terça-feira, fevereiro 19, 2013

“O Som ao Redor”



Uma rua em Recife, ruídos diversos ilustram o cotidiano de seus moradores de classe média no perturbador “O Som ao Redor”, do diretor e jornalista Kleber Mendonça Filho. O filme é inquietante. Porque em princípio nada acontece, a não ser mostrar a vidinha vazia de várias pessoas.

Só que aos poucos, os personagens vão sendo apresentados. O riquinho, que arranjou uma namorada, e vaga dentro de seu enorme apartamento, enquanto conversa com a empregada, uma senhora negra de seus 60 anos, quase servil. A dona de casa entediada, que passa os dias fumando maconha, escutando Queen e masturbando-se na máquina de lavar. O boyzinho ladrão de carros, o velho dono da maior parte dos prédios e casas da rua. E como a rua vem sendo alvo de diversos assaltos e roubos, um grupo de seguranças, liderado pelo cínico Clodoaldo (Irandhir Soares, de Tropa de Elite 2) resolve cuidar do local. Para tanto, os vigilantes propõem aos moradores de cada um pagar R$ 20 mensais, e terão segurança. Não deixa de ser um tipo de achaque, mas muitos concordam. Para não se incomodar, de um modo ou de outro.

E os sons sempre presentes. O tempo todo escutamos marteladas, furadeiras, pneus freando no asfalto, o mar logo ali perto, a duas quadras, buzinadas, músicas... enquanto esperamos o desenrolar dos eventos. A impressão é de que nada vai acontecer, que o filme se encaminha para o nada, mas estamos enganados. E o diretor Kleber Mendonça Filho também não poupa delírios, pesadelos dos personagens, todos comuns, mas com profundidade em suas vidinhas quase vazias. No final, temos a certeza de que tudo na vida tem um próposito.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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