quinta-feira, março 26, 2015

"Cinderela"



O interessante em "Cinderela", direção de Kenneth Branagh, é que não existe invenção. A história segue ipsis literis o conto de fadas dos Irmãos Grimm. Alguém perguntou a que público interessava atingir o filme, que não tem batalhas, explosões, o mínimo de efeitos especiais? Ora, aquele público que ainda acredita em fantasias, e que pena com o sofrimento da jovem que fica orfã, e cai nas garras de uma cruel madrasta e suas duas filhas mimadas e abusadoras.

Cinderela (Lily James) vira, então, uma empregada doméstica, quase escrava, servindo as três mulheres mimadas e malvadas. Ela então conhece o principe (Richard Madden) e depois de conseguir ir ao baile, graças a ajuda da fada madrina (Helena Bonham Carter), Cinderela foge, mas deixa para trás o sapatinho de cristal. São hilárias as cenas de diversas mulheres tentando calçar o sapatinho, que como todos sabem, só cabe no pé da jovem orfã.

Cate Blanchett vive a madrasta. E arrasa no papel, com seu olhar cruel e pérolas de ironia. Quem destoa de tudo é Richard Madden no papel do principe. Fraco, sem empatia, parece perdido em cada cena que aparece. Lily James começa mal, porém vai crescendo ao longo do filme, apesar de não ser muito bonita, acaba agradando com seu jeito meigo.

No final, todos saem satisfeitos do cinema, ao sentirem, que pelo menos, nos contos de fadas, a justiça triunfa.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Divergente: Insurgente"




"Divergente: Insurgente" é a segunda parte da cinesérie "Divergente", baseado em romances da escritora norte-americana Veronica Roth. Com direção de Robert Schwentke, o filme segue os passos da jovem Tris (Shailene Woodley), que vive em uma sociedade dividida em cinco grupos de pessoas, denominados de facções, cada uma com habilidades específicas.

Mas Tris é uma divergente, por ter as características de todos os grupos e não se encaixar em nenhuma delas. E assim é perseguida pela ditadora Jeanine Matthews (Kate Winslet).

A trama se assemelha muito com outra série juvenil, "Jogos Vorazes", onde uma jovem não se adapta ao sistema vigente e decide combatê-lo, passando a ser procurada, para que seja exterminada. E aqui, como lá, vive-se numa sociedade pós-apocalíptica, com as pessoas vivendo em cidades semi-destruídas e governantes opressores.

Cotação: regular
Chico Izidro

"O Amor é Estranho"



Ben (John Lithgow) e George (Alfred Molina) são um casal que vive junto há quase 40 anos. Então decidem oficializar a união. E aí começa o sofrimento da dupla em "O Amor é Estranho", direção de Ira Sachs. O matrimônio provoca a demissão de George, que é professor de música em uma escola católica. E apesar de terem conhecimento da condição homossexual do professor e de ele ter um parceiro, a congregação não aceita que a união tenha vazado para o público em geral.

Os dois, que possuiam uma condição financeira estável, acabam tendo problemas, pois com George desempregado e vivendo apenas de aulas particulares, e Ben aposentado, a renda passa a ser insuficiente para manterem o confortável apartamento em Manhatan. O jeito é se desfazer do imóvel e procurar algo mais barato. Enquanto isso não acontece, eles têm de viver na casa de amigos. Só que as coisas não serão tão fáceis. Ben vai morar com o sobrinho, a mulher e o filho dele, enquanto que George passa a viver com uma dupla de policiais gays.

As coisas ficam complicadas, principalmente para Ben, que não se adapta na casa do sobrinho, e não é aceito pelo filho deste. Enquanto isso, o pacato George se vê perdido na casa dos policiais, que está sempre cheia de gente, em festas intermináveis.

O filme passa aquela sensação de como é se sentir um intruso na casa dos outros. Quem nunca passou por isso? Ser hóspede na casa de conhecidos e não conseguir encontrar seu espaço? John Lithgow e Alfred Molina estão excelentes em seus papéis, dois homens maduros e homossexuais encarando um mundo que não é simpático a eles.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

quinta-feira, março 19, 2015

"Mapas para as Estrelas"



O mundo podre de Hollywood na visão do diretor David Cronenberg, em "Mapas para as Estrelas". Egos inflados, decepções, a busca de sonhos, personagens esquisitos. A trama foca principalmente em
Agatha Weiss (Mia Wasikowska), que chega em Los Angeles e logo começa a trabalhar como assistente da atriz Havana Segrand (interpretação primorosa de Julianne Moore), que está em fase descendente na carreira e deseja interpretar numa refilmagem o papel que consagrou sua mãe décadas atrás. Cheia de manias e neurótica, Havana tem um quê de Norma Desmond (personagem de Gloria Swanson no clássico Crepúsculo dos Deuses, de 1950).

Agatha saiu a pouco de uma clínica de reabilitação e traz pelo corpo várias cicatrizes causadas por um incêndio que provocou anos atrás e que a fez ser afastada da família, controlada pelo guru de auto-ajuda Stafford Weiss (John Cusack). Ela ainda começa um relacionamento com o motorista de limousine e que almeja ser ator Jerome Fontana (Robert Pattinson). A história ainda mostra o ator adolescente Benjie Weiss (Evan Bird), que tem um enorme ego e mostrando-se tremendamente esnobe, não gostando nenhum pouco de ter de dividir as atenções de sua série de tevê com um novo colega, que demonstra ser mais cativante do que ele.

Todos os personagens guardam segredos, por vezes obscuros, levando a trama para um final que se mostrará trágico. Claro que nem todos os atores de Hollywood são como os mostrados em "Mapa para as Estrelas", mas Cronenberg mostra um bom retrato de como as pessoas podem se transformar, por se acharem demais importantes e famosas.

Cotação: bom
Chico Izidro

"O Duelo"




"O Duelo", dirigido por Marcos Jorge, é o último filme da carreira de José Wilker, morto em 2014. E decepciona, não se decidindo por comédia ou drama. O resultado acaba sendo muito fraco, sendo que Wilker não parece à vontade no papel de Chico, fiscal e personagem mais famoso da pequena cidade litorânea de Periperi. Até a chegada na localidade do comandante Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida), que aposentou-se da vida marítima.

E Vasco começa a encantar a todos em Periperi com suas histórias fantásticas sobre as centenas de viagens que fez ao redor do mundo. Ele é uma espécie de Barão de Munchhausen, contando sobre batidas em icebergs, naufrágios, encontro com belas mulheres. Os moradores da cidade passam a sentar em sua volta para ouvir, embasbacados as suas histórias. Mas Chico não acredita em nada, acreditando que Vasco é um grande mentiroso. E não vai sossegar enquanto não provar que as aventuras do comandante não passam de invenção.

O problema do filme já começa por seu título, pois em nenhum momento ocorre duelo algum. E os atores parecem desanimados em seus papéis. Além do que os coadjuvantes têm caractarização exagerada, alguns parecendo ter saído do Zorra Total. Muito histrionismo, caretas, gestos exagerados.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Golpe Duplo"



"Golpe Duplo", dirigido pela dupla Glenn Ficarra e John Requa, tem um início promissor, mas vai perdendo força em seu decorrer. Sem contar que o filme exalta a vida dos vigaristas, mostrando-os como gente descolada, cercada de belas mulheres, festas regadas à champanhe e dinheiro, muito dinheiro.

Will Smith é Nicky, chefe de uma quadrilha especializada em golpes que aceita treinar a novata
Jess Barrett (Margot Robbie), que pretende conhecer os meandros golpistas. Os dois acabam se apaixonando durante um trabalho em New Orleans durante o Superbowl, mostrado aqui de forma fictícia, com duas equipes inventadas para o filme, mas a garota meio que se decepciona com Nicky ao ver que ele tem uma compulsão por apostas.

Os dois se separam e o filme dá um pulo de três anos. Então a trama passa para Buenos Aires, onde Nicky é contratado por um milionário argentino dono de uma equipe de Fórmula 1, Garríga (Rodrigo Santoro). Ele deve dar um golpe num concorrente de Garriga e levar uma bolada. Mas o destino volta a cruzar Nick e Jesse, podendo tudo ir por água abaixo, já que o malandro tentará reconquistar a garota, agora nos braços do milionário.

"Golpe Duplo" traz belas tomadas de New Orleans e de Buenos Aires e o seu fantástico bairro do Caminito. E a atriz Margot Robbie, de "O Lobo de Wall Street" é deslumbrante. Will Smith, depois de vários fracassos recentes, como "Depois da Terra", mostra-se à vontade no papel do vigarista Nicky, mesmo que às vezes faça caras e bocas de tédio. E Santoro consegue decepcionar com seu argentino de araque, colocando tudo a perder quando solta uma daquelas gargalhadas de vilão. Mais caricato impossível.

Cotação: bom
Chico Izidro

quinta-feira, março 12, 2015

"Para Sempre Alice"




Julianne Moore é a alma de "Para Sempre Alice", dirigido por Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Um duro retrato de uma doença cruel como o Mal de Alzheimer, cuja cura inexiste. Moore é Alice, uma professora universitária especializada em linguistíca, que ao completar 50 anos, começa a ter sinais da doença, ou seja, falhas de memória.

Em segredo, procura um especialista, que constata a dura realidade: apesar da idade, ela está nos primeiros passos do Alzheimer. A notícia é um baque para a família. O marido John (Alec Baldwin), no começo mostra-se compassivo, companheiro, mas até quando ele irá aguentar a situação de ficar ao lado de uma pessoa que, às vezes, não lembra quem é ou quem ele é? As filhas Anna (Kate Bosworth) e
Lydia (Kristen Stewart) também se assustam com a possibilidade de desenvolverem a doença, hereditariamente.

Cabe a Lydia, que tenta a carreira de atriz, se aproximar da mãe. E Kristen Stewart dá conta do papel, não decepcionando. Mas o show é de Julianne Moore, que se utiliza de poucas palavras, mas fazendo gestos e olhares que mostram a angústia de sua personagem. O filme faz pensar: o que fazer no caso de um parente ter a doença? E como o Alzheimer pode ser triste, pois vai fazendo a pessoa se apagar aos poucos, perdendo a vivacidade.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Simplesmente Acontece"



Rosie e Alex são dois jovens ingleses que se conhecem desde crianças e são inseparáveis amigos. E quando Rosie completa 18 anos ganha um beijo de Alex, mas bêbada, apaga e não lembra de nada. Dias depois, ele decide ir estudar em Boston, nos Estados Unidos, e quer que ela vá junto. Rosie topa, mas às vésperas da viagem, fica sabendo que está grávida de outro rapaz. Então desiste da mudança e dos estudos em "Simplesmente Acontece", direção de Christian Ditter.

O casal passa mais de uma década se desencontrando. Rosie passa a cuidar da filha e trabalhando como faxineira num hotel, enquanto que Alex estuda medicina em Boston. Quando um está livre, o outro está envolvido com alguém, mas o final se torna previsível, como dois mais dois são quatro.

Rosie é vivida com intensidade pela belezinha Lily Collins, filha do cantor e ex-baterista do Genesis Phil Collins. Já Alex tem como intérprete Sam Claflin, já visto em "Jogos Vorazes", e muito canastrão. O ator lembra e muito outro ator britânico que ficou conhecido por atuar em comédias ronmânticas, Hugh Grant.

O filme é uma comédia romântica das mais convencionais, embalada por uma trilha sonora repleta de clássicos dos anos 2000, como Beyoncé e seu Crazy in Love, passando por outros setentistas, como Tiny Dancer, de Elton John, e Alone Again (Naturally), de Gilbert O’Sullivan. "Simplesmente Acontece" acaba sendo um filme bonitinho, mas nada de novo, e que acaba servindo apenas para corações amolecidos e apaixonados.

Cotação: bom
Chico Izidro

"O Duplo"




Baseado em conto de Fiódor Dostoiévski, "O Duplo", dirigido por Richard Ayoade, traz resquícios de filmes como "Brazil, o Filme" e "1984", com vestuários, tecnologias dando a impressão de estarmos num futuro pós-apocalíptico e visual anos 1950.

Jesse Eisenberg vive Simon James, um rapaz tímido e sem atitude que trabalha numa espécie de empresa governamental como conferencista. Enfim, um burocrata. Apaixonado secretamente por uma colega e vizinha, Hannah (Mia Wasikowska), seus dias são todos iguais, praticamente sem ser notado no trabalho. Um típico zé ninguém. Eis que um dis surge um novo colega, James Simon (novamente Jesse Einsenberg, um sósia até no jeito de vestir.

Só que James Simon é o oposto de Simon James. Completamente sociável, falante, manipulador, inescrupuloso, consegue ser idolatrado pelos colegas e chefes. Suas atitudes, no início até encantam seu sósia apagado, mas aos poucos Simon nota que James é um tremendo aproveitador, roubando suas ideias, trabalho e até mesmo a mulher de seus sonhos.

"O Duplo", no entanto, deixa em aberto se James Simon é fruto da imaginação de Simon James, que teria criado o alter-ego para se sentir diferente, mais poderoso, e ser alguém que ele nunca conseguiria ser. Ou se o sósia realmente estava lá, para infernizar a vida do funcionário pacato?

Cotação: bom
Chico Izidro

quinta-feira, março 05, 2015

"Kingsman - Serviço Secreto"





O filme "Kingsman - Serviço Secreto", dirigido por Matthew Vaughn, é baseado em história em quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons. E é uma mistura de filmes de ação, como 007, Agente 86 e Kick-Ass, coincidentemente as duas partes tendo sido dirigidas pelo próprio Vaughn entre 2010 e 2013.

O jovem Eggsy (Taron Egerton) é filho de um espião morto em ação há mais de uma década. Adolescente, está a um passo da marginalidade quando é recrutado por um agente, Harry (Colin Firth) que foi colega de seu pai, para ingressar no grupo de espionagem Kingsman. A agência pretende desmascarar o milionário Richmond Valentine (Samuel L. Jackson, excelente), um excêntrico de língua presa, que tem o plano de eliminar boa parte da população mundial, acabando assim com a fome, desemprego, poluição. Sua ajudante, Gazelle (Sofia Boutella), tem pernas mecânicas que se tranformam em afiadas lâminas.

Mas antes de ingressar no Kingsman, Eggsy tem de passar por uma série de provas eliminatórias com outros jovens. E ele, vindo da classe operária, vai se deparar com mauricinhos, herdeiros de grandes riquezas do império britânico.

"Kingsman - Serviço Secreto" é repleto de humor, ação e muita pancadaria. O vilão Valentine, porém, detesta ver sangue e violência. Já o espião Harry é um típico cavalheiro, sempre bem trajado, mas quando tem de partir para a porrada, não perde tempo. Duas cenas são emblemáticas: uma num pub londrino, onde apenas com a ajuda de um guarda-chuva, ele briga com integrantes de uma gangue, e depois, numa igreja protestante, onde tem de encarar mais de cem fiéis que são controlados via controle remoto por Valentine. A parte final é puro 007, quando Harry e Eggsy penetram no esconderijo de Valentine. Não perca as falas de duplo sentido entre Eggsy e uma princesa aprisionado na fortaleza.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Depois da Chuva"




Estamos em 1984 e as Diretas Já estão a todo vapor. Caio (Pedro Maia) é um jovem estudante secundarista em Salvador que está tendo o despertar político ao mesmo tempo que se envolve com uma colega de colégio. "Depois da Chuva" é um filme de memórias afetivas dirigido por Cláudio Marques e Marília Hughes, que levaram às telas suas próprias experiências do período.

Caio mora com a mãe, separada. O contato com o pai é mínimo. O garoto faz bico numa rádio pirata e começa a se infiltrar na política estudantil. Roqueiro, consegue escandalizar uma professora durante peça de teatro, onde interpreta a música Negue, de Adelino Moreira, e transformada em hino punk pelo Camisa de Vênus. De ritmo lento, "Depois da Chuva" passa-se quase todo nos corredores da escola e pelas ruas vazias de Salvador. Na tevê passam imagens do noticiário da época, como a internação do então presidente eleito Tancredo Neves e sua posterior morte, comerciais, um deles, aliás, tem erro histórico, da Staroup, pois seria realizado somente em 1988.

Apesar do cuidado no visual com os carros e as músicas de bandas como Dead Kennedys e a própria Camisa de Vênus, muitas meninas aparecem em cena de chapinha, o que não era usual nos anos 1980. Mas são detalhes.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Renascida do Inferno"




"Renascida do Inferno", dirigido por David Gelb, é um desperdício total. História sem sentido e atuações toscas. Lá pela metade dá vontade de levantar e ir embora. Na trama, um grupo de cientistas trabalha num experimento que pretende trazer animais mortos de volta a vida. Eles obtém sucesso com um cachorro, que revivido, mostra-se apático, estranho.

Ao tentar repetir a ação com outro animal, a cientista Zoe (Olivia Wilde) leva uma descarga e morre. Desesperados, seus colegas decidem usar o experimento com ela. Que retorna do mundo dos mortos. Mas estranha, malígna. Porém não é esclarecido se a cientista está possuída ou se sofre os efeitos da droga que a trouxe de volta à vida. Zoe então sai matando seus colegas, numa mistura de "Carrie-A Estranha", "Frankenstein", Jean Grey, de "X-Men". Seus olhos ficam negros, ela levita, desaparece, esmaga um amigo dentro de um armário, maneja objetos com o pensamento.

Enfim, um festival de clichês, sem contar com as luzes do laboratório apagando, móveis sendo deslocados de lugar, personagens andando em corredores escuros perguntando se tem alguém por ali...Ainda bem que o filme é curtinho, pouco mais de 70 minutos, mas mesmo assim tirando a paciência de qualquer um.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...