quinta-feira, novembro 23, 2017

"Câmara de Espelhos"



O documentário “Câmera de Espelhos”, da cineasta pernambucana Dea Ferraz, de “Sete Corações” (2015) e “Alumia” (2009), quer mostrar a visão dos homens sobre as mulheres. Como vêem a mulher? O que pensam e como olham para elas? Quem são as mulheres em um mundo de homens? A diretora reuniu 14 homens, de todas as partes de Recife, cooptados através de um anúncio de jornal. E os deixou, divididos em dois grupos e colocados em uma sala. Ali, eles batem um bate-papo informal que remete a uma mesa de bar tipicamente masculina, também com suas regras e formatos discursos pré-estabelecidos.

Dea Ferraz nunca se mostra presente, deixando os homens à vontade. E eles soltam o verbo, com pensamentos sobre sexo, aborto, casamento, fidelidade, infidelidade, amor e até violência. E muitas das ideias beiram o conservadorismo. Um deles, um pastor, chega a afirmar que a lógica é "primeiro deus, depois o homem e então enfim a mulher". Alguém do lado debocha: "e os dinossauros, nada?".

Graças ao aspecto aberto do dispositivo, o doc. trouxe nuances e expectativas inesperadas. “Não há nenhum contato dos homens com a direção. E o fato de termos as câmeras “escondidas” – eles não sabiam a posição específica de cada câmera, mas sabiam que estavam sendo filmados – causou um deslocamento de atuação que gosto muito. Eles atuam entre si, uns para os outros, mais do que para as câmeras objetivamente”, afirmou Dea.“Não imaginei que o documentário seria tão violento. Na verdade, imaginava que seria difícil trazer à tona esse discurso naturalizado do machismo para dentro de uma sala cheia de câmeras e com o consentimento dos personagens. Mas o que vi e vivi foi brutal”, finaliza.

Duração: 1h16min

Cotação: bom
Chico Izidro

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