quinta-feira, agosto 03, 2006
Memória - Cinema Político
Cinema Político, com Costa-Gravas
O cineasta grego nacionalizado francês Kostantinos Costa-Gravas fez verdadeiras obras-primas, que hoje andam meio esquecidas pelo público. Mas neste ano de eleições, sempre é bom tentar rever clássicos como Z, Estado de Sítio e Desaparecidos. Claramente filmes de esquerda - hoje perdendo sua força - estes três filmes retratam uma época não tão distante assim, em que as ditaduras imperavam sem dó nem piedade, principalmente na América Latina.
Mas comecemos por Z, baseado no romance de Nikos Kazantzakis, o mesmo autor de Zorba, o Grego. Protagonizado pelo italiano Yves Montand, mas que muita gente acha ser francês - afinal, ele virou um símbolo francófono depois de ainda pequeno se mudar para a França.
Em Z, Gavras retrata a cruel ditadura grega nos anos 1960 (hoje ao se ler sobre o belo país helênico, fica-se difícil de acreditar que os gregos tenham passado por uma ditadura) e a luta de um grupo liberal em tentar descobrir quem matou um deputado (Montand) da oposição.
Já Desaparecidos está mais próximo dos brasileiros. De 1982, mostra um pai, Jack Lemmon, tentando encontrar o seu filho, preso dias após o golpe de Pinochet, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende. Nem mesmo a cidadania norte-americana do "desaparecido", John Shea, o salva da morte no estádio Nacional de Santiago, à beira dos Andes. E o pior, a descoberta que o governo norte-americano - leia-se CIA apoiou o golpe. Se você for assistir Zuzu Angel, verá muitas semelhanças em ambos os filmes.
Com atuações magistrais de Sissy Spacek e Jack Lemmon, Desaparecidos é mais um filme retratando os anos de chumbo neste belo país sul-americano (sobre a ditadura de Pinochet recomendo ainda Chove Sobre Santiago e Machuca).
Por fim, deixei para falar de Estado de Sítio. Pouco conhecido nos dias de hoje, o filme mostra os piores momentos da ditadura no Uruguai, tão próximos de nós, gaúchos, nos anos 1970. Desde a guerrilha dos montoneros até a repressão militar. Muita semelhança ao que se passou no Brasil na virada das décadas de 1960 para a seguinte. A ditadura uruguaia tem tanto reflexo no Brasil e principalmente em Porto Alegre, em que o DOPS operava junto com a repressão uruguaia - chegando ao extremo no seqüestro dos exilados Lilian Celiberti e Universindo Diaz na capital gaúcha em 1978. Três filmes imperdíveis e cruéis.
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