sábado, outubro 27, 2012
"Selvagens"
Oliver Stone há muito deixou de ser aquele cineasta instigante e provocador, mesmo que por vezes se equivoca-se em algumas posições. Ele vem destacando-se ultimamente mais por seu apoio a ditadores do naipe de Hugo Chávez do que por suas obras cinematográficas. Em seu currículo os belíssimos "Platoon", "Salvador - O martírio de um povo", "Nascido em 4 de Julho" e até mesmo a papagaiada "JFK - A Pergunta que Não quer Calar".
Então "Selvagens", por mais que lembre "Assassinos Por Natureza", não parece ser um filme de Oliver Stone. Trata do narcotráfico e com seu ritmo alucinado mais lembra o estilo Quentin Tarantino, sem suas referências pop e kitsch. Stone nunca foi tão sanguinário - o diretor não poupa cenas de degolamentos, torturas, apelando até mesmo para o microondas, aquele ritual sádico onde uma pessoa é presa a um pneu e tem o corpo queimado com gasolina.
A trama começa sendo narrada por Ophelia (Blake Lively) ao estilo "Crepúsculo dos Deuses". Mas ao contrário de Joe Gillis (William Holden), morto na piscina e que narra como foi parar ali, Ophelia ainda não sabe se morreu mesmo ou se ainda respira. Ela é namorada dos amigos Chon (Taylor Kitsch, de Battleship - A Batalha dos Mares) e Ben (o irreconhecível Aaron Taylor-Johnson, que destacou-se antes em O Garoto de Liverpool e Kick Ass - Quebrando Tudo), que a dividem sem ciúmes. Os dois construíram uma pequena fortuna vendendo a melhor maconha do sul da Califórnia. E isso atiçou um cartel de traficantes mexicanos, liderado pela Rainha Elena (Salma Hayek, extremamente over na canastrice, longa peruca negra e imensos seios). Ou Chon e Ben aceitam repartir seus lucros com a gangue, ou deixam o negócio. Como se negam, Ophelia é sequestrada pelos capangas de Elena. Começa então uma corrida para resgatar a garota.
O melhor de "Selvagens" é Benicio del Toro, no papel de um cruel assassino a serviço de Elena. Ele utiliza um visual sujo, um olhar enviesado, sempre segurando um cigarro. E atirando em qualquer um que não aceite suas ordens. John Travolta também está à vontade como um agente corrupto do FBI, tentando se passar por esperto, mas no fundo um atrapalhado. O filme tem seu charme, com seu visual ora colorido, ora soturno. A crueldade utilizada pelos cartéis mexicanos, como por exemplo os Los Zeta, é fielmente retratada - os assassinos utilizam até mesmo aquelas máscaras cadavéricas para esconder a identidade e apavorar os oponentes.
Pena que no final, Stone opte por duas situações. E a sua incerteza acaba decepcionando.
Cotação: regular
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 25, 2012
"Em Nome de Deus"
Antes, esqueça o título em português, apelativo e nenhum pouco criativo. "Em Nome de Deus", no original "Captive" ou prisioneiro, direção de Brillante Mendoza, é baseado em fatos reais e não doura a pílula, mostrando o destino de um grupo de pessoas seqeustradas nas Filipinhas em 2001 pelo grupo terrorista muçulmano Abu Sayyaf. Os guerrilheiros lutavam pela independência de uma parte do território filipino e contra a expulsão dos estrangeiros.
Focado na missionária francesa Thérèse Bourgoin, vivido pela excelente Isabelle Huppert, raptada por engano junto com vários turistas e funcionários de um resort - os terroristas exigiam uma quantia milionária para libertar cada preso, e a família dela não possuia posses. Por isso Thérèse acabou ficando mais de um ano em poder dos extremistas, enquanto no período outros reféns iam sendo libertados à medida que tinham seus resgates pagos. A história lembra muito o sofrimento passado pela política franco-colombiana Ingrid Bittencourt, que ficou vários anos nas mãos da FARC. Os prisioneiros passavam os dias fugindo pelas inóspitas florestas asiáticas, passando fome, frio, calor. Muitos deles acabavam sendo cooptados pelas forças rebeldes - algumas mulheres eram obrigadas a se casar com os terroristas, além de ter de se converter ao islamismo.
O diretor filipino Brillante Mendoza conseguiu criar um clima sufocante e opressivo em "Em Nome de Deus". A impressão para o espectador é de que ele está lá no meio do furacão. As intempéries, os perigos das florestas, com os animais peçonhentos à espreita, as infecções. E o pior, os soldados que eram enviados pelo governo não pareciam dispostos a libertar os reféns, mas sim eliminar os guerrilheiros. Ou seja, nos tiroteios, extremamente realistas, os reféns ficam na linha de fogo, e o exército não os diferencia dos seus inimigos. Houve ainda a preocupação em aprofundar os personagens, mostrando suas características, fraquezas, virtudes, fanatismo. E sem esquecer o mal que aflige prisioneiros: a síndrome de Estocolmo, quando os presos acabam simpatizando com seus algozes.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Atividade Paranormal 4"
"Atividade Paranormal 4" mostra que a fórmula de terror com câmeras subjetivas - aquelas em que os personagens seguram a câmera, mostrando o que está ocorrendo ao seu redor, e que se popularizou a partir de "A Bruxa de Blair" - está esgotada.
Esta continuação, dirigida por Henry Joost e Ariel Schulman, mostra o destino do pequeno Hunter, sequestrado pela tia em "Atividade Paranormal 3", depois de ela ter assassinado o restante da família.
Agora em uma outra daquelas famílias típicas americanas de classe média, a filha mais velha, Alex (Kathryn Newton), começa a notar estranhas movimentações na casa. A garota ainda começa a se enervar com a presença de um garotinho estranho, que começa a ser cuidado pelos pais dela, depois de a mãe dele ter ficado doente. Alex e o namorado decidem documentar tudo o que se passa na casa, não só com câmeras, mas utilizando também os laptops e celulares.
Só que falta inspiração. A gente fica lá esperando algo acontecer, algo se mexer, aquele susto que nos faz pular da poltrona. Nada acontece, ou seja, se você viu um, viu todos.
"Atividade Paranormal 4" acaba sendo uma cópia desnecessária de seus antecessores. E até o seu final é igualzinho, com a aparição daqueles seres fantasmagóricos, com bocas torcidas, olhos negros e dentes enormes, perseguindo a protagonista.
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 18, 2012
"As Vantagens de Ser Invisível"
Ser novato na escola não é fácil. O bullying está logo ali, à espreita. Até você se enturmar, o sofrimento impera. Então você se encaixa, conhece aquele carinha descolado - que passa por todas as barreiras sociais do colégio -, e aparece aquela garota linda que vai balançar o seu coração solitário. Chegam as festas, as bebedeiras, em alguns casos as drogas. Tudo isso é retratado no singelo e saudosista "As Vantagens de Ser Invisível", dirigido por Stephen Chbosky, também o autor do livro autobiográfico, de mesmo nome.
O personagem central é o deslocado Charlie (Logan Lerman, de "Percy Jackson"), que irá se enturmar com Patrick (Ezra Miller, mais uma vez excelente, a exemplo de sua participação em "Precisamos Falar Sobre Kevin"), e Sam (Ema Watson, a eterna Hermione, de "Harry Potter"). O garoto, que planeja ser escritor, igualmente sofre com delírios e desmaios, e com a ausência da tia Helen (Melanie Lynskey, a Rose de "Two and a Half Man), que morreu num acidente automobilístico quando ele era pequeno, e de um amigo, que cometeu suicídio.
"As Vantagens de Ser Invisível" transcorre no início dos anos 1990, traz um final chocante, e uma trilha sonora pop, que cruza os anos 1970, com David Bowie e sua icônica Heroes, chega à década seguinte com Dexy's Midnight Runner, Air Supply, Crowded House, Smiths, e invade os anos 1990, com Sonic Youth, Pavement e L7.
A história acaba tocando a todos, pela sua delicadeza em mostrar o primeiro beijo, o primeiro namoro - e como aquela guria era chata, possessiva e grudenta -, e até o oitentista costume de se gravar uma fita cassete com aquelas músicas para presentear a garota desejada, com comentários apaixonados entre as faixas. Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra...
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Gonzaga, de Pai Para Filho"
O diretor Breno Silveira já havia acertado a mão na biografia de Zezé de Camargo e Luciano em "2 Filhos de Francisco", mesmo retratando o meio musical sertanejo, uma das pragas do Brasil. E não é que Silveira repete o êxito no excelente "Gonzaga, de Pai Para Filho". Neste novo filme, é contada a vida do rei do baião Luiz Gonzaga ((1912-1989) e de seu filho, o sambista Gonzaguinha (1945-1991).
Para fugir do esquema didático que costuma estragar este tipo de obra, Silveira partiu das gravações de uma entrevista feita por Gonzaguinha com seu pai em 1982, época em que Luiz Gonzaga encontrava-se no ostracismo. Os dois não se bicavam, pois o sambista tinha severas mágoas do pai, ausente. E esse passou a vida desconfiando que o filho não fosse seu. A história é permeada pela conversa atribulada dos dois, enquanto relembram a trajetória sofrida da família iniciada em Exu, no sertão mais sofrido de Pernambuco, em 1929.
Luiz Gonzaga, quando começava a tocar sua sanfona, teve de deixar a família e a cidade às presas após ser ameaçado de morte pelo pai da garota que amava. De Exu, Luiz Gonzaga foi para Fortaleza, entrou no exército e ao dar baixa foi tentar a vida no Rio de Janeiro dos anos 1940. Tocava sua sanfona pelas ruas cariocas tentando ganhar uns trocados - até descobrir que para ser universal deveria falar, neste caso, tocar sobre sua aldeia. Então ele trocou os fados, tangos e boleros pela mais pura música do sertão nordestino. Então alcançou o sucesso, a fama e a fortuna, que ao longo do tempo iria desperdiçar.
Criador do sucesso Asa Branca, até hoje uma das músicas gravadas no Brasil, Luiz Gonzaga era mulherengo, machista, teve o filho Gonzaguinha com a dançarina Odaleia (Nanda Costa), porém sempre desconfiou da paternidade. Também era um homem desapegado à rotina caseira, passando boa parte do tempo em turnês pelo país. No filme ele é interpretado por quatro atores diferentes, mas Nivaldo Expedito de Carvalho na fase adulta é quem mais se destaca. A melhor performance, no entanto, fica por conta do gaúcho Júlio Andrade, de "Cão Sem Dono", quase irreconhecível sob forte maquiagem vivendo Gonzaguinha. Os coadjuvantes também não decepcionam, como Nanda Costa (A Febre do Rato) e Silvia Buarque. E uma coisa que, às vezes, acaba tornando um filme nacional incompreensível, o sotaque carregado de alguma determinada região, é deixado de lado, dando clareza aos diálogos.
A reconstituição de época também é cuidadosa. Impressionam os detalhes com roupas, com os cabelos, com o sertão, com o Rio de Janeiro de 1940. O diretor também utilizou imagens reais de acontecimentos ocorridos com os protagonistas - evidenciando ainda mais o trabalho rigoroso que deixou os atores tão próximos de seus personagens.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Relação Explosiva"
"Relação Explosiva" possui um elenco simpático, começando com Bradley Cooper, de "Se Beber Não Case", passando por Dax Shepard, e Kristen Bell, dos seriados "Heroes" e "Veronica Mars". Só que os diretores David Palmer e Dax Sheppard perderam-se no roteiro (escrito pelo próprio Dax), que com alguém mais competente, teria outro destino. Aqui não sabemos ser uma comédia romântica, um filme de ação ou apenas um road-movie. Ficou tudo pelo meio do caminho.
Shepard é Charlie, que vive numa cidade da Califórnia, escondido pelo Programa de Proteção às Testemunhas, e namora Annie (Kristen Bell), que recebe proposta de trabalho em Los Angeles. Cidade que ele não pode colocar os pés de jeito nenhum, já que é procurado pelo bandido Alex (Cooper), a quem testemunhou contra após um assalto frustrado a um banco, com um guarda sendo morto. Mas para não perder a namorada, Charlie decide arriscar. Só que ele é traído pelo ex-namorado de Annie, o ciumento Gil (Michael Rosenbaum, o Lex Luthor de "Smallville"), que ainda sonha em tê-la de volta.
Então começa o road-movie, com muita perseguição de carros pelas rodovias californianas, muitos tiros e narizes arrebentados. Porém mesmo nesta parte ocorrem cenas arrastadas. A parte cômica fica a cargo de Tom Arnold, quase repetindo seu papel de "True Lies", no papel de um policial atrapalhado. "Relação Explosiva" traz algumas boas piadas, o casal Charlie e Annie tem química - além do que trata de recomeçar a vida, deixar os erros lá atrás, mostrar que podemos ser pessoas melhores, mesmo que tenhamos cometido muitas bobagens no passado.
Pena que o resultado tenha sido fraco, por vezes provocando bocejos no espectador.
Cotação: regular
Chico Izidro
"Os Candidatos"
Aviso: para entender "Os Candidatos", direção de Jay Roach, o espectador tem de estar conectado com o humor americano comum dos humorísticos "Saturday Night Live" e "30 Rock", mesmo porque a maioria dos atores do filme são egressos desses programas, sérios críticos da política ianque, principalmente dos Republicanos. "Os Candidatos" pega carona na eleição que se aproxima no país de Barack Obama e Mitt Romney.
Mostra de forma sarcástica e cruel como os políticos e os eleitores americanos são medíocres e idiotizados. Will Ferrel está ótimo no papel do canalha Cam Brady, muito próximo de ser reeleito representante de uma cidadezinha conservadora, já que não tem concorrentes. Só que dois empresários gananciosos, Glenn Motch (John Lithgow) e Wade Motch (Dan Aykroyd) fazem acordo com os chineses - transferindo as suas fábricas que sustentam a localidade para o Oriente, e assim ganhar bilhões. Porém para isso necessitam de um laranja, e o encontram na figura do apatetado Martin Huggins (Zach Galifianakis). Então ele entra na disputa do cargo em Washington quase à última hora.
"Os Candidatos" mostra, então, o quanto é suja a política, trazendo os passos de como transformar um imbecil em candidato. Mas se Ferrel é ótimo, o mesmo não pode-se dizer de Zach Galifianakis, aqui sem a sua espessa barba, sua marca registrada em "Se Beber Não Case" e "Um Parto de Viagem". O ator descendente de gregos repete os mesmos trejeitos dos filmes citados, tornando-se irritante com sua voz fina e seu andar afeminado. Ele quase consegue estragar um filme feito para detonar os republicanos de Romney.
Cotação: regular
Chico Izidro
"Os Infratores"
Os irmãos Bondurant, Forrest, Jack e Howard tem um restaurante num buraco sulista durante a Grande Depressão Americana, mas também sobrevivem contrabandeando uísque fabricado numa destilaria de fundo de quintal. Notem que eles estavam vivendo no período da Lei Seca, que imperou entre o começo da década de 1920 e 1933, e que proibia a venda e o consumo de bebidas alcoolicas nos Estados Unidos. Então a máfia prosperou fortemente no período.
Mas os três viviam como pé-rapados em "Os Infratores", direção de John Hillcoat. Cada um deles possuia uma forte característica. O mais velho, Forrest (Tom Hardy), era o organizador de tudo, a cabeça pensante do trio, Howard (Jason Clark) era o brutamontes, e o mais novo, Jack (Shia LaBeouf), o impulsivo sonhador, apaixonado por Berta (Mia Wasikowska), filha de um pastor. Os irmãos também eram conhecidos como os imortais, pois tinham sorte para escapar da morte, das formas mais improváveis. E eles se verão confrontados pelo policial federal e almofadinha Charlie Rakes (Guy Pearce, mais uma vez interpretando, mesmo que desta vez do lado da lei, um vilão).
Rakes chega à cidadezinha disposto a acabar com a venda ilegal de bebida, a não ser que os contrabandistas se disponham a pagar uma propina. E os Bondurant se negam.
"Os Infratores" mostra o embate gato e rato dos Bondurant com Rakes de forma crua, com crueldade de ambos os lados. Pescoços são cortados, são destroçados por tiros de metralhadora, e um final prá lá de climático. A perfeição na reconstituição daquelas cidadezinhas caipiras do sul dos Estados Unidos é magistral. Não esqueceram nem de colocar aquelas placas segregacionistas, indicando por onde os negros e os brancos deveriam entrar num prédio, ou onde tomar água. E como o filme transcorre à época da depressão, quase todo mundo anda maltrapilho, sujo, desdentado, cuspindo no chão.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 11, 2012
"Polissia"
Provavelmente nunca a pedofilia foi mostrada de forma tão crua e honesta quanto no drama "Polissia", assim mesmo, escrito como se fosse por uma criança de seis anos de idade. Dirigido por Maïwenn (a cineasta usa somente seu primeiro nome), mostra o dia a dia da Brigada para a Proteção de Menores de Paris, que lida com os crimes contra os menores, principalmente a pedofilia.
O grupo é formado por pessoas dedicadas, que também têm seus dramas pessoais, como separações, traições, paixões. Os policiais são interpretados por atores conhecidos mais pelo público francês, mas alguns deles são facilmente identificados pelos brasileiros, como Karin Viard, de "Potiche, Esposa Troféu", Nicolas Duvauchelle, de "Para Poucos", e Sandrine Kiberlain, de "As Mulheres do Sexto Andar". A própria diretora Maïwenn vive uma fotógrafa que acompanha o cotidiano da brigada. Lidar com pedófilos, espancadores de crianças e pais irresponsáveis destroça essas pessoas.
Os diálogos e algumas cenas são fortíssimos. Em determinado momento, um pai de classe média alta não acha nada de errado transar com a filha de 12 anos. E mesmo sob a ameça dos agentes, dá de ombros, afinal tem "costas quentes", e sabe que nada irá ocorrer com ele. O ator que vive o pedófilo consegue ser completamente repugnante. Noutro momento, totalmente desesperador, uma mãe africana se vê obrigada a deixar o filho pequeno num abrigo, pois ela não tem mais condições de cuidar dele. O desempenho do garoto é de derreter o coração de qualquer um. Aliás, os atores-mirins estão tão magníficos quanto seus pares adultos. E o momento final de "Polissia" é inesperado e chocante.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Ruby Sparks - A Namorada Perfeita"
Qual cara nunca ficou projetando a garota ideal de sua vida? Os nerds de "Mulher Nota 1000" o fizeram em 1985, sob direção de John Hughes. Em "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita", direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris, o escritor solitário e nerd Calvin Weir-Fields (Paul Dano, de Sangue Negro) está tentando escrever um livro, dez anos após sua estreia, quando foi considerado o novo gênio da literatura americana por público e crítica.
Sonhos invadem seu sono, onde uma garota conversa amorosamente com ele. E não é que ao colocar suas ideias no papel, elas terminam por se materializar. A garota, Ruby Sparks, surge como ele idealizou. Carinha de bebê, mesmo que já com 26 anos, pouco glamour, carinhosa. E qualquer característica que Calvin escreve em sua máquina de escrever, sim, ele usa máquina de escrever, transfere-se para a garota.
"Ruby fala francês", dedilha ele. Zap. Ruby aparece despejando fluentemente a língua de Victor Hugo. "Ruby está triste". Pronto. Ruby fica pelos cantos, chorando, inconsolável.
No começo, Calvin acha que a garota é só fruto de sua imaginação, até constatar que ela interage com as outras pessoas. E Ruby é uma garota normal, nada de excepcional. Sem grandes seios, nem bundão, nem beleza extravagante. Ruby talvez seja o alter-ego de Calvin, ou apenas fruto da imaginação do escritor, que enfurnado em sua casa, tenta escrever um novo sucesso e provar não ser apenas o homem de um sucesso só, acabando por ser absorvido pelo livro. "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" está sujeito a várias leituras e aborda muito mais o mundo masculino. Lembra muito "O Magnífico", de Philippe de Broca, de 1973, com Jean-Paul Belmondo vivendo um escritor que imagina ser um espião secreto e garanhão, compensando assim sua vida frustrada.
Interessante, também, é que o namoro de Calvin e Ruby, mesmo vindo do pensamento do escritor, acaba tendo os contratempos de qualquer relacionamento, com brigas, ciumeiras, marasmo. Ou seja, não existe a perfeição. O filme ainda conta com uma divertida participação de Annette Bening e Antonio Banderas como um casal cinquentão e riponga.
Cotação: bom
Chico Izidro
"A Entidade"
Uma bela ideia desperdiçada. "A Entidade", direção de Scott Derrickson, é um suspense que perde-se no meio do caminho. O escritor Ellison (Ethan Hawke, muito bem) é conhecido e odiado por escrever livros sobre crimes escabrosos e que acabam por expor erros policiais. Com a família, pula de cidade em cidade atrás de suas histórias.
Até que vai parar numa pequena cidade da Pensilvânia, na casa em que todos os membros de uma família, com a exceção da filha menor, foram enforcados numa árvore no quintal. Ellison esconde este fato de sua mulher e filhos, enquanto que se aprofunda no estudo do caso. Então começam os barulhos pela casa, vultos se esgueirando pelos cantos, seu filho tendo pesadelos e a sua filha pintando cenas de crimes pela casa. No meio disso tudo, o escritor encontra uma caixa com filmes em super-8 e um projetor no sótão. Ao ver as imagens, descobre que ocorreram outros crimes tão tenebrosos quanto aquele que investiga. As mortes ocorreram sempre seguindo um padrão: algumas vítimas foram afogadas, outras queimadas e outras degoladas. Seriam obra de um serial killer?
A história torna-se interessante com estes fatores. Só que em certo momento, "A Entidade" perde fôlego, não sabendo para onde ir. Surgem então elementos sobrenaturais, através de uma estranha figura com o visual daqueles vocalistas de bandas de death metal, que abduz criancinhas. Enfim, "A Entidade" acaba tendo um final totalmente anticlimax, decepcionante.
Cotação: regular
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 04, 2012
"Busca Implacável 2"
"Kim, preste atenção: eu e sua mãe estamos sendo sequestrados. E eles estão indo atrás de você", sussura o ex-agente secreto Bryan Mills (Liam Neeson) para a sua filha, enquanto é sequestrado em "Busca Implacável 2", direção de Olivier Megaton.
Ao contrário da primeira parte, que ocorre freneticamente em Paris, agora a história começa em Los Angeles e demora para engrenar. Os primeiros 20 minutos são gastos em mostrar características dos personagens. Como, por exemplo, o perfeccionismo de Bryan, que servirá para na sequência ele conseguir livrar-se dos vilões, liderados por Murad Krasniui (Rade Serbedzija). Esse ator, revelado no "Antes da Chuva", vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro em 1994, especializou-se em papéis vilanescos em Hollywood. Murad pretende vingar-se de Bryan, que matou seu filho, o sequestrador de "Busca Implacável 1", com requintes de crueldade.
Então, depois da introdução dos personagens, começa a correria em Istambul. Numa história que apesar de ressaltar o perfeccionismo de seu protagonista, não se sustenta, porque o diretor não preocupou-se com os detalhes e pela incrível forçação de barra do roteiro. Bryan consegue localizar-se na gigantesca cidade turca através do som de granadas explodidas por Kim num estacionamento, ou pelo violino tocado por um velhinho numa rua esburacada. Sem contar que os vilões albaneses têm chances variadas de matar Bryan, mas sempre deixam para depois... E por aí vai.
Os diálogos são um primor, como no primeiro filme. Os personagens se ameaçam, dizem bordões sem o mínimo constrangimento. A gente tenta não rir. Tenta. As cenas são impactantes, mas um apanhado de tudo o que já se viu - perseguições de carros, correria pelos telhados dos velhos prédios de Istambul, os bandidos caindo como moscas após serem alvejados por Bryan, que sofre pouquíssimos arranhões.
Neeson especializou-se de vez em filmes de ação. E o final deixa pistas de que uma terceira parte vem por aí, mesmo que o ator tenha afirmado que não irá participar da nova sequência. "Busca Implacável 2" é muito risível. Mas de tão ruim, chega a ser divertido, para se assistir num sábado à noite. Descompromissadamente.
Cotação: regular
Chico Izidro
"Looper - Assassinos do Futuro"
"Looper - Assassinos do Futuro" se insere na boa tradição das ficções científicas da estirpe de "O Exterminador do Futuro" e "Blade Runner". Não chega aos pés destes clássicos, mas fica bem próximo. A trama envolve viagens no tempo, criminosos insanos, uma mãe tentando proteger seu filho, que terá um significado importante para a humanidade no futuro. Tudo isso num enredo bem engendrado e com atuações excelentes, desde Joseph Gordon-Levitt, passando por Bruce Willis, Paul Dano, a linda Emily Blunt, o veterano Jeff Daniels, chegando ao garotinho Pierce Gagnon.
Num futuro distante, e nada daqueles visuais futuristas, a máfia criou um sistema para livrar-se de seus desafetos, sem deixar rastros. Ela os envia para o passado, mais exatamente em 2044, onde ao chegar, são imediatamente mortos pelos loopers, assassinos profissionais, que em seguida se desfazem dos corpos. Ou seja, sem corpo, não há crime. Muito menos se ele ocorreu no passado.
Os loopers também tem um tempo útil. Quando preenchem determinada cota, recebem uma polpuda recompensa e são dispensados pela máfia, que lhes dá 30 anos para curtir a vida. Passado este período, serão enviados para o passado e também assassinados. Um deles, porém, não aceita este destino e decide se rebelar. Para isso, terá de combater a si mesmo três décadas mais jovem.
O legal que as idas e vindas no tempo são bem elaboradas pelo diretor Ryan Johnson, não dando um nó na cabeça do espectador. E o que dizer de Joseph Gordon-Levitt, destaque em "Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge" e um dos ets no finado seriado "30 Rock From The Sun". Simplesmente genial. O ator, usando uma próteses, ficou igual a Bruce Willis, ainda por cima imitando o tom de voz e os trejeitos do astro de "Duro de Matar", que em "Looper - Assassinos do Futuro", transforma-se em um exterminador, chegando do futuro (trocadilho impossível de não ser feito) para tentar matar um garoto que, décadas depois, poderá a vir a ser o chefe por trás da organização que pretende acabar com os loopers.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Hotel Transilvânia"
A animação "Hotel Transilvânia", direção de Genndy Tartakovsky, traz uma total falta de empatia dos personagens com o público. A filha do Conde Drácula, Mavis, vai completar 118 anos, ou seja, chegar a maioridade, e ganhará uma festa de aniversário que será comemorada no tal hotel, um castelo medieval gerenciado por seu pai e para onde os monstros costumam passar as férias.
A vampirinha deseja muito mais do que uma festa. Mavis quer conhecer o mundo. Porém seu pai não quer isso, pois o mundo evoluiu e os humanos não têm mais medo dos monstros. Pelo contrário, estes acham que os vivos são perigosos e que "roubam os doces" de seres como eles. No festerê, surgem todos os monstros famosos, como Frankstein, Lobisomem, Múmia, Ciclope, entre outros. Só que aparece também um humano, o mochileiro Jonathan, que evidentemente vai se apaixonar por Mavis, para desespero de Drácula.
E o Conde Drácula é, nos dias de hoje, um ser politicamente correto, que não bebe sangue humano, mas sim sintético, a exemplo de seus pares do seriado "True Blood". E ao contrário de outras animações, que vem privilegiando o público adulto em seus roteiros, este filme é prioritariamente infantil.
E os diálogos, dublados, são adaptados para a cultura brasileira - o que é uma pena. Um dos personagens fala, e determinado momento, já ter comprado os ingressos para um festival de funknejo - mais mau gosto impossível. E má educação, né.
Além disso, "Hotel Transilvânia", deixa escapar furos de roteiro facilmente. Um exemplo é o Conde Drácula estar isolado do mundo há décadas, vivendo como estivesse no Século XIX, mas sabe o que é o politicamente correto. Quasímodo, para os leigos, apesar de ser considerado um monstro, é humano. Seu defeito é a corcunda. E o personagem humano, Jonathan, é um dos mais chatos dos últimos tempos - usando um linguajar que se pretende "moderninho" - e completamente alucinado (como Mavis se apaixona por ele é um mistério).
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Que a Sorte Nos Separe"
"Que a Sorte Nos Separe", de Roberto Santucci, é mais uma dessas comédias sem graça nenhuma que vêm sendo produzidas a rodo no Brasil nos últimos anos. O chamariz são atores globais, no caso desta bomba o gordinho Leandro Hassum, uma plastificada Daniele Winitz e Aílton Graça fazendo trejeitos estereotipados de um hétero tentando se passar por gay.
Na trama, o casal Tino e Jane tornam-se milionários, ao ganhar 100 milhões de reais na loteria, jurando nunca deixar de ser eles mesmos. Porém, 15 anos depois, o ex-atleta e a ninfeta mudaram completamente. Completamente idiotizados, com dois filhos adolescentes, vivem esbanjando. E em determinado momento, Tino descobre estar falido. Para contornar a situação e não deixar Jane estressada, afinal ela está grávida, o gorducho aceita a ajuda do vizinho e também gerente de seu banco a tentar sair do buraco.
O vizinho é um cara certinho, até demais, que não arrisca nada na vida, Amauri (Kiko Mascarenhas, em sua segunda comédia fracassada em sequência, a outra foi "Totalmente Inocentes"). "Que a Sorte Nos Separe" tenta fazer uma comparação entre uma vida sem normas, com outra totalmente regrada, e mostrar que nenhuma delas é a correta, devendo haver um meio-termo.
O filme ainda não mostra vergonha nenhuma em copiar Almodóvar no uso excessivo de cores berrantes. Mas no final, "Que a Sorte Nos Separe" não passa de um Zorra Total ampliado. Principalmente pelas caretas exageradas de Hassum, e Ailton Graça se passando por gay.
O pior é que certo público aprova este tipo de filme, que infelizmente consegue verba federal para chegar aos cinemas.
Cotação: ruim
Chico Izidro
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