quinta-feira, dezembro 04, 2014

"Meninos de Kichute"

Memória afetiva. É assim que pode ser visto "Meninos de Kichute", dirigido por Luca Amberg. Quem jogou bola na rua, no campinho de terra batida, criou um timinho de futebol com os amigos da rua, bateu figurinha, estudou em escola pública e teve aula de Moral e Cívica, a antiga OSPB? Sim, quem viveu esse tempo vai viajar aos anos 1970, acompanhando o garoto Beto (Lucas Alexandre), que descobre a vocação para jogar no gol, e decide ser profissional da bola. O problema é que seu pai, o fanático religioso Lázaro (Werner Schuneman) considera jogo de bola coisa do demônio e quer cortar todos os objetivos do filho.

A história transcorre em 1974, num bairro pobre de São Paulo, e mostra o cotidiano de Beto e seus amigos, em confrontos com os meninos da rua de baixo, mais pobres do que eles - Beto e seus amigos usam kichute, o tênis preferido dos meninos nos anos 1970 e que eram usados como se fossem chuteiras, - enquanto os rivais andam de chinelou ou pés descalços. Mas apesar dessas diferenças, todos se vem como iguais nos sonhos de morar numa casa melhor, de ter uma televisão. Beto mora com o pai, a mãe Maria (Viviane Pasmanter), a irmã mais velha e o irmão menor numa casinha de madeira humilde, de duas peças, nos fundos do quintal da casa de dona Leonor (Arlete Salles).

"Meninos de Kichute" é uma verdadeira viagem no tempo. Tanto no visual (roupas, cortes de cabelos), carros, como DKW, fusca, Brasília, a linguagem - em certo momento, Beto solta um "tudo trique", e a trilha sonora, que inclui entre outros Os Incríveis, Secos e Molhados, Jorge Ben, Sérgio Sampaio e Casa de Rock.

O gaúcho Werner Schuneman tem uma atuação excelente como o pai rígido e moralista de Beto. Mas destaque mesmo são os garotos, principalmente Lucas Alexandre. E todos os outros certamente se divertiram muito ao reviver uma época completamente diferente da deles, uma época sem internet, sem acesso fácil aos bens materiais, onde tudo era difícil. Detalhe: apesar de o filme se passar nos anos 1970, a Ditadura Militar passava longe da mente e do conhecimento daquela gente humilde, que fazia das tripas coração para sobreviver.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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