quinta-feira, dezembro 13, 2018

"Colette"



Na ficção "A Esposa", com Glenn Close e Jonathan Pryce, um escritor ganha o Nobel de Literatura, mas o verdadeiro autor de suas obras é a mulher. A trama lembra e muito a vida da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette (1873/1954), que virou ghost-writter do marido, que por muito tempo levou a fama.

Agora a vida da escritora "Colette" chega às telas, sob a direção de Wash Westmoreland, e tendo no papel principal Keira Knightley (Piratas do Caribe). A vida dela é mostrada a partir de seu relacionamento com o escritor Willy (o excelente Dominic West, das séries “The Affair” e "The Wire"). Ele ganha a vida e a fama através de trabalhos feitos por escritores contratados por ele.

Quando se casa, Colette passa a escrever as histórias da sua infância por meio de uma personagem chamada Claudine. Como à época, as mulheres não eram muito bem aceitas, devendo se restringir a serem donas de casa, os livros são publicados com o nome de Willy. Sucesso instântaneo e dinheiro, mas também muita traição e vigarice. Ela passa a escrever cada vez mais, fazendo muito mais sucesso, e com o tempo, passa a querer reivindicar os direitos das obras.

O filme retrata muito bem, tanto historicamente quanto fotograficamente o final do Século XIX e o início do Século XX na França. A obra é significativa, pois mostra um momento de transformação na sociedade, falando sobre liberdade, homossexualidade, empoderamento e feminismo.

Keira Knightley é uma atriz que não me empolga muito, mas ela está muito bem no papel da escritora francesa - e é dona de uma extensa filmografia de filmes de época, como “Orgulho e Preconceito”, “Desejo e Reparação”, “A Duquesa” e “Anna Karenina”. Já Dominic West também vai bem no papel de mau-caráter, mesmo que seu personagem lembre muito o seu Noah, de "The Affair". Apesar de serem papéis parecidos, ele se sobressai.

Duração: 1h41
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Aquaman"



Sempre fui fã de revistinhas em quadrinhos (por favor, não usem perto de mim o termo gibi!!!), mas há muito tempo, não sei se é a idade, a maioria dos filmes de super-heróis não conseguem me agradar - e aí incluo "Vingadores", "X-Men", "Pantera Negra", etc - talvez se salve algum "Batman" e "Deadpool", e séries como "Demolidor" e "Justiceiro". E aí chega "Aquaman", direção de James Wan, e que eu considero mais uma tremenda bobagem.

A história gira em torno de Arthur Curry (Jason Momoa), filho de um humano com uma atlântis, e que já adulto, tem a missão de tentar impedir seu meio-irmão, o Príncipe Orm (Patrick Wilson), declare uma guerra contra “o povo da superfície”, ou seja, aquelas pessoas que vivem na terra e não nos mares. No meio disso tudo, tem ainda vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), que faz da vida uma jornada de vingança pessoal, jurando morte ao Aquaman. O herói não impediu que o pai do vilão, um pirata, morresse afogado dentro de um submarino, depois de uma tentativa fracassada de assalto em alto-mar.

Tudo é equivocado neste filme, desde os toscos efeitos especiais - o rejuvenescimento da rainha Atlanna e mãe de Aquaman (Nicole Kidman, “O Estranho que Nós Amamos”) ficou muito estranho. Artificial ao extremo. E o que falar de cachoeiras no fundo do mar? Ou então alguns personagens sub-aquáticos respirarem normalmente na superfície e outros, que pela lógica, serem da mesma espécie, terem de usar capacetes para respirar? E por aí vai - o Aquaman nada com calça jeans e botas!!! O vilão Arraia Negra, então, não tem qualquer serventia para a trama.

Já a relação entre Arthur e a princesa Mera (Amber Heard, ex-sra. Johnny Depp) não possui qualquer química. Jason Momoa, então, como intérprete, é um zero à esquerda. Enfim, são duas horas e meia de puro desperdício.

Duração: 2h23
Cotação: ruim


Chico Izidro

quinta-feira, dezembro 06, 2018

"O Beijo no Asfalto"



Estreando na direção, o ator Murilo Benício optou por levar às telas a refilmagem de um clássico do teatro e do cinema nacional, "O Beijo no Asfalto", adaptação da polêmica peça homônima de Nelson Rodrigues, de 1960. A obra já foi para o cinema em 1964, "O Beijo", sob direção de Flávio Tambellini, e "O Beijo no Asfalto", em 1981, de Bruno Barreto.

A história, escrita num prazo de 21 dias, foi inspirada na história de um repórter do jornal "O Globo", Pereira Rego, que foi atropelado por um ônibus antigo. No chão o velho jornalista percebeu que estava perto da morte e pediu um beijo a uma jovem que tentava socorrê-lo. Nelson Rodrigues alterou um pouco a história. Na trama do dramaturgo, o atropelado da praça da Bandeira pede um beijo a Arandir, jovem recém casado.

A cena é presenciada por Amado Ribeiro, repórter do jornal "Última Hora", que junto do delegado corrupto Cunha, modifica a história do último desejo de um agonizante em manchete principal. O jornal acaba retratando Arandir como um homossexual que empurrou o amante à frente de um ônibus e depois o beijou. A vida do rapaz se transforma num inferno, e ele acaba perdendo tudo, inclusive a apaixonada mulher.

Benício faz uma leitura diferente, mesclando o registro cinematográfico ao de uma montagem teatral, e fazendo ainda um documentário, onde acompanha os ensaios da peça. Ainda é mostrada uma mesa redonda de leitura do roteiro, composta pelo elenco principal e comandada pelo diretor de teatro Amir Haddad.

Na angustiante obra, podemos acompanhar a ruína na vida de Arandir, vivido por Lázaro Ramos. A cena do beijo é testemunhada por seu sogro, Aprígio (Stênio Garcia) e registrada pelo repórter sensacionalista Amado Pinheiro (Otávio Müller). O fato gera grande repercussão, originando uma investigação policial comandada pelo delegado Cunha (Augusto Madeira) e afetando a relação do jovem com a esposa, Selminha (Débora Falabella), e com a cunhada, Dália (Luiza Tiso).

Se sobressai nesta releitura, que manteve a época original em que foi escrita, os conservadores anos 1950. Preconceito, fake news e corrupção policial acabam fazendo uma ponte extraordinária com o tempo em que vivemos. Se destaca ainda a bela fotografia em preto e branco e a reconstituição de época.

Duração: 1h38
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"O Chamado do Mal" (Malicious)



"O Chamado do Mal" (Malicious), escrito e dirigido por Michael Winnick (Dublê do Medo), poderia ser um bom filme de terror. Mas mais uma vez a narrativa se equivoca, atropela tudo e entrega uma obra fraca e genérica de casa mal-assombrada.

A história foca em um professor universitário, Adam Pierce (Josh Stewart), e sua esposa grávida, Lisa (Bojana Novakovic), que se mudam para uma casa cedida pela universidade onde ele ministrará suas aulas. Só que ao chegar na nova residência, recebem um presente - uma caixa de madeira. E ao abrí-la, liberam uma entidade maligna com intenções assassinas.

Delroy Lindo interpreta o Dr. Clark, professor cego e chefe do departamento de matemática e também especialista em assuntos paranormais, é chamado pelo casal para tentar afastar o demônio da casa.

Porém, "O Chamado do Mal" apresenta uma história em que nada é novidade, não conseguindo causar o mínimo medo no espectador. Os diálogos também não ajudam. Bojana Novakovic até consegue mostrar medo com sua personagem. Já Josh Stewart é a própria cara do enfado. Fraco, não convence em nenhum momento. Susto mesmo foi assistir a este filme fraco e ver o tempo que perdi.

Duração: 1h32
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Tinta Bruta"




Filmado em Porto Alegre, por si só já é um baita atrativo - afinal fica legal tentarmos identificar as ruas, vielas, praças que são mostrados no decorrer da obra, "Tinta Bruta", dirigido por Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, trata de depressão, solidão, timidez e mostra um pouco do mundo LGBT. O personagem central, Pedro (Shico Menegat) carrega um pouco de tudo em seu personagem, de certa forma atormentado.

Esperando uma punição da Justiça após ter cegado um outro jovem que praticava bulliyng com ele, Pedro está prestes a ter de se virar sozinho, pois a irmã, a jornalista Luiza, irá morar em Salvador. O rapaz levanta uns trocados trabalhando como CamBoy, com o pseudônimo Garoto Neon, onde utiliza tintas para fazer seus números de dança erótica em um site na internet.

Mas tudo parece estar dando errado - o público está escasseando, pois outro dançarino está imitando seu trabalho e roubando seus clientes. Além do quê, o aluguel do apartamento está atrasado, ele sofre de agorafobia - Pedro tem dificuldades extremas de sair de casa e de se relacionar com as pessoas, até que conhece um outro jovem, também dançarino. Os dois iniciam um romance.

Porém, a solidão e os problemas parecem ser a tônica na vida do protagonista. Todos o abandonam, não que ele seja uma pessoa difícil, mas querem seguir em frente. E Pedro não consegue se encontrar neste mundo. "Tinta Bruta" até tem um final otimista, mas é muito angustiante.

Duração: 1h53
Cotação: bom

Chico Izidro

"A Vida em Si" (Life Itself)




Escrito e dirigido por Dan Fogelman, criador da série "This Is Us", o longa "A Vida em Si" (Life Itself), acompanha a vida de um casal, Will e Abe (Oscar Isaac e Olivia Wilde, respectivamente), contado de diferentes pontos no tempo e continentes, tendo ainda outras histórias de amor e tragédias relacionadas. A trama até inicia bem, prendendo nossa atenção, mas aos poucos vai virando um dramalhão, arrastado.

A primeira parte mostra o doce romance de Will e Abe, tendo ainda uma participação engraçada de Samuel L. Jackson e Annete Benning. Melancolia, depressão, mas também bom humor permeiam este começo, passado em Nova Iorque. E Olivia Wilde é deslumbrante, com uma beleza extraordinário e hipnotizante.

Mas ao se chegar na segunda metade, tudo desanda. Entram em cena Antonio Banderas, Laia Costa, Sergio Peris-Mencheta vivendo um triângulo amoroso, com a trama passando para a Espanha, e Olivia Cooke como a filha revoltada de Will e Abe. Banderas faz um caricato dono de uma fazenda produtora de azeitonas. De repente, passamos a desejar que o longa termine de uma vez, pois vai ficando enjoativo. Tenta fazer chorar, mas não consegue. Consegue é só irritar o espectador. É história demais para tempo de menos.
Em determinado momento, só desejamos que acabe logo antes que o drama se torne enjoativo e prejudique a conclusão, que aliás, se tornou óbvia após 20 minutos de filme. É história demais, culminando num final insosso.

Duração: 1h58
Cotação: regular

Chico Izidro

"Encantado" (Charming)



Em meio a tantas boas animações, "Encantado" (Charming), direção de Ross Venokur, é decepcionante. A história tinha todo o potencial para ser um novo Shrek, podendo abordar um engraçado lado dos contos de fada, contudo, se perde, cometendo falhas, numa tentativa de se fazer humor, mas errando nas piadas, tentando fazer um musical, e errando no timing e nas canções. E sem contar o traço utilizado, beirando o amador.

A trama apresenta o príncipe Felipe, que ainda bebê, foi enfeitiçado com o efeito de fazer com que todas as mulheres do reino se apaixonem por ele. No entanto, o feitiço será quebrado quando o príncipe completar 21 anos e todo o amor do mundo acabará. O rapaz ainda é noivo de três princesas ao mesmo tempo, Cinderela, Branca de Neve e Bela Adormecida, mas não é apaixonado por nenhuma delas.

E a única forma de acabar com a maldição é se Felipe se apaixonar verdadeiramente por alguém. O príncipe então sai numa missão, para tentar descobrir quem é seu amor verdadeiro. E acaba recebendo a ajuda da jovem ladra Leonora. Não preciso dizer mais nada.

A animação não funciona. Os personagens são estereotipados e não conseguem criar uma empatia com o público, os diálogos são fracos. Um desperdício.

Duração: 1h26
Cotação: ruim

Chico Izidro

quinta-feira, novembro 29, 2018

"As Viúvas" (Widows)




Baseado no livro homônimo de Lynda La Plante, "As Viúvas" (Widows), tem a direção do oscarizado Steve McQueen, vencedor por "12 Anos de Escravidão", e retrata a vida de três mulheres que tem de enfrentar um grande desafio após perderem os seus maridos. Veronica, Linda e Alice são vividas pelas atrizes Viola Davis, Michelle Rodriguez e Elizabeth Debicki, respectivamente, se unem depois que eles morrem durante a tentativa fracassada de um assalto.

Veronica acha que conseguirá seguir em frente apesar da morte do apaixonado Harry (Liam Neeson), mas um gângster roubado por ele surge, cobrando 2 milhões de dólares surrupiados pelo falecido. Ela tem um mês para pagar a dívida. E aí arma um plano, buscando a ajuda de Linda e Alice. Mesmo não possuindo nada em comum, as três se unem e se mostram determinadas a praticar um plano, que havia sido arquitetado por Harry e deixado anotado num caderninho dele.

Viola Davis mais uma vez dá um show de interpretação, nos fazendo lembrar a causa de seu nome estar entre as principais estrelas de Hollywood na atualidade. Sua personagem é uma mulher determinada, mas abalada pelo luto recente. Porém sabe que é preciso superá-lo para sobreviver.

Elizabeth Debicki, por sua vez, é uma grata surpresa, como uma viúva que se mostrava frágil no casamento, agredida pelo marido, e que acaba descobrindo forças de onde achava não ter. Já Michele Rodriguez também se destaca em um papel de uma mulher que precisa garantir a segurança dos filhos pequenos. Mas a grande surpresa mesmo está com Cynthia Erivo, como Belle, uma garota ipoi faz-tudo para ganhar uns trocados a mais.

Além do mais, "As Viúvas" não é apenas um filme sobre um grande assalto. O diretor britânico ainda é mordaz ao fazer críticas à corrupção política, o racismo institucionalizado dos Estados Unidos - um personagem negro é morto pela polícia, por tentar pegar um celular que estava tocando no carro, e violência doméstica. Filmaço.

Duração: 2h09
Cotação: excelente

Chico Izidro

"Um Homem Comum" (An Ordinary Man)




Há poucos meses Ben Kingsley interpretou Adolph Eichmann no longa "Operação Final”, lançado pela Netflix. Não demorou muito e o ator britânico volta a viver outro personagem fugitivo. Desta vez ele é um general da extinta Iugoslávia em "Um Homem Comum" (An Ordinary Man), direção de Brad Silberling. Após ter participado dos massacres na guerra dos Balcãs nos anos 1990, o general, que não tem nome, vive escondido, apoiado por antigos seguidores, que pagam por sua segurança. O general, visto como herói por parte do país, que não é especificado, mas tanto pode ser Croácia, Sérvia como Bósnia, é procurado por crimes contra a humanidade, praticados durante o conflito.

O general está sempre sendo cuidado pelo guarda-costas Miro (Peter Serafinowicz), mas não consegue se conformar com a vida que leva, sempre obrigado a trocar de esconderijo. Até que surge a empregada Tanja (Hera Hilmar), garota de 26 anos, sem amigos, órfã e que é contratada pelos aliados do general para cuidar dele. Cozinhar, conversar. Só que ela não tem muitos traquejos sociais, e seus erros batem de frente com o estilo grosseiro do ex-militar. Só que aos poucos eles começam a criar laços, mesmo que seja difícil lidar com o general, que não facilita para seus cuidadores, volta e meia saindo às ruas, perigando ser capturado.

O filme é interessante, trazendo nada de cenas de ação. É um filme de guerra, sim. Mas não precisa mostrar batalhas, tiros. A obra tem vários diálogos, interessantes, e que prendem a atenção. E o general é uma figura ímpar - mesmo sendo criminoso de guerra, não aparenta ter consciência pesada, mas vive amargurado por ter de viver afastado do mundo. Filmado em Belgrado, na Sérvia, o longa apresenta uma região que ainda parece não ter se recuperado dos traumáticos anos de conflitos.

Duração: 1h29
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"A Excêntrica Família de Gaspard" (Gaspard va au Mariage)




O nome do filme recorre ao oscarizado "A Excêntrica Família de Antônia", em 1995. Falta de imaginação dos distribuidores ao batizar "A Excêntrica Família de Gaspard" (Gaspard va au Mariage), longa francês com direção de Antony Cordier. Mas se formos pensar em títulos repetidos pelo Brasil...a lista é longuíssima. Bem que no caso, a família de Gaspard é mesmo fora do eixo.

Na trama, Gaspard (Félix Moati) mora longe da família, que possui um zoológico. O seu pai, Max (Johan Heldenbergh) vai se casar novamente, e o jovem precisa voltar para casa, a fim de acompanhar a cerimônia. Junto com o pai, moram ainda o Virgil (Guillaume Gouix) e a irmã Coline (Christa Théret), que está sempre usando uma fantasia feita de pele de urso, fedorenta.

Ela é sim, a personagem excêntrica da família, e que tem uma relação meio incestuosa com Gaspard. Só que ele não apareceu sozinho. Durante a viagem para casa, conheceu a jovem Laura (Laetitia Dosch), e ofereceu dinheiro para que ela fingisse ser sua namorada.

Ninguém parece agir com normalidade. O pai, apesar de estar noivo, é um mulherengo costumaz. Já Virgil namora uma tatuadora vegetariana, que não aceita muito bem o fato de ele ser dono de um zoológico. E a estranha Laura suspeita que Gaspard seja gay, por isso a contratou, para poder enganar a família.

"A Excêntrica Família de Gaspard", enfim, tem lampejos de graça, mas no final não consegue se definir se é um drama, se é uma comédia. Talvez o humor seja muito específico, incomum. Diferente.

Duração: 1h43
Cotação: regular
Chico Izidro

"Robin Hood - A Origem" (Robin Hood)



Por que alguns diretores tem a triste ideia de modernizar histórias clássicas? Para atender o público atual, menos exigente e pensante, só pode ser isso. Assim, Otto Bathurst dirige "Robin Hood - A Origem" (Robin Hood), versão remodelada da história do homem que roubava dos ricos para doar aos pobres, é completamente equivocada. Usa uma linguagem de vídeo game, com cenas de ação exageradas e aquelas câmeras que parecem estar no meio de uma tempestade.

E tudo soa completamente inverossímil na história, que se passa no período das Cruzadas, onde Robin Hood (Taron Egerton, de Kingsmans: Serviço Secreto) é o nobre convocado para ir ao Oriente lutar pelos cristãos contra os muçulmanos. Lá vira um pária ao salvar o mouro Little John (Jamie Foxx), e volta para Nottingham, onde descobre ter perdido tudo, até a mulher amada, Marian (Eve Hewson), que acredita que ele tenha morrido. Então Robin começa a praticar crimes para tentar desmascarar o Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn), completamente caricato.

Mas podem esquecer toda a história que vocês conheceram sobre o herói e sua trupe. Em tempos politicamente corretos, o gigante Little John virou um negro, que anda pelas ruas de Nottingham sem ser notado pelos britânicos!!! E o que dizer das armas usadas pelos mocinhos - arco e flecha, mas utilizadas como se fossem metralhadoras. E o que dizer dos coquetéis molotov lançados por protestantes fantasiados de black blocks...é muito exagero, e ainda por cima em um evento que se passa no Século XIII.

Quer agradar a um público jovem, tudo bem, mas pelo menos que o faça pensar, e não apresentando soluções fáceis e modernosas.

Duração: 1h56
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro"



Não é porque o humorista Danilo Gentili se bandeou para a direita é que vou malhar seu novo filme, sucessor de "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola". É porque o longa, "Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro", dirigido por Fabrício Bittar, é ruim mesmo, e aqui não vai nenhum ranço político. Desta vez o objetivo era fazer uma obra de terror com toques de humor, e sem nenhuma vergonha em copiar longas como "Ghostbuster", "The Evil Dead", "Fome Animal".

O resultado beira o trash, mas no mau sentido. Pois tem filme trash que é bom. O gênero pede coisas exageradas, sangue em excesso e mortes bizarras. "Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro" tem tudo isso, mas colocados de forma equivocada e com atuações fracas, nada naturais. E Gentili acha que é engraçado. Léo Lins e Murilo Couto ainda se salvam, mas Dani Calabresa é desperdiçada.

A história é sobre um grupo de caça-fantasmas contratado para limpar a escola do fantasma da tal loira do banheiro. Ela foi conjurada por dois alunos, e saiu do espelho matando pessoas pelos corredores escolares. Eles até brincam que o logo da empresa é semelhante ao dos ghostbusters. Mas é uma pisada feia.

Duração: 1h29
Cotação: ruim

Chico Izidro

"De Repente uma Família" (Instant Family)



"De Repente uma Família" (Instant Family) é baseado nas experiências reais de seu diretor, Sean Anders. A história mostra o casal formado por Pete (Mark Wahlberg) e Ellie (Rose Byrne), que com dificuldades para engravidar, decide adotar uma criança para formar a tão sonhada família. Para conseguir um filho (a), são obrigados a passar por um processo seletivo, junto com outros casais, como se fosse um curso para quem deseja ser pai.

Finalmente após grande busca, eles conhecem e decidem adotar a adolescente hispânica Lizzy (Isabela Moner), de 15 anos. Mas de acordo com as leis americanas, o casal é obrigado a abrigar também os dois irmãos menores da garota, o atrapalhado Juan (Gustavo Quiroz) e a difícil Lita (Julianna Gamiz). Com os três novos filhos e sem qualquer tipo de experiência, Pete e Ellie terão que aprender a se virar na nova vida. Sendo que Lizzy é a típica aborrescente, rebelde e que não está acostumada a ser bem tratada, dificultando muito as tentativas de Pete e Alice cuidarem das crianças.

Para quem pretende ser pai, o filme é um bom prato para mostrar como é dificil este tipo de vida. E para quem não quer, ele reforça esta ideia, pois não é fácil lidar com crianças, ainda mais elas já vindo de outras experiências traumáticas com outros pais adotivos.

"De Repente uma Família" (Instant Family) apresenta momentos de humor, mas também tem momentos de drama - o destaque fica com a jovem Isabela Moner, fazendo uma atuação memorável como uma garota rebelde, mas extremamente inteligente. Mark Wahlberg e Rose Byrne, por sua vez, obtém excelente química, não caindo na armadilha que até poderia acontecer de o longa virar um dramalhão.

Duração: 1h58
Cotação: bom

Chico Izidro

sexta-feira, novembro 23, 2018

"Infiltrado na Klan" (Blackkklasman)



Com direção e roteiro de Spike Lee, e baseado na obra "Black Klansman: A Memoir", "Infiltrado na Klan" (Blackkkklasman), nos leva direto aos anos 1970, e reproduz a história surreal vivida pelo policial negro Ron Stallworth.

Em 1979, recém chegado a força policial de Colorado Springs, Stallworth notou um anúncio em um jornal da cidade: a Ku Klux Klan buscava novos membros. Ao entrar em contato com o número telefônico colocado no anúncio, ele se apresentou como um homem branco que sentiu ódio por “negros, judeus, mexicanos e asiáticos.” Assim, ganhou a confiança do líder local da KKK, e marcou um encontro em pessoa. Aí que surgiu o problema. Afinal, ele é negro.

A solução foi encontrar um colega branco que aceitasse ir ao encontro do líder local da Klan: o policial branco Flip Zimmerman, que se infiltrou na seita racista durante nove meses. Judeu não praticante, o policial disfarçado correu risco de morte, e foi testado quase o tempo todo por um dos integrantes da KKK, que desconfiava de sua real identidade.

Stallworth é interpretado por John David Washington, filho de Denzel Washington, e Flip Zimmerman é vivido por Adam Driver. O líder supremo da KKK, David Duke, é representado por Topher Grace, da "That '70s Show", que tem as falas muito, mas muito parecidas com o atual presidente norte-americano Donald Trump. Spike Lee, afinal, quis fazer um paralelo com aquela época e a atual, inclusive nas cenas pós-créditos, onde coloca cenas reais dos protestos em defesa da supremacia branca em Charlottesville em 2017, e também de atos em defesa dos negros nos Estados Unidos, no movimento batizado de “Black Lives Matter” (vidas negras importam).

“Infiltrado na Klan” é uma obra importantíssima e reflete o momento atual, onde o perigo do fascismo voltar está muito presente.

Duração: 2h16
Cotação: excelente

Chico Izidro

"A Voz do Silêncio"




"A Voz do Silêncio", dirigido por André Ristum, é um forte drama passado na gigantesca São Paulo, e fala sobre solidão, desesperança, relações humanas. O filme tem um ritmo lento, e inicia com um clima de mistério, mostrando o cotidiano de várias pessoas, nos deixando em suspense, pois ficamos esperando que as vidas dos personagens em determinado momento se cruzem. A música do rapper Criolo, “Não Existe Amor em SP”, é a trilha sonora. Não gosto deste estilo musical, mas a música é forte, e marca bem as cenas que ilustra.

Os personagens são interpretados por excelentes atores, como Marieta Severo, Marat Descartes, Cláudio Jaborandy, Augusto Madeira, Ricardo Merkin, Stephanie de Jongh, Milhem Cortaz, Nicola Siri e Arlindo Lopes. Aliás, a história de Marieta é a mais forte. Ela vive Maria Claudia, uma mulher que vive trancada em seu apartamento, meio amargurada, meio adoentada.

A filha quer ser cantora, mas é dançarina de pole dance em uma boate, e ela acredita que o filho esteja viajando pelo mundo - o rapaz tem AIDS e foi expulso por ela, e trabalha no centro de São Paulo, num call-center. E Maria Claudia está sempre com a TV ligada, onde aparece um programa evangélico, com um pastor interpretado por Augusto Madeira, ex-Zorra.

Já Marat Descartes vive um advogado meiuo desonesto e trambiqueiro. Outro destaque é o argentino Ricardo Merkin, que representa um radialista com os dias de vida contados. Enfim, são nove personagens cujas vidas são interligadas, num filme que finaliza angustiante e aberto às dúvidas.

Duração: 1h38
Cotação: bom

Chico Izidro

"Excelentíssimos"




Recentemente, a cineasta Maria Augusta Ramos lançou o documentário "O Processo", que mostrava os bastidores do Governo durante o atribulado processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Agora, chega mais um outro documentário para tentar explicar o que foi aquele ano de 2016: "Excelentíssimos", de Douglas Duarte. O documentário mostra a polarização política que surgiu no país, e traz o dia a dia de todo o processo que culminou com a saída de Dilma em 31 de agosto daquele ano.

O filme tenta mostrar que houve um golpe contra Dilma, arquitetado pelo pessoal do PSDB e PMDB, nas figuras de Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições de 2014, e Michel Temer, que se tornaria o vice-presidente da petista, e que acabaria assumindo o posto após a destituição dela. Além do que desmascara ainda mais Eduardo Cunha, presidente da Câmara e um dos políticos mais corruptos da história do país, com sua cara cínica.

"Excelentíssimos" segue os políticos pelos corredores da Câmara em Brasília, com uma narração em off. E entrevistas com personagens que marcaram todo o processo, e é explicito ao mostrar que houve erro nas acusações feitas tanto a Lula quanto à Dilma. O filme também apresenta imagens das manifestações populares contra o golpe e o contraponto, daqueles favoráveis a saída da presidente.

O que incomoda são sequências onde aparecem políticos nada agradáveis falando, como o presidente eleito Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e a bancada evangélica, com suas ideias retrógradas e medievais. O filme também apresenta imagens das manifestações populares contra o golpe e o contraponto, daqueles favoráveis a saída da presidente.

Apesar destas presenças, "Excelentíssimos" não deixa de ser um trabalho forte, mostrando um dos momentos mais marcantes da história do país. E que acabou tendo resultado nocivo, ao permitir que uma figura como Bolsonaro se destaca-se, chegando aonde chegou.

Duração: 2h35
Cotação: bom

Chico Izidro

"Refém do Jogo" (Final Score)



Dave Bautista, o Drax de "Guardiões da Galáxia", vira Bruce Willis nesta espécie de "Duro de Matar", que se passa não em um edifício e nem em um aeroporto. O palco da ação de "Refém do Jogo" (Final Score), direção de Scott Mann, é o estádio Boleyn Ground, antiga casa do West Ham United, em Londres.

Dave Bautista vive Michael Knox, ex-militar que lutou no Afeganistão. Ele vai a Londres visitar a a esposa e a filha de um ex-companheiro e grande amigo, morto em ação no país asiático anos atrás. E leva a garota Danni (Lara Peake) para um jogo entre o West Ham United, time dela e do pai, e o Dynamo Moscou, pela fictícia Copa Europeia. Mas no estádio, acabam se metendo em uma enrascada.

O local está, sem que os torcedores e jogadores saibam, controlado pelo revolucionário russo Arkady Belav (Ray Stevenson) e seus capangos, que estão atrás de seu irmão Dimitri Belav (Pierce Brosnan), até então, considerado morto, e que ele pretende levar de volta para a Rússia para concretizar um golpe de estado em uma das ex-republiquetas soviéticas.

"Refém do Jogo" (Final Score) é recheado de clichês de filmes de ação. E o personagem de Bautista é a reencarnação de John McClane. Leva tiros, corre de explosões, anda de moto nas arquibancadas do estádio, e sai ileso, apenas com alguns cortes. É diversão, mas difícil de engolir.

Duração: 1h44
Cotação: regular

Chico Izidro

"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" (Fantastic Beasts: The Crimes Of Grindelwald)



Definitivamente o trabalho da escritora britânica J.K. Rowling não me agrada, apesar de ela ser uma das autoras mais queridas dos últimos anos, criadora de Harry Potter. Depois que a saga do bruxinho acabou, ela se dedicou a criar um universo novo,mas na mesma linha mágico-místico, e que ocorre décadas anos dos eventos registrados nos filmes de Potter.

A nova franquia tem como base o livro "Animais Fantásticos", e Rowling é a roteirista dos cinco filmes já anunciados, dois já lançados. O primeiro é "Animais Fantásticos e Onde Habitam", de 2016. Agora chega as telas "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" (Fantastic Beasts: The Crimes Of Grindelwald), direção de David Yates.

A trama traz novamente Eddie Redmayne como Newt Scamander, que é recrutado pelo seu antigo professor em Hogwarts, Alvo Dumbledore (Jude Law). Ele deve ir atrás do terrível bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Johnny Depp), que escapou da custódia do Congresso Mágico dos EUA.

E o filme é uma salada total, com roteiro estapafúrdio, se perdendo em diversas tramas e com efeitos especiais excessivos, e muitos, muitos personagens desnecessários. A obra é cansativa, e para os mortais, como eu, de uma chatice monumental. Porém vai agradar aos fãs mais fieis da franquia e do Mundo Bruxo de Rowling, um público que ainda usa fraldas ou não desgrudou da barra da saia da mãe.

Duração: 2h14
Cotação: ruim

Chico Izidro

sexta-feira, novembro 16, 2018

"Parque do Inferno" (Hell Fest)



Adoro filmes de terror, e confesso, a maioria que vejo são ruins. Tem até uma frase de um site que diz: filme ruim é filme bom. "Parque do Inferno" (Hell Fest), direção de Gregory Plotkin, poderia ser inserido nesta máxima, não fosse repetir os clichês do gênero, sem o menor pudor. E é slasher total, com muito sangue e tripas escorrendo pela tela.

No filme, a estudante universitária Natalie (Amy Forsyth) está visitando sua melhor amiga de infância, Brooke (Reign Edwards), e sua colega de quarto, Taylor (Bex Taylor-Klaus) em plena época do Halloween. E elas vão se divertir num parque de terror, chamado convenientemente de Hell Fest - com muitos labirintos e ambientes propiciados para assustar os frequentadores.

Porém, um maniaco homicida se mistura ao público e aos funcionários do local, quase todo ele usando fantasias, e sai matando a torto e direito. Até decidir que as garotas e seus amigos são o alvo preferido para cometer seus assassinatos, seja com machadadas, facadas, estrangulamento.

O roteiro do filme propicia bons momentos de suspense e mortes bem desenvolvidas. Só que fica aquela coisa de "ah, quem será a próxima vítima? E claro que a bonitinha vai se safar..."Às vezes isso causa tédio. E nunca vemos o rosto do assassino, convenientemente escondido por uma máscara (Jason Vorhees, Michael Myers vivem!!!). Mas quem curte slasher movies não bai se decepcionar, e pelo que mostra o final, talvez venha uma continuação por aí.

Duração: 1h29
Cotação: regular

Chico Izidro

"A Rota Selvagem" (Lean On Pete)



Pensei que estaria diante de um novo e choramingoso "O Corcel Negro", mas me equivoquei em "A Rota Selvagem" (Lean On Pete), direção de Andrew Haigh, e que mostra a paixão de um jovem por um cavalo. Porém o filme, um road-movie, fala sobre abandono, solidão, desesperança, recomeço. A trama foco no garoto Charley (Charlie Plummer, nenhum parentesco com Christopher Plummer, o Capitão von Trapp, de A Noviça Rebelde).

O jovem tem 15 anos e vive com o pai em Portland, Oregon. Com o hábito de correr, ele é visto pelo cuidador de cavalos Del (Steve Buscemi, de novo sensacional), que o emprega para cuidar de seus cavalos, criados para disputarem provas em hipódromos pelos Estados Unidos.Charley acaba se afeiçoando de um deles, Lean On Pete. Mas como a vida do garoto não é das mais fáceis, tragédias aparecem em sua vida, e ele se vê motivado a fugir com o animal, e tentar encontrar uma tia, que anos atrás havia tentado adotá-lo.

Charley e Lean On Pete, então, iniciam uma jornada pelo interior norte-americano. As paisagens são outro atrativo desta obra, passada a maior parte do tempo nas estradas. Com uma bela trilha sonora, feita por James Edward Barker, se destacam ainda os coadjuvantes, como o já citado Buscemi, Chloë Sevigny e Steve Zahn, como um morador de rua que se atravessa na vida de Charley, e faz aflorar nele um lado selvagem que havia segurado em todas as situações desesperadoras que havia passado. Um belo filme.

Duração: 2h01
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Entrevista com Deus" (An Interview with God)



Como ateu, fiquei meio assim de assistir a "Entrevista com Deus" (An Interview with God), direção de Perry Lang, e que me soava como uma propaganda religiosa forçada. Mas foi apenas impressão inicial, pois não existe neste filme nenhuma forçação de barra na história do jornalista que vai entrevista "o criador do mundo" para os criacionistas.

O diretor Perry Lang consegue fazer um filme que prende o espectador, principalmente nas conversas de Paul (Brenton Thwaites), um jornalista em busca de sucesso profissional através de alguma grande matéria e que vive uma crise no casamento, e o deus vivido por David Strathairn. Os dois batem papo numa praça de Nova Iorque, e tocam em assuntos como a existência de Lúcifer e o Paraíso e funcionamento do livre arbítrio.

Algumas coisas não ficam bem claras no filme, como qual a motivação de Paul em entrevistar deus, e como ele chegou nele. E o que aconteceu no passado do jornalista - sabe-se que ele esteve em uma guerra, e que isso o traumatizou. Mas o mais importante é que o longa não tenta fazer a cabeça de ninguém.

Duração: 1h37
Cotação: bom

Chico Izidro

"Verão" (Leto)



Baseado na vida real do roqueiro russo Viktor Robertovich Tsoi (1962/1990), líder da banda Kino, considerada uma das pioneiras do rock russo, "Verão" (Leto), direção de Kirill Serebrennikov, faz um retrato forte da juventude soviética nos anos 1980. O estilo musical era considerado subversivo pelo governo comunista, que tratava com mão de ferro as pessoas que curtissem o rock - uma cena emblemática mostra um concerto em um teatro, onde todos deviam ficar sentados, sem fazer movimentos. Quem se agitava era prontamente censurado, e mandado ficar paradinho. Imagina isso num show de rock!!!

Viktor (papel do alemão de origem sul-coreana Teo Yu)teve vida curta, mas profícua, tendo como influências bandas como Led Zeppelin, David Bowie, Talking Heads, Joy Division. Mas as letras do músico soavam um pouco ingênuas, visto que ele não poderia escrever músicas de contestação, né. A trama acaba girando muito na concorrência que ele teve com outro cantor, Mike Naumenko (1955/1992), líder da banda Zoopark, criada em Leningrado em 1981, e vivido por Roma Zver, ele próprio músico popular na Rússia, à frente da banda Zveri. Os dois, além da música tinham outro fator de tensão, que era a atração que a esposa de Mike, Natasha (Irina Starshenbaum), sentia por Viktor.

"Verão" se passa em Leningrado, atual São Petersburgo, e somente mostrado nesta estação do ano. A fúria da juventude, que enxergava a liberdade ocidental como uma miragem, está presente o tempo todo. A câmera passeia pelos palcos, pela praia, sempre em preto e branco - as cores surgem em imagens feitas por um documentarista que segue os músicos pela cidade.

O filme tem momentos bons com outros beirando o tédio. Talvez proposital, para mostrar um país que começava a mudar, já entrando em colapso - terminaria de forma abrupta em 1991. E os músicos também não tiveram muita longevidade, morrendo jovens, mas deixando um legado impactante.

Duração: 2h06
Cotação: bom

Chico Izidro

"Sueño Florianópolis"



"Sueño Florianópolis", escrito e dirigido pela argentina Ana Katz, tem como cenário o Brasil do começo dos anos 1990, e mostra a trajetória de uma família que viaja da Argentina para o litoral catarinense durante um veraneio, e tentando se reconectar. O elenco é multinacional, e tem além dos brasileiros Andrea Beltrão, Caio Horowicz, Marco Ricca, e os argentinos Mercedes Morán, Gustavo Garzón, Manuela Martinez e Joaquin Garzon.

Pedro (Gustavo Garzón) e Lucrécia (Mercedes Morán), separados após vinte e dois anos de casamento, chegam ao Brasil de férias, com seus dois filhos adolescentes, Florencia (Manuela Martinez) e Julian (Joaquin Garzón). Após uma viagem de 1.750 km de Buenos Aires a Florianópolis, num Renault 12, sem ar-condicionado, eles se deparam com uma casa sem condições de recebê-los. Assim, aceitam o convite de Marco (Marco Ricca) Larissa (Andrea Beltrão), casal divorciado que havia os encontrado na estrada e feito o convite para ficar em uma de suas residências.

Após um início interessante, a história vai caindo na previsibilidade e vai ficando morna, quase sonífera, numa trama envolvendo relações amorosas. Marco começa a se relacionar com Lucrecia, e enciumado, Pedro se envolve com Larissa. Para piorar, Florencia também começa um namorico com o filho de Marco. Já o filho de Pedro, Julian, é um mero coadjuvante, sem muita função.

O que de mais legal a se encontrar em "Sueño Florianópolis" são as belas imagens do litoral catarinense e as diferenças entre brasileiros e argentinos. Porém o ritmo lento, e o pouco a contar sobre os personagens fazem dele um drama menor.

Duração: 1h46
Cotação: regular

Chico Izidro

sexta-feira, novembro 09, 2018

"Chacrinha - O Velho Guerreiro"



Uma das melhores cinebiografias dos últimos anos, ficando lado a lado com "Bingo: O Rei das Manhãs" e superando "Tim Maia", Chacrinha: O Velho Guerreiro, longa-metragem dirigido por Andrucha Waddington retrata a vida de José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha. Como ele mesmo se intitulava, era um palhaço que alegrava com seu show de auditório a televisão entre as décadas de 1960 a 1988, quando morreu. Era ainda um mestre dos bordões, como "quem não se comunica, se trumbica", "eu vim para confundir e não para explicar", "hoje tem bacalhau" e "Terezinhaaaaaa, uhuh". Chacrinha teve ainda uma admirável carreira no rádio, onde iniciou no começo dos anos 40.

Vivido por Eduardo Sterblitch, o Freddie Mercury prateado do extinto Pânico na TV, em sua fase jovem, e Stepan Nercessian já na parte madura de sua vida, vemos no filme como Chacrinha chegou ao Rio de Janeiro em 1939, logo quando estourou a II Guerra Mundial, e seu início difícil na Cidade Maravilhosa, tentando convencer os executivos das rádios que merecia ter uma chance. Até começar a fazer sucesso e partir para a carreira na televisão, onde criaria um estilo próprio, com suas chacretes, como a musa Rita Cadillac, e jurados, como a ex-modelo russa Elke Maravilha (Giane Albertoni), que o chamava de painho, e foi fiel a ele até o fim.

Andrucha Waddington mostra ainda a relação conturbada que ele tinha com os filhos, a quem pouco via por passar o dia todo trabalhando, a luta pela independência em seus programas - Chacrinha exigia autonomia total e não aceitava ingerências nem na forma e nem no estilo de seus programas. Quando não estava satisfeito, simplesmente se mandava.

A reconstituição de época é marcante, fazendo com que o espectador passeie emocionado entre as décadas de 1940 e 1980. E o que dizer da atuação de Sterblitch e Nercessian, que conseguiram captar muito bem o estilo de Chacrinha, um ser anárquico, sem papas na língua, mas teimoso. E que assim combateu a censura da Ditadura Militar e que foi contra a caretice hipócrita dos brasileiros.

Duração: 1h54
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Millennium - A Garota na Teia de Aranha" (The Girl in the Spider’s Web: A New Dragon Tattoo Story)



Escritos pelo sueco Stieg Larsson, "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", "A Menina que Brincava com Fogo" e "A Rainha do Castelo de Ar" foram adaptados para as telas ainda nos anos 2000. Depois, o primeiro seria refilmado por Hollywood em 2011. Morto em 2004, Larson foi sucedido pelo autor David Lagercrantz para dar continuidade à série e em 2015 foi publicado "A Garota na Teia de Aranha", o quarto volume da série Millennium, que agora chega às telas do cinema sob a direção do uruguaio Fede Gomez: "Millennium - A Garota na Teia de Aranha" (The Girl in the Spider’s Web: A New Dragon Tattoo Story), trazendo novamente a heroína Lisbeth Salander, agora interpretada por Claire Foy (The Crown).

Neste novo filme, Lisbeth, uma exímia hacker, vive no submundo, mas sempre surgindo para atacar mulheres agredidas por homens, como uma espécie de vingadora. Então ela é contratada por um cientista, Balder (Stephen Merchant) para recuperar um programa de computador chamado Firefall, que dá ao usuário acesso a um arsenal bélico - o programa foi criado para o governo dos Estados Unidos, mas agora quer apagá-lo por considerá-lo muito perigoso. Ela consegue roubá-lo, mas se depara com um grupo cyber-terrorista que pretende ficar com o sistema, os Aranhas.

É quando Lisbeth se depara com sua irmã, Camilla (Sylvia Hoeks), que ela acreditava estar morta. Num flash-back é mostrado quando elas se separam ainda pré-adolescentes, quando Lisbeth foge e a irmã decide ficar vivendo com um pai abusador.

Claire Foy vai bem no papel que já foi de Noomi Rapace na versão sueca e Rooney Mara. Ela consegue captar bem a personalidade errática e sofredora de Lisbeth Salander. O problema é que o filme é repleto de furos de roteiro, com situações que beiram o absurdo, quase que agredindo a nossa inteligência.

Duração: 1h52
Cotação: regular

Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...