quinta-feira, dezembro 21, 2017
"Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso" (Suburbicon)
"Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso" (Suburbicon) tem direção de George Clooney, mas roteiro dos irmãos Joel e Ethan Coen. O que surge é uma daquelas comédias de humor negro, com muito de "Fargo". E um tom pesado, mostrando uma América racista, mas não a atual, de Donald Trump, mas sim a dos anos 1950, antes das lutas pelos Direitos Civis.
A história transcorre num condomínio fechado, o tal Suburbicon, onde todos viviam em harmonia, com estilo de vida de classe média, em um local com shopping, escolas. Mas as coisas começam a mudar quando se muda para o lugar uma família afroamericana, provocando a revolta os moradores, todos brancos e achando que a civilização americana iria acabar. Os argumentos dos moradores é puramente racista, sem lógica e que incomoda muito. E como.
Ao lado desta família que começa a sofrer o diabo com as provocações dos racistas, que os querem longe dali, mora uma outra família, cujo chefe é Gardner Lodge (Matt Damon). Com ele residem a esposa e a irmã dela, as duas interpretadas por Julianne Moore, e mais o filho Nicky (Noah Jupe, visto recentemente em Extraordinário). E uma noite a casa é invadida por dois assaltantes, que torturam a família, ocasionando a morte da esposa de Gardner.
Então começa a comédia de erros tão comum aos irmãos Coen. Enquanto uma linha do filme segue a rotina da família afroamericana ao lado, sofrendo com a discriminação, a outra mostra que existem mais culpados do que a dupla de assaltantes que invadiu a casa dos Lodge - e aí a história parte para questões de seguro de vida, de traições. A cara de paspalho de Matt Damon é algo, mas quem ganha o filme é o pequeno Noah Jupe, que já havia se destacado como o melhor amigo do protagonista de Extraordinário. E Julianne Moore em papel duplo é...sem palavras!!!
Duração: 1h44min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Corpo e Alma" (Teströl és lélekröl / On Body and Soul)
O belo filme "Corpo e Alma" (Teströl és lélekröl / On Body and Soul), dirigido pelo húngaro Ildikó Enyedi ganhou o Urso de ouro em Berlim e é o representante da Hungria no Oscar 2018. A obra trata de solidão, de inabilidade nas relações sociais, de pessoas desajustadas socialmente, não porque querem, mas porque são tímidas ao extremo.
A história transcorre em um abatedouro em uma cidadezinha húngara, onde o diretor financeiro Endre (Géza Morcsányi) tem uma nova colega, a sensível e calada Mária (Alexandra Borbély). Os dois vão se aproximando aos poucos, se encontrando na hora do almoço no refeitório da empresa. As conversas sã difíceis, interrompidas devido ao temor de ambos em tentar uma aproximação mais rígida. Até que em um dia tipo de pó do acasalamento (droga usada em gados) é roubado e vai parar numa festa, deixando os convivas alterados.
Uma psicóloga é contratada para tentar descobrir quem roubou e distribuiu o produto. E vai convocando os funcionários do matadouro, chegando em Endre e Mária, que descobrem terem os mesmos sonhos - eles sonham que são cervos em uma floresta. A partir daí e apesar do estranhamento, a dupla vai se aproximando. Mária é quieta, tímida em excesso, e nunca teve um relacionamento, demonstrando possuir até mesmo um tipo leve de autismo. Endre, por sua vez, tem o braço esquerdo defeituoso e já esgotou o número de relacionamentos em sua vida, não querendo mais se envolver, até cair de amores pela colega.
O filme é bonito, mas também angustiante - atente para uma cena de suicídio. E até mesmo vai incomodar os vegetarianos e veganos, ao mostrar o abate de gado, com direito a muito sangue escorrendo pelo chão.
Duração: 1h56min
Cotação: excelente
Chico Izidro
"Assim é a Vida" (Le Sens de la fête)
"Assim é a Vida" (Le Sens de la fête) é dirigido pela dupla Olivier Nakache e Eric Toledano (responsáveis por Intocáveis e Samba, ambos protagonizados pelo carismático Omar Sy). E é uma comédia leve, sem grandes arroubos dramáticos, mas trazendo à tona os mais diferentes tipos de personagens, do neurótico ao mau-caráter, do certinho ao angustiado.
A história gira em torno de Max (Jean-Pierre Bacri), um organizador de eventos que está preparando um grande casamento em um castelo nos arredores de Paris. Ele é organizado, detalhista, mas os seus comandados, que vão de garçons, cozinheiros, fotógrafo e músicos, são o seu oposto. E todos eles ganham espaço, com os diretores mostrando um por um e suas manias, fraquezas.
Enquanto vai organizando o que será o grande dia, Max ainda tem de lidar com a distância da amante Josiane (Suzanne Clément), que lhe dá um gelo devido a sua dificuldade em abandonar a esposa e ficar com ela. Já sua ajudante, Adèle (Eye Haidara) é uma desbocada e tira do sério o restante da equipe.
Para piorar a situação, o noivo Pierre (Benjamin Lavernhe) é uma pessoa sem a mínima humildade,. arrogante e detalhista. E a noiva é uma antiga paixão de um dos garçons, um ex-professor que teve um colapso nervoso e dono de uma forte depressão e que acha que pode recuperar a sua amada. E ainda tem o cantor da festa, James (Gilles Lellouche), que acha que canta, mas só enrola.
Claro que sendo uma comédia, as coisas vão dando errado numa sequência monstruosa. Porém todo o humor é mostrado de forma inteligente, através de diálogos e cenas sem exageros corporais. A risada acaba saindo fácil.
Duração: 1h56min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Ninguém Está Olhando" (Nadie Nos Mire)
"Ninguém Está Olhando" (Nadie Nos Mire) mostra como é difícil a vida de um imigrantes emn terras estrangeiras. Dirigido pa diretora argentina Julia Solomonoff, a história mostra a vida de Nico (Guillermo Pfnening, excelente), um ator que deixa Buenos Aires e um papel coadjuvante em uma novela para tentar a sorte em Nova Iorque. Além de uma vida nova, ele também quer distância de Martin (Rafael Ferro), o diretor da novela, com quem tinha um caso amoroso.
Mas em terras americanas, Nico passa a viver dificuldades. Sendo loiro, não corresponde ao estereótipo latino corrente, mas também não consegue nenhum papel de local devido ao forte sotaque espanhol. Enquanto não consegue atuar, Nico vive de bicos e também de babá do filho de uma amiga argentina.
A obra mostra com precisão como é viver em terras estrangeiras, mas tentando manter uma aparência normal para os amigos - Nico mente aos conterrâneos que está trabalhando em filmes e séries, mostrando uma falsa realização pessoal e profissional.
Duração: 1h41min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"As Aventuras de Tadeo 2 - O Segredo do Rei Midas" (Tadeo Jones 2: El secreto del Rey Midas)
A Pixar e a Dreamworks nos acostumaram com animações que beiram a perfeição. Então assistir um desenho como "As Aventuras de Tadeo 2 - O Segredo do Rei Midas" (Tadeo Jones 2: El secreto del Rey Midas) é como estivessemos regredindo um pouco no tempo. A obra espanhola beira a simplicidade e ainda carrega uma história bobinha, com mocinhos e vilões estereotipados, que talvez até agradem as crianças. Somente as crianças.
A trama gira em torno do pedreiro Tadeo, que sonha em ser arqueólogo. Apaixonado por Sara, ela sim arqueóloga nos moldes da Lara Croft, ele não consegue revelar seu amor por ela. Mas partirá numa missão para salvá-la, quando a garota é raptada por um milionário que pretende se apoderar do colar do rei Midas, que transformava tudo que tocava em ouro.
Ambientada, de início, em Los Angeles, nos Estados Unidos, a história acaba ultrapassando fronteiras e indo parar na Espanha e depois na Turquia. Mas apesar de toda esta movimentação, o filme é cansativo, e ainda traz personagens irritantes, como a múmia, histriônica.
Duração: 1h26min
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, dezembro 14, 2017
"Mulheres Divinas" (The Divine Order)
Representante da Suíça na disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2018, "Mulheres Divinas" (The Divine Order), dirigido pela cineasta Petra Biondina Volpe, mostra a luta delas por direitos iguais aos homens. Em "As Sufragistas", de 2015, podemos ver a luta das inglesas pelo direito ao voto no início do Século XX. Então é absurdo verificar que quase setenta anos depois, as suíças ainda corriam atrás de igualdade.
Sim, "Mulheres Divinas" tem a trama ambientada na édaca de 1970, mais exatamente no ano de 1971, uma época de ebulição social no mundo - ainda se respirava as lutas e os ideais libertários dos anos 1960. Numa pequena aldeia no interior da Suíça, vemos a figura de Nora (Marie Leuenberger), mãe de três filhos, que tem de se preocupar ainda nas atividades domésticas diárias e cuidar do sogro, um homem reacionário. Nora nunca teve um orgasmo e o marido Hans (Maximilian Simonischek) acha ridícula a ideia de ela querer trabalhar fora. "Para quê? Os seus deveres são em casa, comigo", repete ele, que nunca deu prazer sexual a mulher.
Ao fazer uma viagem a Zurique, Nora entra em contato com um grupo de mulheres que luta pela igualdade feminina e exige o voto - as mulheres eram impedidas de votar, escolher suas representantes. E isso que a Suíça é um dos países mais evoluídos do mundo!!! Nora, então, forma um grupo político em sua cidade, e estas mulheres vão tentar acabar com séculos de costumes, tradições e hábitos que não deixavam ninguém do sexo feminino evoluir.
O filme discute o papel da mulher na sociedade, conseguindo fazer uma obra de conscientização e leveza, retratando e muito bem - inclusive com bela reconstituição de época - um período muito importante da história daquele país europeu.
Duração: 1h36min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Star Wars: Os Último Jedi" (Star Wars: The Last Jedi)
"Star Wars: Os Último Jedi" é a oitava parte da saga intergalática criada nos anos 1970 por George Lucas, e este filme é escrito e dirigido por Rian Johnson, trazendo velhos e novos personagens, como Luke Skywalker (Mark Hammil), a Princesa Leia (Carrie Fisher, morta em dezembro de 206), além do Mestre Yoda, Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Kylo Ren (Adam Driver).
A história começa logo após o término do longa anterior, "Star Wars: O Despertar da Força", onde Rey parte em busca de Luke Skywalker, que está desaparecido há mais de 30 anos. E ela tem um pedido de ajuda vindo diretamente da General Leia Organa. Porém Luke não quer mais lutar e é a favor do fim da Ordem dos Cavaleiros Jedi. Enquanto isso, a Resistência enfrenta um ataque pesado da Primeira Ordem, que, mais do que nunca, aparece em superioridade numérica, tecnológica e ofensiva.
Ou seja, "Star Wars: Os Último Jedi" foca em vários sentidos. Num em Rey tentando convencer Luke a voltar a lutar e querendo receber os ensinamentos dele, enquanto que na outrra parte vemos os rebeldes tentando escapar das garras do Império, que quer exterminar a rebelião.
No meio disso tudo, vemos o embate psíquico entre Rey e Kylo Ren, filho de Hans Solo e Leia, e que se voltou para o lado negro da Força - querendo ser um novo Darth Vader, mas não tendo o reconhecimento do Imperador Snoke. Quem ganha ainda forte participação é o ex-stormtrooper Finn, que tenta encontrar uma forma de evitar o aniquilamento dos rebeldes - sua participação é repleta de humor. Aliás, humor é o que não falta no filme. Que ganhou uma trama mais simples, sem grande enrolação e sem viagens de roteiro. Por isso, divertido e agradável, mesmo com suas mais de duas horas e meia.
Duração: 2h32min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quinta-feira, dezembro 07, 2017
"Verão 1993" (Estiu 1993)
"Verão 1993" (Estiu 1993), escrito e dirigido por Carla Simón é uma simples, quase naturalista, e apresenta ainda uma direção de crianças excepcional. A obra reproduz momento da infância da diretora, que ficou orfã dos pais muito cedo, e fala sobre luto e adaptação a uma nova vida, em um novo lugar, com novas pessoas.
A trama segue a pequena Frida (Laia Artigas), de seis anos, que perde os pais por causa de um vírus- o filme não esclarece qual seria, mas fica claro que é a Aids. A garotinha, passa então, a viver com seus tios e a pequena filha do casal, que passam a ser sua nova família. E esta adaptação não será nada fácil. Frida tem sérios problemas de comportamento, comum a sua idade, pois precisa criar novos laços afetivos.
Boa parte da história se passa no verão de 1993, daí o nome do filme, onde todos passam as férias na casa dos avós, no interior da Espanha. E onde Frida tenta entender o que ocorreu com seus pais. Uma conversa muito séria entre ela e a tia é um dos momentos fortes do filme.
A atuação de Laia Artigas é brilhante. A menina se supera, não se importando com a câmera que a segue constantemente. Sua presença em cena é tranquila e comovente. Fato que é um baita filme, que não precisa de efeitos especiais e de momentos clímax. Simples e bonito.
Duração: 1h34min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Com Amor, Van Gogh" (Loving Vincent)
O filme é o resultado de seis anos de trabalho, onde os diretores Dorota Kobiela e Hugh Welchman comandaram uma equipe com 100 pintores, que pintaram em estúdios poloneses, utilizando as mesmas técnicas do artista holandês, cada um dos 65 mil frames utilizados nesta obra-prima da animação chamada "Com Amor, Van Gogh" (Loving Vincent). Cada cena do filme depois teve o acréscimo de atores de verdade, que aqui eles parecem colocados em quadros de Van Gogh. Enfim, é uma verdadeira viagem ao mundo pósimpressionista.
A história é quase uma investigação policial e ocorre em 1891, um ano após a morte do pintor holandês. O protagonista é Armand Roulin (Douglas Booth), filho do carteiro Joseph Roulin (Chris O’Dowd), de quem Van Gogh se tornou um grande amigo ao se mudar para Arles, no sul da França. Roulin, usando como pretexto o pedido que seu pai lhe deu de entregar uma carta deixada por Van Gogh para o irmão Theo, após descobrir que este também morreu, ele passa a investigar a morte do pintor. E em cada conversa com estas testemunhas surge um flashback mostrando a trajetória de Van Gogh (Robert Gulaczyk) em seus últimos dias na França. Vítima de bullying, de descaso e de desprezo por muitos - ele nunca teve o reconhecimento de sua genialidade em vida, quando conseguiu vender apenas um quadro.
Seu temperamento, sua depressão, seu comportamento fora dos padrões o fez ser considerado louco, ainda mais depois que decepou a própria orelha. Sua morte foi classificada como suicídio com um tiro na barriga, mas aos poucos Roulin, em sua investigação vai passando a crer que Van Gogh teria sido assassinado. "Com Amor, Van Gogh" (Loving Vincent) é uma obra espetacular, extraordinária, que deve ser assistida, revista, saboreada. Um dos filmes do ano.
Duração: 1h38min
Cotação: excelente
Chico Izidro
"Lucky"
A velhice é um saco. A morte é inexorável. Em "Lucky", direção de John Carroll Lynch, todos os dias são iguais para o velho Lucky (Harry Dean Stanton, que morreu em setembro passado, aos 91 anos). Ele mora numa cidadezinha no meio do deserto e segue uma rotina muito monótona. Todos os dias ele acorda, faz exercícios de alongamento, toma um copo de leite, acende um cigarro, se veste e vai dar uma caminhada.
E nesta caminhada diária é que podemos conhecer um pouco deste homem de 90 anos, que é adorado pelos outros moradores. Lucky vai a um mercadinho de uma imigrante mexicana comprar leite, volta para casa onde tenta resolver palavras cruzadas - ele sempre liga para alguém pedindo dicas. À noite vai a um bar, onde se encontra com outros moradores idosos como ele e bebe um Blood Mary.
Além deste cotidiano repetitivo, mas nunca cansativo, podemos ver em cena atores de tempos passados, com seus momentos, como o médico vivido por Ed Begley Jr., numa cena hilária: "Você não tem nada, só está velho!", o diretor David Lynch, Tom Skerrit e James Darren (ele mesmo, do seriado clássico Túnel do Tempo!!!). Um filmaço. Simples, mas um filmaço.
Duração: 1h28min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Extraordinário" (Wonder)
Ao assistir "Extraordinário" (Wonder), dirigido por Stephen Chbosky, lembrei imediatamente de um clássico assistido na minha adolescência: "Marcas do Destino", de 1985, com Cher e Eric Stoltz, sobre um garoto que possue uma doença que faz seu crânio crescer acima do normal - ops, "O Homem-Elefante" tem a mesma pegada. Este "Extraordinário" é baseado em romance de R. J. Palacio, e também fala de aceitação, bullying e é uma mistura de drama com comédia.
Chbosky já havia dirigido outro filme cujo tema principal é um adolescente ser aceito pelos iguais, o ótimo "As Vantagens de Ser Invisível". Mas aqui se ele não apela para o choro fácil, também não facilita, mostrando uma história de comercial de margarina. Tudo é muito certinho, tudo é muito bonitinho, quase não existem conflitos.
O garoto Auggie (Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack) nasceu com uma deformação facial e sempre estudou em casa, sob orientação da mãe, Isabel (Julia Roberts). Mas chegou o momento que é necessário que ele frequente uma escola regular. Mas como fazer isso sem se sentir rejeitado pelos outros estudantes, afinal ele tem várias cicatrizes na fase - tanto que passa boa parte do tempo usando um capacete de astronauta.
E na escola ele vai conhecer os dois lados: o da bondade e da aceitação de alguns coleguinhas, e a maldade e a inveja por parte de outros. Afinal, apesar de sua deformidade, Auggie é espirituoso, inteligente, e tem uma família que o ama e o protege além da conta. Neste momento o espectador já está passando mal por causa de tanto açúcar.
Jacob Tremblay é um ótimo ator mirim e consegue levar nas costas este filme, recheado de clichês - até mesmo as viagens de Auggie são mais do mesmo: o garoto se imagina um astronauta e por vezes recebe a companhia de Chewbacca, quando sente alguma dificuldade de entrar na escola.
Duração: 1h54min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Em Busca de Fellini" (In Search of Fellini)
Este filme é para amantes de cinema, e principalmente pelo italiano (aliás, após vê-lo dá vontade de rever todas as obras mostradas no decorrer da história). "Em Busca de Fellini" (In Search of Fellini), é dirigido pelo sul-africano Taron Lexton, com roteiro de Nancy Cartwright e Peter Kjenaas, baseada nas memórias exatamente de Cartwright – também presente no longa. O filme, passado em 1993, está repleto de personagens, locações e referências estéticas aos clássicos do diretor Federico Fellini, como “Noites de Cabíria”, “A Doce Vida” e “8 ½”.
"Em Busca de Fellini" (In Search of Fellini), além de ser uma homenagem à sétima arte, também é um longa de autoconhecimento, de desbravamento. Toda a trama é focada na jovem Lucy Lucy (Ksenia Solo), uma garota de 20 anos, da pequena cidade de Rimini, Ohio (EUA) - a cidade tem o mesmo nome do local de nascimento de Fellini. Desde sempre protegida pela mãe Claire (Maria Bello), ela nunca trabalhou, nunca beijou e muito menos teve um namorado. A vida das duas é assistir a intermináveis maratonas de filmes dos anos 1940 e 1950 em preto e branco. Mas a vida de Lucy começa a mudar quando Claire descobre estar com um câncer em estágio avançado. O que será de Lucy? A menina terá de se virar, arranjar um emprego para ter de se sustentar.
Então ao ir a uma entrevista de emprego, ela acaba deparando com um cinema fazendo uma mostra dos filmes de Fellini. E acaba se apaixonando pela obra do cineasta italiano. Incentivada pela tia (Mary Lynn Rajskub), resolve ir sozinha à Itália atrás de seu grande ídolo.E na viagem se entra direto no trabalho de Fellini, onde são mostrados locais históricos e até mesmo personagens que Lucy conhece são vividos por atores que trabalharam com o diretor, como Bruno Zanin, de “Amarcord”.
Ksenia Solo consegue passar com seu jeito cândido as emoções de uma pessoa sonhadora e ingênua, enquanto que Maria Bello constroe uma personagem protetora ao extremo, receosa de deixar sua cria se perder pelo mundo.
Duração: 1h44min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quinta-feira, novembro 30, 2017
"Assassinato no Expresso do Oriente" ( Murder on the Orient Express)
"Assassinato no Expresso do Oriente" ( Murder on the Orient Express) é um filme de Kenneth Branagh feito para Kenneth Branagh. O ator e diretor britânico pegou o clássico romance homônimo da escritora de romances policiais Agatha Christie, que marcou a minha infância e adolescência e o repaginou. A obra de suspense já havia sido filmada em 1974 por Sidney Lumet, que teve seis indicações ao Oscar, incluindo roteiro adaptado, e o prêmio para Ingrid Bergman de atriz coadjuvante.
E que convenhamos, é bem superior a esta nova produção. Seja pelo elenco estrelado, seja pela reprodução da história. E isto que Branagh se cercou de uma verdadeira constelação de astros, como Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz, Daisy Ridley e Willem Dafoe. Mas Lumet tinha Albert Finney, Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Jacqueline Bisset, Vanessa Redgrave, John Gielgud e Sean Connery. Melhor, né?
Na trama, que se passa dentro de um trem que sai de Istambul na Turquia para a França, mas passando por vários países, ocorre um assassinato de um dos personagens - ligado a um crime que ele cometeu no passado. Em determinado ponto da viagem, o trem é obrigado a dar uma parada por causa de uma avalanche.
E então o famoso detetive belga, que muita gente confunde como francês, Hercule Poirot (o próprio Branagh), desvendar o mistério. Afinal, qual dos passageiros cometeu o assasinato, que tem ligação com o passado direto de qualquer um deles e uma rica família que teve seu bebê sequestrado e morto – Agatha Christie usou como base o caso real do aviador norte-americano Charles Lindbergh, cujo filho ainda bebê foi sequestrado em 1932, aparecendo morto um tempo depois. A obra da escritora foi lançada em 1934.
"Assassinato no Expresso do Oriente" é um filme feito para o ego de Kenneth Branagh, mas apresenta uma bela reconstituição de época, e atuações boas, apesar de ele colocar o detetive para correr - Poirot era só cerebral - mas vá lá. O bom é que a obra põe novamente em evidência a obra de Agatha Christie, que faz a gente colocar os neurónios para funcionar.
Duração: 1h54min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Thelma"
O filme "Thelma", escrito e dirigido pelo norueguês Joachim Trier, é a indicação oficial da Noruega para o Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. E é uma obra forte, que faz juz a candidatura. Forte e diferente, com elementos sobrenaturais, sexuais e religiosos. Trier já dirigiu os dramas "Oslo, 31 de Agosto" e "Mais Forte Que Bombas".
Desta vez ele mostra a vida da jovem Thelma interpretada por Eili Harboe, de "A Onda", garota que deixou a casa dos pais no interior da Noruega e foi estudar biologia na faculdade em Oslo. Mas ela não é normal. Pelo contrário. É uma menina tímida, criada em um regime religioso, opressivo e rígido.
E mesmo longe dos pais, se sente presa, pois mesmo à distância, eles ligam à toda hora, exigindo detalhes de sua vida - numa cena, a mãe agradece ao marido por poder ter acesso à agenda de Thelma através da internet!
Mas a vida de Thelma vai passar por processos de amadurecimento, quando ela conhece outra jovem, Anja (Kaya Wilkins), uma bela colega de classe, e que vai ser responsável direta por despertar a sexualidade reprimida da protagonista.
Só que além de se abrir para seu homossexualismo, Thelma também sofre com estranhas convulsões, que começam a atrapalhar seu dia a dia, e a trazer à tona estranhos acontecimentos sobrenaturais. E esta força interior da garota aterroriza até mesmo os seus pais, que exigem sua volta para casa - mesmo que isso vá influenciar suas vidas de uma forma nada agradável.
"Thelma" é um fascinante trabalho sobre os efeitos da opressão religiosa, que para muitas pessoas é um puro pesadelo.
Duração: 1h56min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Jogos Mortais – Jigsaw" (Jigsaw)
"Jogos Mortais – Jigsaw" (Jigsaw), dirigido pela dupla Michael Spierig e Peter Spierig, traz de novo à ação o serial killer e justiceiro John Kramer (Tobin Bell) em sua oitava presença nas telas. Ainda fico me perguntando o que tem na cabeça o pessoal que inventa o máquinário de tortura utilizado por Jigsaw? Quanta imaginação para matar pessoas.
Bem, desta vez a história se situa dez anos após a morte de John Kramer, que todos sabem, morre vítima de câncer. E o filme se inicia com um criminoso chamando o detetive Halloran (Callum Keith Rennie) e dizendo que se iniciam novos jogos. Mas se Jigsaw está morto, quem está por trás dos assassinatos agora? Um imitador (copycat)?
As mortes são acompanhadas também por dois médicos legistas, Logan (Matt Pasmore) e Eleanor (Hannah Emily Anderson), que passam a investigar a nova série de crimes - as novas vítimas estão presas em uma velha fazenda, e tem de seguir as regras para não serem mortos - claro que isso não acontece, pois a cada etapa, são exigidos novos sacrifícios, que elas não estão prontas para assumir.
No final, "Jogos Mortais – Jigsaw" lembra muito os outros sete filmes da franquia. Muitos corpos dilacerados, a narrativa tem de buscar o recurso dos flash-backs para explicar o que se passou na tela. E claro, a trama fica aberta para as várias reviravoltas - uma hora o suspeito é um dos detetives, noutra o legista, noutra aparece o próprio Jigsaw, mas é uma pegadinha do roteiro. Mais do mesmo.
Duração: 1h32min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Algo de Novo" (Qualcosa di Nuovo)
Duas amigas quarentonas dividem o mesmo namorado, mas sem saber. Este é o mote da comédia italiana "Algo de Novo" (Qualcosa di Nuovo), dirigido por Cristina Comencini. O detalhe que o caso amoroso delas tem apenas 19 anos e despreocupado com tudo, pensando apenas em se divertir. E acaba ficando bem com as duas, que também não querem nada mais sério.
As protagonistas são Lucia (Paola Cortellesi) e Maria (Micaela Ramazzotti), amigas inseparáveis e que se conhecem há muitos anos. São de comportamentos opostos. Lucia é cantora de jazz, e separada, se fecha aos relacionamentos. Já Maria tem dois filhos, não tem pudores em passar apenas uma noite com seus casos. E Luca (Eduardo Valdarnini) seria um deles.
Até que por um equívoco, o rapaz acaba conhecendo Lucia, iniciando um namoro com as duas. Ele acaba mudando a rotina das amigas, e até mesmo acaba por ameaçar a amizade de décadas entre elas. Afinal, nenhuma delas sabe do envolvimento de ambas com Luca, e passam a mentir uma para a outra, deslavadamente.
Paola Cortellesi, conhecida por protagonizar comédias românticas, se sai muito bem ao interpretar Lucia, e ainda por cima canta muito bem. Já Micaela Ramazzotti está exuberante no papel de Maria. Mas apesar disso, achei a trama meioo repetitiva e cansativa. Nada que não tenha sido feito antes.
Duração: 1h33min
Cotação: regular
Chico Izidro
quinta-feira, novembro 23, 2017
"A Vilã" (Ak-Nyeo)
"A Vilã" (Ak-Nyeo) é um belíssimo filme de ação coreano dirigido por Byung-gil Jung e se destaca pelo esmero estético apresentado. Muitas cenas de ação, com muitas cores e efeitos especiais. O longa já começa delirante, em um sensacional plano sequência onde alguém penetra por vários corredores brigando e matando vários oponentes das mais variadas formas.
Depois somos apresentados ao mundo da jovem Sook-hee (Ok-bin Kim), que foi treinada desde criança para ser uma assassina. Já na fase adulta e mãe, ela acha ter recebido a liberdade e seguir uma vida normal. Mas o passado não a deixa esquecer e ela é chamada para seguir na indesejada carreira.
O roteiro é repleto de flash-backs, que por vezes acabam embaralhando um pouco a história. Mas nada que faça perder força. E assim como seu início, o final também é impactante, com uma intensa luta dentro de um ônibus pelas ruas de Seul entre Sook-hee e os assesclas de seu perseguidor.
Duração: 2h03min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Boneco de Neve" (The Snowman)
"Boneco de Neve" (The Snowman), dirigido por Tomas Alfredson, é um filme sobre serial killer baseado no livro homônimo de Jo NesbØ. O protagonista da trama é o detetive Harry Hole (Michael Fassbender, de “Assassin’s Creed”), aquele tipo largado, alcoólatra, onde tudo na vida parece estra desmoronando - tanto que volta e meia ele acorda em algum lugar desconhecido, sem ter a mínima noção de como foi parar lá.E ele acaba sendo o responsável por perseguir um serial killer que sequestra mulheres. E o modus operandi dele é o mesmo: são mulheres casadas e com filhos. E sua registrada é deixar um boneco de neve no local do crime.
Toda a história transcorre na gélida Oslo, na Noruega, uma cidade com baixo índice de criminalidade. E onde o frio e a neve estão presentes o tempo todo. Harry tem como parceira nas investigações a certinha e determinada Katrine (Rebecca Ferguson). Além de perseguir o assassino, o detetive ainda tenta servir como pai para o filho da ex-namorada Rakel (Charlotte Gainsbourg), mas sempre fracassando. Enfim, o estereótipo do detetive clássico - azarado, bêbado, mas extremamente experto. Já o serial killer, que pode ser identificado em sua primeira aparição, mas não darei spoiler aqui, é aquele com um passado de amargura, de frustração.
"Boneco de Neve" está repleto de atores conhecidos, como Chloë Sevigny, J. K. Simmons, James d'Arcy e um detonado Val Kilmer, que abusou do botox, ficando com o rosto completamente deformado. E lembrando muito o Kiko, do seriado Chaves. O filme tem um roteiro muito bem elaborado, deixando o suspense sempre presente no ar. E para quem gosta de mortes violentas, é um prato cheio. Pena que o final seja apressado e uma solução broxante, onde o serial killer, de esperto, se mostra um verdadeiro idiota. Pena.
Duração: 1h59min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Câmara de Espelhos"
O documentário “Câmera de Espelhos”, da cineasta pernambucana Dea Ferraz, de “Sete Corações” (2015) e “Alumia” (2009), quer mostrar a visão dos homens sobre as mulheres. Como vêem a mulher? O que pensam e como olham para elas? Quem são as mulheres em um mundo de homens? A diretora reuniu 14 homens, de todas as partes de Recife, cooptados através de um anúncio de jornal. E os deixou, divididos em dois grupos e colocados em uma sala. Ali, eles batem um bate-papo informal que remete a uma mesa de bar tipicamente masculina, também com suas regras e formatos discursos pré-estabelecidos.
Dea Ferraz nunca se mostra presente, deixando os homens à vontade. E eles soltam o verbo, com pensamentos sobre sexo, aborto, casamento, fidelidade, infidelidade, amor e até violência. E muitas das ideias beiram o conservadorismo. Um deles, um pastor, chega a afirmar que a lógica é "primeiro deus, depois o homem e então enfim a mulher". Alguém do lado debocha: "e os dinossauros, nada?".
Graças ao aspecto aberto do dispositivo, o doc. trouxe nuances e expectativas inesperadas. “Não há nenhum contato dos homens com a direção. E o fato de termos as câmeras “escondidas” – eles não sabiam a posição específica de cada câmera, mas sabiam que estavam sendo filmados – causou um deslocamento de atuação que gosto muito. Eles atuam entre si, uns para os outros, mais do que para as câmeras objetivamente”, afirmou Dea.“Não imaginei que o documentário seria tão violento. Na verdade, imaginava que seria difícil trazer à tona esse discurso naturalizado do machismo para dentro de uma sala cheia de câmeras e com o consentimento dos personagens. Mas o que vi e vivi foi brutal”, finaliza.
Duração: 1h16min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Por Que Vivemos" (Nazeikiru: Nennyo Shounin to Yozaki Enjou)
A animação "Por Que Vivemos" (Nazeikiru: Nennyo Shounin to Yozaki Enjou), dirigida por Hideaki, é inspirada em fatos do século 15, e foi originada a partir de best-seller homônimo que vendeu mais de 1 milhão de livros no Japão. O roteiro adaptado para o filme é de Kentetsu Takamori, um dos autores do livro e professor da Terra Pura (uma das formas de budismo).
O filme é para pessoas que tem religião. Caso contrário, passe longe. E quando comecei a ver já era tarde. Quase morri de tédio. A trama fala sobre a popularização do budismo no Japão há mais de 500 anos, tenddo como protagonista o camponês Ryoken, que é descrente e não valorizava a sua família, especialmente a mulher, que estava grávida. Mas após uma tragédia, o jovem passa a repensar sua visão de vida, e seguir as palavras do Mestre Rennyo (1415-1499).
"Por Que Vivemos" (Nazeikiru: Nennyo Shounin to Yozaki Enjou) é ambientado na Idade Média, mais exatamente entre um período de guerras civis no Japão. Tudo é visto sob a visão de Ryoken, que passou ele mesmo a pregar o budismo, seguindo os passos de Rennyo, que foi perseguido pelos monges guerreiros do Monte Hiei (em Kyoto) até seu exílio em Yoshizaki, na província de Fukui. Ali ele construiu um complexo de templos, destruídos por um incêndio criminoso em 1474. Apenas para religiosos.
Duração: 1h27min
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, novembro 16, 2017
"Liga da Justiça" (Justice League)
Apesar de ser praticamente uma continuação de "Batman vs Superman: A Origem da Justiça", "Liga da Justiça" (Justice League), direção de Zack Snyder, é praticamente um filme de iniciação. onde ameaçados pelo vilão alienígena Lobo da Estepe, Batman, que de super-poder, tem só a riqueza, como ele mesmo frisa ao ser perguntado por Flash, tem de montar uma equipe de heróis donos de poderes especiais.
Sem o Super-Homem (Henry Cavill), morto no filme anterior, Batman (Ben Affleck) chama sua nova aliada Diana Prince (Gal Gadot). Os dois tem, então de recrutar os heróis Aquaman (Jason Momoa), Cyborg (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller) para salvar o planeta de um catastrófico fim.
Este filme é mais leve, trazendo mais humor, principalmente com as piadinhas soltadas pelo Flash, que se encaixa perfeitamente como o cômico da vez. A equipe conta também com o atormentado Ciborgue (Ray Fisher), um herói cujo drama o deixa um pouco revoltado e o mais resistente em entrar para a turma de super-heróis. Já Aquaman (Jason Momoa) recebeu nova roupagem, totalmente diferente daquela dos quadrinhos, e é um personagem extremamente sério. Mas apesar de diferentes em comportamento e pensamentos, a equipe funciona muito bem conjuntamente.
Já a motivação do vilão Lobo da Estepe é daquelas que me pergunto sempre: por que eles querem dominar o mundo se seus objetivos é destruí-lo?. Eles vão, afinal de contas, dominar o que, se nada vai sobrar? E as lutas são cansativas, repetitivas, fazendo com que o filme perca força em sua parte final, fazendo com que a audiência solte bocejos ao invés de vibrar nas batalhas. Enfim, os filmes do universo DC ainda tem muito a aprender com as HQ que as originaram.
Duração: 2h
Cotação: regular
Chico Izidro
"Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha" (Victoria and Abdul)
O diretor Stephen Frears e a excepcional atriz Judy Dench já haviam feito uma parceria impressionante no drama "Philomena", e agora voltam a acertar a mão na comédia "Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha" (Victoria and Abdul). A trama é baseada em fatos reais, e mostra a improvável amizade da Rainha Victoria (Judi Dench) e Abdul Karim (Ali Fazal), um jovem indiano muçulmano, que chega à Inglaterra no final do século XIX para entregar um prêmio a monarca em seu Jubileu de Ouro.
A Rainha Victoria, que governou o então maior império do mundo entre 1837 a 1901, já está com seus oitenta e poucos anos, e aborrecida com os rígidos costumes, aguarda apenas a hora de partir desta para melhor, quando dá de cara com o indiano Abdul (Ali Fazal). Os dois acabam se conectando imediatamente e o jovem começa a passar seus conhecimentos para a monarca - e logo é alçado a condição de professor de Victoria. Claro que a situação não agrada ao restante da corte, que decide sabotar a relação dos dois. O jeito é tentar desmascarar Abdul, que na Índia não passava de um simples escriturário em um presídio e filho de pessoas humildes. Ou seja, não teria condições de ensinar nada para a rainha.
"Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha" (Victoria and Abdul) é um belo filme, com uma direção de arte impecável. E faz uma bela ponte entre humor, história, mas também não deixa de lado o racismo que imperava, e impera. Judi Dench está ótima, assim como seu parceiro em cena, Ali Fazal. O roteiro adaptado por Lee Hall (Billy Elliott e Cavalo de Guerra) é baseado em livro de Shrabani Basu, que teve como fonte os diários do verdadeiro Abdul (descobertos em 2010).
Duração: 1h52min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Históriade de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo" (Amori Che Non Sanno Stare al Mondo)
Claudia e Flavio são professores universitários e se conheceram durante uma palestra, onde ela decidiu intervir na exposição dele. A antipatia se transformou em amor momentos depois, quando saíram e foram almoçar. E ela confessou amâ-lo incondicionalmente. Mas o relacionamento deles nunca foi fácil. É o que conta a diretora italiana Francesca Comencini em "Histórias De Amor Que Não Pertencem A Este Mundo (Amori Che Non Sanno Stare Al Mondo), no que pode ser considerado uma comédia romântica.
Claudia (Lucia Mascino) é só intensidade, enquanto que Flavio (Thomas Trabacchi) é mais frio. Ela, por exemplo, se desespera ao saber que ele não deseja ser pai. E decide pular fora do relacionamento, para cinco minutos depois querer reatar! A trama é bem italiana, com muito histrionismo e absurdos, e também com muita ironia e romantismo presente.
A atuação de Lucia Mascino é visceral, e ela vive com intensidade o papel da professora quase cinquentona e desesperada por amor. Sua performance é impressionante, engrandecendo uma história a qual todos nós estamos sujeitos a passar na vida.
Duração: 1h32min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Uma Razão Para Viver" (Breathe)
Este é o filme de estreia como diretor de Andy Serkis - conhecido por fazer papeis digitais em "Senhor dos Anéis" e "Planeta dos Macacos": "Uma Razão Para Viver" (Breathe), cujo título brasileiro já é um equívoco, pois o personagem principal, Robin Cavendish, passa boa parte do tempo querendo morrer.
Vamos lá: o filme foi realizado graças ao produtor Jonathan Cavendish, que quis homenagear seus pais, que viveram um forte drama humano. Ou seja, a trama é baseada em fatos reais. E ela narra a história do comerciante inglês Robin Cavendish (Andrew Garfield), que durante uma estadia na África no final dos anos 1950 acaba contraindo pólio, ficando paralisado do pescoço para baixo, ou seja, tetraplégico. À época, a medicina ainda não era tão avançada e o prognóstico era o de poucos meses de vida.
No início, Robin ficou internado em um hospital e perdeu até a voz. E só respirava graças a um respirador artificial. Seu desejo era o de morrer. Mas ele tinha ao lado uma bela mulher, linda Diana (Claire Foy, a rainha de “The crown”), que estava grávida exatamente de Jonathan.Com muita persistência e contra todas as perspectivas, Robin foi sobrevivendo e até criou uma cadeira de rodas para se locomover além de sua cama - o invento acabou ajudando muitas outras vítimas do mesmo infortúnio.
A história é inspiradora, mas tudo parece tão clean. Apesar da intenção de morrer de Robin, não existem conflitos maiores. Todo mundo vive feliz, com um sorriso nos lábios. Porém Serkis fugiu de uma armadilha comum a este tipo de filme: ele não apela para o choro fácil do espectador. Já é uma boa coisa.
Duração: 1h57min
Cotação: bom
Chico Izidro
quinta-feira, novembro 09, 2017
"Terra Selvagem" (Wind River)
O roteirista dos ótimos “Sicário” (dirigido por Denis Villeneuve em 2015) e “A Qualquer Custo” (de David Mackenzie e indicado a quatro Oscars no ano passado), Taylor Sheridan dirige pela primeira vez um filme, o excelente “Terra selvagem” (Wind River), cujo roteiro também é seu. E assim como em suas obras anteriores, Sheridan apresenta grande influência dos faroestes, mas dando uma aura atual ao gênero. E ao contrário de antigamente, quando os índios ou nativos americanos, eram tratados como vilões, aqui é mostrado o descaso em que eles são tratados.
A trama gira em torno do guarda florestal Cory Lambert ((Jeremy Renner), depressivo por ter perdido uma filha adolescente. Ao encontrar o corpo de outra adolescente congelado – uma amiga de sua filha falecida –, ele decide tentar encontrar os responsáveis pelo assassinato. Em sua busca, Lambert recebe o apoio de Jane Banner (Elizabeth Olsen, de Capitão América: Guerra Civil), uma inexperiente agente do FBI que é designada para acompanhar o caso. A dupla apresenta uma excelente química, e Sheridan teve o cuidado, acertado, de não estragar a história, inventando um romance entre eles.
Já a tal terra selvagem do título são as vastas planícies cobertas de neve em que os protagonistas são obrigados a trabalhar. Neve e mais neve - logo no começo Jane chega só de camisetinha e é avisada de que não sobreviverá as intempéries apenas com aquilo. Os momentos finais são excepcionais, com aqueles tiroteios clássicos, onde ninguém está imune a levar uma bala na cabeça ou no peito. Enfim, um baita faroeste moderno.
Duração: 1h48min
Cotação: excelente
Chico Izidro
"O Outro Lado da Esperança" (Toivon tuolla puolen)
A comédia "O Outro Lado da Esperança" (Toivon tuolla puolen), do finlandês Aki Kaurismäki, mostra um pouco da situação em que vivem os imigrantes dos países wem conflitos. No caso deste filme, seguimos os passos do sírio Khaled (Sherwan Haji), que fugiu da guerra em seu país. Ele pega um navio qualquer e acaba parando na fria Helsinki, na Finlândia. Ali recebe a dica de se apresentar a um posto policial e pedir asilo político.
Mas as coisas não são fáceis para um muçulmano - que é visto com ressalvas pelos ocidentais. Afinal, existe o estereótipo de que todo seguidor de Alá é um terrorista em potencial. E enquanto espera pelo asilo, Khaled acaba caindo nas graças do dono de um restaurante à beira da falência, Wisktröm (Sakari Kuosmanen), que mesmo assim aceita empregá-lo.
A vida de Khaled se transforma, seja por bem ou por mal. Sua grande preocupação é encontrar a irmã, que havia fugido da Síria com ele, mas acabou se perdendo durante a longa viagem do Oriente Médio. Outro problema, e isso é muito comum, é a perseguição que acaba sofrendo de um grupo de neonazistas, que de forma alguma aceitam pessoas como ele no país.
O cineasta Aki Kaurismäki já havia tratado da questão dos refugiados em outro longa, o excelente "O Porto", que se passa na França, e quase que neste novo filme se repete, com um nativo acolhendo uma pessoa de outra terra. Enfim, obras que servem para debates, pois são atuais ao extremo.
Duração: 1h38min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
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“QUEER”
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