quinta-feira, julho 24, 2008
ARQUIVO X - Eu Quero Acreditar
O velho conflito entre Fox Mulder e sua crença no sobrenatural e Dana Scully, descrente e procurando a solução sempre na razão está de volta em Arquivo X - Eu Quero Acreditar (X-Files, I Want Believe), de Chris Carter, seis anos após o término da série e 10 após o lançamento do primeiro filme. A história aqui, começa onde se encerrou o seriado, com Mulder (David Duchovny) se escondendo do ex-empregador, o FBI. Já Scully (Gillian Anderson) largou a agência para trabalhar como médica. E os dois mantém uma relação estranha e, sim, rolam uns beijinhos meio frios, para desespero de muitos x-cers e alegria de outros.
Desta vez os ETS não aparecem na trama, que também deixou de lado a chamada "mitologia da série", com o governo escondendo os sinais de vida extraterrestre. Vemos, sim, a dupla envolvida na busca de uma agente do FBI, que sumiu misteriosamente e o comércio ilegal de órgãos humanos.
O filme, porém, peca por suas soluções fáceis demais e quase inverossímeis - por mais que se goste do seriado e de seus personagens, fica difícil de se acreditar.
quinta-feira, julho 17, 2008
Bodas de Papel
Bodas de Papel, de André Sturm, desde já, concorre ao título de pior filme do ano. Previsível e com atuações que beiram o amadorístico, temos aqui a história de amor da dona de hotel vivida pela bela Helena Ranaldi e o arquiteto vivido pelo argentino Darío Grandinetti. Os dois se conhecem numa pequena cidade que está ressurgindo das cinzas, depois de quase ter sido engolida pelas águas de uma hidrelétrica. Os diálogos são fracos e existem cenas que, simplesmente, não se encaixam e nem se explicam. Chega a ser clichê, mas preciso escrever: puro desperdício de dinheiro e para quem for ver o filme, puro desperdício de tempo.
BATMAN
Está chegando lá. Sombrio e pesado, Batman, o Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, faz lembrar e muito, apesar de a história não ser a mesma, mas pelo tom, a HQ histórica de Frank Miller, o Cavaleiro das Trevas, de 1986. O herói mascarado, ao contrário do que nos acostumamos a ver na tevê, sempre foi um personagem fechado, soturno, quase depressivo.
No novo filme da série, o Homem-Morcego combate o seu principal adversário, o Coringa, em duas horas e meia de muitas mortes e sangrentas batalhas. Christian Bale mais uma vez é o Batman, que vive no limite da justiça ao combater o crime organizado em Gotham City e tentar reconquistar a garota de seus sonhos, a insossa Maggie Gyllenhall (de Mais Estranho do que a Ficção), e que tem seu coração disputado também pelo promotor Harvey Dent (um ótimo Aaron Eckhardt), que se tornará mais outro perigoso vilão, o Duas Caras.
O Coringa, por sua vez, é vivido pelo falecido em janeiro passado, de forma precoce, Heather Ledger (de Brokeback Mountain). E ele dá um novo conceito ao pirado vilão, mais macabro do que o interpretado por Jack Nicholson em 1989. Ledger, praticamente, é o dono do filme, com seus tiques nervosos e risadas assustadoras.
Batman, o Cavaleiro das Trevas é, sem sombra de dúvidas, o melhor de todos os seis filmes já feitos sobre o herói desde a década de 1980.
Pequenas Histórias
Pequenas Histórias, de Helvécio Ratton (de Batismo de Sangue e O Menino Maluquinho), tenta recriar um Brasil interiorano e ingênuo. São quatro curtas contados por uma costureira interpretada por Marieta Severo. No primeiro, uma sereia (Patrícia Pillar) se casa com um pescador, esperando ser bem tratada por ele. O final acaba sendo por mais previsível. No segundo, um coroinha tem um pesadelo com os mortos e acaba sendo a história mais fraca do pacote. No terceiro, um Papai Noel interpretado por Paulo José (debilitado devido ao Mal de Parkinson) comete um pequeno furto e acaba dando uma ceia para moradores de rua. No último conto, o excelente Gero Camilo (de Carandiru) vive Zé Burraldo, ingênuo roceiro que sai pelo mundo após a morte do pai. O resultado acaba sendo irregular e meio deslocado em pleno século XXI, repleto de avanços tecnológicos. Talvez agrade a um público mais saudosista, porém dificilmente será, por mais que seja destinado a eles, simpático a crianças e jovens, mais afeitos a filmes de ação e aventuras ou desenhos japoneses.
A Ilha da Imaginação
A Ilha da Imaginação (Nim's Island, de Mark Levin e Jennifer Flackett) é feito, exclusivamente, para o público infanto-juvenil. Uma pequena garota (a excelente Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine) vive numa ilha paradisíaca com o seu pai cientista (Gerald Butler, de 300 e P.S.: Eu Te Amo). A diversão da menina é brincar com os animais que habitam o local e ler os livros do aventureiro Alex Rover. As coisas começam a mudar quando ela necessita da ajuda do ídolo, que na realidade não existe, tendo sido criado pela escritora agorafóbica Alexandra Rover (Jodie Foster, aqui vivendo um papel completamente diferente daqueles que nos habituamos a ver e que tem uma levada de humor, mas que não funciona). Enfim, uma pequena imitação de Indiana Jones, que deve funcionar nas locadoras e na sessão da tarde. E só.
O Escafandro e a Borboleta
Com apenas 42 anos, em 1997, o editor da edição francesa da revista Elle, Jean-Dominique Bauby, sofreu um raro tipo de derrame, conhecido por locked-in (trancado). O resultado foi que depois de três semanas em coma, ele acordou somente com movimentos no olho esquerdo. Seu único modo de se comunicar com o mundo era piscar o olho, num sistema inventado por uma terapeuta, onde dita cada letra do alfabeto, pacientemente, ao interlocutor. Dessa forma, Bauby conseguiu publicar um livro, o Escafandro e a Borboleta, que foi transposto magistalmente para a telona por Julian Schnabell, diretor de Basquiat e Antes do Anoitecer.
O drama médico, no entanto, foge dos similares americanos, que geralmente apelam para o emocional, querendo que o espectador apenas chore e não reflita. Aqui vale mostrar o quanto é significativa a vida.
Jean-Do, como era chamado pelos amigos, era um bon vivant e rodeado de mulheres belas, o que continua acontecendo, mesmo ele preso em seu próprio corpo inerte. Inteligente, depois do choque inicial, quando desejava morrer ao se descobrir paralítico - e aí Schnabell deu um golpe de mestre ao mostrar o mundo pela perspectiva de Jean-Do (interpretado pelo excelente Mathieu Amalric), ou seja, vemos o filme em seu início como pelo olho esquerdo do protagonista.
O Escafandro (aquelas antigas roupas de mergulho, presas por um tubo ao barco) do título é a prisão em que se encontra o homem, que sonha em ser livre como uma Borboleta. E livre não com a morte, que chegou para Jean-Do duas semanas após a conclusão do livro, mas livre para voltar a ter uma vida normal - que ele consegue através de seus pensamentos.
O Escafandro e a Borboleta, enfim, segue a linha de obras como Meu Pé Esquerdo, com Daniel Day-Lewis e Mar Adentro, com Javier Bardém, que fazem refletir e não apelam para o choro fácil. Imperdível.
Do Outro Lado
Todos sabem como é difícil o convívio entre os alemães e os turcos que vivem na Alemanha - tanto que esses nem são considerados cidadãos germânicos, mesmo tendo nascido no país. Do Outro Lado, do diretor Fatih Akin, nascido em Hamburgo e de ascedência turca, registrou em forma de parábola, esses dois mundos em um só, na figura do professor universitário Nejat (Baki Davrat). Após a morte da namorada do pai, a ex-prostituta Yeter (Nursel Köse), ele parte para Istambul em busca da filha dela, Ayten (Nurgül Yesilçay). Que ao mesmo tempo, foge da Turquia para a Alemanha, num jogo de desencontros tremendo. E pelos olhos desses personagens, podemos constatar o quanto é difícil a convivência desses povos, mesmo numa Europa que tenta se unificar. Do Outro Lado conta com a presença cativante de Hanna Schygulla, musa do cinema alemão dos anos 1970 e 80, e aqui, apesar da idade, ainda mostrando traços de sua antiga beleza.
Hancock
Will Smith é o atual queridinho da América. Em Hancock, de Peter Berg, ele interpreta um super-herói desastrado. Ou seja, é odiado pela população de Los Angeles. Pela bela sacada de roteiro: afinal, quem paga as contas toda a vez que um super-herói combate os vilões, mas destrói prédios, carros, ruas? Hancock é um "Godzilla sobre Tóquio" e ainda por cima alcoólatra. Para limpar sua imagem, aparece um publicitário preocupado com a falta de amor no mundo, o engraçado Jason Bateman, da série Arrested Development e do filme Juno. Então Hancock começa a melhorar perante os olhos dos angelenos, mas também a perder seus poderes, ao descobrir que não é o único de sua espécie no mundo. Ah, não dá para não citar a presença de Charlize Theron, tão linda quanto em O Advogado do Diabo. Toda a vez que ela surge, rouba a cena, para deleite dos barbados...
Antes que o Diabo saiba que Você está Morto
Antes que o Diabo saiba que Você está Morto é um dos filmes com título mais longo da história do cinema. E também segue a linha de Fargo, onde o que era para dar errado, acaba dando errado. Com direção de Sidney Lumet, temos aqui um drama de erros, depois que um assalto a uma joalheria praticado por dois irmãos dá errado.
Os dois são interpretados excepcionalmente por Ethan Hawke e Philippe Seymour Hoffman, esse praticamente não necessitando de comentários abonadores. Sua presença em cena é magnética. Aqui ele está um verdadeiro filho da puta, inescrupuloso e sem problemas de consciência. Só fica incomodado pelo fracasso à joalheria, que é de seu pai, o veterano Albert Finney (de O Ultimato Bourne), pois assim fica difícil para pagar as dívidas e tapar os furos que provocou na empresa que trabalha. Já Hawke é o irmão meio que atrapalhado, que tem uma amante e deve a pensão para a ex-mulher e a filha. E aquela coisa, cada vez que eles tentam tapar um buraco na burrada que fizeram, abrem outro maior ali adiante. Perturbador.
quinta-feira, julho 10, 2008
Banquete do Amor
Uma cafeteria é um local em que muito das relações humanas acontecem. E ser um observador atento afeta, sensivelmente, o professor Harry Stevenson (Morgan Freeman) no simpático Banquete do Amor (outro título nacional equivocado, no original leia-se Feast of Love ou Festim do Amor), de Robert Benton, de Kramer vs Kramer.
No café do amigo e sofredor Bradley (Greg Kinnear, de Pequena Miss Sunshine, e perfeito no papel de um cara que só se dá mal em suas relações amorosas, com um olhar para lá de apatetado), ocorrem encontros e desencontros possíveis e imagináveis. Fazer um filme deste perfil para Freeman foi como refresco, ele que está afeito a tramas policiais ou suportar o chato Jack Nicholson em bobagens como Antes de Partir. E aqui talvez pela idade avançada de seu protagonista, foi concedido a ele o direito de um casamento inter-racial, tabu no cinema americano. A esposa de Freeman é a atriz branca Jane Alexander. Ponto para o filme.
Amar....Não Tem Preço
Com este título, muita gente vai fugir das salas de cinema, na mesma proporção que muita gente vai querer conferir mais um drama romântico. E vão se enganar. Amar...Não Tem Preço (no original Hours de Prix ou Horas de Valor), direção de Pierre Salvador é na realidade uma bela e divertida comédia de erros. A vigarista Irène (Audrey Tautou, de O Destino de Amélie Poulain) só quer se dar bem e achar um idiota rico que lhe pague as caríssimas roupas, joiás, sapatos e jantares e que de preferência acabe caindo no golpe do baú e casando com ela. Até dar de cara com o atrapalhado garçom Jean (o caricatural Gad Elmaleh, não pela atuação e sim pela seu rosto, parecendo ter saído direto de um cartum). Daí em diante, o destino, ops, olha o trocadilho aí, de ambos vão se cruzar para o mal e o bem, proporcionando situações engraçadíssimas, principalmente nas vezes em que Jean tenta se passar por um bon vivant e sendo traído pelo seu reflexo de garçom.
Tattou foi por muitos comparada a xará Audrey Hepburn. Mas ainda tem um longo caminho as separando. Tattou é bonitinha, só que não tem o charme e a elegância da atriz de Sabrina, Charada e Bonequinha de Luxo. Mas não é isso que importa aqui, não!
Todos Contra Zucker
Jackie Zucker é um ex-narrador esportivo da extinta Alemanha Oriental. Mas sua vida é um desastre, não pelo passado, mas sim pelo presente. Jogador inveterado, endividado e escorraçado pela família e os inimigos em Todos Contra Zucker (Alles auf Zucker, de Dani Levy). As coisas podem melhorar sua vida financeira quando fica sabendo ter herdado uma herança devido a morte da mãe e também com a chance de participar de um torneio de sinuca milionário. Só que para receber a herança, deve conviver com o irmão, judeu ortodoxo, que não vê há 44 anos, desde a saída deste para o ocidente. E aí está a graça do filme, em que temos o contraponto de um ortodoxo com alguém que renegou sua religião e abraçou o comunismo. Alles Auf Zucker é de 2004 e na época desbancou na Alemanha pesos-pesados como A Queda, Os últimos Dias de Hitler e Sophie Scholl, Uma Mulher Contra Hitler. Talvez por retratar um lado mais leve de um país com um passado tão pesado.
Kung-Fu Panda
Os desenhos estão cada vez mais perfeitos. Bem, escrever isso é chover no molhado, pois não é nenhuma novidade. Em Kung-Fu Panda, de Mark Osborne, existe no entanto uma superação, quando os movimentos dos personagens chegam ao extremo. Quem ver vai associar imediatamente as suas referências, que são os filmes chineses de ação, principalmente os estrelados por Bruce Lee, mas também encontramos algo mais atual, como os balês de O Tigre e o Dragão.
O roteiro, por sua vez, não foge do convencional - sonho, desprezo e consagração, na figura do panda Po, que gordo e preguiçoso, parece ter o destino escrito...trabalhar no restaurante do pai, que é...uma garça. Só que ele sonha em ser um bravo lutador de kung fu, contra todas as probabilidades e inimizades iniciais dos cinco grandes. Até surgir a chance de mostrar seu valor contra o maudoso tigre Tai Lung, que está em busca do papiro sagrado. Mas isso não desvaloriza o filme, divertido e com boas piadas do começo ao final e feito para crianças e adultos.
WALL-E
Um desenho animado em que na sua primeira parte o silêncio impera, apenas com a trilha sonora a guiar os movimentos de um robô. Isso pode afastar seu público alvo, as crianças. Mas Wall-E, de Andrew Stanton consegue surpreender, na história do robozinho deixado só na terra e que após 700 anos segue na sua sina de limpar a sujeira dos seres humanos, que se mandaram para uma estação orbital.
A vida de Wall-E segue tediosa, ao lado de seu amigo de estimação, uma barata - e não é esse ser consegue sobreviver a todas as tragédias nucleares? -, até se apaixonar por outro robô, Eva, mandada à terra para verificar a situação do ambiente. Então entramos na segunda parte do filme, que perde um pouco de sua força, ainda mais com o aparecimento dos obesos seres humanos. Mas não perde a graça. E em Wall-E encontramos ecos de Eu Sou a Lenda, 2001, uma Odisséia no Espaço, Solaris, entre outras obras-primas da ficção científica. E o que mais dizer de um filme que cuja sessão a que entrei, a piazada se calou desde o seu início, observando atenta os movimentos do solitário robô? Imperdível.
Valsa para Bruno Stein
Baseado na novela do escritor gaúcho Charles Kiefer, Valsa para Bruno Stein, de Paulo Nascimento, peca pelo estilo excessivamente teatralesco de seus atores. Nada parece ser natural no longa-metragem situado no interior gaúcho. Bruno (um alquebrado Walmor Chagas) é um velho alemão dono de uma olaria, mal-humorado, que sente forte desejo pela nora Valéria (Ingra Liberato, a única boa atuação no filme). A vida deles e de todos na casa vai se alterar com a chegada de um trabalhador desconhecido, Gabriel, que como um anjo, mostra a Bruno que a vida ainda vale a pena ser vivida. Porém, por ser um filme localizado no interior gaúcho, falta o sotaque acentuado de seus personagens, que se comunicam como estivessem no tablado. E se observarmos bem, depois de seus quase 90 minutos, muita coisa fica inexplicada. Desperdício.
Chega de Saudade
Ao Assistir Chega de Saudade, poderá ser notada uma leve semelhança com O Baile, de Ettore Scola. Mas talvez não seja proposital. Aqui, em seu similar nacional, Lais Bodanszky não pretende contar a história do Brasil através das danças de salão, como a obra-prima italiana, que contou a trajetória da Itália. Porém, a diretora percorreu toda a história da música popular brasileira do século XX durante uma tarde e noite num clube paulistano. Podemos nos deliciar com as marchinhas carnavalescas, o rock de Rita Lee e Lulu Santos, ao brega de Odair José, enquanto que de pano de fundo vemos personagens sofrendo com a solidão, a velhice, a traição, o desejo. Uma bela surpresa.
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