasta patrício do Nobel de Literatura de 1998, António Ferreira, dirigiu o divertido, melâncólico e estranho Embargo. No filme, o vendedor de sanduíches Nuno (Filipe Costa) é um inventor, que criou uma máquina para escanear pés e assim revolucionar a indústria calçadista de Portugal, país que vive um embargo comercial de petróleo. Os carros não circulam nas ruas, exceto o de Nuno, que rouba gasolina de alguns incautos. Ele, no entanto, é um azarado e tudo dá errado em sua vida, inclusive com a mulher Guida, que lhe cobra sempre mais responsabilidades. Nuno começa a ver uma luz no final do túnel quando consegue uma reunião com um empresário disposto a investir na produção em série de seu invento. Aí o surrealismos entra em campo - ele sofre um acidente e fica, inexplicavelmente, preso em seu carro. Ou seja, tudo o que começa a fazer dali em diante terá de ser feito dentro do veículo. Pateticamente, Nuno circula pelas ruas vazias da cidadezinha sem conseguir dizer para ninguém que não consegue se desvencilhar. Enfim, o carro embarga sua vida. E tudo o que o inventor passa a querer é se livrar daquela situação, voltar para a família e conseguir um coelho de pelúcia para a filha pequena. Embargo se passa em um período incerto, pois os elementos presentes mostram o passado, o presente e o futuro. Os televisores, as roupas, os carros remontam à década de 1970. Mas Nuno carrega consigo um celular e um computador. Cotação: bom Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...