quarta-feira, novembro 06, 2024

“AINDA ESTOU AQUI”

Foto: Sony Pictures
“AINDA ESTOU AQUI”, dirigido por Walter Salles, é a adaptação cinematográfica do livro autobiográfico homônimo de Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho), narrando a trajetória de sua família, principalmente a de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil.
A trama é ambientada principalmente no começo dos anos 1970, quando o governo ditatorial de Garrastazu Médici ficou mais endurecido, perseguindo insaciavelmente todos aqueles que criticavam o sistema.
A família Paiva vivia no Rio de Janeiro, e o chefe da família era Rubens Paiva, deputado cassado logo quando os milicos tomaram o poder em 1964. Depois de exilado, voltou ao país com a mulher e os cinco filhos e trabalhava como engenheiro, de ótima condição financeira.
Até que no dia 20 de janeiro de 1971 alguns agentes da repressão bateram na porta da casa da família e o levaram para um interrogatório. Nunca mais voltaria para casa, assassinado sob tortura um ou dois dias depois, 21 ou 22 de janeiro (este o dia de meu aniversário de cinco anos). Eunice e uma das filhas também foram levadas para interrogatório – a garota foi libertada horas depois e a mãe ficou duas semanas detida, sofrendo tortura psicológica.
Quando retornou, pôs-se a tentar encontrar Rubens, e o governo negando a sua detenção. Com o tempo, Eunice teve certeza de que o marido, então com 41 anos, assim como ela, não voltaria. E teve de se reinventar, voltando para São Paulo com os filhos, se formando em direito aos 48 anos, e trabalhando na defesa dos povos originários e dos perseguidos políticos. Já octagenária, sofria de Alzheimer, morrendo aos 86 anos, cercada pelos filhos e netos.
E esta trajetória é mostrada de forma comovente por Walter Salles, com atuação vigorosa de Fernanda Torres como Eunice e Selton Mello como Rubens.
O filme toca fundo, além do drama pessoal de Eunice, no impacto do regime militar na vida de milhares de brasileiros, que passaram duas décadas de terror, repressão e arbitrariedades. A ditadura militar, depois dos 300 anos de escravidão e do governo ditatorial de Getúlio Vargas, foi outro período sombrio da história do Brasil.
A reconstituição de época é outro destaque, com um ou outro descuido de produção, como por exemplo, dois livros mostrados em cenas passadas em 1970, mas que foram lançados somente em meados daquela década – “Negras Raízes”, de Alex Haley e “O Diário de Anne Frank”, além de imagens em cores de um Jornal Nacional narrado por Cid Moreira, sendo que a TV colorida só seria introduzida no país em 1972. Mas são apenas detalhes.
“Ainda Estou Aqui” deveria ser mostrado nas escolas para os estudantes e também para aquelas pessoas, que por total ignorância, pedem a volta dos milicos ao poder. Agora falta um filme sobre Vladimir Herzog, outra vítima da ditadura militar.
Cotação: excelente
Duração: 2h17min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=_NzqP0jmk3o

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