quinta-feira, janeiro 23, 2020

"1917"



Para começar, vale destacar que "1917", dirigido por Sam Mendes, é uma obra que tem de ser vista obrigatoriamente no telão de um cinema. O filme é grandioso, com imagens magnifícas e com duas horas de duração, filmado em dois planos sequências, retratando a Primeira Guerra Mundial, que para as pessoas que viveram àquela época, "a Grande Guerra", pois nunca imaginariam que duas décadas depois, viria outra mais mortal e destruidora.

A história transcorre em pouco menos de 24 horas e é baseada em uma história contada a Mendes por seu avô paterno, Alfred Mendes, que combateu no conflito do começo do século passado. Nela, dois jovens soldados britânicos, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são designados para atravessar o campo inimigo alemão nas trincheiras francesas. Eles devem transmitir uma mensagem a um comandante de divisão do outro lado das trincheiras, que está com suas tropas prontas para um ataque aos germânicos. Mas se o fizerem cairão em uma armadilha.

Assim, os dois soldados iniciam uma jornada pelos campos dizimados na França ocupada. Pelo caminho, muitas armadilhas, buracos, ratazanas, cadáveres insepultos. E em todo o tempo, a câmera segue os personagens, incessantemente, em um grande plano sequência, que também joga o espectador para dentro das trincheiras.

O segundo plano sequência é registrado no final do dia, jogando um dos personagens nas trevas de prédios abandonados e destruídos. A tensão é enorme, e os atores conseguem transmitir o pavor que é estar dentro de uma guerra, com seus olhares e gestos apavorados e nervosos. O filme do ano.

Cotação: excelente
Duração: 1h59
Chico Izidro

"Um Lindo Dia Na Vizinhança" (A Beautiful Day in the Neighborhood)



Fred Rogers (1928/2003), foi o apresentador e animador do programa televisivo Mister Rogers' Neighborhood, produzido de 1968 a 2001 nos Estados Unidos. Nele, eram abordados temas do cotidiano de forma lúdica, e que era acompanhado por pessoas de todas as idades. "Um Lindo Dia Na Vizinhança" (A Beautiful Day in the Neighborhood), dirigido por Marielle Heller, tem o programa como pano de fundo, mas para falar sobre outro personagem, o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys).

Lloyd é casado e tem um filho recém nascido e trabalha como jornalista investigativo na revista Esquire. E em 1998 ele recebeu a incumbência de fazer um perfil de Fred, algo totalmente fora de suas reportagens. Contrariado pelo trabalho a fazer, e com problemas na vida pessoal, ele parte para fazer seu trabalho. Ou seja, o filme é sobre Lloyd, que carrega ainda uma grande mágoa do pai, Jerry (Chris Cooper), que abandonou a ele, a irmã e a esposa doente décadas atrás e de repente retorna.

Então quando Lloyd começa a conviver com Fred, uma pessoa muito próxima de um santo, paciente, com conselhos e observações, seu comportamento vai se modificando, fazendo-o repensar toda sua vida.
Apesar de ser coadjuvante, Tom Hanks é o nome do filme, com uma atuação contida. Parece estar interpretando ele mesmo, figura simpática, empatica. Matthew Rhys, do seriado "The Americans", também está bem, com uma expressão onde demonstra toda a carga pesada carregada pelo seu personagem. Motivador.

Cotação: ótimo
Duração: 1h49
Chico Izidro

"A Possessão de Mary" (Mary)



A frase que marcou quando acabou a sessão especial para a imprensa: "o Gary Oldman estava precisando de grana para pagar o aluguel". Pois o excelente ator aceitou e desculpe o trocadilho, embarcar nesta verdadeira canoa furada que se chama "A Possessão de Mary" (Mary), direção de Michael Goi, e mostra uma família em uma viagem num navio possuído por um fantasma.

Até que o filme começa promissor, com um barco abandonado em alto mar, e uma mulher dando um depoimento para a polícia sobre eventos sobrenaturais que teriam ocorrido nele.
Porém ao longo da história, vai tudo indo por água abaixo, e me desculpem mais este trocadilho. Gary Oldman vive David, um marinheiro em crise financeira, que em um leilão onde compareceu para comprar um iate para tentar salvar a família, se sente atraído por um barco batizado de Mary - alguém aí pensou em "Christine, o Carro Assasino"?".

Ele adquire a embarcação, comprando uma briga com a mulher, Sarah (Emily Mortimer), que aos poucos acaba aceitando a compra. Então a família decide, após reformar a embarcação, sair em uma viagem pelo Caribe, com o objetivo de chegar as Bahamas. Além de David e Sarah, vão no barco as filhas Mary (Chloe Perrin), Lindsey (Stefanie Scott), e os amigos Mike (Manuel Garcia-Rulfo) e Tommy (Owen Teague).

E aos poucos, uma entidade sobrenatural começa a dominar os passageiros, que começam a dar sinais de loucura e possessão. Mas a tensão e os sustos são inexistentes - tá, aparece aquele fantasma atrás de algum personagem, porém tudo em total anticlimax. Os atores parecem atuar no automático (a melhorzinha é Emily Mortimer, enquanto Gary Oldman, que já trabalhou espetacularmente em diversas obras, parece obviamente desinteressado. Mais um filme de terror decepcionante.

Cotação: ruim
Duração: 1h25
Chico Izidro

"Instinto" (Instinct)



"Instinto" (Instinct) é o primeiro filme dirigido pela atriz Halina Reijn (“A Espiã” e “Operação Valquíria”). A história é forte e instigante. E não recomendada para quem gosta de filmes de ação, pois é repleta de diálogos e sem muita pressa em suas cenas.

No filme, Nicoline (Carice van Houten), é uma psicóloga que começa a trabalhar em uma instituição penal, ficando com a responsabilidade de analisar o paciente Idris (Marwan Kenzari), que está preso por crimes sexuais. E passados cinco anos, está na fila para ver se poderá ser liberado.

Idris tem uma personalidade típíca dos psicopatas, inteligente e manipulador. Ele é avaliado pela equipe de psiquiatras para ser liberado. Porém Nicoline é contra a ideia, pois suspeita do comportamento do criminoso. E aos poucos, os dois vão entrando em uma espécie de jogo sexual.

"Instinto" é um bom filme para a reflexão e que mostra um jogo de poder - mas aqui existe uma ambiguidade, pois mais que a psiquiatra tenha o poder de vetar a saída de Idris da instituição, ele também mostra poder de manipulador. Instigante.

Cotação: ótimo
Duração: 1h48
Chico Izidro

"O Escândalo" (Bombshell)



Atualmente estou assistindo a série "The Morning Show", com Jennifer Aniston, Reese Whiterspoon e Steve Carell. A história transcorre em uma emissora de tevê, fictícia, onde o apresentador é afastado por causa de seu assédio sobre as funcionárias. Pois em "O Escândalo" (Bombshell), direção de Jay Roach, a história é praticamente a mesma, porém baseada em fatos reais, em incidente na poderosa Fox News, dos Estados Unidos, envolvendo seu presidente e funcionárias da emissora de Rupert Murdoch.

O filme se passa durante a campanha política à presidência norte-americana que elegeu Donald Trump em 2016. E a trama acompanha três mulheres jornalistas: Megyn Kelly (Charlize Theron), Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e Layla Pospil (Margot Robbie), esta a única personagem criada especialmente para o longa. Todas foram assediadas sexualmente pelo chefão, o CEO, Roger Ailes (John Lithgow, magnífico).

As duas primeiras tinham carreira de sucesso na emissora e Megyn é uma das profissionais mais respeitadas da área, enquanto que Gretchen, já passando dos 50 anos, vê seu prestígio ir afundando dia a dia, até ser demitida. Já Layla é a foca, que deseja crescer na profissão, e sofre mais com os abusos de poder.

O filme mostra um ambiente onde os homens se achavam acima de tudo, abusando de seus cargos. Entram em cena até o famoso teste do sofá. E o CEO, gordo e de aparência repulsiva, não titubeava ao pedir para suas contratadas darem uma voltinha ou usarem saias mais curtas, colocando as pernas à mostra. Até que elas colocaram a boca no trombone, e foram atrás de reparos morais para suas vidas.
Além da história forte do movimento Me Too, se destacam ainda as fortes maquiagens dos atores. Charlize, no início, está irreconhecível, e Nicole parece deformada, com um queixo quadrado realmente assustador. Mas é John Lithgow que aparece embaixo de quilos e quilos de espuma para aparentar a obesidade do antigo CEO da Fox News, que acabou falecendo pouco depois de ser levado a julgamento. "O Escândalo" é mais atual do que nunca.

Cotação: ótimo
Duração: 1h49
Chico Izidro

domingo, janeiro 12, 2020

"Kursk - A Última Missão" (Kursk)



Em 2000, ocorreu uma tragédia de proporções gigantescas, quando o submarino nuclear russo Kursk sofreu uma explosão e afundou no Mar de Barents. Na hora morreram mais de cem tripulantes e cerca de uma dúzia permaneceram no seu interior, esperando por um resgate, que nunca chegaria. Todo este drama é mostrado em "Kursk - A Última Missão" (Kursk), dirigido por Thomas Vinterberg.

E sendo um acidente acontecido na Rússia, as autoridades não aceitaram ajuda do exterior, com medo de que países como a Inglaterra e os EUA pudessem, uma vez perto do submarino, descobrir segredos militares, e ainda por cima não admitiam o incidente, tentando desviar o acontecimento dos familiares dos marujos. Exatamente como havia ocorrido em Chernobyl apenas 14 anos antes, na ainda União Soviética.

O diretor dinamarquês cria um thriller eficiente, com muito suspense, apesar de o destino dos marinheiros ser de conhecimento. E fica aquela sensação arrepiante de como foram os últimos momentos daqueles homens, presos no fundo do mar, sabendo que morreriam por falta de oxigênio.

O filme conta com as atuações do belga Matthias Schoenarts como o líder da embarcação, Mikhail, e mais Colin Firth, o sueco Max von Sydow, o alemão August Diehl e a francesa Léa Seydoux.

Cotação: ótimo
Duração: 1h59
Chico Izidro

"Adoráveis Mulheres" (Little Women)


Li o livro de Louisa May Alcott na minha adolescência, batizado aqui no Brasil de "Mulherzinhas", onde é contada a história de quatro irmãs crescendo entre 1861 e 1865, durante a Guerra Civil Americana, e de forte inspiração autobiográfica. Pois este clássico norte-americano já foi transposto para as telas diversas vezes, e agora chega mais uma versão: "Adoráveis Mulheres" (Little Women), dirigido por Greta Gerwig.

As irmãs são Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh), todas elas com uma qualidade marcante. Jo é o alter-ego de Louise, sendo a escritora do grupo. Meg tem uma aptidão para atriz, Amy possui habilidades para a pintura e Beth é excepcional pianista.

Elas vivem com a mãe Marmee (Laura Dern), enquanto o pai, Robert (Bob Odenkirk, de Better Call Saul) está lutando na Guerra Civil pelo lado dos federados. Mas o destaque fica com Meryl Streep, que vive a tia Marsh, sendo uma espécie de Condessa Violet (Maggie Smith), de Downton Abbey, rancorosa, ferina e presa ao conservadorismo.

A trama foca em Jo, que sonha em ser escritora e não ser obrigada a viver sob os ditames da época, ou seja, mulher tem de se preocupar em casar e ter filhos. Suas atitudes e gestos podem levar a outras leituras nos dias de hoje. À época, ela seria apenas uma jovem perdida. Mas sente-se claramente que Jo era lésbica.

A obra, no entanto, parece um pouco deslocada no tempo e no mundo. Todo mundo parece extremamente feliz, otimista, perfeito. Tem uma cena familiar que lembra aqueles comerciais de manteiga. Tudo muito perfeitinho, num tempo em que se morria de escarlatina, de uma gripe comum. E isso, às vezes incomoda. Afinal, está sendo retratado o Século XIX.

Cotação: regular
Duração: 2h15
Chico Izidro

"O Caso Richard Jewell" (Richard Jewell)



Aos 89 anos, o cineasta ícone Clint Eastwood continua prolífico. E como em seus filmes mais recentes, ele buscou retratar a vida de homens comuns da vida real, que de uma forma ou outra acabaram se destacando. Teve "Sniper Americano", onde mostrou a vida de um atirador de elite norte-americano na Guerra do Iraque, depois "Sully", mostrando a história de um piloto que salvou centenas de vidas após fazer um pouso forçado njo Rio Hudson, em Nova Iorque. E mais recentemente, "15:17 – Trem Para Paris", retratando quando jovens militares em férias impediram um atentado terrorista.

Agora, em "O Caso Richard Jewell" (Richard Jewell), Eastwood conta a história real de um segurança, Richard Jewell (Paul Walter Hauser), que conseguiu salvar centenas de vida durante um atentado a bomba nas Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. Primeiramente, o gordinho simpático é visto como herói - apenas duas pessoas morreram e cem ficaram feridas, sendo que o saldo poderia ser maior se ele não tivesse visto uma mochila repleta de explosivos e chamado os policiais.

O problema é que durante as investigações nos dias posteriores começaram a indicar que Richard era um tipo estranho, e que procurava uma certa notoriedade. Ele tinha mais de 30 anos, morava com a mãe, era um tipo solitário, gosto por armas, ou seja, o símbolo daqueles lobos solitários - homens que de repente decidem provocar uma tragédia. O FBI vê em Jewell ujm caso típico de um homem que provocaria um atentado, para depois tentar se fazer passar por herói.

A vida de Jewell, que era um homem que acreditava cegamente na lei (chegou a ser demitido de uma universidade por sua fiscalização excessiva demais com os alunos) virou um inferno, ele foi demonizado pela imprensa e as autoridades. Sua vida foi devastada de cabo a rabo. E o trintão recebeu a ajuda de um advogado, interpretado por vigor por Watson Bryant (Sam Rockwell em atuação primorosa).
Clint pega pesado com o governo, com a imprensa. Em uma cena, uma jornalista vivida pela linda Olivia Wilde só obtém uma informação depois de ir para a cama com um agente do FBI. E como sempre, o trabalho do cineasta é primoroso, cuidadoso, tendo até espaço para o humor, apesar do drama humano.

Cotação: ótimo
Duração: 2h11
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...