O octagenário Clint Eastwood havia garantido, após "Gran Torino", que só atuaria a partir dali atrás das câmeras. A promessa é quebrada em "Curvas da Vida", direção de Robert Lorenz. Aqui o ator e diretor interpreta um decadente olheiro de beisebol, o esporte por excelência dos americanos, ranzinza, nem um pouco afetuoso e que está ficando cego. Por isso está em vias de ser colocado de lado, pois a nova geração de olheiros se investe de estatísticas e computadores para cooptar as novas promessas da modalidade. Numa missão derradeira, Gus Lobel tem de avaliar as qualidades de um arrogante rebatedor de uma liga menos, que se aprovado, integrará o elenco do Atlanta Braves, da Major League Baseball (MLB).
Ao mesmo tempo que percorre os poerentos vilarejos do sul dos Estados Unidos e seus campinhos, Gus entra num embate com a filha Mickey (Amy Adams), batizada assim em homenagem ao astro do beisebol Mickey Mantle. Ela é advogada, mas também expert no esporte, e não sendo levada a sério pelo meio machista. Nesta excursão, a garota tenta extrair do pai o por que de ter sido desde sempre rejeitada. Discute-se em "Curvas da Vida" o amor entre pai e filha, e o novo e o antigo. Legal. As atuações são boas, principalmente Amy Adams, extremamente sexy, John Goodman, como o dirigente dos Braves e amigo de todo o sempre de Gus, e até mesmo Justin Timberlake mostrando mais uma vez sua evolução, e que não é apenas um cantor de música pop medíocre - e aqui não falo de seu sucesso como cantor, mas de sua música pouco trabalhada e facilmente assimilável por ouvidos pouco exigentes.
Clint Eastwood repete o mesmo personagem de "Gran Torino", um velho ranzina, preconceituoso, intransigente e insensível. Repetitivo, mas com certo charme. A atração, porém, é o ator o gordinho Joe Massingill, que interpreta o rebatedor Bo Gentry. Sabe aquele personagem asqueroso e arrogante que ganha a nossa antipatia imediata? O problema de "Curvas da Vida" é sua extrema previsibilidade e de tratar de um esporte chato em demasia. Cada cena entrega mastigadinho o que acontecerá na sequência, deixando tudo meio óbvio e entediante.
Cotação: regular
Chico Izidro
domingo, novembro 25, 2012
"Arena - A Construção de um Sonho"
O documentário "Arena - A Construção de um Sonho", dirigido por Eduardo Muniz, não trata apenas de registrar a construção do novo estádio do Grêmio, que será inaugurado em 8 de dezembro, em jogo com o alemão Hamburgo. A produção preocupou-se em buscar através de depoimentos de personalidades ligadas ao clube e imagens de arquivo a história das outras duas casas do Tricolor, a Baixada no Moinhos de Vento, e o Olímpico.
O estádio localizado no bairro Azenha, que será demolido em 2013, foi local de várias das principais conquistas do time, desde sua inauguração em 1954. Dirigentes e ex-dirigentes como Paulo Odone, Paulo César Verardi e Hélio Dourado, e os ex-jogadores Tarciso, André Catimba, Milton Kuelle e Airton Pavilhão (morto em meados deste ano), falam de seus envolvimentos com o estádio. Kuelle tem uma trajetória impar nas casas gremistas, pois jogou na Baixada, esteve presente na inauguração do Olímpico, onde fez 90% de sua carreira, e participará da inauguração da Arena. "Não quero jogar cinco minutos, quero jogar quase os 90 minutos", disparou o ex-meia de 79 anos.
O documentário consegue emocionar, especialmente os torcedores gremistas, principalmente quando mostra um jogador histórico como Airton Ferreira da Silva contando como foram seus anos no Olímpico. Ele que foi trocado por uma quantia em dinheiro e a arquibancada do estádio da Baixada, conhecida como "Pavilhão". Por isso, ganhou o apelido. O lado histérico de "Arena - A Construção de um Sonho" fica por conta do jornalista e escritor Eduardo Bueno, o Peninha, que parece estar sempre ligado numa tomada de 220 volts, disparando provocações ao rival Inter. Em sua parte final é que finalmente o filme trata de falar do novo estádio gremista, que no início do projeto, em 2006, parecia uma ideia de loucos, e que muita gente achava nunca saíria do papel. E que agora será o estádio padrão-Fifa mais moderno da América Latina.
Cotação: bom
Chico Izidro
sábado, novembro 24, 2012
"Amanhecer - Parte 2"
Finalmente chega ao fim a saga Crepúsculo com "Amanhecer - Parte 2", de Bill Condon. Nele, finalmente a jovem Bella (Kristen Stewart), começa a sentir os primeiros efeitos de sua transformação em vampira, enquanto vê o crescimento acelerado da filha que teve com Edward (Robert Pattinson). A pequena Renesmee, aliás, desenvolve uma ligação com o lobisomem Jake (Taylor Lautner), que era apaixonadíssimo por Bella e agora muda seu foco de atenção. Nesta sequência final, o romance idílico de Bella com Edward está para virar de ponta cabeça, pois os Volturi acreditam que Renesmee, uma mutante e por isso com poderes diferentes, pode ameaçar a existência dos vampiros italianos, que decidem matá-la. Deu, está aí o resumo.
Apesar de custar mais de 130 milhões de dólares, e atrair milhões de pessoas ao cinema, a série continua pecando pela precariedade em seus efeitos especiais e por atuações beirando o medíocre. O bebê Renesmee chega a ser rísivel. É tosco o trabalho digital no rosto do boneco. Não muito pior são os lobos, criados digitalmente e que deixam à mostra o cromaqui. E o que dizer da maquiagem dos vampiros? Uma base branca no rosto dos atores, e só no rosto, pois do pescoço para baixo a cor da pele aparece naturalmente.
Taylor Lautner mais uma vez tira a camisa, para delírio das menininhas, e seu talento parece resumir-se a isso, enquanto que Kristen Stewart e Robert Pattinson permanecem com aquelas caras de tontos, inexpressivos. Nem mesmo o bom ator britânico Michael Sheen, como o líder dos Volturi, salva-se. Passa o filme a fazer caretas. Bem, pelo menos ganhou o dinheirinho dele.
Cotação: ruim
Chico Izidro
sexta-feira, novembro 16, 2012
"De Volta Para Casa"
Um homem chega ao serviço com um olho roxo. No banheiro é interpelado por um colega, e devolve a provocação com um soco, deixando o outro desacordado. Ele sai da obra em que trabalha, pega o carro e retorna para casa, abre uma portinhola e de lá sai uma jovem. "Vá", diz ele. A menina, assustada, corre até o portão, para, olha para trás, e depois volta a correr. Logo saberemos que ela, Gaëlle, foi raptada quando criança por Vincent Maillard (Reda Kateb), o homem do olho roxo. Ficou quase uma década prisioneira, mas nunca aceitou o seu destino e não se conformou enquanto não se viu liberta em "De Volta Para Casa", de Frédéric Videau.
Acompanharemos então a tentativa de Gaëlle Faroult (a ótima Agathe Bonitzer) em retomar a sua vida, a convivência com os pais, que devido às circusntâncias acabaram se separando. Sem seguir esquema rígido, "De Volta Para Casa" vai e volta no tempo - mostrando sua relação ora com a mãe, depois com o pai, ora com o seu raptor, e as tentativas de se esquivar da imprensa sensacionalista, que deseja saber detalhes de sua história trágica. O filme faz pensar, mas o problema é que em nenhum momento explica os motivos de o porque Vincentter raptado Gaëlle e passado anos com ela. Se havia atração física - ele chega a dizer que não abusará dela, o que não cumpre. Ou se é mais uma coisa paternal. Tudo que Gaëlle pede, ele corre atrás. Em certo momento, Gaëlle exige um CD do U-2 e leva o "The best 1980-1990", além de livros, histórias em quadrinhos, tinturas para cabelo. Gaëlle Faroult troca a cor de suas melenas a todo momento.
"De Volta Para Casa" é totalmente baseado na história da menina austríaca Natascha Kampusch, que viveu aprisionada durante oito anos (dos dez aos 18 anos), pelo engenheiro Wolfgang Priklopil, em Donaustadt, nas proximidades de Viena. Quando Natascha escapou, Priklopil matou-se, jogando-se embaixo de um trem. No filme, o sequestrador se enforca. Mas em "De Volta Para Casa", existem outros elementos de casos semelhantes, alguns da literatura, como "O Colecionador", de John Fowles, ou "O Iguana", de Alberto Vázquez-Figueroa. Na vida real, além de Natascha Kampusch, outros casos semelhantes, como o da americana Jaycee Lee Dugard, que ficou prisioneira de Phillip Craig Garrido durante 18 anos de sua vida, dos 11 aos 27 anos, tendo dois filhos com ele. E o caso da também austríaca Elisabeth Fritzl, talvez o mais horripilante dos últimos anos, mantida em cárcere pelo próprio pai, Josef Fritzl, pelo período de 24 anos no porão da casa da família, e com quem teve sete filhos.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
sexta-feira, novembro 09, 2012
"Argo"
Ben Affleck é severamente criticado quando diante das câmeras, porém quando dirige o cara é alvo de elogios, vide Atração Perigosa. Isso fica comprovado no excelente "Argo", que reconstitui evento político ocorrido entre 1979 e 1981 entre os Estados Unidos e o Irã, quando da queda do xá Reza Pahlevi e da ascenção do aiatolá Khomeini na batizada Revolução Islâmica. Os americanos apoiavam o governo ditatorial de Pahlevi. Derrubado, ele se refugia nos EUA e o novo governo persa pede sua extradição. Com a recusa do democrata Jimmy Carter, cria-se um clima beligerante entre os dois países. Que vai acarretar na invasão da embaixada americana em Teerã, e mais de 60 funcionários são feito reféns.
Porém seis conseguem escapar, refugiando-se na embaixada do Canadá. A missão da CIA é tirar esses funcionários do Irã - ao contrário dos reféns na embaixada, eles podem ser considerados espiões e, por isso, imediatamente executados. Mas a questão é como entrar em Teerã e resgatar o sexteto? O agente Tony Mendez (Ben Affleck) bola um plano arriscado e ridículo: criar um filme falso, com a ajuda de produtores de Hollyqood, vividos magnificamente por John Goodman e Alan Arkin, que têm diálogos saborosos, principalmente sobre a farsa que é Hollywood. Surge "Argo", uma ficção científica inspirada no então popular "Guerra nas Estrelas". Teerã serviria como uma das locações para o filme de mentirinha. Mendez, com passaporte canadense, entra na capital iraniana, transforma os seis fugitivos em cineastas - fazendo-os escapar da hostil cidade. Vejam, isso não é um spoiler, é história.
Affleck consegue fazer um filme, mesmo com final conhecido, com muita tensão (detalhes do plano vieram a público no governo Bill Clinton, em 1997). A cena do aeroporto mostra-se uma das mais eletrizantes dos últimos tempos. O clima de tensão da época é fielmente reproduzido, mesmo que o maniqueísmo mostre as caras. Todos os iranianos são mal-encarados ou estúpidos. A caracterização dos fugitivos é outro trunfo. Os atores ficaram muito, mas muito semelhantes aqueles a quem representaram. A exceção é Affleck, pois Mendez era, na realidade, descendente de mexicanos. A reconstituição de época ainda viu-se beneficiada com a utilização de telejornais daqueles anos tortuosos, e a trilha sonora com Rolling Stones, Van Halen, Dire Straits e Led Zeppelin.
Cotação: bom
Chico Izidro
"Marcados Para Morrer"
Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, pregava Glauber Rocha. A máxima
nos últimos 12 anos tem sido fortemente utilizada nos filmes de terror
como "A Bruxa de Blair" e "Atividade Paranormal", onde um personagem
registra tudo à sua volta com uma câmera. O seriado "Cops", sucesso nos
States é outro exemplo, copiado aqui no Brasil com "Polícia 24h", ganha
uma versão cinematográfica em "Marcados Para Morrer", de David Ayer.
Nele, os policiais Taylor (Jake Gyllenhaal e Zavala (Michael Peña) fazem
ronda pelos bairros pobres de Los Angeles, principalmente os habitados por
negros e mexicanos. Toda a rotina dos dois é filmada por Taylor, que estuda
Direito e em uma das cadeiras opcionais é Cinema. Então por que não filmar
ele e o colega, quase irmão, pelas perigosas ruas? Sem filtros e sem
censura, Taylor não desperdiça nada. Agressões a perturbadores da ordem,
apreensões de drogas, tiroteios e prisões de assaltantes. A dupla não é
certinha, mas também não é corrupta. Violentos quando devem ser, amáveis
na hora certa, os dois acabam jurados de morte, como antecipa o título do
filme, após atrapalhar os negócios de um cartel mexicano, que está
traficando seres humanos.
"Marcados Para Morrer" remete ao revolucionário "Colors", clássico de
1988, com Sean Penn e Robert Duvall, onde dois policiais se encontram no
meio da guerra das gangues angelinas Bloods e Creeps, que aqui reaparece, desta vez como inimiga mortal dos mexicanos. Apesar de filmado no esquema câmera subjetiva, não em sua totalidade, e mostrar a correria e as loucuras de Los Angeles, não temos aquelas imagens
distorcidas e rápidas, que deixam o espectador com um nó no estômago.
Cotação: bom
Chico Izidro
"A Arte de Amar"
É difícil a certa altura da vida arranjar um namorado (a). Mais difícil ainda é manter um relacionamento. De forma irregular, várias histórias e personagens se cruzam no francês "A Arte de Amar", de Emmanuel Mouret. O foco principal fica na tímida Isabelle (Julie Depardieu), sem transar há mais de um ano, e com sua amiga Zoé (Pascale Arbillot) tentando quebrar a seca dela, nem que seja cedendo o próprio namorado. Há também o solteirão Achille (François Cluzet, de Intocáveis), querendo fisgar a chatinha e indecisa nova vizinha (Frédérique Bel), que recém separou-se. História que acaba ficando sem conclusão no emaranhado que se cria. Ou ainda a cinquentona Emmanuelle (Ariane Ascaride), que começa a desejar e ser desejada por outros homens, e por isso quer largar o marido.
Uma cena resume bem o destino de muitos casais. Amélie (Judith Godrèche) chega em casa, e encontra o namorado Ludovic (Louis-Do de Lencquesaing), amuado, atirado no sofá. Ela tenta de tudo pata agradá-lo: "Vamos sair para jantar?"
"Não", ouve como resposta. Ela sugere um cafuné, massagem, um sanduíche. Nada anima o cara, que garante só ficar quieto em seu canto. Ela tenta uma última cartada e corre para o quarto, onde se despe e chama ele, que vai contrariado. Ao vê-la na cama, ele continua mostrando-se insatisfeito, e o telefone toca. Um amigo o convida para um choppinho. Ludovic sai correndo para encontrar o parceiro. "Ele precisa ser confortado".
O que vemos na tela também costumamos ver na vida real. Porém o modo como é contado, a falta de carisma de alguns personagens, apesar de bons diálogos, acabam por estragar o que nas mãos de alguém mais habilidoso, seria reflexivo e espetacular.
Cotação: regular
Chico Izidro
"Elefante Branco"
Buenos Aires sem flores. É o que assistimos em "Elefante Branco", de Pablo Trapero (Abutres), mostrando a vida dura de uma enorme favela na cidade hermana. O filme teve locações na localidade de Ciudad Oculta, onde está o enorme prédio abandonado, que nos anos 1950 estava sendo construído para ser o maior hospital da América Latina. Deixado de lado, serve de moradia para os despossuídos e para os viciados em crack.
E é ali onde o padre Julián (Ricardo Darín) ajuda a comunidade a se estabilizar, construindo mais moradias e até um restaurante popular. O personagem do ótimo Darín é baseado no padre Carlos Mugica, assassinado em 1974 por forças peronistas devido ao seu envolvimento com as lutas populares, e visto como um santo na Argentina. Ao lado dele está a assistente social Luciana (Martina Gusmán, mulher de Trapero). Doente, Juliám recruta o sacerdote belga Nicolas (Jérémie Renier, de My Way) para trabalhar na favela e também ser preparado para sucedê-lo. Os três terão dificuldades extremas para tocar em frente seus projetos, devido a burocracia estatal e a interferência de dois grupos de traficantes que usam a favela como quartel-general.
"Elefante Branco" discute ética no sacerdócio, vocação religiosa e o papel social da Igreja. Mesmo sendo transcorrido em uma favela, Trapero fugiu habilmente da violência crua e nua. Ela aparece, mas de forma realista - o assassinato de um sobrinho do líder do tráfico é muito bem conduzido, com a câmera percorrendo as vielas escuras e sujas de Ciudad Oculta, local habitado por argentinos, bolivianos, peruanos, paraguaios, todos vivendo no limite da marginalidade.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Se Vivêssemos Todos Juntos"
"Se Vivêssemos Todos Juntos", direção de Stéphane Robelin, tem todos os ingredientes para tornar-se um daqueles hits quem ficam um bom tempo em cartaz em Porto Alegre. Atores veteranos e carismáticos e um excelente roteiro, retratando a vida na terceira idade. A obra resgata a musa sessentista Jane Fonda, ainda linda, e Geraldine Chaplin, filha dele mesmo, Charlie Chaplin.
Cinco amigos - dois casais, um formado por Jeanne (Jane Fonda) e Albert (Pierre Richard), e o outro por (Annie) Geraldine Chaplin e Jean (Guy Bedos), e o solteirão galinha Claude (Claude Rich), reúnem-se sempre para brindar a vida, agora septuagenária. Num jantar, o socialista Jean sugere que todos passem a morar sob o mesmo teto, o que é rapidamente refutado. Até o dia em que Claude sofre um infarto, e é colocado num asilo pelo filho. Ao visitá-lo e ver a decadência do local, Jean decide: "Chega, vamos todos morar juntos!". Claro que as coisas não são tão simples assim. Como é sabido, quanto mais envelhecemos, mais manias ficamos. Sem contar os problemas de saúde os segredos de décadas que começam a vir à tona. Albert sofre de Alzheimer, Jeanne tem câncer e se nega a operar, Jean é teimoso e Claude sofre com a impotência, ele que sempre foi um garanhão. Já Annie é a mais comedida do grupo, porém é materialista e ciumenta, contrastando com os ideais de seu marido.
Opondo-se a experiência e as manias do quinteto, surge o alemão Dirk (Daniel Brühl, de Adeus, Lênin e Bastardos Inglórios). O jovem namora uma francesinha ciumenta e possessiva, e começa a conviver com os velhos, para concluir sua tese de mestrado. Suas conversas com Jane Fonda sobre o amor, relacionamentos e até sexo na terceira idade são saborosos. Mesmo com um final previsível, o roteiro é bem trabalhado e encerra com classe.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
sexta-feira, novembro 02, 2012
"007 - Operação Skyfall"
Completando 50 anos da franquia, o agente secreto britânico 007 se vê obrigado à renovação. Afinal de contas, acabou a Guerra Fria, os soviéticos não metem mais medo. E James Bond e seus colegas do MI6 começam a ser vistos como velharias que devem ser aposentadas. Por isso, "007 - Operação Skyfall" faz uma ponte entre o antigo e o novo. Dirigido com competência por Sam Mendes, "007 - Operação Skyfall", o novo filme do espião com licença para matar, o terceiro protagonizado por Daniel Craig, continua reestruturando a mitologia do personagem, inserindo novos elementos, mas sem fugir da estrutura narrativa imortalizada pela cinesérie.
A ação começa sempre em um país exótico, onde James Bond tenta pegar um vilão, segue com a abertura em forma de clipe, onde uma música interpretada por um cantor/cantora do momento antecipa o que se verá nas próximas duas horas. Depois o encontro de 007 com seu chefe, recebendo as orientações da missão, o aparecimento da Bondgirl, ela fica em perigo. E no fim, o confronto do agente com o vilão, que quase sempre deseja conquistar o mundo.
Desta vez a história começa na Turquia, onde 007 persegue um espião que roubou um chip contendo a lista de agentes da OTAN infiltrados em organizações terroristas. A perseguição como sempre é esquizofrênica, e Bond leva um tiro e é dado como morto. Entra a canção de Adele, Skyfall, aliás, boa canção. Em Londres, a chefe de Bond, M. (Jude Dench) oficializa o óbito de 007, e a sede do MI6 - o serviço secreto britânico - sofre um atentado. Logo James Bond retorna do mundo dos mortos, e se verá que M. está na mira do vilão Silva (Javier Bardem), que deseja vingar-se dela, após ter sido traído numa missão. Ele é um ex-agente do MI6. O confronto final de Bond com Tiago é o diferencial dos outros filmes da franquia. Aqui, ao invés de Bond infiltrar-se no covil inimigo, ele é que será atacado em seus domínios. E este final é o mais empolgante de todos os tempos, com James Bond, M. e Kincade (Albert Finney) encurralados num pequeno castelo na Escócia.
Fica evidente em "007 - Operação Skyfall" a forte influência dos novos filmes de ação e espionagem que chegaram às telas nos últimos anos. A franquia 007 necessitava disso para se renovar. Matt Damon e seu Bourne é a principal inspiração. Tanto que diversas cenas do espião desmemoriado são utilizadas em "007 - Operação Skyfall" sem o mínimo pudor. A cena do personagem principal boiando na água, as cenas de perseguição de moto e no metrô, a caçada no meio do mato, só para dar alguns exemplos. Claro que como foram feitas depois, as de 007 puderam ser melhor elaboradas. O aluno aprendeu bem a lição.
Apesar do clima de renovação, o novo 007 não seria aprovado sob uma análise mais rigorosa. Principalmente os planos do vilão Silva em matar M. Ele faz todo um projeto mirabolante para o assassinato. Se pararmos para pensar, bastaria invadir o apartamento dela à noite. Bem, aí não teríamos filme.
As duas Bondgirls apresentadas também carecem de carisma. A negra Eve (Naomie Harris, a feiticeira de Piratas do Caribe) sabe-se, irá ganhar mais espaço nos próximos filmes. Bérénice Marlohe é bonita, o alvo sexual de Bond, mas sub-aproveitada, não tem tempo para provar se poderia entrar no roll das deusas que foram parar na cama de Bond, que encontra em Daniel Craig um ótimo 007 - ele encarna bem o personagem, acabando com as dúvidas e críticas surgidas quando de sua primeira participação, em "007 - Cassino Royale".
Cotação: bom
Chico Izidro
"Frankenweenie"
Tim Burton acertou em "Frankenweenie". Bela homenagem aos filmes de terror. Até mesmo na escolha das imagens, em preto e branco - deixando aquele climão retrô na história do pequeno Victor Frankenstein. Sim, aqui o criador do Monstro está entrando na adolescência, é solitário, como todo bom nerd, e tem como único amigo o cão Sparky. Que morre atropelado. Victor, inconsolável, acaba trazendo o bichinho de volta à vida por meio de uma experiência científica. Ele aproveita o fato de ter de apresentar um projeto escolar pedido pelo seu professor de ciências, Mr. Rzykruski, que é a cara de Vincent Price, homenageado pelo diretor. O ator foi um dos ícones do terror nos anos 1950 e 1960 e participou da obra-prima de Burton, "Edward Mãos de Tesoura".
Reanimado, Sparky continua dócil, amigo e mais brincalhão do que nunca. O que não acontece quando os coleguinhas de Victor descobrirem o segredo do pequeno cientista e tentarem, eles, também trazer de volta os seus animais de estimação. Esses voltarão monstruosos, trazendo confusão à pequena e conservadora cidade de Nova Holanda. É magistral o discurso que o professor dispara contra a ignorância dos pais dos alunos quando está prestes a ser demitido por fazer os pequenos pensarem e não ficarem restritos a tabus científicos.
"Frankenweenie" traz um manual completo da história do terror, além de evidenciar ser uma obra com grandes referências autobiográficas. Não é à toa que Burton seja tão fúnebre em sua filmografia. Até mesmo alguns personagens são batizados com nomes de personalidades do gênero, como a tartaruga Shelley. E as citações a diversos filmes clássicos estão lá, como "Frankenstein", "A Noiva de Frankenstein", "Godzilla", "Gremlins", "A Múmia", “Os Goonies” e até mesmo "Carrie, A Estranha". As referências estão escondidas em cada cena. Até mesmo "Bambi" é lembrado.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Porto dos Mortos"
Em tempos de um seriado televisivo de rigor estético e roteiro afiado de "The Walking Dead", é decepcionante assistir "Porto dos Mortos". Mesmo com a produção local, já que foi filmado em Porto Alegre e Viamão e dirigido pelo gaúcho Davi de Oliveira Pinheiro, com atores do Estado, não dá para passar a mão na cabeça. O filme é ruim, é mal-feito.
Numa Porto Alegre pós-apocalípse, um policial solitário vaga em seu maverick preto à caça de um serial killer, que estaria possuído por um demônio. A cidade está tomada por zumbis, e os poucos sobreviventes se refugiam em prédios abandonados. Em sua trajetória, o policial (Rafael Tombini) depara com um samurai japonês atrapalhado, um casal de jovens que está conseguindo sobreviver no meio do caos graças à esperteza, e mortos-vivos que simplesmente não atacam ninguém. Ficam lá, zanzando, patéticos.
Infelizmente o roteiro de "Porto dos Mortos" é capenga, apesar do cuidado em não ocorrer erros de sequência. As atuações também impressionam pelo amadorismo completo. Faltou melhor direção dos atores, que muitas vezes declamam suas falas. Os personagens, aliás, beiram o caricatural. Um dos vilões lembra um cangaceiro usando uma máscara antigás. A maquiagem é de uma precariedade rísivel. Até no evento Zombie Walk, o visual dos participantes é melhor elaborado. Aqui a produção parece ter se contentado em passar uma tinta cinza no rosto dos atores, e era isso.
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Possessão"
Natasha Calis, que interpreta a garotinha Em é o grande achado do terror "Possessão", dirigido por Ole Bornedal. Seus olhares ora desesperados, ora satânicos, impressionam. "Possessão" não é feito para dar sustos, mas sim causar tensão. Por isso se diferencia um pouco dos últimos filmes do gênero. Claro que estão lá o corpo retorcido, as vozes sussurradas, os objetos voando pela casa, alguém entrando num ambiente escuro e disparando a frase: "Quem está aí?".
Em é a filha mais nova de pais recém separados, Clyde (Jeffrey Dean Morgan) e Stepanhie (Kyra Sedgwick, de Nascido em 4 de Julho). Ela se encanta e ganha de presente de Clyde uma caixa com dizeres em hebraico. Mal sabe que o objeto serve para prender um espírito maligno, um dibuk. Ao abrir a caixa, ela será possuída aos poucos pela alma penada, para desespero de seu pai e incompreensão da mãe, que acha ela estar sendo maltradada por ele. Morgan, o super-herói Comediante, de "Watchmen", está muito bem no papel de pai rejeitado pela ex-esposa e tentando se entender com as filhas adolescentes, mas Kyra é só caras e bocas, parecendo não entender o que faz num filme de terror, apesar de protagonizar ótima cena na cozinha, tentando salvar a filha possuída, ao mesmo tempo que pisa em vidros quebrados e corre o risco de ser esfaqueada.
O jeito de salvar a menina é procurar alguém que realize o exorcismo, e ele é encontrado na figura do judeu ortodoxo Tzadok (o rapper Matiyahu), personagem com algumas das melhores tiradas de "Possessão". O espectador só vai se perguntar no final: "Tá, cadê o susto?".
Cotação: regular
Chico Izidro
"O Mar Não Está Prá Peixe 2"
Eis uma animação totalmente voltada para o público infantil. ""O Mar Não Está Prá Peixe 2", de Mark A. Z. Dippé, é feito sob medida para os pais levarem os pequerruchos ao cinema. Quase nada de referências cinematográficas, nem piadas de duplo sentido. Fica bem clara a diferença entre obem e o mal, nas figuras do peixinho dourado Pi, herói do recife onde os seres marítimos vivem em harmonia, e o tubarão Troy. Esse consegue fugir da gaiola onde estava aprisionado, e servindo como cobaia para experimentos científicos, voltando para aterrorizar os peixinhos.
Pi é uma espécie de Karatê Kid - e aí está a única referência a um filme. O peixinho dourado foi treinado por uma tartaruga com feições orientais, e é um mestre nas artes marciais, usando a força de suas nadadeiras. Pi tem de treinar seus companheiros, que preferem dançar, a lutar contra Troy e seus comparsas. O trabalho estético de "O Mar Não Está Prá Peixe 2" é simplesmente espetacular. Talvez renda mais em 3D. Temos a impressão de que foi tudo filmado no mar mesmo, tal perfeição. Às vezes parece que estamos olhando para um aquário, com a diversidade de cores, o movimento dos peixes. É isso que vai segurar a criançada nas poltronas, hipnotizadas. Os adultos aqui nem chegam a coadjuvantes.
Cotação: regular
Chico Izidro
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