quinta-feira, julho 17, 2008

O Escafandro e a Borboleta



Com apenas 42 anos, em 1997, o editor da edição francesa da revista Elle, Jean-Dominique Bauby, sofreu um raro tipo de derrame, conhecido por locked-in (trancado). O resultado foi que depois de três semanas em coma, ele acordou somente com movimentos no olho esquerdo. Seu único modo de se comunicar com o mundo era piscar o olho, num sistema inventado por uma terapeuta, onde dita cada letra do alfabeto, pacientemente, ao interlocutor. Dessa forma, Bauby conseguiu publicar um livro, o Escafandro e a Borboleta, que foi transposto magistalmente para a telona por Julian Schnabell, diretor de Basquiat e Antes do Anoitecer.
O drama médico, no entanto, foge dos similares americanos, que geralmente apelam para o emocional, querendo que o espectador apenas chore e não reflita. Aqui vale mostrar o quanto é significativa a vida.
Jean-Do, como era chamado pelos amigos, era um bon vivant e rodeado de mulheres belas, o que continua acontecendo, mesmo ele preso em seu próprio corpo inerte. Inteligente, depois do choque inicial, quando desejava morrer ao se descobrir paralítico - e aí Schnabell deu um golpe de mestre ao mostrar o mundo pela perspectiva de Jean-Do (interpretado pelo excelente Mathieu Amalric), ou seja, vemos o filme em seu início como pelo olho esquerdo do protagonista.
O Escafandro (aquelas antigas roupas de mergulho, presas por um tubo ao barco) do título é a prisão em que se encontra o homem, que sonha em ser livre como uma Borboleta. E livre não com a morte, que chegou para Jean-Do duas semanas após a conclusão do livro, mas livre para voltar a ter uma vida normal - que ele consegue através de seus pensamentos.
O Escafandro e a Borboleta, enfim, segue a linha de obras como Meu Pé Esquerdo, com Daniel Day-Lewis e Mar Adentro, com Javier Bardém, que fazem refletir e não apelam para o choro fácil. Imperdível.

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