Foto: Paris Filmes
EM “PÁSSARO BRANCO – UMA HISTÓRIA DE EXTRAORDINÁRIO” (White Bird), direção de Marc Forster, temos uma sequência do bom filme de 2017, “Extraordinário”, focando agora no garoto Julian Albans (Bryce Gheisar). Ele foi expulso de sua escola anterior por praticar bullying no garoto Auggie (Jacob Tremblay), que nasceu com uma deformação facial.
Na nova escola, Julian tenta passar despercebido, até que tem uma atitude antipática com uma colega. Ao voltar para casa, encontra a sua avó, Sara Albans (Helen Mirren), uma judia francesa, uma conceituada artista plástica que veio de Paris para Nova Iorque para inaugurar uma retrospectiva do seu trabalho.
E aí que a história engrena, pois ao falar de troca de escola e de seu dia na nova instituição, ele escuta ela dizer: “Julian, você não trocou de escola, você foi expulso da outra”. E nas próximas horas, o jovem irá escutar uma história que irá mudar a sua percepção sobre o mundo.
Afinal, Sara é uma sobrevivente do Holocausto. Adolescente, tinha uma vida normal no interior da França, até a chegada dos nazistas. A partir desse momento, a jovem passou a ver os que antes eram amigos se transformarem em verdadeiros antissemitas.
E um colega de escola sofria com o bullying, Julien (Orlando Schwerdt) por ter sido vitimado pela poliomielite e ser filho de um limpador de esgotos. O menino é o único que mostra simpatia por Sara, que sempre o desprezara devido a sua condição. E é ele que fará de tudo para tentar salvar a garota das garras dos alemães. Julien é um retrato de quem sofre preconceito, por usar muleta, as pessoas acreditavam que ele tinha problemas mentais – mas o seu silêncio era mais um escudo.
O filme é emocionante, principalmente os momentos passados durante a II Guerra Mundial, mostrando ainda sobre a coragem de ser diferente em um mundo onde todos devem ser aquilo que a maioria impõe. E também de como o ser humano pode ser amoroso em um momento onde a maldade dá as ordens.
Cotação: ótimo
Duração: 2h01min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=i22q_nGjTVM
Foto: Imagem Filmes
FILME SAÍDO DE UMA COLABORAÇÃO ENTRE Brasil e Índia, “Arca de Noé”, com direção de Sérgio Machado e Alois Di Leo se baseia na obra de nosso poeta Vinicius de Moraes, para contar a história da famosa e fantasiosa história bíblica.
Como todo mundo sabe, Noé recebe uma mensagem de deus lhe ordenando a construção de uma arca, pois descontente com sua obra, pretende recomeçar toda a vida na Terra novamente, projetando um dilúvio que durará 40 dias. E Noé deve levar para a arca um macho e fêmea de cada espécie.
E aí que entra a dupla de amigos inseparáveis, os ratinhos Tom (Marcelo Adnet) e Vini (Rodrigo Santoro). Como eles irão fazer para ficarem juntos, se apenas um deles poderá entrar na arca? Então eles devem trapacear para embarcar no navio, que também deixará de fora várias espécies consideradas más, como gorilas, cobras e leões – o vilão-mor é Baruk (Lázaro Ramos).
Apesar da trilha sonora inspirada nos clássicos álbuns Arca de Noé (1980 e 1981), com músicas de Toquinho e Vinícius de Moraes, a trama é rasteira, com piadas que não funcionam, além do que para tentar agradar a criançada, sejam usados diálogos que namoram com referências digitais, gírias da internet e memes. Ou seja, tudo soa muito forçado, não agradando nem crianças e nem adultos.
E os vilões são o genérico do genérico, verdadeiras caricaturas de personagens já vistos em desenhos animados anteriores, como por exemplo “O Rei Leão” e “Tarzan”. E tem até um veado que é...”gay”...não precisava, né!!!
Cotação: Ruim
Duração: 1h35min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=hPYRmPkG8rE
Foto: Sony Pictures
“AINDA ESTOU AQUI”, dirigido por Walter Salles, é a adaptação cinematográfica do livro autobiográfico homônimo de Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho), narrando a trajetória de sua família, principalmente a de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil.
A trama é ambientada principalmente no começo dos anos 1970, quando o governo ditatorial de Garrastazu Médici ficou mais endurecido, perseguindo insaciavelmente todos aqueles que criticavam o sistema.
A família Paiva vivia no Rio de Janeiro, e o chefe da família era Rubens Paiva, deputado cassado logo quando os milicos tomaram o poder em 1964. Depois de exilado, voltou ao país com a mulher e os cinco filhos e trabalhava como engenheiro, de ótima condição financeira.
Até que no dia 20 de janeiro de 1971 alguns agentes da repressão bateram na porta da casa da família e o levaram para um interrogatório. Nunca mais voltaria para casa, assassinado sob tortura um ou dois dias depois, 21 ou 22 de janeiro (este o dia de meu aniversário de cinco anos). Eunice e uma das filhas também foram levadas para interrogatório – a garota foi libertada horas depois e a mãe ficou duas semanas detida, sofrendo tortura psicológica.
Quando retornou, pôs-se a tentar encontrar Rubens, e o governo negando a sua detenção. Com o tempo, Eunice teve certeza de que o marido, então com 41 anos, assim como ela, não voltaria. E teve de se reinventar, voltando para São Paulo com os filhos, se formando em direito aos 48 anos, e trabalhando na defesa dos povos originários e dos perseguidos políticos. Já octagenária, sofria de Alzheimer, morrendo aos 86 anos, cercada pelos filhos e netos.
E esta trajetória é mostrada de forma comovente por Walter Salles, com atuação vigorosa de Fernanda Torres como Eunice e Selton Mello como Rubens.
O filme toca fundo, além do drama pessoal de Eunice, no impacto do regime militar na vida de milhares de brasileiros, que passaram duas décadas de terror, repressão e arbitrariedades. A ditadura militar, depois dos 300 anos de escravidão e do governo ditatorial de Getúlio Vargas, foi outro período sombrio da história do Brasil.
A reconstituição de época é outro destaque, com um ou outro descuido de produção, como por exemplo, dois livros mostrados em cenas passadas em 1970, mas que foram lançados somente em meados daquela década – “Negras Raízes”, de Alex Haley e “O Diário de Anne Frank”, além de imagens em cores de um Jornal Nacional narrado por Cid Moreira, sendo que a TV colorida só seria introduzida no país em 1972. Mas são apenas detalhes.
“Ainda Estou Aqui” deveria ser mostrado nas escolas para os estudantes e também para aquelas pessoas, que por total ignorância, pedem a volta dos milicos ao poder. Agora falta um filme sobre Vladimir Herzog, outra vítima da ditadura militar.
Cotação: excelente
Duração: 2h17min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=_NzqP0jmk3o
Foto: Warner Bros.
“OPERAÇÃO NATAL” (Red One), dirigido por Jake Kasdan, é mais um filme de ação do que aquelas obras fofinhas de final de ano.
Na trama, o Papai Noel, vivido por J.K. Simmons, é apelidado de Nick, que diferente dos outros papais noéis, não tem nada de gordinho. Ele é musculoso, e comanda uma verdadeira fábrica de presentes no Polo Norte, cercado de figuras mitológicas e tendo como chefe de segurança o fortão Callum Drift (Dwayne Johnson).
Porém, toda a segurança em cima do bom velhinho não serve de nada quando o hacker Jack O'Malley (Chris Evans) consegue localizar o local secreto, e por troca de alguns dólares, o vende para a vilã Gryla (Kiernan Shipka, a filha de Don Draper, do seriado Mad Men). Desta forma, o Papai Noel é sequestrado.
Callum, que é um elfo gigante, tanto que a sigla que ele carrega no uniforme, de sua unidade, é ELF...sutileza passou longe...tem de tentar encontrar seu chefe, pois caso contrário, o Natal será esvaziado, com as crianças não recebendo os seus presentes. E para a missão, ele faz uma parceria com o hacker Jack, que se deu conta de sua burrada, e decide se regenerar.
E claro que a união dos dois é daquelas improváveis, pois Callum está para se aposentar, desiludido com o espírito natalino, pois as pessoas, nos dias de hoje, não se importam muito com as outras. E Jack é um pai ausente, sem conexão com o filho, e trabalha com criminosos.
Dito isso, o filme pretende mostrar o verdadeiro significado do Natal, que ele não deve ser perdido, que as pessoas devem seguir acreditando nas fantasias da data festiva...blá, blá, blá...e claro que com Dwayne Johnson no elenco, a história sempre descamba para a pancadaria. Insuportável e cansativo.
Cotação: ruim
Duração: 2h13min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=JE1fRhgrO3k
Foto: Paris Filmes
“NÃO SOLTE” (Never Let Go), direção de Alexandre Aja, é um terror psicológico mostrando o mundo devastado, onde a civilização desapareceu quase que por completamente, e um ser sobrenatural desconhecido domina o mundo exterior, matando toda aquela pessoa que deixe a segurança de sua casa.
Assim, June (Halle Berry) e seus dois filhos gêmeos Nolan (Percy Daggs IV) e Samuel (Anthony B. Jenkins) vivem isolados em uma casa na floresta.
Eles só saem ligados por cordas quilométricas para protegerem-se do mal que assola o mundo lá fora, pois precisam diariamente buscar alimentos.
Os garotos têm de seguir regras rígidas determinadas por June. Porém quando o inverno se avizinha, a alimentação começa a ficar escassa, e de repente, os três começam a ter dúvidas sobre o que estão vivendo, se é tudo delírio ou realidade.
A trama funciona até a sua metade, quando ocorre uma virada quase previsível, e que tira muito da força do filme, com os irmãos tendo um confronto entre a vida e a morte.
O lado bom de tudo é que “Não Solte!” é uma obra tensa, com muito suspense, e que foge da rotina dos filmes atuais de terror, onde existe apenas mortes gratuitas e sem sentido.
Cotação: bom
Duração: 1h42min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=DzZGGsKyHHo
Foto: Lupa Filmes
“ABRAÇO DE MÃE”, direção do argentino Cristian Ponce (História do Oculto (2020)) e roteiro dos brasileiros André Pereira e Gabriela Capello, é um longa-metragem de horror psicológico. Ele segue a jovem bombeira Ana, vivida por Marjorie Estiano (do seriado Sob Pressão), que quando criança, nos anos 1970, perdeu a mãe durante um incêndio.
E a trama foca em seu retorno às atividades, depois de um período afastada devido a ter congelado durante uma missão. Agora, Ana pretende mostrar que não está traumatizada e logo na sua volta, sua equipe é chamada para atender um asilo com risco de desabamento durante um forte temporal no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
O lugar parece ser o mais sinistro possível, com a dona paraplégica e hostil aos bombeiros, um atendente com ares de mistério.
O asilo é uma casa antiga, caindo aos pedaços e parece esconder um ser sinistro entre o seu interior. E esse ser surge para Ana na forma de um tentáculo que a persegue - claramente a forma do monstro é uma referência ao cordão umbilical, a primeira conexão entre a mãe e o bebê, pois Ana ainda vive depois de mais de duas décadas o luto pela perda de sua mãe.
“Abraço de Mãe” não revoluciona o gênero de terror, tem algumas decisões questionáveis, porém no balanço final é um bom filme. A produção é bem feita, trama prende, devido aos seus momentos de suspense, nada sendo entregue de mão beijada. E Marjorie consegue transmitir pânico, enquanto os coadjuvantes passam muita loucura em seus olhares.
Cotação: bom
Duração: 1h34min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YPXAEKFaoZ8