quinta-feira, março 28, 2019

"Minha Obra-Prima" (Mi Obra-Maestra)




Um divertido filme argentino, "Minha Obra-Prima" (Mi Obra-Maestra), tem direção de Gastón Duprat (“O Cidadão Ilustre”) e conta a história de um galerista de arte e um artista que há décadas vive do passado.

Arturo (Guillermo Francella) mantém uma galeria dee arte em Buenos Aires, mas age mais como uma babá do artista Renzo (Luis Brandoni). Este, depois de um início de carreira fulgurante, nos anos 1980, onde ganhou muito dinheiro e fama, parou no tempo, e não faz nada de criativo há décadas. Além disso, é uma pessoa irascível e impaciente, afugentando todos ao seu redor.

A primeira parte do filme mostra esta relação nenhum pouco sadia entre os dois. Mas a trama ganha impulso é em sua segunda parte, quando Renzo sofre um atropelamento e entre outras sequelas, perde a memória. É então que a dupla bola um plano mirabolante, que não vou contar aqui para não dar spoiler, para voltar aos holofotes.

De sobra, "Minha Obra-Prima" mostra, de forma divertida, como funciona o mundo das artes e suas negociações, e também os críticos, amados e odiados na mesma proporção, por sua força em poder destruir ou alavancar uma carreira. E a química de Francella e Brandoni funciona extraordinariamente.

Duração: 1h41
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Uma Viagem Inesperada"




Na mais recente leva de filmes envolvendo Brasil e Argentina, "Uma Viagem Inesperada", de Juan José Jusid, é quase um road-movie envolvendo um pai e seu filho em busca de se conhecerem melhor. A trama envolve o engenheiro argentino Pablo (Pablo Rago), que vive no Rio de Janeiro, ao lado da bela jovem Lucy.

Se preparando para um momento importante em sua vida, quando participará do lançamento de uma nova plataforma de exploração de petróleo, ele recebe a ligação de sua ex-mulher para contar sobre o filho do casal, Andrés (Tomás Wicz), que está prestes a ser expulso da escola, após ser flagrado com uma faca. E ela exige sua ida imediata para Buenos Aires.

Em desacordo, e com a namorada grávida, Pablo volta a Buenos Aires e planeja levar o garoto, que vive as agruras da adolescência, para sua cidade natal, Bolívar, no interior da Argentina. Talvez na viagem ocorra uma conexão entre eles, que vivem em mundos completamente opostos.

A partir dessa viagem, Pablo precisará aprender a lidar com o filho em busca de uma conexão emocional. Assim, não existe nenhuma novidade no filme. Momentos como este já foram mostrados a exaustão no cinema. E ainda mais, o ator Pablo Rago (de O Segredo de Seus Olhos), não parece confortável no papel, atuando como estivesse no piloto automático.

Duração: 1h34
Cotação: regular

Chico Izidro

"Antônio Um Dois Três"




Inspirado no livro “As Noites Brancas”, de Dostoiévski, "Antônio Um Dois Três", do brasileiro Leonardo Mouramateus, radicado em Portugal, o filme transita em três momentos distintos. Basicamente existe uma história contada em momentos que se confundem, na vida do jovem lisboeta Antônio (Mauro Soares). Tudo a partir de sua saída de casa, ao ser confrontado pelo pai. Afinal, o rapaz deixou de frequentar a faculdade há um ano, e vive bebendo e fumando.

Enfim, Antônio não sabe o que quer da vida. Ele foge de casa, talvez na única cena divertida do filme, quando confrontado pelo pai, fica de pé e começa a rir, e depois sai correndo. Antônio então procura abrigo na casa de uma ex-namorada, onde conhece a brasileira Débora (Deborah Viegas), se encantando pela garota. Mas ela está de viagem marcada para a Rússia, onde irá fazer um curso.

Aí o filme dá uma guinada, mostrando Antônio envolvido em uma peça teatral, onde os atores encenam os momentos em que o jovem se desentendeu com o pai. E numa terceira parte, Antônio volta a se envolver com Débora, recém retornada da Rússia.

O diretor resolveu brincar com a atemporalidade ou realidade alternativa. Mas infelizmente a estratégia não vingou. No fim, "Antônio Um Dois Três" é uma obra fraca, morosa e que a partir de determinado momento, se torna insuportável de se assistir. O espectador torce para que se encerre logo aquela viagem. Não funcionou.


Duração: 1h35
Cotação: ruim

“Elegia de um crime“




O documentário “Elegia de Um Crime“ encerra a “Trilogia do Luto“, que aborda a trágica história da família do diretor Cristiano Burlan. Ele mostrou dois primeiros trabalhos, momentos específicos, e trágicos, de sua vida. Em "Construção", lançado em 2007, faz uma homenagem ao seu pai, pedreiro, morto após uma queda.

E em "Mataram Meu Irmão", de 2013, ele mergulha na memória afetiva de seu irmão, assassinado por um traficante. Nesta nova obra, Burlan se aprofunda na morte de sua mãe, Isabel, assassinada pelo namorado em 24 de fevereiro de 2011.

Burlan vai ao interior mineiro e entrevista parentes, amigos e vizinhos de infância para entender melhor o que se passou com a sua mãe - que foi estrangulada pelo parceiro, Jurandir Muniz de Alcântara. O diretor ainda tenta com que o homem seja capturado - Burlan recebe dicas de onde se encontra, que está foragido da polícia. E esta não faz muito esforço para capturar o assassino.

"Elegia de Um Crime" não é um filme fácil de se assistir. Afinal, mostra uma história de sofrimento, de desesperança. De medo também. Afinal, o diretor, além de buscar os motivos que levaram a sua mãe ser morta, também retrata a busca dele pelo assassino - e se este encontrado, como reagiria? Consta que Isabel não foi a única vítima de Jurandir. Ele teria matado mais outras duas mulheres, e encontra-se foragido. Triste.

Duração: 1h32
Cotação: ótimo

Chico Izidro

“Vox Lux – O Preço da Fama” (Vox Lux)




“Vox Lux – O Preço da Fama” (Vox Lux), direção de Brady Corbet, começa arrasador e assustador, quando recria um evento semelhante ao ocorrido em Columbine. Até o ano é o mesmo, 1999. Um adolescente entra na escola e fuzila todos os alunos e a professora em uma sala de aula. A sobrevivente é a jovem Celeste (Raffey Cassidy), de 13 anos, que leva um tiro na cabeça ao tentar dialogar com o assassino. A trama é contada em off por Willem Dafoe.

Dias depois, na cerimônia em homenagem aos mortos, e também enquanto se recupera das sequelas, Celeste canta uma música comovente, atraindo os olhares de um caçador de talentos, vivido por Jude Law. E aos poucos a jovem se transforma numa estrela pop. E a sua vida sempre é destacada com um evento trágico, como por exemplo o 11 de setembro.

E é aí que o filme descarrilha. Na sequência, Celeste já é uma adulta, vivendo a fama e o sucesso de sua carreira como cantora. E ao mesmo tempo, não conseguindo se dedicar como queria à filha adolescente, Albertine (novamente Raffey Cassidy). Além do mais, Celeste tenta se recuperar de um escândalo, que meio que atrapalhou a sua carreira.

E a história vai afundando mais ainda, sem contar que o estilo musical da cantora é aquela coisa genérica atual, sem a mínima originalidade, parecendo ser sempre a mesma música, naquele tum-tum-tum irritante, cheia de teclados repetitivos. Fuja.

Duração: 1h50
Cotação: ruim

Chico Izidro

"O Retorno de Ben" (Ben is Back)




"O Retorno de Ben" (Ben is Back), direção de Peter Hedges, tem a mesma temática de outro filme lançado este ano, "Querido Menino", de Felix Von Groningen. Nas obras são mostrados os efeitos destrutivos que acontecem com famílias onde um de seus integrantes sofre com o vício em drogas.

Em "O Retorno de Ben" (Ben is Back), a história se transcorre em um período de 24 horas, à véspera do Natal. Ben (Lucas Hedges, filho do diretor), volta para a casa, depois de um ano em uma clínica de reabilitação para viciados. Ele é recebido com alegria pela mãe, Holly (Julia Roberts) e pelos dois filhos pequenos de seu casamento com Neal (Courtney B. Vance), mas é visto com ressalvas por este e pela sua irmã Ivy (Kathryn Newton), do primeiro casamento de Holly.

Ben garante estar recuperado e ter recebido o aval de seu supervisor para sair da clínica. Porém, aos poucos as coisas vão dando errado na casa, mesmo com o jovem tentando acertar em seus passos - mas o seu passado não é nada tranquilo, e ele vem confrontá-lo quando a família vai até a igreja assistir a missa do galo. No decorrer da trama, Holly fica completamente desesperada e sai à noite, angustiada, para tentar salvar a vida do filho.

Julia Roberts é o grande nome do filme. De atriz de obras românticas, muitas água com açúcar, ela já entrou naquela faixa onde as atrizes passam a viver mães e avós. Mas ela fez bem esta transição, tomando conta de cada cena em que aparece, mostrando segurança em cenas fortes. Lucas Hedges, por sua vez, é uma grande promessa, e apresenta uma boa atuação, incorporando muito bem um personagem angustiado e viciado - a cena em que ele confronto Holly e diz para ela não confiar em pessoas drogadas é bem o resumo do filme.


Duração: 1h42
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Nós" (Us)



Jordan Peele surpreendeu o mundo com o fantástico "Corra", que apresentava um terror mais psicológico. Agora em "Nós" (Us), o diretor mostra segurança e não se prende ao modelo usado em sua estreia, arriscando em um terror mais físico e com pitadas de gore. E de sobra ainda traz Lupita Nyong’o no papel principal.

A trama se inicia em 1986, mostrando uma garotinha Adelaide Wilson, usando uma camiseta de Michael Jackson à época do clássico Thriller se perdendo em um parque de diversões em uma cidade litorânea e passando por uma experiência assustadora. Aí a história dá um salto de 30 anos, e agora Adelaide é adulta, casada e mãe de dois filhos adolescentes.

E a família se dirige para a mesma para o mesmo local onde ela sofreu o trauma quando criança. Mas agora é uma outra época, e ela está feliz. Até que no começo da noite, estranhos surgem à porta da sua casa. São quatro pessoas, todas vestindo um macacão vermelho. Aos poucos, os Wilson se dão conta que aquelas pessoas são suas cópias exatas, mas são do mal e querem matá-los. E dê-lhe cenas fortes, com facadas, golpes de bastão de beisebol, no melhor estilo gore. A família de Adelaide fará de tudo para sobreviver aquelas horas de desespero.

"Nós" bebeu muito na fonte de "Invasores de Corpos", "Violência Gratuita" e as obras de M. Night Shyamalan, com a reviravolta no final. E aí é onde Peele tropeça, pois a pegadinha não faz sentido, quando ele tenta explicar os eventos ocorridos na vida de Adelaide. Este é o problema da obra, que assim ficou descaracterizada, perdendo força.

Duração: 1h56
Cotação: bom

Chico Izidro

"Um Banho de Vida" (Le Grand Bain)




Dirigido pelo ator e também diretor francês Gilles Lellouche, "Um Banho de Vida" (Le Grand Bain), retrata a reviravolta na vida de vários homens, que estavam vivendo vários problemas em suas vidas. A história é focada, no entanto, no personagem de Bertrand (Mathieu Amalric), que desempregado, está em depressão, vivendo desiludido e sem rumo sendo sustentado por sua esposa, que já está se cansando da situação.

Até que ao ver um anúncio no quadro de avisos da piscina pública onde frequenta, resolve se escrever na equipe de nado sincronizado masculina do local. Lá Bertrand vai encontrar outros homens também igualmente desiludidos e perdidos na vida. Mas aos poucos e apesar da desconfiança geral, eles se unem e começam a procurar um sentido para as suas vidas.

O auge é quando os homens decidem participar do campeonato mundial de nado sincronizado. E a equipe é formada por pessoas desajeitadas, gordas, tristes e sofredoras. Mas quem sabe? Os diálogos do filme são excelentes, e quem se destaca também são as atrizes Virginie Efira e Leïla Bekhti, que interpretam as duas professoras da equipe. A primeira tão sofredora quanto seus atletas e a segunda, paraplégica, mas ao mesmo tempo sádica e sem papas na língua, exigindo o máximo dos nadadores.

"Um Banho de Vida" acaba mostrando que sempre existe esperança para as pessoas, por mais que elas não consigam encontrar soluções para seus problemas.

Duração: 1h58
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Um Ato de Esperança" (The Children Act)



Não gosto de religião, e muito menos de fanatismo religioso. Aí quando assisto a um filme como “Um Ato de Esperança” (The Children Act), dirigido por Richard Eyre (“Notas Sobre um Escândalo”), me incomodo ainda mais sobre esta coisa de seguir regras estúpidas, que muitas vezes nem estão registradas naquele livro de ficção chamado de biblia.

No caso deste filme, se discute a intransigência das pessoas que fazem parte das Testemunhas de Jeová. Um garoto de 16 anos, Adam Henry (Fionn Whitehead, de “Dunkirk”), sofre de leucemia, um câncer que afeta a produção comum das células sanguíneas, e terá mais chances de melhorar e combater a doença se for submetido a transfusões de sangue. Não haveria impasse algum, não fossem ele e seus pais Testemunhas de Jeová, religião na qual os praticantes consideram proibida a mistura de sangue. Quem o faz geralmente vira um pária - e como diz um dos advogados do hospital que pretende fazer a transfusão: "Como assim a bíblia rejeita isso, pois na época em que ela foi escrita nem se sabia nada sobre transfusão de sangue?". Mas vai querer coerência desta gente?

Então cabe a juiza Fiona Maye (Emma Thompson), que trabalha sempre em casos delicados, lidar com a situação. Mas a vida dela não está nada agradável no momento em que surge o caso de Adam - seu casamento de mais de duas décadas com Jack Maye (Stanley Tucci) está em crise, sendo que ele apareceu com uma proposta de abrir o relacionamento, pois deseja dormir com outras mulheres. Pois bem, não vou contar aqui o que se sucede. Mas a vida de Fiona e Adam acabam se ligando, e o jovem passa a ser um estorvo para a juíza, que não sabe como mantê-lo longe.

"Um Ato de Esperança" é eficaz em discutir vários temas impactantes. E tem mais uma atuação impecável de Emma Thompson, que com o tempo ficou mais bonita.

Duração: 1h45
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Um Amor Inesperado" (El Amor Menos Pensado)



"Um Amor Inesperado" (El Amor Menos Pensado) é uma comédia romântica dirigida por Juan Vera, que tem no papel principal o astro argentino Ricardo Darín. Na trama, ele vive Marcos, casado há 25 anos com Ana (Mercedes Morán). Mas o matrimônio entra em crise, após o filho único sair de casa, em Buenos Aires, para entrar numa universidade na Espanha.

O casal parece viver a crise do ninho vazio. No começo da partida do filho, até tentam levar a vida normal, mas aos poucos vão caindo num marasmo e decidem se separar. E a separação ocorre não por discordâncias e desentendimentos contínuos, mas talvez por tédio.

Na nova vida de solteiros da dupla, Ana decide soltar o lado jovem, indo para baladas e tendo relacionamentos fugazes com outros homens. Já Marcos, num primeiro momento, fica sozinho, curtindo os momentos que não teve por mais de duas décadas, porém logo começa a se relacionar mais seriamente - inclusive dividindo o teto com as mulheres.

"Um Amor Inesperado" não traz novidades em seu enredo, mas tem uma grande construção de personagens, simpáticos, e muitos espectadores vão se enxergar neles. E a química de Mercedes Morán e Ricardo Darín é o grande mérito do filme, que tem uma metragem além do convencional para o seu estilo.

Duração: 2h16
Cotação: bom

Chico Izidro

Suprema (On the Basis of Sex)




Na sexta-feira, dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher assisti ao filme Suprema (On the Basis of Sex), que trata sobre a vida de uma mulher que desde sempre batalhou pelos direitos femininos. Com direção de Mimi Leder, o longa ficciona sobre a juíza Suprema Corte Americana, Ruth Bader Ginsburg, que aos 78 anos ainda se mantém na ativa. E no dia seguinte, em casa, vi o documentário RBG (indicado ao Oscar), que trata da mesma dama - o filme tem as iniciais dela.

"Suprema" foca em apenas 20 anos da vida de Ruth Bader Ginsburg, vivida por Felicity Jones, começando em meados dos anos 1950, quando ela é uma da poucas mulheres aceita na Universidade de Direito de Harvard. Casada com Martin Ginsburg (Armie Hammer) e com uma filha pequena, Ruth não era muito levada a sério pelos colegas e professores, tendo de superar o preconceito, se tornando uma das principais alunas da classe.

A trama fala do câncer do marido, que sobreviveu, ficando ao lado dela por mais de cinco décadas, avança no tempo, quando tenta conseguir um emprego em um escritório de advocacia de Nova Iorque, nunca recebendo chances por ser mulher, até passar a dar aulas em uma universidade comunitária.

Mas o filme fica mais forte quando enfoca o caso (fiscal) de Charles E. Moritz contra o Comissário da Receita Federal, no qual Ruth lutou contra o sistema vigente, que olhava apenas para os homens brancos e heterossexuais, desfavorecendo mulheres, negros, gays e outras minorias. Suprema” conta uma história importante por si só, o que permite mostrar o quão importante foi a presença de Ruth Bader Ginsburg no cenário jurídico e sociocultural dos Estados Unidos.


Duração: 2h
Cotação: ótimo


Chico Izidro

“Pastor Cláudio”




Em “Pastor Cláudio”, documentário escrito e dirigido por Beth Formaggini, o ministro evangélico Cláudio Guerra, com uma Bíblia na mão, conta ao psicólogo e ativista Eduardo Passos, com frieza e riqueza de detalhes as operações na guerra suja nos anos da ditadura militar no Brasil. Ele é um ex-delegado, que cometeu crimes bárbaros e nunca foi punido, beneficiado pela Lei da Anistia, em 1979.

Hoje se diz arrependido dos atos bárbaros que cometeu. Cláudio revelou ter cometido nove execuções de guerrilheiros e incinerados outros 12 corpos - num momento do filme, ele conta de forma natural como disparou um tiro na cabeça de um preso, para poupá-lo do sofrimento. O ex-policial agia entre Minas Gerais, São Paulo, Viória-ES e Campos dos Goytacazes-RJ, para onde levava os corpos a uma usina para queimá-los e não deixar provas das atrocidades. O agora pastor evângélico dá nome a ex-colegas, recorda com exatidão os nomes de alguns presos.

Entre detalhamentos, conta como a curiosidade era aguçada em relação aos corpos dos torturados. Cláudio lembra que abriam os sacos para ver os rostos dos mortos - curiosidade mórbida. Em todo momento ele diz ter sido frio nas execuções - não havia emoção. Ao mesmo tempo, revela ter recebido muitas benesses dos militares, tanto financeiramente, como carros e outras ajudas. Cláudio ainda relata saber detalhes de mortos famosos na ditadura, como a estilista Zuzu Angel, que conforme conta, incomoda muito o sistema, e o jornalista Vladimir Vlado Herzog, cuja morte foi um tiro no pé dos milicos.

Enfim, "Pastor Cláudio" é um relato forte, esclarecedor e aterrador. Mostra como foi um período terrível, uma guerra suja mesmo. Aula de história.

Duração: 1h16
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Calmaria" (Serenity)




"Calmaria" (Serenity), dirigido por Steven Knight, tem uma primeira parte instigante, lembrando alguns clássicos noir, mas na metade da trama surge outra estória. O capitão de um barco de pesca (Matthew McConaughey) tem um passado misterioso que está prestes a vir à tona.

O filme tem uma primeira parte instigante, lembrando alguns clássicos noir. Falo de "Calmaria" (Serenity), dirigido por Steven Knight, trazendo no elenco Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Diane Lane e Djimon Hounsou. O longa provoca a curiosidade, traz um suspense que prende o espectador.

Matthew McConaughey vive Baker Dill, um sujeito pacato, que vive da pescaria e de levar turistas para passear em seu barco numa ilha do Caribe. Seu grande objetivo é pescar um atum gigantesco, que lhe assombra, e passa os tempos de folga na cama de Constance (Diane Lane), a mulher mais linda do pedaço. Até que um belo dia recebe a visita de sua ex, Karen (Anne Hathaway), atuando como uma femme fatale.

Os dois tiveram um relacionamento e um filho, Patrick (Rafael Sayegh). Mas ela deixou Baker quando ele foi servir na Guerra do Iraque. Então Karen casou com um sujeito mafioso e agressivo, que a espanca, Frank Zakarias (Jason Clarke), e ainda ameaça o garoto, que passa os dias trancado em seu quarto jogando vídeo-game. E Karen tem uma proposta. Frank chegará a ilha dentro de alguns dias para pescar. Assim, Baker levaria Frank para passear no barco e o mataria, recebendo em troca alguns milhões de dólares.

Até aí o filme flui tranquilamente, prendendo a atenção. E então se transforma em uma outra história, completamente diferente e desnecessária, trazendo elementos de fantasia e ficção científica - numa espécie de pegadinha desagradável para o espectador. Uma mistureba incompreensível, que não vou adiantar aqui para não praticar spoiler...

Duração: 1h46
Cotação: regular

Chico Izidro

"Albatroz"



Dirigido por Daniel Augusto (Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho) e com roteiro de Bráulio Mantovani (Cidade de Deus e Tropa de Elite 1 e 2), "Albatroz" é um filme que pretende provocar o público. Uma história completamente embaralhada, complicada mesmo, que exige o máximo de atenção do espectador, se este estiver disposto a embarcar na viagem visual.

O filme é focado no personagem Simão, fotógrafo vivido por Alexandre Nero. Conceituado profissional, com vários prêmios na carreira, e várias mulheres em sua vida, em uma viagem para Israel, ele testemunha um atentado terrorista que não dá certo e vê o criminoso ser linchado. E com seu faro, ele fotografa o linchamento, mas depois passará a ser questionado do porquê não ter feito nada para evitar a morte do homem, ao invés de ficar tirando fotos.

E ao mesmo tempo, sua vida é cercada pelas mulheres. Ele é casado com Catarina (Maria Flor), uma compositora de jingles publicitários, mas se apaixona pela atriz judia Renée (Camila Morgado). E tem em seu encalço Alícia (Andrea Beltrão), sua vingativa primeira namorada de adolescência. E tudo na vida de Simão parece fazer parte de um experimento científico. Enfim, é uma obra confusa, e que exige muita paciência de seus espectadores.

Duração: 1h33
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Capitã Marvel"




Filmes protagonizados por super-heróinas...achei meia boca "Mulher-Maravilha" - a primeira parte até era legal, mas aquele final genérico me incomodou deveras. Agora chega "Capitã Marvel", direção de Anma Boden e Ryan Fleck, trazendo um personagem não tão conhecido do público assim. E a trama cumpre bem seu papel, com ação simples, boas cenas de ação e a atriz certa para o papel (a oscarizada Brie Larson, de "O Quarto de Jack"). E a história antecipa o que veremos na sequência de "Vingadores: Últimato", que chegará às telas em abril.


O enredo de "Capitã Marvel" transcorre em meados dos anos 1990, mostrando como a piloto Carol Denvers foi parar no planeta dos guerreiros Kree, sendo treinada pelo comandante Yon-Rogg (Jude Law), na guerra contra os transmorfos Skrulls. Ela perdeu a memória e não tem noção de seu passasso terraquêo, mas ao voltar para a Terra, pequenas lembranças vão surgindo - os flashs são mostrados ao longo do filme.

Aqui ela se une a um jovem agente da S.H.I.E.L.D., Nick Fury (Samuel L. Jackson, rejuvenescido por computação gráfica) para tentar evitar que os Skrulls consigam arquitetar seu plano de capturar uma cientista, vivida por Annete Bening - até que aos poucos vai descobrindo sua real função.

"Capitã Marvel" tem humor na medida certa, pancadaria na medida certa, e uma trama instigante, com vilões muito bons também - e com planos lógicos, ao contrário da maioria dos vilões em filmes de HQ, que acham que dominar o mundo é destruí-lo.

Duração: 2h04
Cotação: ótimo

Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...