domingo, setembro 29, 2019

"Ad Astra - Rumo às Estrelas" (Ad Astra)




"Ad Astra - Rumo às Estrelas" (Ad Astra) é uma ficção científica dirigida por James Gray, e que evoca claramente a dois clássicos do cinema, "2001 - Uma Odisseia no Espaço", dirigido por Stanley Kubrick em 1968, e "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola e lançado em 1979. Mas sem ter a mesma força e criativiade destas duas obras.

Na trama, o personagem Roy McBride, vivido por Brad Pitt, é um astronauta que sobreviveu a um acidente em uma estação espacial que provocou a morte de várias pessoas. Então, enquanto revive o trauma, ele é convocado por uma divisão da Nasa a uma missão espacial - detalhe, seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones) sumiu no espaço 30 anos antes, durante uma expedição, e se acredita morto. Mas não está, e isolado na distante Netuno, realiza atividades que afetam a Terra.

Então Roy deve se dirigir ao planeta para reencontrar seu pai e tentar dissuádi-lo dos experimentos. Na realidade, Clifford deve ser assassinado (hã, hã, o tenente Kurtz, interpretado por Marlon Brandon em Apocalypse Now...). No trajeto até Netuno, o personagem de Brad Pitt vai até uma nase na Lua e onde é atacado por piratas, depois se dirige até Marte, quando vê a tripulação da sua nave morrer. E ele ficar isolado no espaço...

Ou seja, faltou muita originalidade na produção do filme, que tem momentos de reflexão de Roy, que narra em Off como está se sentindo e o que decisões deve tomar. Brad Pitt consegue levar o filme quase sozinho, mas nada que já não tenha sido visto é apresentado aqui.

Cotação: regular
Duração: 2h04
Chico Izidro

"Hebe - A Estrela do Brasil"



Há um bom tempo que a maior parte das cinebiografias deixaram de mostrar toda a vida de uma personalidade - nasceu, cresceu, morreu -, focando apenas em determinado momento da existência da pessoa. É assim que é mostrado "Hebe - A Estrela do Brasil", dirigido por Maurício Farias, e que abre mão de mostrar toda a trajetória profissional da apresentadora, que inclusive participou da primeira transmissão da televisão brasileira em 1950, pela TV Tupi.

O filme optou por relatar um momento conturbado da vida de Hebe, vivida com extrema perfeição por Andréa Beltrão, que não tentou imitar a voz marcante da apresentadora: o período logo após o término da Ditadura Militar e o alegado final da censura no país. que de fato não ocorreu. Hebe tinha sérios problemas com os censores, pois era defensora ferrenha do movimento LGBT, que à época ainda não tinha esta denominação, e falava o que pensava, sem pudores.

Então "Hebe - A Estrela do Brasil" relata sua saída turbulenta da Bandeirantes, depois que levou ao seu programa a polêmica Dercy Gonçalves e a transexual Roberta Close - Dercy mostrou os seios para todo o Brasil ao vivo e a cores. E também mostra seu relacionamento com o segundo marido, Lélio (Marco Ricca novamente fazendo um personagem machista, ciumento e homofóbico), que não suportava a atenção que ela dava aos convidados, amigos e o enteado Marcelo.

A reconstituição de época é um fator determinante na narrativa, reproduzindo com perfeição penteados, músicas, os figurinos, os carros. Tudo evoca os anos 1980. Mas "Hebe - A Estrela do Brasil" não é um retrato fiel da vida da apresentadora (1929/2012). O próprio filho dela, Marcelo Camargo afirmou que o personagem mostrado no filme não representava a sua mãe, pois ela não bebia uísque, nunca se atrasou para começar seu programa, entre outras liberdades tomadas por Farias. Além do que, para quem não conhece a vida de Hebe, muita coisa fica no ar, inexplicada. Faltou uma edição melhor, apesar da excepcional atuação de Andréa Beltrão.

Cotação: bom
Duração: 2h02
Chico Izidro

sexta-feira, setembro 20, 2019

"Rambo: Até o Fim" (Rambo: Last Blood)




Mexeu com minha família, mexeu comigo. Esta pode ser a chamada para a cinesérie "Busca Implacável", com Liam Neeson, ou "Desejo de Matar", imortalizado por Charlie Bronson. Mas aqui estamos falando de "Rambo: Até o Fim" (Rambo: Last Blood), escrito por Sylvester Stallone e dirigido por Adrian Grunberg, e que é para ser o quinto e último filme do personagem traumatizado pela Guerra do Vietnã.

O ex-soldado John Rambo (Stallone) agora vive em sua fazenda, com a caseira Maria (Adriana Barraza) e a garota que ele criou como filha e que o chama de tio, Gabrielle (Yvette Monreal), e que está de partida para a universidade. Porém a jovem tem um desejo incontrolável, que é achar o seu pai e saber porque ele abandonou a família dez anos antes. E mesmo com todos os conselhos de Maria e John, Gabrielle teima e parte para o México.

Porém ao cruzar o Rio Grande, ela é sequestrada por traficantes de garotas, que pretendem vendê-la como prostituta. Então John vai atrás da garota e as coisas começam a sair dos eixos, culminando num verdadeiro banho de sangue. E desta vez os vilões, que já foram a polícia americana, os russos, os vietnamistas, são mexicanos - e não poderiam ser mais estereotipados. Bigodudos, cabeludos, de aspecto sujo, cruéis.

E talvez este seja o filme mais violento da série. Rambo mata mais de 60 bandidos e das formas mais absurdas, desde facadas, degolas, explosões, tiros, flechadas. Se esige estômago forte. E Stallone se sente à vontade no papel de um dos dois personagens ícones que criou para o cinema, o outro é o boxeador Rocky. Este Rambo é somente para fãs.



Cotação: bom
Duração: 1h39
Chico Izidro

"A Música da Minha Vida" (Blinded By The Light)



Antes de tudo, frazer uma crítica ao título nacional do britânico Blinded By The Light, aqui intitulado "A Música da Minha Vida" de forma equivocada. O personagem principal, o jovem Javed (o ótimo Viveik Karla) vira fã da obra de Bruce Springsteen, que muda o seu jeito de ver a vida, ou seja, não é a música e sim as músicas...
Passado isso, esta obra é mais uma carregada de música, a exemplo dos recentes e ótimos "Rocketman" e "Yesterday". O longa é dirigido pela indiana Gurinder Chadha, e é focado nos anos 1980, na pequena cidade inglesa de Luton, a 51 km ao norte de Londres, e foca em Javed, britânico de ascendência paquistanesa. Estamos em 1987, e o adolescente sonha em ser escritor, mas sofre com o conservadorismo do pai, Malik (Kulvinder Ghir), que deseja que o filho siga as tradições familiares.

O pai, mesmo morando na Inglaterra desde jovem, não se sente integrado, seguindo fiel às suas raízes, e acha que o filho também não deve se integrar - como pano de fundo o avanço da Frente Nacional, formada por neonazistas que querem a saída dos imigrantes do país, em crise e com profundo desemprego da população.

Javed conhece através de um colega de escola de origem sikh, Roops (Aaron Phagura) as músicas de Bruce "The Boss" Springsteen. E isso lhe faz ver a vida de outra forma - parece que as letras do cantor americano são feitas para ele, que se empolga ainda mais em sua escrita, ao mesmo tempo que engata um namoro com a colega branca Eliza (Nell Williams). Mais um contraste....

O interessante de toda esta história é que ela é baseada em fatos reais. No final de "A Música da Minha Vida" (Blinded By The Light) aparecem imagens dos personagens reais, que viveram aquelas situações naquele período, reproduzido com perfeição. Roupas, carros, cabelos, tudo remete aos anos 1980, época muito forte no imaginário de muita gente.

Cotação: ótimo
Duração: 1h57
Chico Izidro

"Midsommar: O Mal Não Espera A Noite" (Midsommar)



O cineasta sueco Ari Aster agitou os filmes do terror com "Hereditário", em 2018. Agora, ele aparece com mais uma obra perturbadora, "Midsommer: O Mal Não Espera a Noite" (Midsommar). A história lembra aqueles filmes dos anos 1960 e 70, que acontecem em uma comunidade onde as pessoas parecem normais, tranquilas, mas na realidade escondem o pior do ser humano.

A trama foca no casal Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor), que parece distante, ela muito dependente dele. Até que um dia uma tragédia se abate sobre a família da garota, logo quando o rapaz se preparava para viajar à Suécia com seus amigos e colegas para visitar uma comunidade rural, de onde veio Pelle (Vilhelm Blomgren), que fez o convite. Seria só uma viagem entre garotos, mas Christian se vê obrigado a convidar a namorada, esperando que ela não aceite, mas acontece o contrário.

Já na Suécia, os amigos se dirigem à comunidade, onde todos andam sempre de branco, com flores na cabeça, lembrando os velhos hippies. Parece tudo normal, mas quanto mais os jovens tentam conhecer e se infiltrar no lugarejo, mais as coisas vão ficando sombrias, e eles vão sumindo sem mais nem menos, sempre que entram em desacordo com as regras não escritas do local.

"Midsommar: O Mal Não Espera A Noite" assusta logo nos minutos iniciais, com uma cena de suicídio, e vai progredindo em mortes macabras e chocantes. O diretor não se preocupa em chocar - vide "Hereditário", com uma decapitação aterradora e inesperada. Aqui os rituais pagãos dão a tônica.

Cotação: bom
Duração: 2h18
Chico Izidro

"Depois do Casamento" (After the Wedding)



“Depois do Casamento” (After the Wedding) é uma adaptação do filme dinamarquês de 2006 de mesmo nome, dirigido por Susanne Bier. Esta nova versão é dirigida por Bart Freundlich, e mudam os protagonistas, que no original eram homens. Agora a história foca em duas mulheres, vividas por Michelle Williams e Julianne Moore.

Michelle Williams é Isabel, uma norte-americana que cuida de um orfanato na Índia, e que está precisando urgentemente de doações. Ela então é convocada para ir até Nova York conhecer Theresa (Julianne Moore), que virou milionária como proprietária de uma agência de publicidade e que pretende ajudar Isabel. Ao mesmo tempo, a empresária está envolvida no casamento de sua filha Grace (Abby Quinn).

Após uma reunião, Theresa convida Isabel a comparecer ao casamento. E as coisas irão complicar, pois durante a festa Isabel reencontra um ex-namorado, Oscar (Billy Crudup), que ironicamente agora é casado com a empresária. A partir disso, o passado dos personagens começa a vir à tona, gerando nuitos conflitos e também revelações chocantes.

O núcleo central de “Depois do Casamento” se destaca em suas atuações, com destaque para Julianne Moore. Mas Michelle Williams também consegue transmitir muita angústia e desespero com sua personagem. O problema é que, às vezes, a história descamba para o dramalhão, principalmente em sua parte final, quando um dos personagens revela seu destino cruel.

Cotação: regular
Duração: 1h50
Chico Izidro

"Branca Como a Neve" (Blanche Comme Neige)



"Branca Como a Neve" (Blanche Comme Neige), direção de Anne Fontaine, sim, tem muito a ver com a fábula dos Irmãos Grimn sobre a pobre mocinha cuja madrasta tenta matá-la, e ela é acolhida por anões na floresta. A história, aqui no entanto, se passa nos dias atuais, e segue a jovem e bela Claire (Lou de Laâge), que perdeu a mãe em um acidente. O pai administrava um hotel e casou de novo, com Maud (Isabelle Huppert). Só que ele morre também, a deixando nas mãos da madrasta.

Tudo vai bem até o dia em que Maud descobre que seu amante se apaixonou por Claire. Assim como a rainha má dos contos de fada, Maud tentará se livrar da garota. Assim contrata um matador para sequestrar e matar Claire - só que na floresta, ela é salva por um homem, que a leva para sua casa.

Quando a heroína acorda, descobre que seu salvador mora com um irmão gêmeo e mais um outro homem. E todos vão caindo de amores por Claire. No pequeno vilarejo no meio das montanhas, aparecem outros homens - um veterinário, um padre, um livreiro e seu filho. E todos vão se apaixonando por ela. Sete homens que representam os sete anões do famoso conto. O filme é uma comédia, e até os momentos sombrios, onde a rainha má ou Maud tenta matar Claire são divertidos. Como na cena da maçã envenenada - quem paga o pato é um esquilo.

Lou de Laâge está explêndida como a Branca de Neve moderna, um misto de inocência e sexualidade. Isabelle Huppert aparece pouco, mas quando surge rouba a cena, com a maldade cravada nos olhos.

Cotação: ótimo
Duração: 1h52
Chico Izidro

"Os Jovens Baumann"



O que é verdade e o que é ficção? "Os Jovens Baumann", direção de Bruna Carvalho de Almeida, brinca com esta questão, mostrando o que aconteceu com os primos Jota, Ana Paula, Caio, Fred, Tito, Bia, Debby e Isadora curtiam as férias na fazenda da família Baumann, em Santa Rita d’Oeste, no sul de Minas Gerais, e sumiram misteriosamente em 1992, como se evaporassem. O caso foi encerrado pela polícia naquele mesmo ano.

A única evidência na qual se tinham para buscar algo eram fitas VHS gravadas na época por Isadora Baumann. As imagens mostram todos eles batendo papo, tomando banho na lagoa, jantando, brincando naqueles dias de verão. Até que em um dia tudo acaba...

Não foi uma tarefa fácil realizar o filme, pois houve a necessidade complexa de produzir imagens de VHS para 95% do filme, para fazer tudo soar real e datado, como se estivessemos mesmo no início da década de 1990. "Os Jovens Baumann" acaba, com suas imagens, trazendo credibilidade e uma excelente direção de arte, figurino e a montagem. Fascinante.

Cotação: bom
Duração: 1h10
Chico Izidro

quinta-feira, setembro 05, 2019

"It - Capítulo 2" (It - Chapter Two)



O livro "It", do mestre do terror Stephen King já havia sido adaptado em 1990 em uma telessérie norte-americana, que foi lançada no Brasil em duas fitas VHS com o título "It – Uma Obra-Prima do Medo", que assisti diversas vezes. Já nos anos 10 do Século XXI, o diretor Andy Muschietti e a produtora Barbara Muschietti decidiram readaptar o livro de 1104 páginas em dois filmes. O primeiro saiu em 2017, e mostra o grupo auto-intitulado Os Otários combatendo o palhaço sobrenatural e assassino Pennywise no final dos anos 1980.

Agora, sai a continução, com "It - Capítulo 2" (It - Chapter Two), novamente com direção de Andy Muschietti, com o grupo se reunindo exatos 27 anos depois, devido ao retorno de Pennywise (Bill Skarsgård), que todos julgavam ter sido eliminado em 1989. O filme já começa violento, com uma sequência em um parque de diversões, onde ocorre um crime de ódio, com uma gangue surrando dois rapazes homossexuais. E é quando ressurge Pennywise.

Único remanescentes do Clube dos Otários a morar na cidadezinha, Mike (Isaiah Mustafa) começa a contatar o grupo, dispersado por várias cidades do país - Muschetti vai mostrando como está a situação de cada um deles, quase três décadas depois, muitos deles com frustrações e traumas. E ótima sacada foi pegar atores adultos que se assemelham muito as suas versões adolescentes.

Bill Hader, revelado em "Saturday Night Live", rouba todas as cenas como o Richie adulto, mostrando o drama do personagem e também colocando humor em suas cenas. James McAvoy vai bem como o protagonista Bill, assim como Jay Ryan, ótimo como o Ben (que de gordinho no primeiro filme, virou um homem musculoso e bonito), assim como James Ransone, Isaiah Mustafa, Andy Bean e Jessica Chastain, como a atormenda e sofrida Beverly, vítima de abuso dentro de seu lar. Mas tem de se tirar o chapéu para Bill Skarsgård no papel de Pennywise - sinistro, assustador e mentalmente perturbado.

"It - Capítulo 2" é longo, quase três horas, em certos momentos se mostra arrastado. Mas sempre sinistro, e com um final excepcional - que pode levar muita gente às lágrimas.

Cotação: ótimo
Duração: 2h49

Chico Izidro

"Pássaros de Verão" (Pájaros de Verano)



"Pássaros de Verão" (Pájaros de Verano), dirigido pela dupla Cristina Gallego e Ciro Guerra, se passa na Colômbia antes do surgimento de Pablo Escobar e seu domínio das drogas. A trama se inicia nos anos 1960, no território habitado pelos índigenas Wayuu, e de cara mostra uma cerimônia de iniciação feminina numa aldeia na Península de La Guajira, no nordeste da Colômbia, com a emancipação da jovem Zaida (Natalia Reyes), que apenas 13 anos faz uma dança ritual. Sua sensualidade atrai o jovem Rapayet (José Acosta), que ali decide que a menina será sua.

O problema é que Rapayet não integra a comunidade local e muito menos aparenta ter condições de atender as exigências feitas pela mãe de Zaida, Ursula (Carmiña Martínez). Ela pede em troca da mão da filha uma série de exigências para o dote, como por exemplo, 27 cabras. Algo impossível de ele conseguir. Porém um amigo de Rapayet, Moises (Jhon Narváez), descobre que alguns norte-americanos que fazem parte do Corpo da Paz que atua na região, querem muito obter maconha. Está aí uma forma de conseguir a grana para adquirir o dote exigido pela família de Zaida.

A história de Pássaros de Verão transcorre por mais de duas décadas. Mostrando a evolução de Rapayet como chefe do tráfico e dono de um império no interior do país, mas também atraindo inimigos. Tudo vai descambar para um conflito muito violento. O filme é em sua maior parte do filme falado em idiomas índigenas, e reconstitui com vigor a cultura e o ambiente Wayuu. O título "Pássaros de Verão" tem dois significados. O primeiro se refere aos animais tradicionais da cultura Wayuu, e o segundo é relacionado aos aviões vindos dos Estados Unidos que chegavam frequentemente à região em busca da maconha na Colômbia de forma mais frequente. É um filmaço.

Cotação: Excelente
Duração: 2h05

Chico Izidro

segunda-feira, setembro 02, 2019

"Yesterday"




A premissa é interessante: e se os Beatles nunca tivessem existido? Ou se sim, mas as pessoas terem esquecido completamente da existência dos Fab Four de Liverpool? Esta é a pegada de “Yesterday”, filme do diretor Danny Boyle (“Quem Quer Ser um Milionário?”) e escrito por Richard Curtis (“Cavalo de Guerra“). Mas uma ressalva – se apenas uma pessoa lembrasse que um dia a banda pisou na Terra e deixou obras musicais extraordinárias?

Assim, a trama foca no inglês descendente de indianos Jack Malik (Himesh Patel), um músico que ganha a vida trabalhando num depósito de um supermercado, mas sonhando em ser um astro pop compondo canções que apenas os amigos curtem e se apresentando em barzinhos e outros muquifos. Ele é empresariado pela amiga de infância Ellie Appleton (Lily James). Quase a ponto de desistir da carreira após outro show frustrado em um festival, Jack é atropelado por um ônibus em meio a um apagão que aconteceu no mundo inteiro.

O incidente provoca uma espécie de blackout na mente das pessoas. Ao sair do hospital, Jack ganha um violão dos seus amigos, que pedem que ele toque uma música. E Jack solta “Yesterday”, composta por Paul McCartney, gravada em 1965 para o álbum “Help!”, dos Beatles. Ellie e os demais amigos ficam de boca aberta com a música,“inédita” que escutaram. Jack, em princípio, acha que os amigos estão tirando onda com sua cara, até que começa a entender que as pessoas não se lembram mesmo da existência de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. E começa a estudar as músicas da banda, e mostrá-las como se ele houvesse compondo cada uma delas. E isso vai torná-lo famoso e rico. Mas qual o preço que Jack terá de pagar pela farsa?

Cada música dos Beatles no filme é bem utilizada, sendo encaixada no contexto de cada cena. E Boyle aproveita, até mesmo com a participação do músico Eddie Sheeran, a fazer uma crítica as músicas atuais, que carecem de criatividade e musicalidade. E como a idiotia pegou forte. Em certo momento, Jack apresenta sua nova “obra-prima”, “Hey Jude”, e os gênios do marketing acham que não vai pegar: por que não “Hey Dude”? Soa patético.

Os dois protagonistas, Patel e James têm química, sendo que o ator faz umas caras de idiota muito bem. Afinal, o que está acontecendo no mundo? Aliás, não é somente os Beatles que não existem neste universo. Muitos outros elementos da cultura e mesmo do dia a dia não existem, como a Coca-Cola, Harry Potter e cigarros...Enfim, “Yesterday” é uma bela homenagem à banda de Liverpool, e também uma comédia romântica.

Cotação: ótimo
Duração: 1h57

Chico Izidro

“Um Amor Impossível” (Un Amour Impossible)



Baseado no best-seller de Christine Angot, “Um Amor Impossível” (Un Amour Impossible), direção de Catherine Corsini, percorre décadas na vida de uma humilde mulher, Rachel (Virgine Efira), que se apaixona por um estudante Phillippe (Niels Schneider), e tem uma filha com ele. O problema é que o rapaz não aceita casar com ela e nem reconhecer a menina, por causa da diferença de classe deles.

A trama se inicia nos anos 1950, quando o casal central se conhece numa festa na pequena Châteauroux, na França. Rachel, para a época, com 25 anos, já era considerada uma solteirona, e engravida. O filme vai mostrar como era ser mãe solteira, mas sendo a França um país mais liberal, isso não era problema. A questão era a diferença de classes entre a heroína e Phillippe e ele se recusa terminantemente a estreitar laços com a moça, que vai se virando sozinha e sonhando em casar. Mas o mais importante é ter a filha reconhecida.

A história vai dando pulos no tempo, e pode-se ver a pequena Chantal passar de criança para adolescente, depois adulta – alguns saltos temporais deixam a história, por vezes, meio confusa. Chantal se aproxima do pai, se afasta, se aproxima de novo, existe uma acusação de abuso sexual, que nunca fica claro. Mas isso não incomoda, dá até um certo charme ao filme.

Reconstituição de época, maquiagem, a complexidade de se criar uma filha sozinha – a menina vai se tornar meio rebelde, como quase todo o adolescente. As várias atrizes que vivem Chantal se destacam, assim como Virgine Efira, já vista em comédias românticas como “Um Amor à Altura” e “Na Cama com Victoria”. Suas mais de duas horas passam quase que voando, com uma história deliciosa e intrigante.

Cotação: bom
Duração: 2h15

Chico Izidro

“Anna – O Perigo Tem Nome” (Anna)




Com roteiro e direção de Luc Besson, “Anna – O Perigo Tem Nome” (Anna), meio que perdeu o trem da história, pois se compõe de elementos já fortemente utilizados em filmes como Salt, com Angelina Jolie, Atômica, com Charlize Theron, e Operação Red Sparrow, com Jennifer Lawrence. Aliás, o próprio diretor já havia embarcado em projetos semelhantes, como Lucy, com Scarlett Johanson, e Nikita, com Anne Parillaud como protagonista. Ou seja, longas com a temática espionagem com mulheres nos papéis principais.

Assim, “Anna – O Perigo Tem Nome” é mais um requentado, focando na garota russa, vivida pela modelo e atriz Sasha Luss, que vive na Moscou do final dos anos 1980, ou seja, pouco antes da derrocada da União Soviética – ops, Atômica tinha a mesma sinopse...Ela é treinada pela KGB para eliminar inimigos do estado, enquanto se disfarça de modelo, atuando em uma agência de Paris. Mas tem seus passos seguidos pela CIA, e em determinado momento vê a sua vida ameaçada. O que fazer? Buscar a liberdade em plena Guerra Fria.

O filme apresenta muitas cenas em flash-back , para contar o passado da garota e como ela foi parar naquela situação. E isso é um acerto, com excelente reconstituição de época – aliás, os cenários são surpreendentes. Afinal, sendo um filme de espionagem, privilegia várias locações pelo mundo.

A atriz Sasha Luss está convincente como a espiã sedutora e mortal. Uma das melhores cenas do filme acontece em um restaurante, onde Anna entra em luta corporal e sanguinária com vários seguranças de seu alvo. Além dela, aparecem Luke Evans como o espião da KGB e Hellen Mirren vivendo Olga, a manda-chuva da agência de espionagem russa, e Cillian Murphy, o agente da CIA. Todos muito bem em seus papéis. O problema em “Anna – O Perigo Tem Nome” é que lhe falta ineditismo, não apresentando nada de novo, com cada momento sendo comparado com aqueles filmes já vistos e revistos.

Cotação: bom

Dutação: 1h59

Chico Izidro

"Brinquedo Assassino" (Child's Play)



O boneco Chucky, que tocou o terror nos cinemas desde o primeiro filme, de 1988, e depois teve mais seis sequências, volta repaginado em "Brinquedo Assassino", direção de Lars Klevberg. O primeiro longa tinha muito de terror, mas com o tempo o medo foi dando espaço para o humor e o esculacho, gerando continuações tipo "A Noiva de Chucky" e até mesmo "O Filho de Chucky".
No primeiro filme, o boneco Good Guy era possuído pelo espírito de um serial killer, Charles Lee Ray, interpretado por Brad Dourif, que à beira da morte invocava um ritual vudu. Seu objetivo era o de retornar a um corpo humano, e a vítima era o pequeno Andy. Agora, em novos tempos de conetividade e internet, o boneco é produzido no Vietnã, em uma fábrica onde os operários são tratados quase como escravos.

Um deles, maltratado por um gerente, decide sabotar o brinquedo, mexendo em seu chip - ou seja, Chucky não tem mais uma alma humana, mas sim inteligência artificial capaz de aprender lições bastante perversas por causa da sabotagem do operário vietnamita. Até o visual do brinquedo ficou mais sinistro, perdendo uma certa aura de angelical oitentista.

Já nos Estados Unidos, o boneco é adquirido por um comprador, que o devolve, já que ele apresenta defeitos. Assim, a jovem mãe solteira Karen (Aubrey Plaza, da série Legions), que trabalha na loja de brinquedos, pega o boneco e leva de presente para o filho adolescente, Andy ( Gabriel Bateman), que no primeiro filme era um garotinho de sete anos.

Nesta nova versão, Chucky não quer mais assumir o corpo do garoto, mas sim ter um amigo para sempre. E isso se torna obsessão para o boneco, que sai matando todo mundo que se aproxima do solitário Andy, que ao ver as reais intenções do "amiguinho", tem de se livrar dele.

O novo "Brinquedo Assassino" capricha no gore, sendo muito mais sangrento que seus predecessores. O diretor Lars Klevberg não poupa cenas violentas, com muito sangue jorrando. Mas a obra tem muito humor também, e até referências, como por exemplo "E.T.", de Steven Spielberg. No quarto de Andy há um pôster do filme de 1982, e Chucky, dublado com primor por Mark Hamill (o Luky Skywalker), consegue acender um dedo como o extraterrestre e aprende suas interações com os humanos e suas maldades vendo TV - uma das lições equivocadas de Chucky é aprendida ao ver “O Massacre da Serra Elétrica 2” .

O boneco, enfim, quer apenas um amigo para chamar de seu. Aliás, a musiquinha que ele canta fica ruminando em nossas cabeças: "você é meu amigo, mais que um amigo, você é meu melhor amigo. Eu te amo mais do que você jamais saberá, eu nunca vou deixar você ir". Stalker total...

Cotação: bom
Duração: 2h

Chico Izidro

"Rafiki"




"Rafiki" é um filme queniano, dirigido por Wanuri Kahiu, e uma espécie de Romeu e Julieta lésbico. A trama mostra a história de amor e amizade que cresce entre duas jovens mulheres, Kena e Ziki, em meio a pressões familiares e políticas em torno dos direitos LGBT no país africano. A obra chegou a ser banida no Quênia por ser acusado de fazer propaganda de incentivo ao lesbianismo, o que é crime nas leis vigentes.

Depois de pressões internacionais, o governo aceitou liberar o filme desde que a diretora mudasse o final para algo triste, pois o original era muito positivo e esperançoso. Kahiu se negou e a situação ficou insustentável: quem fosse pego em posse do filme, seria preso com pena de até 14 anos de prisão, a sentença mínima para um homossexual no país.

A estreante Samantha Mugatsia interpreta Kena, que é filha de um candidato a política na periferia de Nairobi. Ela se divide entre cuidar da mãe e do mercadinho do pai, quando conhece Ziki (Sheila Munyiva), filha do candidato rival. No começo entre as duas surge uma forte amizade, que vai se transformando em amor. E claro que elas têm de manter a relação em segredo - mas nem tanto assim, pois suas atitudes são vigiadas por vizinhos, amigos e parentes.

"Rafiki" não tem cenas de sexo e mal e mal mostra as protagonistas se beijando. Mas as duas sofrem com preconceitos milenares - é mostrado com frequência um pastor religioso pregando contra o que considera ser coisas que vão contra os mandamentos de deus. Já a mãe de uma delas acredita estar a filha possuída por demônios e por isso age daquela forma, se envolvendo com outra mulher. Não demorará para as agressões físicas darem as caras. É um filme forte, com uma denúncia muito grande sobre a intolerância, que não tem mais espaço em nossos dias. Seja em qualquer lugar.

Cotação: ótimo
Duração: 1h23

Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...