quinta-feira, setembro 27, 2018
"Uma Noite de 12 Anos” (La Noche de 12 Años)
Em uma época que vivemos assombrados por defensores da ditadura militar, nada como se acompanhar um filme como "Uma Noite de 12 Anos” (La Noche de 12 Años), dirigido e escrito pelo hispano-uruguaio Alvaro Brechner, e que relata a história real do ex-presidente e senador uruguaio José Pepe Mujica, que passou 12 anos atrás das grades durante a Ditadura Militar no Uruguai entre 1973 e 1985.
O filme foca em três personagens que lutaram contra os militares no Grupo Guerrilheiro Montoneros. Além de José Pepe Mujica (Antonio de la Torre), temos Mauricio Rosencof (Chino Darín), jornalista e escritor, e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso Tort), ex-ministro da Defesa. Eles são presos em Montevidéu, e sem julgamento passam 12 anos atrás das grades. O problema não foi o de serem presos, mas sim as torturas físicas e psicológicas a que foram submetidos, além de privações de higiene e alimentação - sofreram até mesmo a proibição de lerem um livro ou passearem pelo pátio e tomar um pouco de sol.
A obra recorre ainda a momentos de flash-back, mostrando o momento de suas prisões. O diretor apresenta ainda um retrato que para muitos pode ser de parcialidade, mostrando os militares como pessoas sem o mínimo de humanidade. E não era assim mesmo? Pessoas possuídas de poder, abusando de prisioneiros fracos e desnutridos, com espancamentos, isolamento. O ator César Trancoso, aliás, está excepcional no papel de um general que emula um nazista.
Os três presos, enfim, conseguem sobreviver aos 12 anos de encarceramento, e após suas saídas da prisão continuaram envolvidos com a política, se destacando num Uruguai já democrático. E o mais importante. Mesmo em posição de poder, não foram revanchistas.
José Mujica foi eleito deputado e senador em 2010 e, aos 75 anos, tornou-se presidente do Uruguai. Já Maurício Rosencof é romancista, poeta, jornalista e ex-diretor de cultura de Montevidéu. Por fim, Eleuterio Fernández Huidobro foi eleito senador e, posteriormente, assumiu o cargo de Ministro da Defesa do Uruguai. Ele faleceu em 2016.
Duração: 2h02
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Um Pequeno Favor" (A Simple Favor)
"Um Pequeno Favor" (A Simple Favor), dirigido por Paul Feig, é uma produção baseada na obra literária homônima de Darcey Bell. O filme transirta entre o suspense e a comédia, mas com uma atuação destacada de Blake Lively.
O filme quando começa parece ser o daquelas bobagens em que mães se metem na vida de seus filhos na escola. Até que surge uma impossível amizade Stephanie Smothers (Anna Kendrick), mãe solteira, CDF e videobloguer, e a ricaça Emily Nelson (Blake Lively). As duas, sempre após as aulas, se reúnem na mansão de Emily para tomar um martini e falar sobre as suas vidas.
Mas um dia Emily simplesmente desaparece e dias depois aparece morta, afogada em um lago. Stephanie percebe que algo está errado com aquela morte e parte numa investigação, ainda mais que o filho da amiga jura ter visto a mãe observando-o do outro lado da rua.
E Stephanie ainda se envolve com o marido de Emily, o fracassado escritor e professor universitário Sean (Henry Golding). A trama, por vezes, até se assemelha ao thriller "Garota Exemplar". Porém aqui o humor prevalece, ainda mais em seu final, que beira o pastelão. "Um Pequeno Favor" (A Simple Favor), no entanto, tem um roteiro bem acabado, com momentos de flash-back que deixam a história mais clara. E lá pelo meio de sua projeção dá para sacar o mistério. Divertido.
Duração: 1h58
Cotação: bom
Chico Izidro
"Coração de Cowboy"
Para poder apreciar este filme, deve-se aguentar os primeiros 20 minutos, repletos daquela música intitulada sertanejo universitário. Passado este momento, dá para começar a apreciar "Coração de Cowboy", direção de Gui Pereira, profissional oriundo de videoclipes sertanejos, curtas e especiais para a TV, em seu primeiro trabalho para o cinema.
O filme mostra a trajetória do cantor sertanejo Lucca – interpretado pelo músico Gabriel Sater, filho do artista sertanejo Almir Sater. Lucca é conhecido por suas músicas comerciais compostas a partir das orientações de sua empresária, Iolanda (Françoise Forton). Assim, ele deixa de lado seus gostos musicais, mais de raízes, para ganhar grana e ficar mais famoso, e cercado de mulheres.
Cansado de sua vida, o músico abandona uma gravação e se manda para sua cidadezinha no interior paulista, para buscar inspiração e compor canções mais autênticas e ainda tentar fazer as pazes com o seu pai, vivido pelo global Jackson Antunes, que parece ter nascido para viver personagens broncos e caipiras.
"Coração de Cowboy" ainda dá um certo ar de "2 Filhos de Francisco", pois logo no início um dos personagens morre tragicamente, afetando a vida dos protagonistas por décadas. A trama também dá uma alfinetada neste mercado musical de baixa qualidade, quando Lucca vai tocar num bar, e a dona Paula (Thaila Ayala) dispara: "Aqui você não vai tocar estas coisas de Ubatuba. Apresenta algo decente". Ou seja, o filme tenta resgatar aquela música sertaneja real, chamada de raiz. Aí até dá para suportar suas quase duas horas.
Duração: 1h54
Cotação: bom
Chico Izidro
"O Que de Verdade Importa" (The Healer)
Escrito e dirigido pelo mexicano Paco Arango, "O Que de Verdade Importa" (The Healer), tem como primeiro propósito de reverter seus lucros para uma instituição de combate ao câncer infantil, fundada pelo astro Paul Newman. A trama é daquelas otimistas, feitas para conquistar o coração do espectador.
O protagonista da história é Alec (Oliver Jackson-Cohen), dono de uma empresa técnica de aparelhos eletrônicos. Mas ele está mais preocupado em ter casos com mulheres casadas e dando pequenos golpes. Acaba perdendo o sócio, que se cansa de suas vigarices.
Além disso, ele é um sujeito descrente, após ter perdido um irmão para o câncer. Quase falido, eis que surge um tio distante, Raymond (Jonathan Pryce), que lhe faz uma proposta - ele terá de se mudar para uma pequena cidadezinha na Nova Escócia, no Canadá, e viver no local por um ano, recebendo uma bolada e assim poder sanar suas dívidas.
Na localidade, Alec começará a entender o porque do pedido de Raymond. Para começar, o jovem começa a ser visto como um curandeiro - e assim sofre a perseguição de algumas autoridades da cidade, como o xerife e o padre. Mas faz amizade com uma moradora local, Cecilia (Camilla Luddington), que se diz lésbica para não ser cantada por Alec. Aos poucos, Alec, mesmo que não aceite, começa a descobrir que realmente possui alguns poderes de cura, e isso vai abalar a sua fé.
"O que de Verdade Importa" apresenta cenas com bom humor, propiciando alguns momentos de risada para o espectador, mas também apela para o sentimentalismo - ainda mais quando surge uma garota com câncer terminal e que conquista o coração do protagonista. Um filme de boas intenções, mas recheado de clichês.
Duração: 1h58
Cotação: bom
Chico Izidro
"A Primeira Noite de Crime" (The First Purge)
"A Primeira Noite de Crime" (The First Purge) é o quarto filme da cinessérie iniciada em 2013 e que agora também virou série na TV. Mas neste exemplar, dirigido por Gerard McMurray, é mostrado como o experimento do governo norte-americano se iniciou. A ideia apareceu depois que os cidadãos estavam com muito ódio e se revoltando contra o governo. Assim, os dirigentes decidiram fazer o experimento de que aonde todo tipo de crime seria permitido por 12 Horas, para que as pessoas pudessem soltar sua fúria, e se manterem calmas nos outros 364 dias do ano.
O projeto seria testado primeiro em Staten Island, uma ilha perto de Manhattan, e com comunidades de negros e latinos. E muitas dessas pessoas à beira da pobreza, e que aceitam 5 mil dólares para participar do experimento. E aí que o roteiro foi eficiente, pois faz crítica ao governo de Donald Trump, que pretende "fazer a América grande novo", mas privilegiando a elite branca.
Como no começo da noite a população não parece estar tão envolvida como se esperava, são mandados mercenários à State Island - muitos com fardas nazistas ou com vestes da Ku Klux Klan - e eles saem assassinando as pessoas, muitas delas que estavam se protegendo dentro de uma igreja.
A trama foca em dois personagens principais, na idealista Nya (Lex Scott Davis) e o traficante Dmitri (Y'lan Noel), que chegaram a ter um relacionamento no passado, mas se afastaram depois que ele começou a trabalhar com drogas. A garota, por sua vez, quer tirar o irmão do lugar e levá-lo para um local mais próspero. Quem também está presente é Marisa Tomei, que está sensacional como a Arquiteta - a criadora da noite do Expurgo.
O filme começa lento, mas do meio para o seu final vai ganhando intensidade, com uma sequência arrasadora dentro de um prédio de apartamentos. Aprovado pelo governo...
Duração: 1h38
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"A Moça do Calendário"
Assistindo "A Moça do Calendário", dirigido por Helena Ignez, lá pelas tantas pensei, "puxa, está me lembrando muito alguma coisa do Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha". Aí o filme termina e vou ver os créditos ele é baseado em um roteiro escrito pelo próprio em 1987. Rogério era o marido da diretora e morto em 2004.
Acompanhamos na trama Inácio (André Guerreiro Lopes), que trabalha em uma oficina mecânica durante o dia e como dublê de dançarino à noite. Quando está em seu serviço diurno, as cenas são mostradas em preto e branco, retratando o contraste entre seu jeito largado e irresponsável, com a perseguição de seu patrão, que reclama de seus atrasos e devaneios. As cores aparecem quando Inácio está fora do trabalho e pensando em um relacionamento platônico com uma mulher (Djin Scanzerla) que estampa o calendário da oficina.
"A Moça do Calendário" se utiliza de uma linguagem não convencional, com a câmera na mão seguindo os passos do protagonista pelas ruas de uma caótica São Paulo - muitos momentos são registrados como se fossem um sonho. Ele é ainda repleto de metáforas e números musicais. Porém, seu resultado acaba sendo irregular, se perdendo entre a realidade e a fantasia. Ficamos pensando o que a diretora estava tentando transmitir. E lá pelas tantas começamos a brigar para não dormir...
Duração: 1h26
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, setembro 20, 2018
"Missão 115"
Em uma época em que vivemos, com gente pensando em votar em presidenciável que é apoiador de ditaduras, nada melhor do que ver o excepcional documentário "Missão 115", do diretor Silvio Da-Rin, autor do clássico Fênix e do mais recente Hércules 56. No filme, o cineasta investiga os últimos anos da Ditadura Militar, que governou o Brasil de 1964 a 1985, e sua tentativa de se perpetuar no poder, focando principalmente no atentado frustrado ao Riocentro em 31 de abril de 1981.
Da-Rin mostra os atentados terroristas praticados pelo chamado "Grupo Secreto", militares que trabalhavam clandestinamente, tentando evitar o processo de abertura iniciado em 1979 no governo de João Batista Figueiredo, com a Lei da Anistia. Esses militares tentaram cliar um clima de pânico no país, mandando bombas para entidades como a OAB e jornais, causando algumas mortes.
O objetivo deles era o de a população achar que os atentados eram praticados por esquerdistas, e assim fazer com que a ditadura, já enfraquecida e impopular, conseguisse se manter mais alguns anos. Mas o seu final começaria a ser assinado no fracassado atentado do Riocentro, quando dois militares (terroristas) acabaram se explodindo, ao tentar sabotar um show de Música Popular Brasileira que estava sendo realizado no local, em virtude das comemorações do 1º de maio de 1981.
"Missão 115" apresenta entrevista com 19 pessoas, entre jornalistas, políticos, historiadores, advogados e cientistas sociais, que analisam o quadro político da época e discutem seus reflexos nas décadas seguintes no país, culminando com o impeachment de Dilma Roussef em 2016.
Assim como a Segunda Guerra Mundial, cujo tema não se esgota e a cada dia surge mais algum fato, o período da Ditadura Militar no Brasil - que já fgoi tema de documentários, como "O Dia que Durou 21 Anos", "Em Busca de Iara", "Uma Longa Viagem", "Cidadão Boilesen" e "Cabra Marcado pra Morrer", além de dezenas de filmes, o assunto não se esgota. E nem pode, pois deve sempre ser lembrado, para evitar que períodos como aqueles fatídicos 20 anos não se repitam, apesar de muita gente achar que aquela época foi grandiosa, com segurança, prosperidade...e aí não estudam história e acham que votar em um reacionário como Jair Bolsonaro é a receita. Filme fundamental.
Duração: 1h26
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"22 Milhas" (Mile 22)
"22 Milhas" (Mile 22) é a mais nova parceria entre o diretor Peter Berg e o ator Mark Wahlberg - iniciada em 2013 com "O Grande Herói", depois passando por "Horizonte Profundo" e "O Dia do Atentado", que mostravam homens comuns vivendo situações limites. Este aqui foge um pouco dos padrões anteriores.
A história começa com uma invasão do FBI a uma casa onde está um grupo de pessoas, que se descobrirá agentes russos, que são mortos. Um deles implora pela vida e afirma estarem matando a pessoa errada. Pula. Aí vamos conhecer James Silva (Wahlberg), um agente secreto da CIA especialista em evitar atentados terroristas, e sua equipe, que conta com Sam Snow (Ronda Rousey, de Velozes & Furiosos 7), e Alice (Lauren Cohan, a Maggie, de The Walking Dead), envolvida com a questão da guarda da filha pequena.
Eles recebem uma missão na Indonésia. O policial local Li Noor (Iko Uwais) afirma saber onde estão escondidas amostras de uma arma química. Mas para ele revelar o segredo, faz uma exigência - receber asilo nos Estados Unidos. E é aí que começa a questão das 22 milhas: para tirar Li Noor da cidade e levá-lo ao aeroporto, será preciso percorrer 22 milhas, o equivalente a 35 quilômetros, entre a embaixada dos Estados Unidos e o avião. No trajeto, a equipe liderada por Silva será perseguida por policiais e mercenários interessados na arma química, e que fazem de tudo para impedir a chegada ao aeroporto.
O filme acaba tendo duas partes bem distintas. A primeira tem muita falação, até descambar para a segunda etapa. E aí as cenas de ação tomam conta da tela, com muitas explosões, tiroteios e mortes brutais. Atente para a excelente sequência em um prédio de apartamentos. E o final tem uma grande reviravolta, que deixa no ar uma possível continuação.
Wahlberg não é um grande ator, mas tem carisma, e leva bem as cenas de ação. Mas a grande surpresa é Iko Uwais (do excelente Operação Invasão), que vive Li Noor, por causa de suas coreografias de luta, que lembram muito as peripécias de Jackie Chan, conhecido por lutar desarmado e sem utilizar dublês. A pancadaria rola solta, em um filme que tem muito de convencional, mas que diverte.
Duração: 1h35
Cotação: bom
Chico Izidro
"Buscando..." (Searching)
"Buscando..." (Searching), direção de Aneesh Chaganty, tem uma estrutura visual e uma história muito interessantes, que faz o espectador não tirar o olho da tela em nenhum momento. Toda a trama é contada por meio da tela de um computador, mostrando a busca desesperada de um pai por sua filha, desaparecida.
Desde o começo ficamos conhecendo a história da família sino-americana Kim, através de imagens e vídeos guardadas em um computador. Nelas, é mostrado que David Kim (John Cho, de Star Trek) perdeu sua esposa, vítima de câncer. Assim, ele teve que criar sozinho sua filha Margot (Michelle La). Mas os dois mantém uma relação distante, que se mostrará relevante ao longo do filme.
Então um certo dia, a garota, de apenas 16 anos, avisa que irá participar de um grupo de estudo na casa de uma colega. E some...após passar vários dias tentando encontrar Margot, David recorre à polícia. E como vivemos num mundo informatizado, o desesperado pai decide invadir o computador pessoa da filha, que ficou esquecido na cozinha de casa. Navegando nas redes sociais de Margot, Kim vai se dando conta de que conhece muito pouco a menina. E teria ela fugido, sido sequestrada? Estaria viva? Morta?
John Cho, antes conhecido por filmes adolescentes e pelo reboot de 'Star Trek', entrega uma atuação espetacular como um pai desesperado. O destaque também vai para Debra Messing, a eterna Grace de "Will e Grace", que faz a policial responsável pelo caso. Aliás, um personagem totalmente diferente daquela que costumávamos assistir no seriado.
Outra sacada muito boa no filme é que a distribuidora Sony traduziu todos os textos que aparecem na tela, não prejudicando a visualização nem a atenção do espectador.
Duração: 1h42
Cotação: bom
Chico Izidro
"O Retorno do Herói" (Le Retour du Héros)
Uma comédia de época, divertida e com momentos de nonsense. É o filme "O Retorno do Herói" (Le Retour du Héros), do diretor Laurent Tirard (As Aventuras de Molière, O Pequeno Nicolau e Um Amor à Altura) e estrelado por Jean Dujardin (O Lobo de Wall Street e O Artista) e Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios, Truque de Mestre e À Beira Mar). A história transcorre durante o começo do Século XIX, durante as Guerras Napoleônicas, e focam no capitão Neuville (Dujardin), que ao longo da trama se mostra um covarde de marca maior.
Antes de partir para a Guerra, ele pede a mão da jovem Pauline (Noémie Merlant) em casamento, sob os protestos da irmã mais velha dela, Elisabeth (Mélanie Laurent). Ele parte, prometendo escrever todos os dias para a amada, mas nunca o faz. A noiva entra em depressão, e a irmã vendo a situação decide agir. Ou seja, passa a escrever cartas apaixonadas, como se fosse Neuville, contando suas façanhas nos campos de batalha. Chegando até a sua morte em uma missão na Índia.
O que Elisabeth não esperava é de que Neuville fosse retornar. Mas não como um herói, e sim como mendigo e desertor do exército. Aí aparece um daqueles clichezinhos, mas que aqui é saboroso, pois Elisabeth tem de receber o capitão e encubrir as suas mentiras, aos poucos se afeiçoando do pilantra. Enfim, uma comédia de época e romântica agradável, onde as piadas são boas, inteligentes.
Duração: 1h30
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Traffik - Liberdade Roubada" (Traffik)
Historinha banal e sem novidades, mesmo que fale de um tema tão pesado como o de tráfico de mulheres. Esta é a premissa de "Traffik - Liberdade Roubada" (Traffik), direção de Deon Taylor. O filme já começa recheado de clichês, quando um casal, formado por Brea (Paula Patton) e John (Omar Epps) vai passar um final de semana em uma mansão afastado nas montanhas, e num posto de gasolina na beira de estrada, são incomodados por uma gangue de motoqueiros, que claro, logo vão mostrar a que vieram. Cruéis, sádicos, racistas...
Na mansão, Brea e John encontram o casal de amigos Malia (Roselyn Sanchez) e Darren (Laz Alonso). Claro, sem sinal de celular, e totalmente desarmados. Logo os quatro estarão cercados pelos motoqueiros, que estão em busca de mulheres para venderem como escravas sexuais. E Paula Patton e Roselyn Sanchez são, convenhamos, excelentes espécimes femininas.
Porém "Traffik" escorrega em atuações bisonhas, vilões caricatos, e história rasa e fraca. Nem mesmo a relação entre os personagens, negros. perseguidos pelos motoqueiros, brancos, em uma referência à escravidão, salva a história.
Duração: 1h37
Cotação: ruim
Chico Izidro
sexta-feira, setembro 14, 2018
"O Predador" (The Predator)
O novo "O Predador" (The Predator), direção de Shane Black, tenta pegar uma carona no original de 1987, com Arnold Schwarzennegger, com direito a muita violência, piadinhas e muita ação na selva. Mas o mundo dos vídeo-games também ganha espaço neste longa, que não poupa tripas expostas e cabeças esmagadas. Tudo começa quando um predador retorna à Terra - eles já estiveram aqui em 1987 e 1997, diz um dos personagens a determinada hora.
Um militar em ação no México, Quinn McKenna (Boyd Holbrook, da série "Narcos") dá de cara com o extraterrestre e consegue pegar uma parte do equipamento do predador, remetendo para casa. E seu filho, Rory (Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack). autista, mas expert em informática (clichê), encontra o material e fuçando, acaba atraindo outro predador para a Terra, que vem em busca do equipamento e do primeiro predador - que logo saberemos, é um fugitivo de seu planeta.
Quinn acaba se juntando a um grupo de militares saídos de hospital psiquiátrico, pois ele mesmo é considerado fora da casinha. E o grupo, ao lado da cientista Casey Bracket (Olivia Munn) vão encarar os militares, que tentam silenciá-los e um mais mortal predador, de mais de 3 metros.
O roteiro não é muito ousado, abusando de cenas já vistas ad nauseam em outras produções - grupo de diferentes têm de deixar suas diferenças de lado para lutar contra algo comum, no caso daqui os milicos e o ET. O humor também impera, e em excesso. Não é um filme de terror, e muitos momentos lembram de "O Exterminador do Futuro", "Os Mercenários". Até a atriz Whoopi Goldberg é zoada em certto momento, por seus dreads serem similares ao do Predador, que na realidade não é um predador, mas sim um caçador. Detalhes.
Duração: 1h47
Cotação: regular
Chico Izidro
"Camocim"
O documentário “Camocim”, do diretor francês radicado em Recife há 10 anos, Quentin Delaroche, registra a campanha para as eleições municipais de uma pequena cidade do sertão de Pernambuco, em 2016, chamada exatamente de Camocim, um município do Estado do Ceará.
O filme nasceu de pesquisas e viagens do diretor. "Passei uma semana em Camutanga, no interior de Pernambuco, e me dei conta que todos falavam de política e de campanha. Em todas as conversas. Então decidi fazer um filme sobre campanha política, e a partir daí fui a várias pequenas cidades, procurando onde ia gravar", lembrou Quentin. "Cheguei a Camocim porque tem um histórico muito violento ligado à política. Tem várias histórias sinistras, como se fosse um filme de faroeste", destacou.
A proposta de Quentin é interferir o mínimo possível no que acontece em cena. Ele segue os personagens, os deixando à vontade para fazerem o que quiser. O foco do filme é nos jovens Mayara Gomes, cabo eleitoral e amiga de César Lucena, candidato a vereador. "Eu tinha a ideia de fazer um retrato amplo de uma cidade, com vários personagens. Um mês antes de começar a filmar, voltei para fazer uma última pesquisa em Camocim, e por acaso encontrei Mayara, numa praça, à noite, debatendo política, e fiquei encantado pelo carisma dela, por seu desejo de mudar as coisas. Na montagem, ficou claro que o filme era ela", afirmou o diretor.
Mayara é uma garota idealista e leva tudo muito a sério em seu engajamento, enquanto que César é mais tranquilo, ele mesmo se divertindo com a empreitada, fazendo vídeos ou cantando ele mesmo os jingles de campanha. "Camocim" é simples, mas é um retrato do país, que ainda tem espaço para idealismo, mas também péssimo gosto musical. Veja e entenderá.
Duração: 1h10
Cotação: bom
Chico Izidro
"Hotel Artemis: Hotel de Bandidos" (Hotel Artemis)
A história de "Hotel Artemis: Hotel de Bandidos" (Hotel Artemis), direção de Drew Pearce, se passa em um único dia de um futuro próximo, mais exatamente em 21 de Junho de 2028 (faltam até lá apenas dez anos, né), numa tumultuada Los Angeles. Tudo começa com um assalto mal sucedido, e Sherman Atkins (Sterling K. Brown, da série This Is Us) terá de levar o seu irmão baleado para o hotel, para que este seja atendido e sobreviver aos ferimentos.
Quem cuida do local é a enfermeira enfermeira Jean Thomas (Jodie Foster). O Hotel Artemis é um lugar que serve de porto de abrigo e enfermaria exclusiva para bandidos. A cidade, porém, naquele exato dia, está em turbulência, com a população ameaçando uma revolta por causa do corte de água.
E o hotel, além de tudo, sofre com a ameaça de uma invasão, quando outro grupo de bandidos tenta entrar, mas um deles não é admitido. Ou seja, os marginais decidem eliminar todo mundo que está lá dentro, e estes têm de lutar por suas vidas.
O filme conta com excelentes atores, como os citados e Sterling K. Brown e Jodie Foster, envelhecida para o papel de uma mulher cujo sentido de vida, é cuidar daqueles foras da lei. Dave Bautista, de "Guardiões da Galáxia", é o fortão da trama, o segurança fiel que tenta impedir a entrada de outras pessoas no Artemis, e o alívio cômico da trama. E Sofia Boutella, de "Kingsman: Serviço Secreto", como uma ladra sexy e mortal. Ah, e Jeff Goldblum como um poderoso gângster.
O problema é que "Hotel Artemis: Hotel de Bandidos" demora um pouco para entrar no tranco. As cenas de ação são boas, mas muita coisa fica mal explicada e aprofundada, como por exemplo, o que tem haver a revolta da população com o que ocorre no hotel?
Duração: 1h33
Cotação: regular
Chico Izidro
quinta-feira, setembro 06, 2018
"A Freira" (The Nun)
"A Freira" (The Nun), direção de Corin Hardy, apresenta um início promissor de um filme de terror. Mas ao longo de seus minutos, vai sendo verificado que é uma produção fraca, sem a mínima imaginação e repetindo clichês de outras obras do gênero.
Tudo começa nos anos 1950, num convento do interior da Romênia, onde uma jovem freira comete suicídio. Então o Vaticano decide mandar ao local um padre atormentado, vivido por Demian Bichir, e uma jovem noviça, interpretada por Taissa Farmiga, irmã de Vera Farmiga (protagonista de Invocação do Mal). Aí pergunto: por quê o Vaticano se interessaria em investigar um suicídio de uma freira na Romênia? E daí?
Ao chegar no vilarejo, os dois convocam um pastor, Frenchie (Jonas Bloquet) que encontrou o corpo da suícida. Fenômeno, o rapaz fala inglês sem sotaque, mas a produção achou um jeito de explicar isso - ele é um franco-canadense, que foi até a Romênia, gostou e decidiu ficar por lá.
Bom, voltando ao filme, ele é uma sequência de cenas onde freiras possuídas pelo demônio aparecem e somem pelos corredores do castelo que virou convento, assustando os protagonistas. Que correm, berram, correm de novo, gritam, numa chatice insuportável. Um dos piores filmes do ano.
Duração: 1h36
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Alfa" (Alpha)
"Alfa" (Alpha), dirigido por Albert Hughes, não é um filme de fácil assimilação, mesmo que seja vendido como uma obra para a família, mostrando algo já visto centenas de vezes - a amizade improvável de um humano com um animal, no caso daqui um lobo.
A trama se passa na Europa, há 20 mil anos, ou seja, na Era do Gelo, onde um jovem herdeiro de uma tribo não consegue se encaixar - ao contrário dos guerreiros, Keda (Kodi Smit-McPhee, de Deixe-me entrar "2010") não gosta de matar. Um dia, durante uma caçada, o jovem é atacado por um bisonte e cai em um abismo. Ele é dado como morto, o que leva seu grupo a não tentar resgatá-lo. Abandonado, Keda terá de começar a agir diferentemente de seu jeito de ser para sobreviver.
É quando é atacado por uma matilha de lobos. Ele consegue ferir um deles, mas ao invés de matar o animal, resolve curar as feridas do lobo, que acaba se afeiçoando. Os dois partem, então, em uma jornada por aquele mundo hostil, para Keda tentar retornar à sua tribo.
Aí o filme fala de amadurecimento, amizade. Tem violência, mas quase sem sangue. E o final apresenta uma surpresa. E "Alfa" também mostra como os homens começaram a adestrar os animais selvagens.
Um filme que não vai agradar a todos, por apresentar uma narrativa contemplativa, com poucos diálogos. O visual é arrebatador, com algumas cenas de prender o fôlego. Uma ótima sessão da tarde.
Duração: 1h36
Cotação: bom
Chico Izidro
"Marvin" (Marvin ou la belle éducation)
Inspirado na autobiografia escrita por Édouard Louis, Marvin, o filme dirigido por Anne Fontaine (Coco Antes de Chanel e Agnus Dei), "Marvin" (Marvin ou la belle éducation), conta a história de um garoto pobre, vindo de uma família onde o pai é um beberrão, um irmão mais velho violento e uma mãe sofredora. Além disso, o garoto ainda sofre por sua homossexualidade, sendo vítima de agressões tanto em casa quanto na escola no vilarejo de Vosges, na França.
Vemos o filme em dois tempos. Num deles, nos é mostrado Marvin, vivido por Jules Porier, e sua dificuldade em se enquadrar em um mundo racista, homofóbico. Em outro, já com Finnegan Oldfield no papel do protagonista, temos Marvin como dramaturgo.
O teatro entra na vida de Marvin ainda na escola, mas mesmo assim sem conseguir se encaixar. É somente ao partir para Paris é que o personagem vai conseguir se encontrar. A musa Isabella Hupert vive ela mesma, como uma das incentivadoras de Marvin.
Finnegan Oldfield está irrepreensível no papel, transmitindo toda uma profusão de sentimentos porque passa o protagonista. "Marvin" (Marvin ou la belle éducation) é atual, pois toca em assuntos difíceis, como bullying, racismo, xenofobia, homofobia. Um retrato cruel de nosso tempo.
Duração: 1h54
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Ferrugem"
Kikitos de melhor filme, roteiro (de Muritiba e Jessica Candal) e desenho de som (Alexandre Rogoski), "Ferrugem", dirigido por Aly Muritiba, é atual e um pesado retrato de como o bullying virtual é nocivo, principalmente para os jovens ligados nas redes sociais.
Dividido em duas partes, a trama começa com a adolescente Tati (Tiffanny Dopke) entrar numa forte depressão, com resultados terríveis, após perder o celular em uma festa, e ver as imagens de um vídeo que havia feito com um ex-namorado ir para nos grupos de whatsapp do colégio onde estuda.
Os colegas se mostram intolerantes e reacionários com a jovem. Ela se vê sozinha, rejeitada por todos, e com medo de de revelar a verdade aos pais, optando por uma saída equivocada e inesperada.
Na segunda parte, observamos o novo namorado de Tati, Renet (Giovanni de Lorenzi) tendo de conviver com as consequências dos atos de Tati e o dele também. E a reação da família da menina - o pai Davi (Enrique Diaz) e a mãe Raquel (Clarissa Kiste).
"Ferrugem" é batizado assim para explicar como fica a menina após ter o vídeo vazado. Tati se sente corroída por dentro, sufocada, gasta. Cruel.
Duração: 1h39
Cotação: ótimo
Chico Izidro
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