quarta-feira, fevereiro 15, 2012

A Separação

Em A Separação, direção de Asghar Farhadi, temos um Irã diferente daqueles que costumamos assistir nos filmes. Essa é uma obra urbana, retratando a classe média do país e seu descontentamento com o sistema político vigente e até mesmo tocando em tabus, como a religiosidade da população. A Separação começa com o pedido do divórcio de Simin (a bela atriz Leila Hatami) do bancário Nader (Peyman Moaadi). Ela conseguiu o visto para emigrar junto com a filha de 13 anos, Termeh (Sarina Farhadi, filha do diretor). Só que o marido tem de autorizar a viagem da menina e ele não quer e também rejeita a ideia de sair do Irã com elas, pois tem de cuidar do pai, portador do mal de Alzheimer. Contrariada, Simin permanece casada, mas vai morar com a mãe. E isso vai desencadear eventos quase trágicos para a família. Nader fica no enorme apartamento com a filha e o pai e contrata uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), para cuidar do velho, senil. Razieh é uma mulher complicada para a cabeça mais ocidentalizada de Nader. Ela é muçulmana praticante, mora longe demais do emprego e não revela ao marido que está trabalhando na casa de um homem separado. E além disso está gravida, mas esconde este fato. Há uma cena que mostra bem como pensa Razieh. Ela tem de trocar a fralda do pai de Nader, mas como tocar num homem que não é seu marido? Acaba ligando para um religioso para sanar sua dúvida. A gravidez da empregada a obriga a procurar um médico numa emergência e a faz deixar o velho sozinho e amarrado dentro do apartamento, para que ele não caia da cama. Nader acaba encontrando o pai sozinho e desfalecido e acaba por demitir a empregada, que não aceita ir embora sem receber o pagamento. Os dois brigam e Razieh cai na escada, indo para o hospital. No dia seguinte, Nader é intimado pela polícia, acusado de ter provocado um aborto na empregada. E por isso pode ser preso. A Separação vira, daí em diante, um instigante trama de tribunal. Com as duas partes tentando mostrar quem está certo e quem está se afundando em mentiras. O mais chocante, porém, é a visão do marido de Razieh, Hodjat (Shahab Hosseini, sem dúvida a melhor atuação do filme). Irracional e intolerante (seria uma comparação com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad?), insiste em chamar Nader de assassino. Mas para ele pesa mais na questão não o fato de sua mulher ter abortado, mas sim o de estar trabalhando na casa de outro homem, mesmo que seja para ajudá-lo a pagar as dívidas. Enfim, Farhadi mostra dois lados de uma mesma moeda, dois Irãs, um que tenta avançar e outro que se esconde sob o radicalismo religioso. Cotação: ótimo Chico Izidro

Nenhum comentário:

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...