sábado, dezembro 29, 2012

"A Filha do Pai"


O ótimo ator francês Daniel Auteuil atua e também dirige o excelente drama "A Filha do Pai", no original "La Fille du Puisatier", ou a filha do poceiro. Profissão do protagonista, monsieur Pascal Amoretti (o próprio Auteuil), viúvo e que cria sozinho seis filhas, com idade entre 25 e três anos. A segunda mais velha, Patricia Amoretti (Astrid Berges Frisbey) é a menina de seus olhos, criada que foi por uma senhora rica em Paris e também num convento. Ou seja, tem educação bem acima da média dos moradores do pequeno vilarejo em que vivem no interior da França nos anos 1930.

Pascal teme que ela se case com alguém de longe - ela que todos os dias leva o seu almoço em algum buraco que ele está cavando ou explodindo. O candidato a desposar a garota é Felipe (Kad Merad, em atuação bela, um tipo rude, mas carinhoso e solitário quarentão), seu ajudante e melhor amigo. Só que a jovem vai dar de cara com o rico, para os padrões da localidade, Jacques Mazel (Nicolas Duvauchelle, de Polissia). Ele é só o filho do dono da loja de ferragens, mas também piloto de avião, e por isso pertencente à elite. Os dois jovens acabam envolvendo-se, ele é enviado para o front no início da II Guerra Mundial, e Patricia aparece grávida. Escândalo, mãe solteira, famíllia pobre. Pascal não quer nada da família de Jacques, só mostrar que a filha foi desonrada. Os pais do piloto não aceitam aquela menina simples, a possível mãe de seu neto. Humilhado, Pascal, simples, mas com inteligente e com pensamentos filosofais - suas tiradas e pensamentos destacam-se no meio de belos diálogos do filme -, não vê outro jeito a não ser mandar a filha embora.

"A Filha do Pai" é baseado em romance escrito por Marcel Pagnol em 1940, e mostra bem como era a França rural, bucólica e muito elitista daqueles anos de sofrimento, onde ter um simples chapéu era a fortuna para uma menina simples. Onde a perda da virgindade podia dizimar uma família.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Negociação"


O cinema americano sempre foi pontual em retratar eventos que ocorrem em suas fronteiras. Desde 2008, começo da atual crise econômica, o mundo financeiro tem estado na crista da onda na telona, vide a continuação do clássico oitentista "Wall Street". Em "A Negociação", dirigido por Nicholas Jarecki, Richard Gere é Robert Miller, empresário bem-sucedido, com jatinho particular, empregados que o veneram, a filha Brooke, seu braço direito nos negócios (a excelente Brit Marling), o filho despreparado e por isso severamente protegido, e a mulher socialite, Ellen (Susan Sarandon, esbanjando beleza com seus 66 anos), e que o faz dedicar-se a atividades filantrópicas. E claro, não poderia faltar a amante jovem e fogosa, Julie (Laetitia Casta), francesa que dirige uma galeria de arte bancada por ele.

A vida de Miller parece ser de certa normalidade. Só que o figurão envolveu-se em um negócio numa mina de cobre na Rússia que está indo para o buraco - o negócio, não a mina. Algo deu errado e um rombo de quase meio bilhão de dólares aparece em suas finanças. O jeito é fazer um empréstimo, e depois tentar vender a empresa antes que uma auditoria revele o tremendo prejuízo. O comprador faz tortura psicólogica para tentar diminuir o preço pedido por Miller. E neste meio tempo, ele envolve-se em um acidente automobislítico que pode provocar a suspensão da venda, além de Miller ir parar atrás das grades. O jeito é conseguir um álibi, envolver o filho de seu ex-motorista no turbilhão que se avizinha. O problema é que o jovem, Jimmy (Nate Parker), negro, tem uma ficha policial não muito limpa. E ele e o garoto começam a ser investigados e perseguidos pelo policial Michael Bryer (Tim Roth), tal qual Jean Valjean era cercado por Javert em "Os Miseráveis". Entram em cena o racismo, coação policial, uma corrupção maior ainda, traições.

Gere, famoso por seus tipos românticos, está perfeito como um cínico Gekko. Mas ele não é uma pessoa má. Apenas quer deixar seus entes queridos com uma vida tranquila e segura. Mesmo que para isso afunde quem passar à sua frente. E isso fica claro numa rígida e tensa conversxa com a filha Brooke, num parque de Nova Iorque, quando ela descobre as falcatruas do pai, a cara e os cabelos do roqueiro Roger Waters. "A Negociação", além de um suspense policial envolvente, prende por não cair na armadilha de diálogos profundos e intraduzíveis para os leigos sobre o mundo financeiro.

Cotação: bom
Chico Izidro

sábado, dezembro 22, 2012

"O Impossível"


"O Impossível" traz uma das cenas mais empolgantes e assustadora dos últimos tempos. Em 26 de dezembro de 2004 um gigantesco tsunami varreu a costa oeste da Tailândia e levando de carona outros países asiáticos, deixando um saldo de mais de 220 mil mortos. Clint Eastwood já filmara tal tragédia no impactante e espiritual Além da Vida. Sob direção de Juan Antonio Bayona, o tsunami afetag diretamente e agonicamente uma família inglesa que passava as férias de final de ano num resort tailandês.

Maria (Naomi Watts) e Quiqui (Ewan McGregor) e seus três filhos homens acabam caindo, literalmente, no olho do furacão. A cena em que Maria e o mais velho, Lucas (Tom Holland) é fascinante e assustadora. Por longos minutos, os dois duelam para não serem tragados pela força das águas. Os dois tentam nadar, se agarram em árvores ou no que aparece pela frente. Tem os corpos rasgados, enquanto são sugados pela violência da natureza.

Pena que passada esta ação, "O Impossível" transforme-se num tremendo dramalhão, com Maria sofrendo entre a vida e a morte numa cama de hospital, enquanto que Lucas tenta encontrar em meio ao caos o pai e os dois irmãos menores. Mas ressalte-se a excelente reconstituição da catástrofe. Prédios e casas destruidos, as pessoas vagando perdidas por todos os lados, esfarrapadas, ensanguentadas. Só que a paciência acaba na centéssima vez em que Lucas berra o nome dos parentes.

Cotação: regular
Chico Izidro

"As Aventuras de Pi"



Antes de tudo, só lembrar que "As Aventuras de Pi", dirigido por Ang Lee, baseia-se no romance The Life of Pi, escrito por Yann Martel. Que por sua vez causou tremenda polêmica quando lançado, pois foi acusado de plágio - a história surgiu após o autor ter lido resenha do livro Max e os Felinos, do gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011). Passadas as considerações iniciais, vamos ao filme com extremo arrebatamento visual.

Ele conta a história do indiano Piscine Patel, que viveu uma aventura quase única e transcendental. Pi (pronuncia-se pai) é o diminutivo de Piscine, batizado assim em homenagem a Piscina Molitor, em Paris, e por isso alvo de bullying na infância. Os pais dele possuiam um zoológico na Índia, mas com dificuldades econômicas decidem mudar-se para o Canadá. A viagem torna-se um desastre. O navio afunda, todo mundo morre, menos Pi, uma zebra, um macaco, uma hiena e um tigre de Bengala. O garoto acaba vendo-se preso num bote com todos estes animais, restando por fim somente ele e o portentoso e feroz tigre, chamado de Richard Parker. A aparição do bicho, em 3D, é assustadora e visualmente bela. O sotaque do indiano ao falar com o tigre é marcante. Poderia ser irritante, mas acaba ocorrendo o contrário.

Pi e o tigre travam uma batalha pelo poder no bote - a história é contada por um Pi já adulto para um jornalista, intrigado com os fatos relatados. Teria sido uma visão, seria fantasia, seria realidade. A fotografia, como já dito no início, é fabulosa e hipnotizante. O filme poderia ser considerado longo, mas não é cansativo - e não dá para esquecer que em "O Náufrago", Tom Hanks fica quase 3 horas conversando com uma bola de vôlei.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Infância Clandestina"


O olhar infantil sobre os anos de chumbo na América Latina já renderam bons filmes, como "Kamchatka", "A Culpa é de Fidel", "O Ano que Meus Pais Saíram de Férias" e "A Culpa é de Fidel". Em "Infância Clandestina", o diretor Benjamín Avil segue a máxima, quase que num tom autobiográfico. Ele mesmo viveu no olho do furacão, sendo filho de uma militante esquerdista na Argentina nos anos 1970, morta pelas forças repressoras, além do que teve um irmão pequeno sequestrado e só encontrado pela avó em 1985.

No belo filme, o menino Juan é filho de dois militantes da organização guerrilheira Montoneros, severamente perseguidos naquele período sombrio argentino. Os pais de Juan (vivido por Teo Gutiérrez Romero) são Horacio (César Troncoso, de O Banheiro do Papa) e Charo (Natalia Oreiro), que após um período de exílio em Cuba e uma rápida passagem pelo Brasil retornam à Argentina em 1979, para tentar derrubar o governo militar. Com 12 anos, Juan tem de assumir outra identidade, e é batizado de Ernesto, uma homenagem a Che Guevara. O menino vive uma vida dupla, tendo de esconder sua realidade na escola, nas ruas, entre os novos colegas e amigos. E isso lhe traz severas restrições. Tem de estudar até um sotaque novo, não pode dizer para a menina por que se apaixona quem realmente é, e até a data de seu aniversário é outra. E Juan tem uma irmã de apenas um ano de idade. E por mais que os dois corram perigo, seus pais, mostrando negam-se a deixá-los aos cuidados da avó.

O diretor Avil também utiliza, de forma muito criativa, animações para retratar duas violentas cenas em que os pais de Juan/Ernesto são atacados pela repressão. O garoto Teo Gutiérrez Romero é uma bela surpresa e cativa com seu jeito doce, assim como a garota Violeta Palukas, que vive a namoradinha Maria. A melhor interpretação, no entanto, é de Ernesto Alterio, que vive Beto, o tio de Juan. Suas aparições são enérgicas, por vezes divertidas, por vezes angustiantes, como na hora em que ele decide levar ao esconderijo a vó de Juan, mesmo contrariado por Horacio. "Infância Clandestina" consegue escapar facilmente de derrapar em momentos melosos, mesmo tendo crianças como protagonistas. É completamente realista, e seu final é um misto de amargura com esperança, sem uma gota de pieguice.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

sábado, dezembro 15, 2012

"O Hobbit - Uma Jornada Inesperada"


Sinceramente, há muito tempo já havia me dado conta ter lido a obra de J. R. R. Tolkien fora de época. Deveria ter o feito aos 15 anos, mas não me senti atraído à época. Aí quando da estreia de "O Senhor dos Anéis", em 2000, resolvi encarar os três volumes de uma só tacada. Tarde. Não curti. Assim como achei tediosas as nove horas da cinesérie.

Bem, agora chega à telona "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada", do mesmo diretor Peter Jackson. Nele, a trama transcorre 60 anos antes dos eventos relatados em "O Senhor dos Anéis", que tinha Frodo como protagonista. Agora quem está à frente da história é o tio de Frodo, Bilbo Balseiro, vivido por Ian Holm na idade adulta e Martin Freeman quando jovem. Ao lado de outros pequeninos, Bilbo é convocado por Gandalf (Ian McKellen) para uma aventura perigosa - voltar as antigas terras do Reino de Erebor, terra dos anões que foi usurpada pelo dragão Smaug.

Tá, os efeitos especiais continuam primorosos, as maquiagens são perfeitas, o visual é arrebatador. Mas isso não é o suficiente. A história é chata, enfadonha. Os anões e o feiticeiro passam quase 3 horas caminhando, fugindo, encontrando os elfos, perseguidos por gigantes, lutando com orcs, subindo montanhas. E são nessas andanças que Bilbo encontra o assustador Gollum, na melhor sequência do filme, e o tal anel enfeitiçado. A impressão que se tem é que nada ocorre de novo, um puro repeteco dos outros três filmes anteriores. Talvez esteja sendo simplista, mas senti-me logrado. E pensar que "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" é apenas a primeira parte de outras duas continuações.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Na Terra de Amor e Ódio"


Angelina Jolie tinha uma boa história em mãos, com um excelente pano de fundo. Pena que tenha faltado habilidade para a atriz e musa em "Na Terra de Amor e Ódio". A guerra na ex-Iugoslávia foi uma das mais violentas do final do século XX, chegando a deixar em segundo plano conflitos como o de Ruanda, na África. E neste quesito, a reconstituição do período é bem conduzido por Jolie, ela mesma uma ferrenha ativista pelos Direitos Humanos.

A guerra foi quase fatrícida, com vizinhos e amigos, da noite para o dia, se exterminando. Os sérvios eram cruéis, fato, e agiram como os nazistas na II Guerra Mundial, eliminando sem dó nem piedade os bósnios-muçulmanos, tal como os judeus o foram no Holocausto. Mulheres foram estupradas, crianças assassinadas, e homens definhando de fome nos campos de concentração ou fuzilados e enterrados em valas comuns. Aproximadamente 100 mil pessoas pereceram entre 1992 e 1995. A cidade de Sarajevo, uma das joias da Iugoslávia e sede dos Jogos de Inverno em 1984 - e um cartaz em determinada cena lembra este fato -, ficou sitiada por quase 3 anos pelos sérvios. Franco-atiradores nas colinas vizinhas fuzilavam os moradores que tentavam fugir ou se expunham em busca de comida ou lenha. Até aí nota 10.

"Na Terra de Amor e Ódio", no entanto, perde força na outra parte, que é o romance Romeu e Julieta entre a artista muçulmana Ajla (Zana Marjanovic, de bela atuação) com o militar sérvio Danijel (Goran Kostic). Os dois se conhecem antes da guerra, flertam, mas com o início dos conflitos se encontram em lados opostos. E o início da guerra é simplesmente mal contado. Depois, Ajla será feita prisioneira, mas escapará das crueldades dos sérvios tornando-se protegida de Danijel, agora um conceituado líder, questionador dos métodos utilizados por seus pares contra as outras etnias, e sofrendo a pressão de seu pai, o radical Nebojsa (Rade Serbedzija, mais uma vez vivendo um vilão caricato).

O filme está repleto de nós desatados. No começo, a diretora evita mostrar a cena de alguns homens sendo fuzilados por uma patrulha, mas não deixa de escandalizar com o estupro coletivo de algumas mulheres, ou de cabeças sendo explodidas por tiros. Um personagem, de certa forma, importante para a trama, desaparece da história sem explicações. E Ajla é uma espiã, certo? Em nenhum momento alguma ação sua nesse sentido aparece. "Na Terra de Amor e Ódio" tem boas intenções, porém isso mostra não ser o suficiente.

Cotação: regular
Chico Izidro

"O Homem da Máfia"


Nos últimos tempos, vários atores conhecidos por serem os mocinhos, resolveram dar uma guinada e mostrar o seu lado sombrio. O caso mais recente é o de Brad Pitt em "O Homem da Máfia", de Andrew Dominik. Antes de Pitt, já haviam passado para o lado obscuro Matthew McConaughey em "Killer Joe - Matador de Aluguel", Tom Cruise em "Colateral", ou Leonardo DiCaprio, no ainda inédito "Django". Sem contar as inúmeras aparições vilanescas de Bruce Willis.

Bem, falando de "Django", "O Homem da Máfia" tem uma estética bem tarantinesca, e trazendo também referências a obras de Scorsese - nada mais mafioso do que o diretor nova-iorquino, inclusive escalando Ray Liotta, um dos atores ícones do clássico "Os Bons Companheiros". Nele, Brad Pitt é um assassino profissional contratado para eliminar dois ladrõezinhos baratos que roubaram 100 mil dólares de um cassino clandestino. Liotta vive o dono do tal cassino, que um golpe uma vez, safou-se, mas ficou marcado, e passa a ser o suspeito de ter comandado o novo roubo. Os dois ladrões são dois perdedores, fedorentos, viciados, azarados. E Brad Pitt faz o assassino clássico, frio, calculista, cínico. A gente sabe que ele vai matar, mas quando o fará? Ele conversa com suas vítimas, as tranquiliza. E então dispara.

Ou seja, o filme é excitante. E mostra aquele lado americano paupérrimo, ainda mais sendo a história sendo situada em 2008, em pleno começo da crise econômica. De pano de fundo também as eleições presidenciais. A todo momento aparece Obama discursando em alguma televisão. Porém "O Homem da Máfia" peca em alguns diálogos sem imaginação. Tentou-se recriar os bate-papos que Tarantino utiliza magistralmente em seus filmes. Tentativa frustrada, pois sem a mesma verve, e as citações pops, cai no marasmo. Induz ao sono.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Rota Irlandesa"


O diretor Ken Loach está em seu habitat tradicional em "Rota Irlandesa". O cineasta já tratou em sua obra as revoluções irlandesas e espanholas. Desta vez o foco político é no Iraque, reduto de mercenários após a queda de Saddam Hussein em 2004. A trama é ambientada três anos depois, e foca em dois grandes amigos de Liverpool, o irascível Fergus e o amável Frankie (John Bishop), que em uma missão acaba sendo morto na tal rota, trajeto perigoso nas rodovias iraquianas.

Ao separar o espólio de Frankie, Fergus (Mark Womack, em atuação soberba), acaba descobrindo que a morte do amigo tem forte ligação com o assassinato de uma inocente família iraquiana. Ao ir fundo na investigação, ao mesmo tempo que envolve-se com a mulher do amigo, Fergus começa a colocar para fora mais e mais a sua fúria, e a sentir uma profunda depressão. "Rota Irlandesa" não deixa de ser um filme de guerra, mas é um libelo contra ela - ao mostrar, mais uma vez, - que não existem inocentes e que ninguém, mesmo à distância homérica dela, consegue ficar fora de seu alcance.

Cotação: bom
Chico Izidro

"César Deve Morrer"


"César Deve Morrer" é impactante. Filme dirigido pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, utiliza como atores detentos da prisão de segurança máxima Rebibbia, em Roma. O trabalho social pretende aliviar um pouco a vida de homens embrutecidos e lhes é dada a oportunidade de encenar a peça "Júlio César", de William Shakespeare. Se aqueles presos tivessem canalizado seu potencial para outros meios, talvez não estivessem cumprindo sentença. Ou talvez não estivessem presos, nunca saberiam do potencial que teriam como atores.

A obra mostra desde os testes para a escolhoa de elenco da peça shakesperiana, e nesta parte é mostrada, de forma crua, o crime e a sentença de cada um. Muitos deles se envolveram com a Máfia, outros com tráfico de drogas, alguns com crimes passionais. Algumas penas chegam a ser desanimadoras - prisão perpétua. Mas os prisioneiros não se importam e passam a respirar a peça dia e noite, até deixando alguns outros presos à beira de um ataque de nervos. Uma bela obra.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"O Moinho e a Cruz"


"O Moinho e a Cruz", dirigido pelo polonês Lech Majewski, não é de fácil assimilação. A história é contada tomando por base o quadro O filme propõe uma recriação inédita e em movimento do quadro "A Procissão para o Calvário" (1564), de Pieter Bruegel, que conta a paixão de Cristo durante a ocupação espanhola na região que hoje conhecemos como Bélgica.

O filme traz três protagonistas, três ícones do cinema. Rutger Hauer vive Bruegel, Michael York é um colecionador de arte amigo do pintor e Charlotte Rampling é a inspiração para a Virgem Maria do quadro. E este praticamente ganha vida em cada fotograma, mostrando o cotidiano dos camponeses do século XVI. O colorido, as vestimentas, a precariedade com que viviam as pessoas. Os diálogos praticamente inexistem, assim como pouco se utiliza a trilha sonora. O moinho é a principal força motriz do vilarejo, pois dali se tira o alimento, o pão, que é dividido com as mãos do dono da casa. E a cruz significa a religiosidade e também a pureza, pois o criminoso é crucificado, tal qual Jesus no Gólgota. Impactante e hipnotizante.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

sábado, dezembro 01, 2012

"Os Penetras"


Até quando o humor no cinema nacional vai se apegar ao ultrapassado Zorra Total? Bem, esse programa global faz sucesso nas noites de sábado. E o que acontece? Este tipo de humor acaba sendo o chamariz de "Os Penetras", que é dirigido, sim por Andrucha Waddington, o mesmo de "Eu, Tu, Eles" e "Casa de Areia". Então não entende-se como ele conseguiu perder a mão neste filme protagonizado por Marcelo Adnet, Eduardo Sterblitch, Mariana Ximenes e Stepan Nercessian.

Adnet é o principal astro da MTV, ótimo humorista e imitador, mas infelizmente não funciona no cinema, onde já fez várias participações, quase sempre como coadjuvante, vide "Podecrer!", "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" e "Heleno". Eduardo Sterblitch é conhecido do grande público por interpretar o Freddie Mercury Prateado no humorístico televisivo Pânico. Em "Os Penetras", Adnet é Marco Polo, vigarista vivendo de pequenos golpes no Rio de Janeiro, e Sterblitch é um carinha ingênuo que chega do interior em busca da namorada, que lhe deu um belo pontapé na bunda. E com a carteira cheia de dinheiro parece ser a presa fácil para Marco Polo. Os dois, porém, criam uma relação de amizade quando circulam pelo Rio de Janeiro em busca da namorada de Beto, e como antecipa o título, invadindo festas da high society carioca.

"Os Penetras" pretende-se uma comédia de erros, com vários reviravoltas. Lembra, muito de longe, o hilariante "Os Safados", dirigido em 1988 por Frank Oz, com Steve Martin e Michael Caine, onde dois vigaristas se desafiam, tentado dar um golpe numa milionária, também uma escroque. Só que em "Os Penetras" as piadas são tão ruins, as atuações tão caricatas e forçadas, provocando no máximo aquilo que chamamos de "constrangimento alheio". A única coisa interessante do longa é a beleza de Mariana Ximenes, vivendo uma garota de programa, não poupando vestidinhos curtos e generosos decotes.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"A Origem dos Guardiões"


Quando é que você parou de acreditar nas suas tradições infantis? O Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa? Ainda hoje em dia com toda a tecnologia e a maturidade da petizada chegando mais cedo, a inocência ainda tem seu espaço. E é disso que trata o delicado "A Origem dos Guardiões", animação dirigida por Peter Ramsey, de "Monstros vs. Alienígenas". Nele, a criançada de uma pequena cidade americana curte sua infância alegremente. Todos têm seus sonhos tranquilos e sem preocupações. E nestes detalhes é que encaixam-se as características de quatro personagens característicos - o Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa, a Fada do Dente, aquela que deixa uma moeda embaixo do travesseiro em troca de um dente que caiu, e o Sandman, o mestre dos sonhos.

Mas uma dessas lendas se sente esquecido, o brincalhão Jack Frost, mestre da neve e do frio, e cuja existência é ignorada pela criançada. Isso faz dele um ser depressivo - e este detalhe permeia quase todo o filme. Querendo não passar apenas de uma citação dos pais para os filhos: "Cuidado com Jack Frost". Jack vai se unir as outras lendas na luta contra o boogie-man, ou para nós o bicho-papão, ser que considera-se menosprezado, e que deseja impor o pavor entre as crianças, e fazer com que elas deixem de acreditar em seus mitos de infância. "Eles acreditam em mim, mas não me temem", reclama o vilão. "A Origem dos Guardiões", apesar de cativante e tocante, está muito longe do folclore brasileiro. Tirando Papai Noel, aqui um homenzarrão mais parecendo um viking e empunhando duas espanhas, e o Coelhinho, vitaminado e com jeito de lutador de MMA, os outros guardiões fazem parte unicamente do imaginário anglo-saxão. Se bem que no Brasil já se comemora Halloween e nosso Natal não tem neve...

Cotação: bom
Chico Izidro

"As Palavras"


"As Palavras" é um filme surpreendente. Discute ética, conciência, amor. Dirigido por Brian Klugman e Lee Sternthal, traz um elenco que mostra-se afiado, principalmente Jeremy Irons, como um velho amargurado, um cínico Dennis Quaid, e uma insinuante Olivia Wilde. Mas quem rouba a cena é Bradley Cooper, como um escritor atormentado. A história de "As Palavras" fala de um livro mágico, que cativa as pessoas por mostrar o amor intenso de um soldado americano por uma jovem francesa na Paris no final da II Guerra Mundial.
Tudo começa quando um outro escritor, Clay Hammond (Quaid), faz uma leitura de sua obra intitulada exatamente "As Palavras", onde narra a vida de um aspirante a escritor, Rory Jansen (Bradley), que sem conseguir publicar e frustrado, acaba encontrando em uma pasta velhja os manuscritos escritor por um desconhecido, há décadas passadas. Ele acaba fazendo um gesto tresloucado, pegando para si os créditos da obra. Vai ficando famoso, rico. Só que pagará um preço caro por isso, começando por arriscar o casamento, passando pela credibilidade perante o público. Cooper está excelente na caracterização do escriba atormentado. E deverá ele confessar ou calar-se? O que acarretará seus atos?
"As Palavras" também acerta nas três histórias paralelas, que cruzam-se indiretamente. O cuidado com a reconstituição da Paris dos anos pós-guerra é outro belo trunfo, deixando ainda mais um ar superromântico neste belo filme.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...