sábado, dezembro 22, 2012

"Infância Clandestina"


O olhar infantil sobre os anos de chumbo na América Latina já renderam bons filmes, como "Kamchatka", "A Culpa é de Fidel", "O Ano que Meus Pais Saíram de Férias" e "A Culpa é de Fidel". Em "Infância Clandestina", o diretor Benjamín Avil segue a máxima, quase que num tom autobiográfico. Ele mesmo viveu no olho do furacão, sendo filho de uma militante esquerdista na Argentina nos anos 1970, morta pelas forças repressoras, além do que teve um irmão pequeno sequestrado e só encontrado pela avó em 1985.

No belo filme, o menino Juan é filho de dois militantes da organização guerrilheira Montoneros, severamente perseguidos naquele período sombrio argentino. Os pais de Juan (vivido por Teo Gutiérrez Romero) são Horacio (César Troncoso, de O Banheiro do Papa) e Charo (Natalia Oreiro), que após um período de exílio em Cuba e uma rápida passagem pelo Brasil retornam à Argentina em 1979, para tentar derrubar o governo militar. Com 12 anos, Juan tem de assumir outra identidade, e é batizado de Ernesto, uma homenagem a Che Guevara. O menino vive uma vida dupla, tendo de esconder sua realidade na escola, nas ruas, entre os novos colegas e amigos. E isso lhe traz severas restrições. Tem de estudar até um sotaque novo, não pode dizer para a menina por que se apaixona quem realmente é, e até a data de seu aniversário é outra. E Juan tem uma irmã de apenas um ano de idade. E por mais que os dois corram perigo, seus pais, mostrando negam-se a deixá-los aos cuidados da avó.

O diretor Avil também utiliza, de forma muito criativa, animações para retratar duas violentas cenas em que os pais de Juan/Ernesto são atacados pela repressão. O garoto Teo Gutiérrez Romero é uma bela surpresa e cativa com seu jeito doce, assim como a garota Violeta Palukas, que vive a namoradinha Maria. A melhor interpretação, no entanto, é de Ernesto Alterio, que vive Beto, o tio de Juan. Suas aparições são enérgicas, por vezes divertidas, por vezes angustiantes, como na hora em que ele decide levar ao esconderijo a vó de Juan, mesmo contrariado por Horacio. "Infância Clandestina" consegue escapar facilmente de derrapar em momentos melosos, mesmo tendo crianças como protagonistas. É completamente realista, e seu final é um misto de amargura com esperança, sem uma gota de pieguice.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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