quinta-feira, outubro 26, 2023

“Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon)

“Assassinos da Lua das Flores” (Killers of the Flower Moon), dirigido por Martin Scorsese, é baseado no best-seller homônimo do escritor David Grann e também baseado em uma história real ocorrida nos anos 1920. Com suas mais de três horas de duração, o épico retrata o que aconteceu com o povo nativo norte-americano Osage, que vivia no centro-oeste dos Estados Unidos, mais exatamente em Oklahoma.
De uma população encurralada e sofrendo pelo preconceito e dizimação, os Osage acabaram encontrando petróleo em suas terras. Eles se tornaram o povo com a maior riqueza per capita do mundo. Porém, a fortuna acabou sendo mais uma maldição do que benfeitoria. Os brancos acabaram aparecendo nas terras, e se aproveitando das leis e ingenuidade do povo Osage, começaram a roubar o dinheiro dos nativos. E entre 1921 e 1925, mais de sessenta Osage morreram em circunstâncias misteriosas – na realidade eles eram assassinados. O caso foi investigado pelo FBI, agência que tinha acabado de ser criada na época, e dirigida pelo racista J. Edgar Hoover.
A trama do filme de Scorsese foca no personagem Ernest Burkhart (Leonardo Di Caprio, excelente), um veterano da I Guerra Mundial, que convencido pelo tio, o pecuarista William Hale (Robert De Niro), a se casar com a Osage Mollie Kile (Lily Gladstone, também excepcional), para tomarem posse das riquezas da família da nativa. William até se apaixona por Mollie, com quem teve três filhos. Ao longo do relacionamento, no entanto, o ex-soldado tentou matar a esposa a envenenando.
“Assassinos da Lua das Flores” mostra como a ganância se sobressaiu ao preconceito racial, pois muitos homens brancos, apesar da repulsa, casavam com as nativas. No entanto, eles miravam apenas a fortuna dos Osage. O filme é excelente, com a sempre fantástica reconstituição de época proporcionada nas obras de Scorsese, que saiu da sua zona de conforto, no caso a temática máfia italiana de Nova Iorque.
Detalhe que os incidentes contados no filme ocorreram muito próximo de Tulsa, também em Oklahoma, onde em 1921, houve um violento linchamento da comunidade afro-americana, que vivia um fantástico boom econômico, o que incomodou deveras a população branca, que invadiu o lado preto da cidade e matou centenas de pessoas, além de queimar as propriedades – o acontecimento, inclusive, é citado no longa-metragem de Scorsese. Histórias puras. Tristes, mas que devem ser sempre lembradas e estudadas.
Cotação: excelente
Duração: 3h26min
Chico Izidro

segunda-feira, outubro 16, 2023

"Meu Nome É Gal"

"Meu Nome É Gal" é uma cinebiografia de uma das maiores cantoras que o Brasil já teve, Gal Costa (1945/2022), interpretada por Sophie Charlotte, com direção de Dandara Ferreira e Lô Politi. O filme acompanha a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos antes de se tornar a famosa cantora, sendo a história se passando entre 1966 e 1971, quando ela saiu de Salvador e decidiu se aventurar no Rio de Janeiro, com pouco mais de 20 anos.
Na Cidade Maravilhosa ela é acolhida por seus pares Caetano Veloso (Rodrigo Lellis), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Maria Bethânia (a codiretora do filme, Dandara Ferreira) e a atriz Dedé Gadelha (Camila Márdila), que a ajudam a dar os primeiros passos na carreira. O longa mostra a atriz tendo de vencer a timidez, o surgimento de seu apelido Gal, o nascimento do movimento musical Tropicália, a relação dela com a mãe Mariah (Chica Carelli), e acaba quando da realização de seu show Fa-Tal.
Porém, "Meu nome é Gal" acaba sendo muito decepcionante. A trama é contada de forma apressada, e muito poderia ter asido feito, devido a vida de Gal Costa, tão rica e cheia de detalhes. O longa-metragem tem ainda problemas na parte técnica como a sincronia labial entre as músicas e o movimento labial dos atores.
Além disso, tendo apenas 87 minutos de duração, o filme termina de forma abrupta, quase preguiçosa. Em alguns releases, consta que "Meu Nome é Gal" tem 120 minutos - ou seja, aonde foram parar os outros 33 minutos? Apesar de tantas falhas, Sophie Charlotte traz uma boa apresentação, conseguindo transmitir a timidez e a beleza simples da homenageada. Mas Gal Costa merecia um trabalho mais carinhoso. Muito mais.
Cotação: ruim
Duração: 87 minutos
Chico Izidro

quinta-feira, outubro 12, 2023

"O Exorcista: O Devoto" (The Exorcist: Believer)

Eu sou a favor de que filmes clássicos não devem ser refeitos ou ganhar sequências. É um sinal para desastre total. Deixa quieto. Mas parece que a indústria cinematográfica não aprende. Então depois de assumir a retomada da franquia "Halloween", criada por John Carpenter e Debra Hill em 1978, David Gordon Green decidiu revisitar o clássico de terror "O Exorcista", de 1973, dirigido por William Friedkin, do romance homônimo de William Peter Blatty. Ou seja, há exatos 50 anos. Assim, Green soltou "O Exorcista: O Devoto" "O Exorcista: O Devoto" (The Exorcist: Believer), uma espécie de reboot do longa lançado há exatos 50 anos.
O filme conta a história de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), que perdeu a esposa em um terremoto no Haiti e, por isso, teve que cuidar sozinho da filha Angela (Lidya Jewett). Passados 13 anos, Angela sente a falta da mãe, e ao lado da amiga Katherine (Olivia O'Neill) decide fazer uma experiência na floresta para tentar conversar com espíritos. As duas acabam desaparecendo, voltando três dias depois, sem saber o que aconteceu.
Mas logo, se percebe que as garotas estão possuídas por uma força malígna. A partir daí, os pais se unem para tentar livrar as duas da possessão demoníaca, sendo ajudados por um padre, um pastor, uma representante de uma religião africana, uma beata e um ateu. E o filme naufraga vergonhosamente. Nada lembra o clássico setentista, e de onde saiu o sub-título "o devoto"? Quem é o devoto, por favor?
O filme é muito ruim, com cenas escuras - uma técnica utilizada com frequência nos filmes atuais, para esconder os efeitos especiais ruins, e provocando o sono no espectador. A única referência ao clássico de 1973 é a presença fugaz de Ellen Burstyn e Linda Blair, reprisando os seus papéis de Chris McNeill e Regan, respecticvamente. David Gordon Green entrega uma obra que não tem forças para continuar a pretendida franquia. Sim, a ideia é começar uma nova trilogia. Poupe-nos.
Cotação: ruim
Duração: 1h51min
Chico Izidro

domingo, outubro 08, 2023

"O Protetor 3: Capítulo Final" (The Equalizer 3)

"O Protetor 3: Capítulo Final" (The Equalizer 3) é, como diz o título, o terceiro e último filme da saga protagonizada por Denzel Washington e dirigida por Antoine Fuqua. Na cinesérie, Washington interpreta o ex-agente da CIA Robert McCall, que se torna uma espécie de vigilante após se aposentar, sempre buscando vingança em favor dos fracos e oprimidos da sociedade.
Nesta terceira parte, passada cinco anos após os eventos do segundo filme, após desbaratar uma quadrilha numa ilha na Sardenha, McCall acaba sendo ferido, e vai parar numa pequena aldeia no litoral do sul italiano. Ele é bem recebido na localidade, que de certa forma, parece ter parado no tempo. E enquanto se recupera dos ferimentos, passa os dias caminhando e tomando café.
Porém, logo McCall descobre que os moradores vivem sob o controle da Máfia local, tendo de pagar por "proteção", sofrendo sérias retaliações em caso de não contribuir. E à medida que os mafiosos começam a machucar e a destruir as propriedades dos aldeões, o ex-agente vê que não consegue ficar indiferente e começa a colocar em práticas as suas habilidades, caçando um por um dos criminosos.
Ao mesmo tempo, ocorre outra história paralela, onde o FBI investiga a origem do tráfico de drogas descoberta por McCall na Sardenha, e passa a seguir o ex-agente. E a investigação é comandada por Dakota Fanning, que interpreta a agente Emma Collins - para quem não ser recorda, a atriz protagonizou ainda criança ao lado de Washington o violento "Chamas da Vingança", em 2004.
"O Protetor 3" é um baita filme de ação, com com algumas sequências de luta bem coreografadas, e cenas de mortes bastante fortes (algumas não são para estômagos fracos). E mais uma vez, Washington está ótimo como McCall, entregando uma performance cativante - o método que o agente usa para lutar e matar seus oponentes é muito interessante. No final, ocorre uma pequena homenagem ao Napoli, campeão do Calcio depois de 33 anos, com uma pequena festa no centro da cidade com torcedores comemorando um título do time local, que por sinal, tem as cores azul e branca.
O diretor Antoine Fuqua deixa claro que esta deve ser a última história de McCall. "Eu achei apropriado dar adeus a Robert McCall dessa maneira, na Itália, em uma cidadezinha onde ele encontrou um lar. Não acho que temos mais a dizer, no momento, sobre Robert McCall. Nós vimos sua jornada e ele finalmente encontrou sua paz, e esse é um bom jeito de terminar", completou.
Cotação: ótimo
Duração: 1h49min
Chico Izidro

quarta-feira, outubro 04, 2023

"Resistência" (The Creator)

"Resistência" (The Creator), dirigido por Gareth Edwards, de "Rogue One" e "Godzilla", é um filme de ficção científica de orçamento modesto, mas visualmente impressionante e aborda temas pontuais, como por exemplo, Inteligência Artificial e como ela pode interferir com a vida humana. O longa-metragem retrata um mundo onde robôs inteligentes coexistem em harmonia lado a lado com a humanidade, em ocupações como policiais, médicos e até outras funções.
No entanto, esta paz acaba quando um robô detona uma bomba atômica em Los Angeles, dizimando milhões de pessoas. O governo dos Estados Unidos e outras nações ocidentais não encontram outra forma de retaliação a não ser banir qualquer forma de IA. Porém, alguns países asiáticos continuam a desenvolver a inteligência artificial.
O personagem principal é Joshua, interpretado por John David Washington, um ex-agente das forças especiais norte-americanas, que tem um braço e uma perna robóticas. Além disso, ele se ressente da falta da mulher, aparentemente morta em um ataque ocidental contra os robôs, e que esperava um filho dele, que trabalhava infiltrado na ocasião.
Então, ao descobrir que ela ainda está viva, aceita missão de entrar em território inimigo, com dois objetivos. Um é encontrar a esposa e dois, a missão: destruir uma arma, que é uma inteligência artificial que tem a forma de uma garotinha, vivida por Madeleine Yuna Voyles. Joshua se vê em um dilema - ele não quer eliminar a IA, se virando contra seu governo, que acaba sendo o vilão da história.
"Resistência" tem um visual deslumbrante, ficando evidente que Gareth Edwards bebeu em outras obras cinematográficas, tendo em seu DNA "Apocalypse Now", "Platoon", "Star Wars", "O Exterminador do Futuro", "Blade Runner" e "IA". Além disso, o diretor decidiu filmar quase tudo em locações reais, em vez de estúdio, utilizando por países como Nepal, Tailândia, Japão, Indonésia, Camboja e Vietnã. Somente na pós-produção é que entraram os efeitos especiais.
Enfim, "Resistência" é um grande filme, abordando com muita eficácia o que o avanço da tecnologia e o seu uso inapropriado pode trazer para a humanidade.
Cotação: ótimo
Duração: 2h15min
Chico Izidro

domingo, outubro 01, 2023

"Jogos Mortais X" (Saw X)

"Jogos Mortais X" (Saw X), direção de Kevin Greutert, é o décimo filme da franquia de terror iniciada em 2004, sob o comando de James Wan. Este novo filme se passa entre o primeiro e o segundo episódios, onde o serial killer John Kramer, conhecido como Jigsaw (Tobin Bell), está com pouco tempo de vida devido a um câncer no cérebro. Após ser interpelado por um colega do grupo de apoio, ele fica sabendo de um tratamento inovador e viaja ao México para ser submetido ao procedimento, realizado pela dra. Cecila Pederson (Synnøve Macody Lund, uma sósia mais nova da Vera Fischer).
Porém, após passar por uma cirurgia, Kramer acaba descobrindo que tudo não passou de uma farsa, e que o esquema foi feito para enganar pessoas doentes e vulneráveis, que entregavam todo o dinheiro para tentarem uma cura. Ou seja, não houve nenhum procedimento médico e Kramer segue doente.
Indignado e furioso, o serial killer recruta sua pupilo Amanda (Shawnee Smith, quase irreconhecível devido a intervenções plásticas). Os dois, então, saem à caça de todos os envolvidos no golpe. Eles são colocados em um galpão, onde Jigsaw armou suas armadilhas, para que aprendam a não "brincar" com quem não devem, ou morram tentando escapar. E os instrumentos de tortura construídos pelo sádico assassino são caprichados, provocando muitas cenas fortes, com horror físico que chega a causa mal-estar no espectador.
Porém, desta vez o roteiro faz com que a gente torça pelo assassino e sua seguidora, ao invés dos torturados - que se mostram pessoas sem nenhum caráter e aproveitadoras da fragilidade humana. A história, basicamente, transcorre toda dentro de um galpão.
E claro, apesar de agradar aos fãs, tem alguns furos. Por exemplo, a rapidez com que Jigsaw constrói as suas armadilhas, ou então o desleixo dos vigaristas. Apesar de toda a produção para enganar as vítimas, eles deixam pistas absurdas quando abandonam um hospital no meio do nada no México...
Mas apesar destes detalhes, "Jogos Mortais X" agrada em cheio o seu público.
Cotação: bom
Duração: 1h58min
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...